Dito e feito.

Ela sonhou com ele.

- Bom dia, mamãe - Alicia disse, dando um beijo no rosto de sua mãe.

- Bom dia anjinho, o que você fez ontem? Estou com um pequeno problema para lemb...

- Oh, não se preocupe mamãe, quando eu cheguei em casa você já estava dormindo.

Mentira. Quando chegou, sua mãe estava jogada na cadeira da sala de estar. Desmaiada.

Nada que não fosse previsível.

- Ah, entendo. O que você fez ontem, Ali? Lembro-me vagamente de um atraente jovem rapaz. Lembro-me de ter conversado com ele.

Ah, é verdade. Sua mãe havia conversado com Jack na noite anterior. Alicia ficou tensa de repente.

- Mamãe, você por acaso se lembra sobre o que vocês conversaram?

- Bom querida, na verdade, ele apenas chegou e me cumprimentou. E, se não me engano, pediu seu celular. Não entendi o objetivo disso tudo, já que ele estava aqui em casa. Vocês, jovens de hoje, são muito confusos. Na minha época, as coisas não eram bem assim, nós eramos bastan...

- Mamãe, foco.

- Oh, sim! Onde eu estava mesmo? Ah, é. Então, eu disse seu celular e ele ligou. Na hora que ele estava digitando os números, o seu hum, pai chegou. E ele estava - a voz de sua mãe quebrou - Bom, ele estava acompanhado.

Alicia sentiu uma pontada fria atravessar seu coração.

- Então, certo. Er... Tenho que ir pra escola. Você sabe, segundo dia de aula e tudo mais.

Alicia apressou-se indo em direção a porta. As lágrimas já haviam começado a escorrer.

Droga, ela tem que ser mais forte que isso.

- Ali - ela ouviu a voz de sua mãe chamar da cozinha - Ali, eu te amo. Por favor, não se esqueça disso.

Alicia ja estava na porta. Ela virou e olhou para a mãe.

Um mar de lágrimas escorria pelos olhos cristalinos de sua mãe. Sua doce e inocente mãe.

- Não esquecerei.

- Ali! Não A-CRE-DI-TO que você saiu com aquele aluno novo gato. Como você não me disse?

- Bri, não estou com cabeça pra isso, certo?

O queixo de Sabrina caiu teatralmente.

- Oh, ok. Ok Alicia. Não, quer saber? Não sei o que está acontecendo com você. Sinceramente, desde as férias, você está totalmente estranha. E eu, impaciente. Então, se você não quer ser mais a minha melhor amiga, eu consigo outra em um piscar de olhos.

Mas... que... criança.

Foi o que Alicia pensou. E aparentemente, disse também; Já que o olhar de Sabrina podia matar alguém.

- CRIANÇA? AH, ENTÃO EU SOU A CRIANÇA? - Sabrina berrou.

Alicia realmente não estava com cabeça pra isso. Ela ja tinha drama o suficiente no momento.

- Obrigada por ter perguntado se estava tudo bem comigo, Sabrina - Alicia disse baixo, quase um sussurro - Quem sabe algum dia isso realmente passe a importar pra você.

Segure o choro. Segure.

- Droga! - Alicia gemeu, olhando no relógio - Droga, perdi a primeira aula.

Ela saiu do box do banheiro, onde estava chorando a cinco minutos atrás.

Saiu de cabeça baixa e olhou-se no espelho. Caiu em uma gargalhada cruel.

Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Combinando, quase ironicamente, com seus cabelos. Estes que normamelmente caiam em lindos cachos vermelhos, agora estavam parecendo uma tentativa falha de black power. Seu rímel estava todo escorrido, pela sua pele de porcelana. A maquiagem tinha ido embora quase por completa. Resumindo: um lixo.

Tanto faz.

- Bom dia, Ali! - Camila apressou-se em cumprimenta-la e abrindo seu maior sorriso. De repente, seu sorriso murchou - Ta tudo bem?

- Defina bem - Ali sorriu.

- Quer conversar sobre isso?

- Na verdade, agora esta não é uma das minhas primeiras opções.

- Entendo. Bom, talvez mais tarde. Quando quiser, estarei aqui - Camila disse, passando a mão gentilmente pelo braço de Ali.

- Obrigada Mila - Ali disse, verdadeiramente agradecida. Talvez ela precisasse rever seus conceitos de amizade. Por que Sabrina é a sua melhor amiga mesmo?

Jack havia faltado a aula.

Mas Ali realmente não havia pensado sobre isso. Ela não havia parado pra pensar sobre Jack, ou a sobre a noite anterior.

Algo que, no passado, ela teria passado horas tagarelando com suas amigas, hoje simplesmente parecia irrelevante.

Seus pensamentos estavam totalmente ligados a sua familia.

- Mamãe? - Ali chamou - Mamãe, cheguei.

- Olá, Alicia - disse uma voz masculina, vindo da cozinha.

Uma voz muito conhecida na verdade.

- O que você está fazendo aqui, pai?

- Está tudo ótimo comigo também. Como foi seu segundo dia de aula? Quando passei ontem aqui, você estava para sair. Então fui para meu quarto.

- Claro que foi. E com quem foi?

- Você já está pronta para falar sobre isso?

- Pai, você imagina o mal que está fazendo para essa familia? Como você pode fazer isso? Como você pode trocar a mamãe? Como você pode me trocar?

A voz de Alicia havia começado a tremer.

Seja.

Forte.

- Trocar você? Eu nunca trocaria você, querida. Eu amo você.

- Se você me ama, como pode trazer aquela mulher aqui pra casa? Pelo amor de Deus, pai! Você está matando a mamãe!

Seu pai colocou o polegar e o indicador entre as sobrancelhas. Ele ficou apreensivo.

Isso não era um bom sinal.

- Alicia, você entende que eu e a sua mãe iremos nos separar, certo?

- Isso não é justo, ela nunca fez nada, você está destru...

- Você entende, ou não entende? - sua voz aumentou.

- Sim, pai. Eu entendo.

- Bom. Sua mãe, aparentemente, não. E eu soube que ela anda bebendo, estou correto?

- Claro que não! - o coração de Alicia estava acelerando. Onde ele queria chegar com isso? - A mamãe é a melhor pessoa que eu já conheci em toda a minha vida. Ela é a minha inspiração, o meu exemplo. Ela nunca faria e nem fará nada de errado.

Por falar nisso, onde estava sua mãe?

- Olhe, mocinha. Não minta para mim! Eu sei o que anda acontecendo nessa casa. Eu estarei me mudando daqui ainda essa semana.

- O QUE?

- E você vem comigo.

Seus lábios tremeram. Seu coração parou.

- Eu não vou deixar minha mãe. Nem por você, nem por ninguém.

- Eu já esperava que você fosse teimar a respeito disso - disse seu pai, calmamente - Então, eu e sua mãe, iremos a tribunal pela sua guarda.