Sweetest Ocean escrita por dust-box


Capítulo 5
The art of war


Notas iniciais do capítulo

O título fala bastante sobre o chap, mais uma vez. *se cala*
Sem enrolação. q Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/104509/chapter/5

• POV Sou

   A cada dia eu estava ficando mais confuso. Posso ter demorado um pouco para perceber, mas agora que tenho conhecimento do que sinto, simplesmente não sei o que fazer. Era tão óbvio desde que eu o vi pela primeira vez, desde aquele dia em que nos esbarramos acidentalmente. Infelizmente precisei desse tempo para que a realidade viesse à tona.

    Nós estávamos ficando cada vez mais próximos. Logo nas semanas seguintes, andávamos juntos para tudo e fazíamos dupla para as tarefas e trabalhos. Ryuto até ficou enciumado, pois antes de Ryosuke quem fazia trabalhos comigo era ele.

    Hoje Ryosuke combinou de ir r para minha casa estudar e fazer um trabalho de matemática. Ele não era bom com a matéria, mas eu sim. Eu estava muito mais do que nervoso, e completamente despreparado.

    Antes de ir para casa, passei pela biblioteca do colégio. Não queria contar para meus amigos sobre o que sentia por Ryosuke, então decidi procurar algum livro que me ajudasse. Um livro de “auto-ajuda’’ talvez pudesse me dar o apoio que precisava. Ou não.

   Fui passeando pelas sessões, pegando todos os livros que aparentavam ter o que precisava, e levei-os para a mesa. Alguns eram tão chatos que apenas folheei as páginas, totalmente desinteressado. Após dispensar cinco livros seguidos, já não tinha a menor atenção para os outros que pegava. Sem sequer olhar o nome nem a capa, parei em um livro menor o qual uma página havia me chamado a atenção com a seguinte frase: Quando o inimigo está cansado, deverá ser fatigado. Quando bem alimentado, deverá ser forçado a passar fome. Quando em repouso, obrigado a se mexer.

   Fechei o livro para olhar a capa, e vi que seu nome era “A arte da guerra.” Voltei a olhar mais algumas páginas e não me parecia ruim como os outros que peguei para ler, muito pelo contrário.

   – É, levarei esse. – murmurei levantando da cadeira. Deixei todos os outros livros no lugar de antes, levando comigo apenas A arte da guerra. Algo me dizia que ele me ajudaria para algo.

   Fui embora rapidamente para esperar Ryosuke. Combinamos que ele iria apenas a sua casa para pegar roupas e falar com seu pai, mas logo iria para a minha... E talvez até passe a noite também.

  Ao chegar em minha residência, verifiquei que minha mãe ainda estava no trabalho. Provavelmente seria mais um daqueles dias em que ela só chegaria à noite. Tomei um banho, arrumei meu quarto e deitei no sofá da sala lendo atentamente as páginas do livrinho.


Choque-se contra o inimigo como o falcão choca contra seu alvo, partindo-lhe a espinha, porque aguarda o momento preciso para bater. O seu movimento é sincronizado.”

O seu movimento é sincronizado.


   – Nossa, estou ficando louco. – joguei o livro no chão, parando para olhar o teto. Como um livro que fala sobre guerra me ajudaria? Lendo isso até parece que meu inimigo é o Ryosuke.

   A idéia de “atacá-lo” como um falcão me fez rir. Não era uma idéia tão ruim assim, não é? Eu poderia avançar quando ele estivesse desprevenido, ou poderia aproveitar um momento de distração do loiro.

     É, estou exagerando.

   Cochilei contra a minha vontade enquanto pensava nas frases que o livro possuía. Quando acordei, corri para olhar o relógio com medo de ter esquecido o loiro, mas aparentava ser justamente o contrário. Ryosuke estava atrasado uma hora, e isso não era algo comum da parte dele.

   Liguei para seu celular várias vezes, mas ele não atendia, o que me deixou ainda mais preocupado. Troquei de roupa e quando estava saindo para procurá-lo, escutei alguém socar a porta.

     – Já vai! – gritei alegre por imaginar ser ele, mas minha felicidade não durou muito. Ao abrir a porta, vi Ryosuke escorado na parede com a aparência de que tivesse saído de um ringue de boxe. – Ryosuke, o que aconteceu? – segurei um de seus braços, trazendo-o para dentro de minha casa.

     – Me encurralaram. – disse Ryosuke com dificuldade. Percebi que havia um corte em sua boca, o braço com um grande machucado e a camisa rasgada em vários pontos.

     – Como? – perguntei confuso enquanto deitava Ryosuke no sofá da sala. – Espere, eu já volto.

     Fui até lá fora pegar a mochila que Ryosuke havia deixado na porta, e depois procurei por algum medicamento onde minha mãe sempre guardava no armário. Peguei alguns panos leves junto de um remédio para ferimentos, e voltei minha atenção para Ryosuke na sala. Fiz os procedimentos que minha mãe me ensinou, colocando os curativos nas regiões com pequenos machucados. Apesar de todo o cuidado que tive, Ryosuke fazia caretas que eu tive que me segura para não rir.

     – Não seja frouxo. – brinquei enquanto colocava o último curativo que faltava. – Pronto, mas você precisar descansar. Antes disso, me fale o que houve.

     – Shinji é um covarde Sou. Aproveitou que eu estava sozinho para mandar dois de seus amiguinhos se vingarem por ele. Quando percebi o que queriam, corri o mais rápido que pude pela rua, mas um deles me alcançou. – não conseguia esconder o quanto eu estava chocado com o que Ryosuke me contava, e me sentia inútil também. Ryosuke não devia estar sozinho naquele momento, eu devia estar com ele. – Kohara me puxou pelo braço, fazendo com que eu caísse em várias caixas que estavam frente a uma casa. Por causa da queda, machuquei o braço no chão e Kohara aproveitou para me chutar. Com sorte eu consegui derrubá-lo e corri mais depressa do que antes. Tive que entrar em um beco estreito para conseguir despistá-los.

     – Eu não acredito que isso aconteceu. Você não estaria assim se não fosse por minha causa, sinto muito Ryosuke. – abaixei a cabeça, sentindo toda a culpa cair sobre mim.

     – Não quero que pense assim, até porque eu faria de novo se fosse necessário.

     – Mas Ry.. – interrompeu o que ia dizer, colocando um dedo em minha boca. Corei abruptamente, não conseguindo pensar em alguma reação decente.

     – Não discuta comigo. – Ryosuke fingiu estar bravo, mas mesmo assim não conteve um sorriso. – E está tudo bem, não está? Não aconteceu mais nada.

     – Você realmente precisa descansar, melhor ir se deitar na minha cama ta? É mais confortável. – falei quase atropelando as palavras. Não sabia como dizer isso sem que soasse como duplo sentido, mas Ryosuke pareceu ter entendido corretamente.

     Guiei Ryosuke até meu quarto, ajudando-o a se deitar em minha cama. Já ia me retirar quando fui interrompido por Ryosuke, que chamou minha atenção.

   – Sou, eu não quero me deitar... Temos um trabalho para fazer, você esqueceu?

     – Correção: eu tenho um trabalho para fazer, você não. Vou te deixar descansando, pode deixar que faço o seu pra você, ok? Agora fique quieto e não reclame. – falei em tom de ameaça, que aparentemente havia funcionado.

     Retornei para a sala pegando rapidamente os pertences de Ryosuke. Minha intenção era terminar tudo o mais rápido possível. Passei o resto da tarde resolvendo todos os itens do trabalho de matemática, e Ryosuke dormiu durante todo esse tempo.

     Ao anoitecer, fui até onde ele estava. Eu só queria ter certeza de que estava tudo bem. Aproveitei para sentar na borda da cama, passando minhas mãos sobre os fios de cabelo do loiro que ainda dormia.

     – Hm... Sou? – acordei Ryosuke sem querer com o contato. – Você já terminou?

     – Sim. Desculpa, não queria te acordar...

     – Tudo bem, está bom assim. – Ryosuke fechou os olhos novamente, relaxando com as carícias que fazia em sua cabeça.

     Fiquei o observando por breves minutos, era tão agradável vê-lo dormir tão perto de mim. Lembrei-me de um trecho que li no livro, “Quando em repouso, obrigado a se mexer.” Eu poderia fazer isso agora mesmo, era o momento perfeito.

     Aproximei meu rosto e encostei inocentemente minha boca na dele, sentindo sua respiração se chocar em minha pele. Para minha surpresa, Ryosuke estava acordado e retribuiu o pequeno selinho que eu havia dado. Uma de suas mãos tocou meu rosto, passando suavemente por minhas bochechas. Logo o que era apenas um inocente selinho transformou-se em um beijo calmo, e totalmente inesperado.

     Senti a outra mão de Ryosuke em minhas costas, puxando-me para mais perto. Logo sua língua pediu passagem na intenção de aprofundar o contato, e mesmo hesitante eu permiti. Apesar da suavidade do beijo, ouvi Ryosuke soltar um gemido baixo de dor. Eu havia esquecido completamente do corte em sua boca.

     – Me desculpe! – falei desesperado, vendo Ryosuke por uma mão em sua boca, fazendo uma careta de dor.

     Já ia dizer mais alguma coisa, até ouvir barulhos vindos da sala. Ao que tudo indica, minha mãe havia acabado de chegar. Se um quadro pudesse expressar meu rosto naquele momento, sem dúvidas seria “O grito”.

     – Sou, já está em casa? – minha mãe gritou indo em direção para o quarto. Pulei da cama no mesmo instante, e ainda bem que deu tempo de me distanciar antes que ela entrasse. – Oh, nem me disse que você iria trazer um amigo.

     – Ah, err... Oka-san, esse é o Ryosuke... E ele estuda comigo. – expliquei rapidamente enquanto coçava a cabeça, demonstrando um leve nervosismo.

     – Olá Ryosuke! – minha mãe o cumprimentou sorrindo, mas percebi que estava acima de tudo curiosa. – Sou, não sabia que você tinha um novo amigo, e nem que ele iria vir para cá... – disse me olhando com os olhos semicerrados, talvez esperando por alguma resposta convincente minha.

     Mas ela queria que eu falasse o que? “Mãe, eu estava dando uns amassos leves nele e estava tudo bem até você chegar. Dá pra sair do meu quarto agora? Quero continuar o que tava fazendo.”

     – Hoje ele ia fazer um trabalho de escola comigo, mas... No caminho uma moto o atropelou e por isso os machucados. – inventei depressa quando vi minha mãe se aproximar para olhar Ryosuke detalhadamente. – Mas já cuidei dos ferimentos e está tudo bem. Ele pode dormir aqui hoje?

     – Nossa, você precisa tomar mais cuidado Ryosuke! Mas felizmente não aconteceu nada grave. Acho que não tem problema, desde que os pais dele tenham permitido...

     – Já falei com meu pai e está tudo certo. – Ryosuke que estava calado até então, respondeu minha mãe parecendo um pouco nervoso assim como eu.

     – Então sem problemas. Vou preparar nosso jantar, e Ryosuke, pode tomar um banho se quiser. Sinta-se em casa. – observei minha mãe se retirar do quarto, com um sorriso um tanto quanto “falso”.

     Algo me diz que ela não gostou nem um pouco do Ryosuke. Ela sequer se preocupou com o que havia acontecido com ele (mesmo sendo uma mentira).

     – Pode ir pro banheiro se quiser, vou procurar uma toalha pra você e já levo.  – falei baixo, sem coragem alguma para olhá-lo.

     Ryosuke saiu do quarto em silêncio, levando consigo algumas roupas que trouxe dentro da mochila. Fui até meu guarda-roupa procurar por uma toalha que servisse para ele, e após muito procurar achei uma de cor clara. Levei para o banheiro e bati na madeira da porta até que Ryosuke aparecesse. Sem dizer nada, entreguei a toalha e retornei para meu quarto.

     Tomei banho depois que Ryosuke terminou o dele. Já vestido com roupas mais leves para dormir, fomos para a mesa comer o jantar que minha mãe havia preparado. Estaria tudo ótimo se não fosse as perguntas irritantes dela, como onde Ryosuke morava, quantos anos ele tinha, porque ele se mudou para cá... Minha vontade era de voltar para meu quarto e deixá-los ali.

     Agradeci mentalmente por Ryosuke ter terminado de comer rapidamente, pois só assim sairíamos dali. Voltamos para o quarto com o mesmo silêncio constrangedor de antes, e aquilo estava me sufocando.

     – Bom, você vai dormir na minha cama. Visitas não dormem no chão. – disse cabisbaixo enquanto arrumava minhas coisas pelo chão.

     – Mas a cama é sua.

     – Sim, e quero que durma ne...

     – Não Sou, não mesmo. – interrompeu minha fala, levantando-se da borda da cama.

     – Certo, vamos fazer um trato. Nós dois dormimos na cama, melhor assim? – tive a sensação de ter falado algo que não devia, pois Ryosuke fez uma cara de espanto ao ouvir o pedido. – Ei, calma! Eu não vou te assediar ou algo do tipo.

     – Não foi o que eu pensei, é que... E se sua mãe entrar e ver?

     – Ela nunca entra com a porta fechada.

     Apesar de Ryosuke não ter dito uma palavra sequer, entendi que ele havia concordado, pois se deitou na cama logo depois que apaguei a luz, deixando apenas o abajur ligado. Deitei levando comigo cobertores, e entrei um deles para Ryosuke.

Eu estava sufocado com a falta de diálogo que se fez presente, era como se houvesse uma barreira delicada entre nós. Percebi também até a maneira de como estávamos deitados, havia um pequeno espaço e cada um estava virado para lados opostos.

     – Me desculpe. – falei por impulso, em um tom de voz muito baixo.

     – O que disse? – perguntou virando-se para mim, pegando-me de surpresa. Imaginei que Ryosuke já estivesse dormindo e não tivesse escutado, mas me enganei.

     – Eu pedi desculpas. – aproveitei para me virar também, passando a encará-lo apesar da pouca luz que havia no quarto.

     – Você sempre me pede desculpas, como se tudo que fizesse é errado, mas não é. Posso te desculpar, mas apenas com uma condição. – mesmo com a pequena escuridão, pude ver um pequeno sorriso brotar de seus lábios, fazendo com que me sentisse mais confortável por dentro. – Por favor, não peça mais isso, porque não há nada para se desculpar, nem antes e nem agora.

     – Mesmo? Ah, que bom... Estava com medo de você ter ficado com raiva, ou ter achado que eu queria magoá-lo, porque eu nunca tive essa intenção e... – desatei a falar, mas fui calado pelo repentino selinho que Ryosuke me deu.

     – Eu sei disso. Também achei que você estivesse com raiva. – Ryosuke passou os dedos em minha testa, tirando alguns fios de cabelo que estavam por ali. O observei puxar mais o cobertor, de maneira que eu também ficasse coberto com o dele. – Deixa isso pra lá. Precisamos dormir agora, amanhã tem aula.

     – Sim, tem razão. – sorri mais aliviado em saber que havia sido apenas um mal entendido. Lembrei também do livro que peguei da biblioteca, pois graças a ele que eu havia conseguido uma aproximação ainda maior com Ryosuke.

     – Preciso ler mais livros.

     – Hm? Livros?

     – Não, não é nada. Boa noite Ryosuke. – me remexi na cama, até encontrar uma posição confortável para dormir.

     Ryosuke pôs um braço por cima do meu corpo, aproximando nossos corpos. Me aninhei por baixo de seu braço em volta de mim, da maneira mais confortável possível. Não demoramos muito para pegar no sono. Apenas em tê-lo ali tão próximo de mim já era mais do que suficiente, e eu não estava nem um pouco me importando se alguém entrasse no quarto e visse.

     Definitivamente, preciso ler mais livros a partir de agora, só por garantia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ok, contar porque tem esse livro no chap. Quando eu estava escrevendo o começo do chap, tava com A Arte da Guerra alugado... E por alguma razão me veio a ideia de enfiar na história. XD Confesso que é meu chap preferido até. Mas sim, reviews? ;;



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sweetest Ocean" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.