Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 8
VII - Perseguição


Notas iniciais do capítulo

Oie!!!

Demorei??? rsrsrsrsrs...

Cap. com a tão esperada revelação: Qual é o nome do novo aliado da Agatha???

Boa leitura!



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Capítulo VII – Perseguição

As feras encaravam-me. Seus olhos negros sondavam-me. Eu ainda não acreditava que tivesse diante de mim, cinco bestas sanguinárias. Elas rosnavam para mim.

Receosa, recuei, passo por passo, lentamente. Até que meu corpo encostou-se à estrutura de concreto da parede dos fundos. Tateei-a com minhas mãos, apoiando-me nela. Os lobos ainda permaneciam em formação, eretos, rígidos, prontos para lançar-se em minha direção a qualquer momento.

Eu respirava com dificuldade, o ar parecia não chegar até meus pulmões. O que eu faria agora?

Eu tentava pensar com clareza, encontrar uma saída dali, mas meu desespero não me ajudava nem um pouco. Arfei, e um jorro de adrenalina preencheu minhas veias. E eu agi. Impulsionada por meu desespero e pelo fluxo de adrenalina, eu bati em retirada, virei-me para a minha direita, lançando-me como um míssil para a frente.

E eu corri, lutando desesperadamente para salvar minha vida. Parecia previsível que eu sentisse tudo se movimentar com uma certa lentidão ao meu redor.

Minhas mãos voaram de encontro ao corrimão da escada enferrujada de ferro que levava ao segundo andar. E mesmo aos tropeços, eu comecei a subir os degraus enferrujados, que poderiam ceder sob o meu peso a qualquer instante.

Não olhei para trás para vê-los, mas meus outros sentidos podiam muito bem captá-los. Assim que me vi no piso do segundo andar, eu lancei-me na direção de uma pequena sala empoeirada, repleta de móveis empoeirados e destroçados.

Enfiei-me pela sala, irrompendo como um furacão, e antes de adentrar completamente nela, girei meu corpo, minha mão voando de encontro à maçaneta da porta. Antes de bater a porta de madeira podre com violência, pude vislumbrar o lobo maior saltar em minha direção, os dentes expostos, a mandíbula pronta para abocanhar minha carne.

Exerci uma pressão maior, mas a porta emperrava, resistindo a minha força, cravando-se no chão de concreto. Puxei a porta, usando de todas as minhas forças e ela finalmente cedeu aos meus puxões. A violência foi tanta que o baque causado por ela, ecoou por toda a fábrica abandonada e eu fui ao chão, caindo sentada em meio a tanta poeira.

Permaneci ofegante durante vários segundos, antes que o surto de adrenalina correndo livremente em minhas veias me instigasse a levantar-me do chão, enquanto os lobos raspavam as unhas afiadas na estrutura de madeira podre da porta. Não demoraria muito para que eles a destroçassem.

Movi-me até a janela grande de vidro daquele escritório antigo, por onde adentrava os raios esbranquiçados e nebulosos daquele fim de tarde. Levantei-a, permitindo-a que uma brisa gélida invadisse o cômodo. Do lado de fora, os lobos rosnavam e cavavam com as unhas a porta antiga.

Coloquei a cabeça para fora, visualizando a lateral decadente do prédio. Havia uma escada de ferro do lado de fora, se eu pudesse chegar até ela, escalar a lateral de concreto, esgueirar-me pela pequena beirada de cimento, então eu poderia escapar dali. Porque caso contrário, ficaria encurralada pelos lobos. Pensar nisso fez-me mover com mais rapidez.

Com agilidade, passei a primeira perna pela janela, segurei na beirada da janela para manter meu equilíbrio enquanto passava a outra perna. E de repente não havia mais chão nenhum sobre os meus pés, apenas uma estreita passarela de cimento que pendia da estrutura de concreto e aço do prédio abandonado.

Virei-me de costas para a parede, mantendo-me o mais próximo possível dela. Um vento rude fazia meus cabelos esvoaçarem. Eu arfei ao olhar para baixo pela primeira vez. Ouvi o som da madeira cedendo, então os lobos já haviam arrebentado a porta; Eu tinha que ser rápida. Mas uma coisa era falar, outra completamente diferente era agir.

Que bom que eu nunca tive medo de alturas. Mas se eu sobrevivesse a isso, com certeza mudaria de opinião.

Movendo meu pé direito lentamente, eu dei o primeiro passo. Depois foi a vez do esquerdo acompanhá-lo. Minhas costas deslizaram pela estrutura de concreto, e as palmas de minhas mãos raspavam nela. Meus olhos arregalavam-se à medida que eu movia-me. E eu avançava, lentamente, progredia em um ritmo demasiadamente lento.

Porém, meu coração sofreu um forte solavanco quando um de meus pés pisou em falso na passarela estreita. Ele escorregou, eu derrapei, e teria ido ao chão, se não tivesse me segurado na lateral da passarela, minhas mãos pareciam querer moer o cimento sobre elas.

Cerrei meus olhos com força e tentei me acalmar, pânico só me atrapalharia agora.

- Vamos, Agatha – sussurrei para mim mesma -, recomponha-se, você consegue.

Com uma lentidão exagerada, levantei-me novamente, escorando-me na parede. Mais alguns passos e eu alcançaria a escada. E assim foi, minhas mãos agarraram a estrutura enferrujada da escada e meu corpo girou, chocando-se contra ela. E degrau por degrau, eu comecei a descê-la.

Quando faltavam apenas alguns, eu saltei, pousando sobre a dianteira dos pés e as palmas das mãos. Eu gemi e depois me lancei na direção da grade de metal, apanhando minha bolsa no caminho.

Corri, olhando para trás uma única vez. Eu nem precisava; eu podia senti-los atrás de mim. Então aquela caçada ainda não terminara. A perseguição continuaria, até que eu fugisse das garras da morte, ou então perecesse de forma lamentável.

Focalizei a imensa grade de metal e meu corpo chocou-se com violência contra ela, balançando-a. Agarrei a alça da bolsa e a joguei por cima da cerca, para depois escalá-la com avidez e desespero. Alguns lobos tentaram seguir-me, apoiando as patas dianteiras na grade, rosnando, salivando. Os olhos negros tentavam devorar-me, como poços negros sem fundo.

Assim que cheguei ao topo, saltei, sem nem me importar com a altura. Caí de joelhos, rolei de lado na terra fofa, peguei minha mochila e recomecei minha corrida desesperada. Embrenhei-me na mata, afastando o matagal com as mãos e escorando-me nas árvores. O som de patas chocando-se contra a terra fofa e úmida permeava meus ouvidos. Meus cabelos voavam com toda aquela corrida frenética, e as árvores passavam como borrões diante de meus olhos confusos.

Olhei para trás uma última vez, vendo o lobo cinzento correr sobre as patas longas e finas, e então bati contra algo, choquei-me contra um corpo quente.

Eu arfei pelo impacto, depois dois braços fortes envolviam minha cintura, puxavam-me, erguiam-me do chão, girando-me, trocando de lado com ele, até que um par de olhos azuis como lápis entrou no campo de minha visão. E um sorriso debochado preencheu meus pensamentos, pouco antes dele soltar-me no chão, onde eu caí sentada, sem nem mesmo piscar.

Reconheci os mesmos traços. O mesmo cabelo ondulado e negro, os mesmos olhos grandes em um tom azul-escuro, o nariz reto e fino (muito clássico), a curva suave do lábio superior, o leve arredondamento do queixo, e o sorrisinho despreocupado. Era o mesmo garoto que me salvara dos Devoradores de Alma naquela noite. Era ele!

Ele ainda trajava as mesmas roupas, jeans escuros, jaqueta negra de couro e por baixo, uma camiseta cinza.

Demovi meus olhos dos seus pela primeira vez, percebendo o lobo que se aproximava de nós dois. Antes que eu sequer pudesse gritar, o garoto virou-se para a fera, seus olhos ainda demonstravam extremo deboche, e de seus lábios, duas palavras foram proferidas.

- Victruc Laverius!

Uma explosão de energia sacudiu a floresta ao meu redor, fazendo com que até mesmo o chão tremesse em sua presença. O lobo foi atingido em cheio, tendo sido lançado violentamente para trás. E seu corpo esquálido e comprido chocou-se contra o tronco de uma árvore.

Alguns segundos depois, e o lobo cambaleava, levantando-se desajeitado, enquanto mancava de uma das patas, mas a negridão em seus olhos se fora completamente. E ele gania.

Os outros lobos que vinham em seu encalço, frearam na relva, os dentes à mostra, enquanto rosnados bestiais eram proferidos. O garoto lançou-lhes apenas um olhar, um olhar tão incisivo, tão debochado, e os lobos recuaram imediatamente, como se estivessem diante de um monstro, ou de um ser muito superior. Deram meia-volta e desapareceram por entre as árvores.

Eu arfei. Com um salto, levantei-me do chão. Cambaleando para recuperar meu equilíbrio. Porém, o garoto já se virava, pronto para encarar-me. Arregalei meus olhos, sentia-me acuada. E quando suas íris azuladas pousaram em minha face, eu cambaleei para trás. E ele riu baixo. Um sorriso debochado novamente ganhava espaço em seu semblante. Ele apenas mencionou dar um passo em minha direção, eu passei para a posição defensiva.

- Fique longe de mim! – eu gritei para ele – Se der mais um passo eu...

Ele sorriu novamente.

- O que você fará? – perguntou-me ele com sua voz rouca e extremamente... sexy, eu tinha que admitir.

- Eu... – minha voz baixou para um sussurro inteligível. Eu havia blefado, havia me precipitado. De fato não havia muito que eu pudesse fazer contra um Mediador. Minha falta de palavras despertou um ataque de riso nele, e ele ria descarado de mim! Senti uma fúria imensa dominar-me naquele momento. Como ele podia ser tão irritante?

- Você me irrita. – sussurrei para ele, e o garoto cessou seu riso no mesmo instante, seus olhos ganharam um certo toque de hostilidade, então eu havia atingido seu orgulho, que ótimo.

- É assim que você agradece aqueles que salvam sua vida? – perguntou-me ele, claramente ofendido.

Cerrei meus punhos com muita força, podia ouvir meus ossos reclamando daquele esforço. Mas eu não conseguia conter minha fúria.

- Não pedi para que me salvasse.

- Uau! Mas que gênio você tem! – exclamou ele.

- Por que não me deixa em paz? – perguntei a ele, completamente irritada.

- Porque salvei sua vida, duas vezes – ele fez questão de deixar isso bem claro -, é claro que isso não ficará de graça, vim cobrar meu agradecimento.

- Vai sonhando.

Ele meneou a cabeça para os lados, os olhos azuis me desafiavam, era como se aquele seu ar de superioridade conseguisse atingir-me, e isso me irritava profundamente.

- Sabe, - começou ele - pessoas educadas agradecem quando outro lhe presta um favor. Elas até retribuem o gesto, mas parece que estou falando com a pessoa errada. Que pena, pensei que você uma garota mais inteligente.

- Vá para o inferno!

Ele riu novamente, e naquele momento eu quis voar em seu pescoço, literalmente. Como ele podia ser tão arrogante?

- Se eu dissesse a você que minha vida é o próprio inferno, você acreditaria?

Apenas ameacei dar meia-volta e sair dali, quando o vento agitou-se ao meu redor, e depois uma mão quente com dedos longos envolvia meu pulso, obrigando-me a ficar ali. Reagi na mesma hora, puxando-o, mas seu aperto, embora suave, não me permitia tal.

Virei-me para trás novamente, encontrando aquele par de olhos tão... Perdi o fio do pensamento. Ele estava tão próximo a mim, o canto dos lábios repuxado em um sorriso de arrancar o fôlego de qualquer uma. Seu cheiro encheu minhas narinas. Sua pele tinha um cheiro de colônia muito, muito bom. E eu podia até mesmo sentir sua respiração quente chocar-se contra a pele de meu rosto, e o cheiro do couro de sua jaqueta.

Trinquei os dentes com força e sacudi minha cabeça. O que estava havendo comigo?

- Afaste-se de mim! – eu exigi, mas ele pareceu não me ouvir. Puxei meu pulso novamente, mas era inútil. Eu não sairia dali enquanto ele não permitisse tal.

- Tudo bem, o que você quer? – perguntei de cara amarrada.

- Eu já lhe disse antes, quero que me agradeça. – pediu ele, gentilmente.

Sorri em sua face, descarada. Estava fazendo o mesmo joguinho dele.

- E eu já lhe disse que nunca!

Ele moveu seus olhos, fitando o céu, e fingiu uma expressão despreocupada.

- Ótimo, então ficaremos nesse impasse até que “nunca” termine.

- Argh! Você é terrivelmente chato! Devia ter permitido que os lobos me pegassem, seria melhor do que isso!

- Tem razão, há essa hora, seu lindo corpo estaria despedaçado em sabe lá quantas partes.

- Pelo menos eu não teria de aturar você! – exclamei através do dentes trincados.

- Eu já lhe disse que adoro garotas com gênios difíceis? – perguntou-me ele, com aquele sorrisinho outra vez.

- Cale a boca! – eu exigi, cerrando os punhos com força novamente, moendo minhas articulações.

- Isso é um pedido ou uma ordem?

A fúria ardeu dentro de mim novamente, como uma chama avassaladora.

- Ah, eu não vou mais responder as suas provocações, fulaninho!

- Hei, eu tenho um nome – reclamou ele -, a propósito, chamo-me Christian.

- Não me importa qual seja o seu nome, você é irritante de qualquer maneira!

Ele ignorou-me, puxando-me para mais próximo de si, onde eu adentrei debaixo de seu olhar penetrante e irresistível.

- E você, tem nome? Ou terei de chamá-la de algum apelido?

- Não revelo meu nome para estranhos. – contra-ataquei.

- Então, vamos nos tornar íntimos, aí você me revela o seu nome. Ou, posso descobrir sozinho, e garanto que dessa maneira será bem mais constrangedor.

Fiz-lhe uma careta, mas que opção eu tinha? Estava encurralada, e por ele! Isso era bem pior do que ser caçada por uma alcatéia. Melhor ainda, era pior do que ser caçada por um desertor! Suspirei, obviamente irritada.

- Chamo-me Agatha. – murmurei por fim.

Ele sorriu novamente, e eu tive de lutar comigo mesma para não permitir que aquele seu sorrisinho safado mexesse comigo. Mas não fui muito eficiente, tenho que admitir.

- Muito prazer, Agatha. É um belo nome, para uma garota tão bela quanto você. – murmurou ele, naquela voz tremendamente irritante e sexy ao mesmo tempo. Oh, droga! Eu estava corando.

Essa não, não, não, não, não! Senti as ondas de calor acumularem-se nas maçãs do meu rosto, principalmente quando sua mão que envolvia meu pulso, moveu-se até a minha, erguendo-a para que seus lábios macios roçassem em suas costas. Senti um calor dominar todo o meu corpo e minhas pernas ficaram bambas. O que estava havendo comigo? Eu só podia sentir isso quando estava perto de Aidan, ninguém mais! Ponto final.

Reordenei meus pensamentos e puxei minha mão da sua com um movimento brusco. Afastei-me dele imediatamente, recuando, medindo cada passo. O garoto sorriu novamente, mas era um sorriso de satisfação, ele sabia o que estava fazendo comigo.

Christian. Esse era o nome dele. Um nome bonito, eu tinha que admitir. Tão bonito quanto o dono, na verdade. Droga de novo! O que eu estava pensando? Ele era um completo estranho! Aliás, um estranho bem irritante. Aquilo era o cúmulo!

- Ainda estou esperando, Agatha. – murmurou ele, colocando as mãos nos bolsos do jeans. – Onde está o meu obrigado?

Fiz uma carranca no mesmo instante. Se ele achava que ia mexer mais comigo, estava redondamente enganado. Rá, quem ri por último, ri melhor.

- Melhor esperar sentado.

Ele soltou um longo suspiro, parecendo decepcionado.

- Se não for hoje, certamente será outro dia. Ei, eu não desgrudarei da sua cola até que me agradeça. – advertiu-me ele. – E se por acaso, você cruzar com outra criatura perigosa, o que é muito provável, já que você parece ser um imã para o perigo, eu terei de salvá-la novamente, e a sua dívida só tenderá a aumentar comigo.

- Não haverá próxima vez. – eu o alertei.

- Não tenha tanta certeza, Agatha. O destino não é algo que possamos controlar. – murmurou ele.

Eu simplesmente o ignorei, dei meia-volta, apanhando minha mochila e comecei a caminhar, embrenhando-me na mata novamente. Deixando aquele estranho para trás, aquele irritante, arrogante, e embora eu não gostasse nada de admitir, lindo estranho.

- Idiota. – sibilei entredentes, marchando sob a fina garoa que começava a despencar naquele fim de tarde. O céu ainda estava pálido como giz, mas pequenas nuvens cinza-claro deslizavam sobre ele agora. Eu podia quase jurar que ele ainda ria pelas minhas costas.

Decidi ignorá-lo, ele já havia me tirado do sério, eu não daria aquele gostinho a mais para ele. Eu seria madura, eu não reagiria às provocações dele.

Assim que saí da mata, voltei para a rua deserta, caminhando ainda sob a garoa fina e gelada. Abracei-me quando o vento tornou-se mais rude, arrepiando minha pele. O que eu não gostava de admitir, e muito menos de lembrar, era que aquele garoto conseguira mexer comigo... Espere, o que estava dizendo? Ele havia conseguido é irritar-me, isso sim.

Revirei meus olhos, e decidi esquecer aquele evento desagradável e constrangedor, eu precisava focar meu tempo e energia em outra coisa. Minha recente descoberta: seriam cinco sacrifícios, se dois já haviam sido feitos, isso quer dizer que restam três.

É crucial que eu descubra quem são eles, e impedi-los, antes que seja tarde demais. Talvez, iniciar o Wayeb fosse algo realmente ruim. Os Maias estavam certos por temer esses cinco dias, os últimos dias do ano.

Estávamos a pouco mais de um mês deles. Isso significava que eu tinha pouco tempo para agir, pouco tempo para impedir que o Wayeb se concretize. Pouco tempo para salvar South Hooksett.

Cheguei em casa, jogando minha mochila de forma desleixada no carpete da sala. Eu parecia um gato escaldado. Sequei meus sapatos e entrei, adentrando à atmosfera silenciosa e sombria que envolvia minha casa.

- Mãe? – chamei por ela, mas não houve resposta. Então ela devia ter ficado até mais tarde no trabalho.

Subi os lances de escada já me livrando das roupas. Abri o chuveiro, e adentrei debaixo da torrente de água quente. A sensação foi de descongelar e relaxar cada músculo de meu corpo.

Assim que terminei, enrolei-me na toalha e caminhei até meu quarto, escolhi roupas confortáveis, uma calça puída que eu jurava a máquina de lavar roupa ter engolido e uma blusa de algodão, não pretendia sair de casa mesmo, muito menos receber visitas.

Lancei-me na cama e abri meu caderno, pronta para gastar várias horas tediosas com meu dever de casa. Porém, minha mente disparava para longe dali, pensando no garoto que me salvara ainda há pouco.

Christian. Quem verdadeiramente seria ele? Quais segredos estariam em seu passado? Minha curiosidade despertava lentamente, enquanto eu via-me ser envolvida por um novo e intrigante mistério.

Bufei, onde eu estava com a cabeça? Tornei minha atenção para o meu dever, embora um par de olhos azuis aparecesse em minhas lembranças de cinco em cinco minutos. Definitivamente, eu estava enlouquecendo.

Quando amanheceu, eu estava um pouco moída. Resultado de minha noite mal dormida. Naquela noite eu permanecera alerta, receosa da advertência que Christian me dera. Temerosa de que o próximo sacrifício do Wayeb pudesse ser alguém que eu conheço, ou pior, eu mesma. E eu fui acometida de vários pesadelos por causa disso.

Minha rotina seguiu-se completamente normal. A não ser pelo fato de que naquela manhã eu achara melhor carregar o Terceiro Olho comigo, talvez fosse o meu sexto sentido novamente. Pelo menos no outro dia ele não falhara. Fitei-me no espelho de minha penteadeira, ocultando a jóia chamativa com meu casaco escuro com vários botões na frente. Por baixo, eu vestia uma grossa cacharrel branca. O tempo estava esfriando, e o vento ainda assobiava do lado de fora.

- Agatha, querida, você vai se atrasar! – gritou minha mãe do andar de baixo.

- Já estou quase pronta! – respondi, aos berros.

Suspirei em frente ao espelho.

- Estou pronta.

Desci as escadas, apanhando minha mochila, ainda murmurei um “Tchau” para minha mãe e depois saí pela porta, nem me importando com café da manhã. Quando minha cabeça estava cheia demais, meu estômago a invejava, e por conseqüência eu não tinha um pingo de fome.

O céu estava leitoso como no dia anterior, a não ser por algumas nuvens que deslizavam sobre ele, movendo-se ao sabor do vento suave e gélido.

Logo eu já podia visualizar a multidão que se acumulava na frente do colégio. Aproximei-me daquele tumulto rotineiro, retribuindo o aceno de Tamara quando ela avistou-me no meio daquele alvoroço. Ela correu até mim, esbarrando em muitos. Deu-me um sincero sorrio e abraçou-me rapidamente.

- Puxa, você parece cansada – observou ela -, deixe-me advinhar, noite mal dormida?

Lancei-lhe um olhar de desculpas.

- Mais ou menos. – respondi-lhe.

Ela sorriu novamente, os olhos faiscando como chamas esverdeadas.

- E então já soube? – perguntou-me ela.

- Soube de quê?

Ela riu um pouco, depois tornou a fitar-me, passando um braço em meu ombro e conduzindo-me para a passarela de cimento da frente da escola.

- Haverá uma excursão na semana que vem. Vamos explorar a floresta para a aula de Biologia.

- Excursão? – repeti, chocada.

- Sim. - Tamara abaixou-se, abrindo a bolsa e apanhando um papel que ela agitou no ar – Vê? É uma autorização. Será na quarta-feira e acho que será muito divertido também.

Apanhei o papel de suas mãos e ergui as sobrancelhas. Era realmente verdade. Exploraríamos a floresta próxima ao rio Suncook.

- Você tem noções de diversão bem estranhas. – murmurei, devolvendo-lhe o papel.

Ela deu de ombros.

- Talvez estranho seja meu segundo nome.

Nós duas rimos e encaminhávamos para a escola, quando algo azul entrou em meu campo de visão. Escancarei meus lábios e olhei do outro lado da rua, lá estava ele. Christian. Parado de forma despreocupada em uma árvore, o sorrisinho debochado emoldurava seus lábios. Ele acenou para mim, claramente estava me chamando para conversar. Ouvi Tamara gemer do meu lado.

- Uau, quem é ele? – ela perguntou-me, mal conseguindo tirar seus olhos dele.

- Um engraçadinho abusado. – eu respondi, irritada. Como ele pudera seguir-me na escola?

Fitei-o com os olhos semicerrados, o cenho franzido. Ele acenou novamente para mim, jogou a face para trás. Parecia mais uma intimação a um convite amigável. Senti o cotovelo de Tamara cutucar-me.

- Ele está olhando para você. Não, espere, ele quer falar com você!

- Então ele que fique querendo! – exclamei, nervosa.

Tamara riu ao meu lado, e tornou a fitá-lo.

- Puxa, ele é uma graça, parece um daqueles modelos superfamosos. E que olhos!

Trinquei meus dentes, até Tamara havia caído nas graças dele? Tudo bem, era inegável o fato de que ele bonito... Tubo bem, muito bonito. Mas nem toda a beleza dele podia compensar seu caráter abusado e irritante... E sexy, eu tinha que admitir.

Tamara empurrou-me de leve para a frente, sibilando através dos lábios semi-abertos.

- Vá lá, Agatha, não seja grosseira.

- Eu não! Se ele quiser falar comigo, que venha até mim!

Tamara colocou ambas as mãos em minhas costas e empurrou-me com determinação até o meio-fio.

- Uma convesinha não vai matar você! Aliás, ele parece ser simpático.

- Simpático? – eu repeti, exasperada – Ele é um troglodita, isso sim! E eu posso morrer sim conversando com ele, de irritação!

- Não seja dramática! – ela teimou, empurrando-me ainda mais.

- Tudo bem, tudo bem! – eu a interrompi, antes que ela terminasse de me empurrar até a outra calçada, eu não queria dar mais aquela satisfação a ele. – Eu vou, mas serão apenas algumas palavrinhas.

Tamara fez um sinal de positivo, sorrindo abertamente. Eu apenas bufei enquanto atravessava a rua. Passo por passo, fui aproximando-me dele, os membros um pouco rígidos, colados às laterais de meu corpo. Vi o sorriso de Christian aumentar à medida que eu me aproximava. Os olhos azuis estreitavam-se, deixando-o com um ar completamente misterioso. Quase como se uma névoa o envolvesse. Uma névoa de segredos.

Estaquei diante dele, meu semblante ainda era uma carranca, mas ele parecia não se importar muito com esse fato. Ele retirou as mãos dos bolsos e colocou o polegar no queixo, examinando-me com os olhos como lápis.

- Sua amiga parece ser bem mais inteligente que você, - murmurou ele – e bem mais sociável também eu devo confessar.

- Ei, deixe Tamara fora disso! – eu exclamei, zangada novamente. É incrível, era só ele abrir a boca para eu perder todo e qualquer encanto que pudesse sentir por ele. Ele riu baixo, uma risada leve como plumas. Ele não era mesmo um anjo? Encarei-o, desconfiada. Não, ele não era. Anjos não eram tão irritantes, mas Mediadores, esses eram. E bem insistentes eu tenho que acrescentar.

- Posso saber o que está fazendo aqui? A não ser que tenha vindo para estudar.

Ele cessou o riso, analisando-me com seus olhos grandes novamente. Senti-me desconcertada, aquele era o tipo de olhar que eu recebia de Aidan. O olhar que penetrava minha carne e admirava minha alma diretamente. Christian relaxou a postura, curvando-se um pouco, os ombros para a frente, o dorso para trás, recostando-se à estrutura da árvore.

- Sua alma brilha de uma forma tão intensa. – ele riu, interrompendo-se – Tão intensa na verdade que posso senti-la do outro lado da cidade.

- E o que isso tem de mais? – perguntei, zangada. É claro que eu já sabia desse fato, Aidan já me contara. Aliás, fora isso a atraí-lo até mim, a fasciná-lo: minha alma.

Christian deu de ombros.

- Conheço algumas pessoas, elas acreditam que quando sua alma brilha dessa forma é porque está predestinada a algo muito grande. Seu destino deve ser algo realmente grandioso, Agatha.

Revirei os olhos, impaciente.

- Foi só por isso que veio?

- Não. – ele respondeu mecanicamente – Vim cobrar meu favor novamente, não quero que você acabe esquecendo de sua pequena dívida comigo.

- Você não tem algo mais importante para fazer? – eu perguntei, já furiosa e sentindo as ondas de calor dominarem meu corpo – Tipo atormentar outra pessoa, se bem que seria um castigo e tanto.

Ele permaneceu completamente relaxado, os olhos debochados, um sorriso irritante de esgar nos lábios.

- Ainda vou fazê-la mudar de opinião a meu respeito.

- Só no dia que chover fogo. – eu contra-ataquei. Mas não consegui arrancar aquele sorriso dele. Na verdade nada do que eu dizia parecia atingi-lo. Acontecia o oposto comigo.

- Cuidado com o que diz, pode não ser tão impossível.

- Rá, rá, engraçadinho!

Cruzei meus braços e dei meia-volta, ameaçando deixar aquele local, mas ele fora mais rápido e apareceu na minha frente, bloqueando meu caminho.

- Você é louco? – eu o questionei, completamente incrédula. Ele pareceu não compreender meu nervosismo repentino.

- Por que?

Eu quase engasguei depois de ouvir aquilo. Ele estava falando sério?

- Não pode usar suas habilidades em público! Quer ser caçado como um desertor?

Estranhei, pois nesse exato momento um sorriso sinistro brotou em seus lábios, um sorriso assustador que causou arrepios em mim.

- Se eles viessem até mim fariam um favor. Tenho contas a acertar com Sillentya.

- Você é louco. – sussurrei e depois passei por ele, ignorando-o completamente.

O sinal soou, indicando que eu deveria entrar imediatamente.

- Ei, Agatha! – ele chamou-me uma última vez.

Virei-me para trás, encontrando sua silhueta no meio da pista, enquanto eu já me encontrava na calçada. Os olhos lampejaram uma última vez, faiscando em um brilho azul intenso.

- Isso ainda não terminou, você ainda não me agradeceu.

Virei-me para a frente novamente, obrigando meus pés a seguirem para o prédio da escola. E quando já estava próxima da porta de vidro, eu sussurrei para mim mesma.

- E nem pretendo.


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Notas finais do capítulo

Ahhhh! E então o que acharam??

Nome interessante o dele não?? Eu já estudei com um Christian, na sexta série, embora ele tenha me deixado traumatizada... (longa história)

Oinn agradecimentos especiais a Juliacalasans por recomendar a fic novamente... Muito obrigada, fofa! Você mora no meu coração!

E eu raxei de rir enquanto escrevia a interação desses dois... Ele é bem folgado não??

Próximo cap., uma revelação bombástica! E o que vocês acham que vai sair dessa excursão? Coisa boa é que não é... rsrsrsrsrs

Reviews???

Beijos!!!