Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 6
V - Desconfiança


Notas iniciais do capítulo

5º capítulo com algumas revelações bombásticas!

Boa leitura!



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Capítulo V – Desconfiança

“Não desista...”, dissera-me ele. E eu realmente consegui encontrar forças para passar por todas aquelas provações a que estava sendo submetida.

Eu consegui sobreviver à tormenta que ameaçava tragar-me para as suas próprias entranhas. Ou ao menos, lutar com unhas e dentes, agarrando-me a minha vida, utilizando toda e qualquer força que ainda pudesse haver dentro de mim. Quanto tempo já teria se passado?

Eu podia sentir aquela fina névoa que entorpecia meu corpo recuar lentamente, devolvendo meus sentidos, devolvendo minha consciência. O silêncio ao meu redor foi a primeira coisa que constatei. Meu corpo jazia repousado mais uma vez em uma cama dura feito mármore, minhas costas reclamavam.

Havia um bip irritante permeando meus ouvidos e algo estava preso ao meu braço. Ah, que ótimo, era uma agulha intravenosa!

O máximo que consegui remexer-me no leito sem que cada osso de meu corpo protestasse, virei minha face para o lado e finalmente passei para a etapa mais dolorosa: abrir os olhos. Eles arderam sob a iluminação artificial.

Observei o leito completamente vazio, estranho que minha mãe não estivesse ao meu lado. Aquilo não era típico de seu comportamento superprotetor. E só quando resolvi puxar o ar para meus pulmões, sorvendo-o com uma intensidade maior foi que notei os tubos em meu rosto, mais especificamente em minhas narinas, aquilo era muito desconfortável.

Era por isso que eu odiava hospitais. Mas ali estava eu agora, praticamente amarrada a um leito. Malditos Devoradores!

Fechei meus olhos e tentei me acalmar, o estresse só prolongaria a minha estada ali. E eu contaria os minutos, os segundos para receber alta.

Despertei de meus pensamentos quando a porta de meu quarto foi aberta e entrando por ela uma enfermeira viera. Seus cabelos eram dourados e estavam presos em um coque baixo, enquanto portava uma prancheta em uma das mãos. Ela sorriu assim que me viu de olhos abertos, desperta.

- Ora, já despertou?

Assenti muda, enquanto ela aproximava-se de meu leito, observando minuciosamente os aparelhos que me monitoravam. Folheou a prancheta, e depois se virou para mim novamente, um sorriso ainda mais largo emoldurando seus lábios.

- Quer que chame alguém?

- Minha mãe... eu acho... – interrompi-me, pensando melhor a respeito, ela teria um ataque quando me visse de olhos abertos e consciente.

- Sua mãe deve ter ido para a casa descansar um pouco. – murmurou ela, o tom gentil ainda prevalecia em sua voz.

- Tem mais alguém aqui? – perguntei, curiosa. Era realmente estranho que minha mãe tivesse ido para a casa, provavelmente para tomar banho e trocar de roupa. O que me fez pensar em quantos dias exatamente eu permaneci convalescente.

A moça ajeitou a prancheta entre os braços que estavam cruzados. E os olhos castanhos estreitaram-se um pouco.

- Sua avó está aqui, posso chamá-la se quiser companhia. Mas logo o doutor virá vê-la.

Foi um choque para eu ouvir aquilo. Vovó estava aqui? No hospital? Quando ela havia chegado? Enquanto eu estava inconsciente? Estremeci ao pensar nessa hipótese.

- Claro. – assenti para a enfermeira que sorriu gentilmente uma última vez e depois se retirou do quarto, desaparecendo no longo corredor enquanto a porta fechava-se. Depois de ter contado impacientemente até duzentos, uma figura irrompeu pelo quarto, a mão enrugada, mas ainda assim repleta de anéis nos dedos, segurava na maçaneta da porta, enquanto a outra mão sustentava um imenso buquê de flores coloridas.

Franzi um pouco a testa, até mesmo ali as flores faziam questão de me perseguir. Que ótimo, deviam ser de John.

Mas foi impossível conter aquela explosão de sentimentos e nostalgia ao rever aquele rosto tão iluminado, que mesmo desgastado pelas forças implacáveis do tempo, ainda mantinha uma aura de luz e uma bondade imensurável.

Vovó não havia mudado nada desde a última vez que a vira. O cabelo macio, ondulado e branquinho como neve ainda emoldurava suas feições. Os olhos negros pequeninos encheram-se de alegria ao ver-me ali. E eu ainda me recordava perfeitamente de seu cheiro, de seu creme favorito que deixava sua pele cheirando a hortelã. Dos tecidos leves de sua blusa estampada em flores, seu casaquinho cor de lavanda e a saia pendendo até depois de seus joelhos. Os sapatinhos com saltinhos miúdos roçando no assoalho, revelando sua chegada.

Cada lembrança minha e de vovó perdia-se em uma nuvem de nostalgia.

Vovó sorriu para mim, os lábios rosadinhos e murchos esticando-se, revelando a fileira de dentes perfeitos e brilhantes. Ela tombou a cabeça para o lado, analisando-me e depois explodiu em uma onda de satisfação e saudade.

- Ora, minha neta! – exclamou ela e depois se atirou em minha direção, os braços estendidos para mim, que não podiam envolver-me devido a meus ferimentos, mas que mesmo assim pareciam buscar com ânsia e fervor pelo calor de meu corpo.

- Vovó. – recebi-a de braços abertos, enquanto sua face repousava no alto de minha cabeça e ela beijava minha testa. Ou ao menos, tentei recebê-la, a agulha em meu braço limitava e muito meus movimentos.

Quando ela afastou-se para fitar-me nos olhos, seu semblante parecia preocupado. Olhei sugestivamente para o buquê colorido e perfumado em suas mãos e ela ergueu suas sobrancelhas brancas como a neve.

- Presente do “noivo” de sua mãe – vovó abaixou-se até mim, claramente querendo segredar-me algo -, e cai entre nós, ele é uma gracinha. Agora eu sei porque sua mãe está tão derretida quanto manteiga.

- John é realmente um cavalheiro, muito gentil, e aposto que fará mamãe muito feliz.

Vovó deu um tapinha de leve no colchão de meu leito e depois riu novamente. Mas eu ainda tinha que lhe perguntar algo que estava praticamente me corroendo por dentro.

- Vovó, quanto tempo eu... – interrompi-me, tentando me lembrar de quando exatamente acontecera o acidente. E os flashes da festa de Becki no sábado preencheram meus pensamentos. Estremeci quando alcancei a cena dela rasgando a própria garganta, e o sangue brotando do ferimento, escorrendo por seu corpo. “Os cinco dias sem nome estão se aproximando”, ela dissera, embora eu não tivesse a menor idéia do que aquilo podia significar.

Vovó afagou meus cabelos, seu toque era tão suave, como se ela temesse que meu estado fosse tão frágil a ponto de eu poder espatifar-se sob suas mãos.

- Você está inconsciente a quase três dias, meu bem.

- Três dias? – eu arfei.

- Sim, querida. Você perdeu muito sangue, teve de suturar uma artéria, levou vários pontos na cabeça e recebeu várias transfusões. Eu cheguei na cidade ontem e já vim direto para cá, para poder vê-la. Sua mãe quase morreu de aflição nesse tempo em que você esteve inconsciente.

- Eu posso imaginar. – sussurrei, é claro que eu sabia que havia me ferido muito no acidente, só não imaginava que eu permanecera tanto tempo sem abrir os olhos.

Minha avó sorriu, seu olhar parecendo perder-se no tempo.

- Parece uma rotina isso, sempre que eu venho visitá-la, você consegue se meter em problemas. Acho que seria mais saudável se eu não viesse mais vê-la e me conformasse com a saudade danada que sinto de você.

Eu ri um pouquinho, lembrando-me da última vez que uma visita dela acabara por me meter em sérios problemas. Uma lástima foi o desfecho daquele incidente. Uma garotinha não devia ter passado pelo que eu passei. Sufoquei aquela lembrança amarga, tornando a sepultá-la no fundo de meu vazio. Eu não queria ter de revivê-la agora.

- Procure descansar, querida, você ainda está muito debilitada. – sugeriu minha avó, afagando meu cabelo mais uma vez.

- Vovó, posso fazer-lhe uma pergunta?

- Claro, meu bem. – respondeu-me ela, enquanto já se levantava e levava consigo o buquê de flores, ajeitando-o em um vaso de cristal, próximo a janela de cortinas venezianas, pela qual, feixes luminosos penetravam, banhando todo o quarto. Mordi meu lábio inferior, hesitando, mas o que eu tinha a perder de qualquer maneira?

- Mamãe não deu um chilique com a sua chegada, deu?

Vovó Anette voltou até mim, sentando-se na ponta do colchão. Depois soltou um longo suspiro, enquanto os olhinhos pequeninos como doninhas pousavam em minha face.

- Não, meu bem, ela não conseguia pensar em nada que não fosse você nesses últimos três dias. E você tem muita sorte, foram três amigos seus que a encontraram e chamaram uma ambulância. Aliás, eu conheci um deles, um ruivo, de olhos verdes – vovó sorriu maliciosamente para mim, - ele é muito bonito e parecia muito preocupado com você. Acho que vocês dois dariam um casal muito bonito.

- Vovó! – eu a repreendi, enquanto ela caía em uma gostosa gargalhada, e eu ficava encabulada.

- Estou apenas brincando, minha netinha. Mas o que há de mais nisso? Já não está na hora de você procurar pela sua alma gêmea?

Eu perdi a fala no mesmo instante. Como contar a ela? Como... Como eu poderia dizer para ela que eu já o havia encontrado? Que meu caminho já se cruzara com o daquele a quem meu coração pertenceria até meu último suspiro? Até a última batida? Eu não poderia. Simplesmente não havia maneira de contar a vovó sobre Aidan.

Sorri desconcertada, enquanto engolia em seco, já sentindo o bolo formar-se em minha garganta.

- Como se não bastasse a mamãe cobrando-me isso.

Minha avó sorriu de forma maravilhosa, atirando a cabeça para trás.

- Sabe que não estou falando sério, querida. Você é que tem que decidir quando será a sua hora certa e com quem será. É uma decisão importantíssima e somente cabe a você tomá-la.

- Eu sei, vovó. – assenti, claramente querendo empurrar uma pedra em cima daquele assunto. Minha avó cessou seu riso de sino de vento e os olhos tornaram a recair sobre a minha face. Sua mão procurou pela minha, sem movê-la, e então a agarrou, os dedos enrugados e esquálidos entrelaçando-se aos meus.

- Senti sua falta, meu bem. – confessou-me ela, um lampejo de saudades ardendo em seus olhinhos negros.

- Eu também, vovó. – admiti, sendo tomada novamente por toda aquela sensação de nostalgia. Minha avó soltou um longo suspiro, seus olhos perdendo foco. E ela permaneceu distraída, imersa e absorta em seus próprios pensamentos até que eu a chamei de volta.

- Vovó?

- Sim? – respondeu-me ela, prontamente. Mordi meu lábio, hesitando. E ela esperou pacientemente até que eu me pronunciasse novamente.

- Vovó... Posso... Posso te fazer uma pergunta?

- Claro, querida. – ela assentiu, mas eu pude notar a tensão em sua voz.

Inspirei fundo, ignorando quando minhas costelas reclamaram de meu esforço.

- Por que minha mãe sempre implicou com suas visitas?

Vovó estreitou seus olhos negros um pouco, olhou em derredor, parecendo quere certificar-se de que as paredes daquele quarto seriam nossas únicas testemunhas. Depois tornou a fitar-me, os olhos cautelosos.

- Agatha, meu bem, não me leve a mal, por favor, mas porque exatamente está me perguntando isso?

- Eu não sei exatamente... – sussurrei, minha face tombando, decepcionada.

Vovó suspirou, depois se sentou na beirada do colchão. A face inclinada na minha direção.

- Querida, sua mãe... sua mãe sempre teve medo de perder você. Ela sempre temeu que o mesmo que aconteceu a seu pai, viesse a acontecer com você.

- Mas por quê? Eu não entendo.

- Foi para proteger você que ela enfiou-se nesse fim de mundo. Ela tentava esconder você, ainda quando estava no ventre dela, dos mesmos responsáveis pelo desaparecimento de seu pai.

O choque atravessou todo o meu rosto, ao mesmo tempo em que eu perdia-me em um turbilhão de confusão.

- Vovó, do que a senhora está falando? Meu pai não desapareceu, ele foi morto em um assalto, quando voltava do trabalho à noite, minha mãe disse-me isso.

Vovó mais uma vez pareceu perder-se em seus próprios pensamentos. Ela desviou seus olhos dos meus, baixando sua face, enquanto seus lábios permaneciam entreabertos e suas sobrancelhas uniam-se.

- Querida, provavelmente... Provavelmente sua mãe ia matar-me se por acaso soubesse que estou lhe contando isso. Mas, a questão é que, querida, seu pai não morreu em um assalto, muito menos sabemos se ele está vivo ou não.

- O quê? – perguntei, minha voz erguendo-se algumas oitavas. – Vovó, a senhora não pode estar falando sério! Isso é um absurdo!

Ameacei levantar-me do colchão, mas as mãos de minha avó detiveram-me, segurando, enquanto que seus olhos, alarmados e apavorados por minha reação, praticamente suplicavam para que eu me acalmasse. Mas como eu poderia ficar calma? Como eu poderia sequer pensar na hipótese de me acalmar depois dela ter revelado-me tal informação?

Impossível!

- Vovó, por tudo o que é mais sagrado, explique-se! – exigi – Ou então eu chegarei à conclusão de que a senhora está fazendo uma brincadeira de mau gosto comigo!

- Eu não estou brincando, Agatha. Por que mais você acha que sua mãe teria tido tanto trabalho a ponto de se mudar para esse fim de mundo e convencer você de que seu pai faleceu devido à violência das cidades grandes? Ela queria proteger você.

- Eu espero realmente que isso seja verdade. – concordei, ainda tentando aliviar aquela tensão que ameaçava dominar-me a qualquer momento. – Mas do quê exatamente ela buscava proteger-me?

- Bem, quanto a isso, somente ela deve saber. – vovó sacudiu a cabeça, cerrando os olhinhos – Seu pai sempre foi um homem cheio de segredos. Eu sempre soube que havia algo que ele escondia, algo que ele detinha, mas eu jamais soube o que era.

Franzi meu cenho, enquanto repensava nesse assunto. De quanto mais minha mãe estava privando-me?

- E o que mais a senhora sabe sobre ele?

- Apenas que ele nasceu na Itália, era filho de italianos. Porém, a mãe o abandonou quando ele tinha apenas dias de vida. Meses depois ele foi adotado por um casal de americanos que residia na Itália, e foi criado por eles, pelo menos até os pais adotivos morrerem em um trágico acidente automobilístico quando ele tinha apenas treze anos. Por sorte ele recebeu uma boa herança dos pais, e ficou sob os cuidados de um tutor até atingir a maioridade.

Eu arfei.

- Meu pai era italiano?

- Sim, sua mãe o conheceu durante uma viagem a Europa. E a paixão que nasceu entre os dois foi algo inevitável. Ele desistiu de tudo por ela, veio para a América tentar refazer a vida. Claro que eu sempre desconfiei, Henry era um homem tão reservado e misterioso. Mas sua mãe parecia completamente convicta de que ele seria o amor de toda a sua vida. E meses depois eles casaram-se. Mas eu sempre mantive um pé atrás com a figura de seu pai. A forma como ele evadia de seu passado, parecendo até mesmo estar fugindo dele, ou de uma outra coisa ainda pior...

- Continue, vovó. – pedi-lhe.

- Eu sempre confiei em sua mãe, no instinto dela, de que se ela estivesse se envolvendo em algo perigoso demais, ela pularia fora, ela o abandonaria. Mas eu sempre me enganei sobre sua mãe, Agatha. O amor a cegou, e alguns meses depois ela já estava esperando você. – minha avó sorriu, lançando-me uma piscadela – Lembro-me perfeitamente do dia que ela contou-me, na alegria que eu via irradiar de seus olhos, a aura de felicidade que a recobria, e por um tempo, eu tenho que confessar, que passei a aceitar a união de ambos. Mas então algo aconteceu... Em uma noite chuvosa e fria, sua mãe ligou-me aos prantos, dizendo algo sobre Henry ter ido embora para o seu próprio bem, ter simplesmente desaparecido, como se tivesse sido levado, ou arrastado por algo ou alguém. E ela também me disse que estava fazendo as malas, que viajaria ainda naquela noite para algum lugar desconhecido e seguro. Claro que eu tentei fazê-la desistir daquela loucura, mas havia tanto pânico em sua voz, tanto desespero, que eu nem mesmo a contestei. E simplesmente permiti que ela partisse.

“Desde então sua mãe tem agido de um jeito diferente, ela sempre me proibiu de mencionar algo de seu pai para você, restringia as visitas e impunha limites em tudo. É por isso que eu acredito que ela tenha vindo para South Hooksett para proteger você de algo muito perigoso. Ela estava tentando esconder você, minha querida”.

- Proteger-me de quê? De quem?

Minha avó cruzou as mãos sobre o próprio colo, e suspirou derrotada.

- Isso eu jamais saberei, mas de algo eu posso ter absoluta certeza, sua mãe sabe de tudo, ela sempre soube, mesmo antes de casar-se com seu pai. E ela guarda esse segredo até hoje de você, meu bem.

A desconfiança que aflorou dentro de mim naquele momento quase acabou por me tragar e engolir-me por inteira. Havia tantas coisas que eu não sabia sobre o meu próprio pai! E tudo por causa de minha mãe.

Como ela pôde? Como ela conseguiu soterrar tantas verdades de sua própria filha e por tantos anos? De quanto mais ela estava privando-me?

Mas o pior foi que ao tomar conhecimento dessas informações, eu acabei por reviver as lembranças daquela noite em que minha mãe e Aidan cruzaram-se pela primeira vez. A sensação de que eles já se conhecessem, a forma como minha mãe reagiu a isso, e o conselho de Aidan, pedindo-me para parar de perseguir aquela verdade, parar de tentar desenterrá-la. Mas o que afinal podia haver de tão ruim e medonho em meu passado? O que era esse segredo que todos pareciam esconder de mim?

E o mais preocupante, estaria meu pai vivo, vagando por algum lugar longínquo e desconhecido por mim? Estaria ele realmente... vivo?

Essa pergunta não me deixou dormir naquela noite, e mesmo com os dias seguindo, a semana voando, ela ainda consegue privar-me do sono.

Já fazia quase uma semana e meia que eu estava ali. Em poucos dias eu teria alta, e mal esperava por livrar-me de uma vez por todas daquele lugar.

Após a conturbada e reveladora visita de minha avó, minha mãe, John, Tamara e Peter, e até mesmo Bill – que andava um pouco sumido - vieram até o hospital para me ver.

Eu já me sentia muito melhor, pelo menos fisicamente, aquela história que minha avó me contara ainda estava tirando meu sono.

Tamara viera visitar-me naquela tarde ensolarada, atípica naquele outono, especificamente para contar-me as novidades na escola. Embora ela só me falasse do novo professor de História Européia e no quanto ele era legal com a sala.

Ele decidira substituir a nota do exame por um seminário que abordaria a Inquisição Italiana.

- Você precisa ver por si mesma, Agatha! Ele é uma graça, até elogiou minha redação!

Revirei os olhos, insatisfeita com o assunto. Eu não queria estar presa a um leito agora! Eu queria estar na escola, pelo menos lá eu não ficava completamente à toa e entediada o dia inteiro.

- Eu imagino. – assenti, pouco interessada nas qualidades do novo professor de História Européia.

Tamara reprimiu uma risadinha e veio sentar-se a beira do colchão.

- Você já parece melhor, acha que consegue receber alta antes do fim de semana terminar? Já não me agüento de saudades de você! A escola não é a mesma coisa sem você por lá.

- Vou fazer o possível e o impossível para que isso aconteça. Não suporto ficar nem mesmo mais um segundo nesse lugar.

- Peter também está morrendo de saudades de você. – comentou ela, risonha.

- Er... Posso imaginar. – murmurei, um pouco encabulada.

- Uma pena mesmo que e o seu carro tenha dado perda total, era um belo modelo. Você nem mesmo conseguiu usufruir corretamente dele.

- Na verdade John está vendo se não há algo que possa ser feito. Embora eu ache completamente desnecessário, não sei se conseguirei segurar em um volante novamente depois de tudo isso.

- Eu posso te ajudar com isso. – ofereceu-se ela, gentilmente.

- Obrigada, mas mesmo assim, foi uma experiência que eu não quero ter de repetir nunca mais.

Tamara afagou meu braço, sorrindo.

- Ei, não precisa se sentir assim. Não foi culpa sua, até mesmo eu ficaria apavorada se visse o que... – Tamara hesitou, mas eu assenti para que ela prosseguisse – Se eu visse o que você viu, Agatha.

Ignorei o nó que havia se formado na minha garganta, pigarreando para tentar desfazê-lo.

- Quando foi o enterro?

Tamara deu de ombros, como se não quisesse dar muita ênfase no que estava dizendo.

- No fim de semana passado, os pais dela estão arrasados demais, e não tivemos aula por dois dias devido ao luto. O mais estranho nisso é que os médicos realmente acharam que ela tivesse se recuperado. Becki agia normalmente, como qualquer adolescente, mas sinceramente não sei se quero descobrir o que se passava pela cabeça dela.

- O que você quer dizer com isso? – perguntei um pouco apreensiva.

Tamara suspirou para depois me responder.

- Ela deixou uma carta endereçada aos pais. Nela, Becki contava que havia uma voz em sua cabeça que a mandava tomar aquela atitude. E que essa voz era a detentora de toda a verdade, a responsável pelos últimos acontecimentos medonhos que arrasaram toda a cidade. Ela estava louca, Agatha, é a única explicação que encontro.

Estremeci depois de ouvir isso, relembrando-me do que exatamente ela dissera. Os cinco dias sem nome estavam aproximando-se, foi isso o que ela disse. Mas o que poderia significar eu não tinha a menor idéia.

- Havia mais alguma... coisa nessa carta? – perguntei um tanto receosa.

- Não. Apenas isso. Mas por que ela escolheu rasgar a própria garganta na sua frente eu não consigo entender.

- Eu também não. – confessei.

- Mas o que realmente importa é que você está bem e que voltará à escola na semana que vem. – murmurou uma Tamara muito mais animada.

Rendi-me com um longo suspiro, era impossível que algo conseguisse abalar Tamara por muito tempo. E era inevitável que toda aquela sua animação também não me contagiasse.

Pela primeira vez, eu estava desesperadamente louca para voltar para a escola.

- Então acho que nos vemos na segunda.

- Claro. – assenti à meia-voz, devolvendo seu sorriso animado, vislumbrando a silhueta magra retirar-se do quarto, deixando-me sozinha novamente, eu realmente tinha muito que fazer assim que saísse daquele leito.

Primeiro, eu deveria tentar saber mais sobre essa estranha informação que Becki deixara-me. Estava óbvio para mim que aquilo ainda não tinha acabado. Mesmo após a morte de Laura Cornner, o terror continuava a pairar sobre South Hooksett. E aquilo ameaçaria a vida de todos.

Segundo, eu precisava buscar mais informações sobre o passado de meu pai. Como eu faria aquilo, eu não tinha a mínima idéia. Mas era uma necessidade para eu agora descobrir quem realmente era, quem realmente foi o meu pai.

Talvez quando eu soubesse quem ele foi, eu acabaria por descobrir também o que é que está enterrado no meu passado e que todos tanto lutam para esconder de mim.

E por último, mas não menos importante, eu precisava tentar descobrir quem era o misterioso garoto de olhos azuis que me salvara dos Devoradores de Alma. Embora eu não soubesse ainda se ele era amigo ou inimigo, eu precisava tomar cuidado com ele. Porque em nosso próximo encontro, pode ser que o destino resolva fazer de nós dois inimigos mortais. E era essa a idéia que mais me apavorava naquele momento.


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Notas finais do capítulo

Ahhhhh e então o que acharam??

A participãção da avó da Agatha ainda não acabou! Mas ela já revelou muita coisa interessante!

Próximo cap., o jantar de noivado da mãe da Agatha e... segredo! rsrsrsrsrsrsrs E falando no próximo cap., sem previsão para sair, essa semana terá feira de ciências na minha escola e eu vou ficar louca arrumando tudo!

Reviews???

Até a próxima!

Beijos!