Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 4
III - O Despertar da Quimera


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, postando na quarta de manhã...

Cap. tenso e cheio de surpresas!

Boa leitura!



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Capítulo III – O Despertar da Quimera

“Eu estou afundando,

Afogando-me em você

Eu estou caindo pra sempre

Eu tenho que passar por isso

Eu estou afundando”.

(Evanescence – Going Under)

Fitei-me no espelho uma última vez. Suspirei perante o meu próprio reflexo. Perdi-me por alguns segundos na profundidade das lagoas negras que eram os meus olhos, tão opacos, sem vida.

Baixei meus olhos, depositando a escova de cabelos em cima da penteadeira. Não podia ficar melhor do que isso.

Caminhei até meu criado-mudo, abri a pequena gaveta, retirando de lá de dentro, a jóia da qual eu jamais me separava. Pendurei-a em meu pescoço, ocultando-a com meu pequeno casaco. O clima estava esfriando.

Saí de meu quarto, lancei-me escada abaixo. Na sala, sentada sobre o sofá, minha mãe lia um livro. Aproximei-me sorrateira dela, depositei um beijo em sua bochecha. E ela interrompeu sua leitura, fitando-me com seus olhos serenos.

- Não chegue muito tarde, meu bem. – pediu-me ela.

Suspirei novamente.

- Pode deixar, mãe.

Dei-lhe as costas, apanhando a chave de meu carro.

- E divirta-se! – acrescentou ela a minhas costas.

- Tudo bem. – assenti e depois saí para a noite fria e escura que estava lá fora. Era inevitável que todas as vezes que eu olhasse para um céu negro como aquele, sem estrelas, sem os raios prateados da lua para iluminar o manto escuro e gélido da noite, as lembranças daquela noite viessem a minha mente. Eram flashes perturbadores que marcaram a minha entrada de cabeça nesse mundo desconhecido do sobrenatural.

Estremeci quando os flashes tornaram-se mais intensos e assustadores. Decidi ignorar aquela sensação e abri a porta de meu carro, deslizei para dentro dele, lá dentro estava bem mais quente e confortável. Coloquei a chave na ignição e a girei, dando a partida, antes de seguir para a desconhecida casa de Becki, eu precisava apanhar Peter.

O silêncio que prevalecia dentro do automóvel era deveras estranho. Nós nem mesmo nos atrevíamos a ligar o rádio para quebrá-lo. Peter estava tão imóvel quanto uma rocha ao meu lado. É claro que eu evitava a todo custo olhá-lo. Eu apenas me perguntava como havia parado em uma situação como essa.

A rodovia estava escura e sombria àquela hora da noite. O vento uivava, dando-me uma sensação estranha, e ao mesmo tempo, desoladora.

Logo, a negridão do manto que recobria o céu foi substituída pelas luzes ofuscantes que irradiavam de dentro da casa. Se é que aquilo poderia realmente ser chamado de casa. Não, seria modesto demais, não faria jus. Eu mal acreditava no que estava vendo bem diante de mim.

Manobrei o carro, virando para a esquerda, seguindo pela pequena estrada, onde ao fundo, no topo de uma colina, encontrava-se a casa. Era grande, muito espaçosa. Possuía dois andares, sendo todas as paredes do andar de baixo compostas por vidraçarias. A decoração seguia um padrão rústico. Mobília em tons claros. E mesmo a uma distância considerável, eu podia ouvir a música dançante, sob a qual os jovens sacolejavam, movendo seus corpos.

Estacionei o carro aos pés daquela enorme inclinação, colocando-o em ponto morto e retirei a chave da ignição. Peter retirou o cinto de segurança e eu o acompanhei.

Abri a porta do carro e deslizei para fora. Logo ele viera postar-se ao meu lado, caminhando no mesmo ritmo despreocupado e desanimado do meu.

Ergui minhas sobrancelhas assim que pude ter uma visão mais clara do que exatamente decorria dentro de luxuosa mansão. A comida esvaía-se e desaparecia em uma velocidade considerável. Muitos riam e conversavam em voz alta, portando nas mãos o copo de ponche. Ah, e é claro que alguns bebiam bebidas alcoólicas, parecia meio tolo de minha parte que eu aguardasse por outra coisa.

- Bem, vamos procurar por Tamara. – sugeriu Peter, encarando-me com uma expressão indecifrável.

Assenti e ele permitiu que eu fosse na frente. Era incrível, eu desviava de todos eles, espremia-me entre os corpos que povoavam aquele espaço fechado. Eu sentia-me completamente deslocada ali, e não entendia por que demônios eu havia aceitado esse convite.

Meus olhos vasculhavam todo aquele cômodo do andar de baixo à procura de Tamara. E logo eu a encontrei, para o meu alívio. Ela estava com Bryan, recostada em uma das paredes de vidro, e parecia entediada.

Aproximei-me dela, sorrindo um pouco. Era bom encontrar um rosto amigável e familiar ali no meio de tanta gente. Os olhos verdes assim que me viram, ganharam um brilho de empolgação, então ela também queria a minha companhia.

- Oi. – murmurei.

Bryan soltou a cintura de Tamara para cumprimentar Peter. Depois seus olhos dispararam até a minha face, e um sorriso brincalhão surgiu no canto de seus lábios.

- Ora, então o casal veio mesmo?

Baixei meus olhos, encarando o assoalho branco e lustroso da casa. Eu não havia gostado nem um pouco da indireta dele. Tamara percebeu meu constrangimento e desferiu uma leve cotovelada nas costelas de Bryan, que se encolheu um pouco, parecendo um confuso.

- O que foi? – perguntou ele. Ela franziu o cenho.

- Não force a barra, por favor.

- Ah! – ele suspirou e depois a puxou novamente para si, pondo um fim no assunto.

Deixei que meus olhos vagassem por todo a sala abarrotada, prestando atenção em cada um que estava presente ali. Cada rosto sorridente, cada gargalhada incontida. E mais uma vez eu senti aquela pontada, aquela apunhalada em meu peito. Porque todos ali podiam ser felizes, todos podiam rir à vontade, sorrir por qualquer motivo fútil, mas eu, eu não podia, não enquanto eu não o tivesse ao meu lado.

Cerrei meus olhos com força e trinquei meus dentes, eu não ia pensar naquilo agora. Não ali. Senti uma mão quente em meu ombro e então despertei.

- Você está bem, Agatha?

Abri meus olhos, constatando que era Peter. Ele parecia preocupado comigo.

- Você parece meio pálida. – observou ele.

Fingi um sorriso nos lábios e encarei-o diretamente.

- Não é nada, eu estou bem.

Peter hesitou, seus olhos verdes analisavam-me, buscando por qualquer coisa que pudesse denunciar a minha mentira.

- Talvez eu só precise de um pouco de ar fresco. – sugeri – Acho que está meio lotado aqui.

Peter entreabriu os lábios, suspirando, e seu hálito quente chegou até a minha face. Em seguida ele envolveu meu rosto com suas mãos quentes, sustentando meu olhar. E novamente eu senti-me constrangida. Um pouco sem graça.

- Eu vou levá-la para tomar um pouco de ar.

- Ei, não precisa perder a sua diversão por minha causa. – eu ri um pouco, interrompendo-me - Eu posso encontrar o caminho, é sério.

Ele sorriu, os lábios carnudos repuxando-se nos cantos, expondo a fileira de dentes brancos e brilhantes.

- Não há diversão para mim sem você, de qualquer forma.

Desviei meu olhar pela primeira vez. Evitando olhar nas íris esmeraldinas, que pareciam querer cativar-me, e fazer-me perder em suas imensidões. Peter manteve o nosso contato, segurando em minha face. Porém, uma agitação estranha acabou por nos despertar. Todos pararam as suas atividades, o falatório logo foi reduzido para sussurros e cochichos. Alguém desligou o som alto. Até que tudo cessou. E todos encaravam atônitos a figura parada no alto da escadaria. Não precisei olhá-la para saber de quem se tratava; então a anfitriã da festa finalmente aparecera.

Becki encarava a toda a sua platéia, os lábios pela primeira vez não sorriam. Nos olhos havia um brilho diferente, e a aura que a rodeava naquele momento dava-me arrepios. Mas ela produzira-se para a festa, o vestido justo, vermelho, delineava cada curva de seu corpo. Os cabelos louros estavam soltos, caindo naturalmente em suas costas.

Becki colocou as mãos na cintura, enquanto, elegantemente, seus pés desciam os degraus. E então a festa recomeçou. O som foi colocado no último novamente, enquanto uma música agitada envolvia todos os presentes ali, e as conversas descontraídas eram ouvidas ao fundo do ritmo dançante da música. E logo a figura de Becki fora sufocada por uma multidão, todos queriam estar ao redor dela. Ela era o centro das atenções.

Despertei novamente quando Peter soltou meu rosto, mas suas mãos deslizaram até meus ombros, e ele exigia a minha atenção novamente.

- Ei, Agatha?

Tornei a fitá-lo, tratando de esquecer a aparição de Becki e seu novo comportamento estranho que implicava em uma personalidade magnética, que atraía tantos súditos e devotos.

- Sim?

- Você ainda quer dar uma volta? – perguntou-me ele, a expressão serena, mas cheia de expectativa.

- Claro. – assenti, e então a mão de Peter deslizou novamente, percorrendo meu braço, para então encontrar a palma de minha mão, e ele a envolveu com a sua, puxando-me dali.

Esprememo-nos no meio da multidão que se aglomerava toda no andar de baixo. Até que a sensação sufocante e claustrofóbica desapareceu, e nós caminhávamos pelo belo jardim da casa. Senti a brisa gélida causar uma sensação refrescante em minha pele. E eu finalmente pude respirar aliviada. Peter seguia logo à frente, sua mão ainda enroscada na minha, enquanto eu era rebocada por ele para um canto mais tranqüilo e sossegado do jardim, onde muitas árvores erguiam-se do chão, todas muitos bem tratadas e aparadas.

Aquela sensação desagradável apanhou-me novamente. Eu não queria que Peter levasse aquilo adiante. Eu não desejava feri-lo, nem magoá-lo. Mas parecia não me restar outra opção.

Encarei o céu negro acima de mim, a ausência do luar só o tornava ainda mais obscuro e assustador. E aquela sensação de deja vu não me deixava. Sacudi minha cabeça, afastando aquelas nuvens sombrias e melancólicas de mim.

Peter estacou diante de um belo cedro, cujas densas folhagens sombreavam todo aquele ponto, e somente os olhos de Peter brilhavam no escuro quando encontravam os meus, tão... cálidos.

Ele puxou-me para mais perto de si. Segurando em meus cotovelos. Tentei-me afastar imediatamente, mas ele impedia-me. E toda a minha paciência esvaía-se de mim.

- Peter, por favor, não... – eu pedi-lhe, minha voz não passava de um fraco sussurro.

Seu rosto desmoronou no mesmo instante, acho que ele não contava com a minha rejeição.

- E por quê, Agatha? Dê-me um bom motivo.

Respirei lentamente através de meus lábios entreabertos, fechei meus olhos e busquei por alguma desculpa. Qualquer uma poderia servir-me naquele momento.

- Nós não podemos, somos amigos.

- Isso não me parece um bom motivo, pelo menos não é tão convincente.

- Peter... – eu sussurrei, praticamente suplicando-lhe que não levasse aquilo adiante.

Sua mão quente envolveu minha face outra vez, e algo despertou dentro de mim. Algo se remexeu dentro de mim. Eram apenas as lembranças de Aidan, vindo assombrar-me outra vez. Fazia três meses que eu havia me enterrado naquele buraco negro. Três meses que eu estivera sem ele.

Era normal que eu sentisse essa carência. Mas eu não podia brincar com os sentimentos de Peter, eu não queria magoá-lo. Principalmente porque o único a povoar meu coração seria Aidan. E ele não permitiria a entrada de mais ninguém.

- Agatha? – chamou-me Peter, fazendo-me despertar de meus devaneios.

Tornei a fitá-lo, observando como seus olhos recaíam sobre a minha face. E aquelas esmeraldas o delatavam, seus sentimentos estavam totalmente expostos nelas. Ele não fazia questão de esconder-me nada, simplesmente abria o jogo, e deixava-me furiosa comigo mesma. Por que eu ainda permitia isso?

- Diga-me, por favor, por favor, o que você realmente acha de mim?

- Por que está me pedindo isso? – perguntei-lhe, aturdida.

- Apenas diga. – pediu-me ele mais uma vez.

Rendi-me com um longo suspiro.

- Peter, você sabe perfeitamente.

Ele ergueu as sobrancelhas, desacreditado em mim.

- Eu sei?

- Tudo bem. – murmurei – Você é um cara legal. É gentil, bom, inteligente. – sorri um pouco, interrompendo-me – Você é muito bonito, faz parte do time, e aposto que muitas garotas dariam absolutamente tudo para receber a sua atenção.

- Então... – ele instigou-me.

- Então, não faz sentido você perder seu tempo comigo.

Ele silenciou meus lábios com seu indicador.

- Ei, não diga isso. Nenhuma delas pode equiparar-se a você, Agatha. E você vale a pena toda a luta.

Eu ri sem humor, tentando de alguma forma desviar o rumo de nossa conversa, eu já podia imaginar o desfecho disso e não gostaria realmente que isso acontecesse.

E de repente, os olhos dele ganharam um aspecto de seriedade e ele franziu o cenho, enquanto seus lábios apertavam-se em uma linha rígida.

- Agatha, ele não vai voltar.

Ouvir isso diretamente de Peter foi como receber um choque de milhares de volts. Claro que eu sabia que Aidan não voltaria para mim. Ele jamais voltaria a pôr os pés nessa cidade outra vez. Ele já havia cumprido o seu dever. Ele retornara para a Itália. E nós não nos veríamos por um bom tempo. Pelo menos até que eu me formasse e pudesse fugir desse fim de mundo e ir atrás dele.

Mas, se eu jamais o encontrasse, então realmente seria o fim para mim. Mas uma coisa era eu ter total consciência desse fato. Outra bem diferente era ter de ouvir as pessoas jogarem isso na minha cara.

O desespero golpeou-me e eu recuei, tentando afastar-me de qualquer maneira de Peter.

- Eu sei que ele não vai voltar. – murmurei, zangada, era estranho ouvir isso em minha própria voz, soava mais triste, mais morto.

Peter segurou-me ainda mais, nossos corpos entraram em contato pela primeira vez. E meus olhos ardiam de uma forma incomum.

- Agatha, em três meses não houve nada, nenhuma carta, nenhum telefonema. Ele não voltará mais, ele não se importa com você. Por que mais ele não mandaria nenhuma notícia?

- Você não entende. Ele... ele não pode.

Peter sorriu de uma forma sarcástica, quase cruel.

- Ah, claro! Ele não pode.

- Você não o compreende.

E ele aproximou mais a sua face da minha, suas duas mãos envolviam-me e seus olhos ameaçavam tragar-me.

- Agatha, quem não compreende nada aqui é você. Será que não vê os meus sentimentos por você?

- Peter, não, por favor, pare. – eu tentei impedi-lo uma última vez, suplicar-lhe que parasse com isso. Mas parecia inútil tentar demovê-lo daquela decisão. Ele jamais ouviria o meu bom-senso.

- Agatha, eu faria qualquer coisa por você. Qualquer coisa.

- Não! – eu teimei com ele, tentando desvencilhar-me de seus braços, mas sem magoá-lo.

E lentamente ele curvou-se até mim. Eu fiquei tão imóvel quanto uma estátua de mármore. Eu nem mesmo respirava. E os lábios de Peter buscavam pelos meus. Mas eu realmente deixaria isso acontecer? Eu realmente permitiria que outro me beijasse?

Meu primeiro beijo...

Era inevitável que essas lembranças tão belas, de meu momento mais feliz, povoassem meus pensamentos e preenchessem minha mente, relembrando-me do dia em que eu senti-me completa pela primeira vez. O dia em que eu estive nos braços dele pela primeira vez. E aquelas lembranças criaram raízes em meu cérebro, fixaram-se ali, para que mais ninguém conseguisse removê-las.

E de repente, quase como mágica, eu podia sentir a maciez dos lábios de Aidan nos meus, seu hálito quente e delicioso. Sua língua enroscando-se a minha. A quentura de seu corpo próximo ao meu, seus braços fortes ao meu redor, como pilastras irremovíveis e indestrutíveis.

E era nele, e apenas nele que eu conseguia pensar. Em mais nada. Eu ainda tinha consciência de Peter curvando-se lentamente até mim. Mas eu não podia permitir que outro me tocasse, como Aidan tocou-me. Ninguém mais conseguiria encontrar a chave de meu coração, como Aidan encontrou.

E tudo o que eu tinha em mente naquele momento era tentar afastar Peter de mim. Quando ele aproximou-se mais de mim, e seus lábios estavam prestes a roçar nos meus, eu girei meu rosto, desviei-me deles, e seus lábios apenas encostaram-se a minha bochecha.

- Desculpe-me, Peter, eu realmente não posso... Eu preciso ir!

E depois eu lutava contra os seus braços. Ele não resistiu muito, então era como eu havia imaginado. Minha atitude o magoou. Eu não tinha tempo para ficar remoendo isso.

Desvencilhei-me de seus braços, e saí em disparada, correndo como uma louca para dentro da casa abarrotada outra vez, deixando meu amigo magoado e ferido para trás. E eu empurrava as pessoas a minha frente, e eu espremia-me entre elas, tentando encontrar um lugar reservado e sossegado.

Subi as escadas como uma louca, adentrando a primeira porta que vi. E irrompi pelo cômodo como um furacão. Choquei-me com violência contra a porta e a fechei. Deixei que meus olhos vagassem pelo cômodo que havia invadido pela primeira vez, era um banheiro, um luxuoso banheiro. Então eu estava no lugar certo.

Corri até a pia de mármore e abri a torneira. Mergulhei minhas mãos no filete de água fria, para em seguida levá-las até meu rosto. E a sensação foi refrescante. Repeti o ato mais algumas vezes, até perceber que a umidade ameaçadora que se acumulava em meus olhos já havia ido embora.

Sequei minha face e preparei-me para fitar meu rosto no grande espelho retangular acima da longa pia de pedra granito. Porém, assim que eu o fiz, sobressaltei-me, assustando-me de imediato. Porque alguém me encarava pelas minhas costas. Reconheci-a no mesmo instante; era Becki. Ela fitava-me com um olhar estranho, um meio-sorriso emoldurava seus lábios, enquanto suas mãos cruzavam-se nas costas.

Virei-me para ela, ainda um pouco assustada. E permanecemos em silêncio por um tempo que a meu ver, pareceu interminável, um silêncio mortal que foi rompido apenas quando Becki sorriu mais abertamente e caminhou até mim, estacando a poucos centímetros de onde eu estava.

Olhei através dela, vendo a porta do banheiro fechada. Nós estávamos sozinhas ali, não havia mais ninguém. O resto divertia-se no andar de baixo. E um calafrio percorreu todo o meu corpo.

- Por que está com medo de mim, Agatha? – perguntou-me uma Becki sorridente, esboçando um largo sorriso, e aparentando muita inocência.

- Na-não estou com me-medo de você. – gaguejei e ela percebeu isso no mesmo instante, pois riu baixinho.

- Vejo isso nos seus olhos, Agatha, posso sentir o cheiro do seu medo no ar.

- Você está enganada. – murmurei.

- Estou mesmo? – questionou-se ela.

E depois seus olhos azuis desviaram-se de meu rosto, fitando o nada por longos segundos, ela parecia relembrar-se de algo. E mais uma vez, sua voz despertou-me.

- Sabe, Agatha, no fundo eu sempre senti um pouco de inveja de você.

Ergui minhas sobrancelhas, do que ela estava falando?

- Eu não compreendo, Becki, por que está brincando comigo?

- Eu não estou brincando, Agatha, estou falando sério. Eu sempre a invejei.

Eu sorri sarcasticamente.

- Não, você não pode estar falando sério. Por que alguém como você invejaria uma pessoa como eu?

Aquilo era completamente insano. Como uma garota popular, bonita, adorada e cobiçada por todos poderia sentir inveja de uma garota como eu, completamente isolada do resto da sociedade, estranha e sem absolutamente nada de especial que a fizesse ser notada.

- É aí que você se engana, Agatha. Você pode não ter tido muitos amigos, mas o pouco que teve lhe eram fiéis até a morte. Você não cresceu sendo cercada por pessoas falsas, fúteis, que diante de você o bajulam, e o agradam, mas pelas suas costas falam tantas maldades de você e o esfaqueiam. Aposto que você não sabe o que é isso. E além do mais, você possui um jeito cativante, tão cativante na verdade que conquistou a atenção do garoto que eu mais quis em toda a minha vida.

- Você está falando do...

- Sim, eu estou falando do Aidan. Ele realmente ama você. – ela riu sem humor, interrompendo-se – Isso é tão irônico. Eu cresci vendo o jeito como os rapazes reparavam em mim, o jeito como eles olhavam-me, e eu sentia-me a garota mais feliz e completa do mundo. Aí eu encontrei o Roy, e logo eu acreditei que ele seria o meu príncipe. Mas contos de fadas não existem, porque logo o Roy notou você. Você, Agatha, e seu jeito isolado e fechado. E ele quis você, mais do qualquer outra coisa, mais até do que eu. Isso me enfurecia, claro que eu sempre soube das traições dele, eu apenas fingia que não via, eu ignorava esse fato, afinal nós havíamos sido feitos um para o outro. Mas mesmo assim, Agatha, ele não te tirava da cabeça. E o idiota levou esse desejo insano até o fim.

Becki encerrou seu discurso, e as lembranças daquela noite, mais uma vez, invadiram minha mente. Era fato o que Roy tentara fazer comigo, mas eu jamais havia levado em conta como Becki sentia-se com toda aquela situação. E pela primeira vez, eu realmente senti pena dela. Becki sorriu para mim mais uma vez.

- Você também possui uma mãe tão atenciosa e superprotetora, embora jamais tenha conhecido seu pai, sua mãe foi capaz de suprir essa ausência, ela ama você a tal ponto que seria capaz de sacrificar a própria vida por você. Mas, a minha mãe sempre ligou mais para o seu trabalho e as suas amigas do que para a própria filha.

“E então você conheceu o Aidan, claro que logo ele já era o objeto de desejo de todas as meninas da escola, inclusive o meu. Mas eu realmente o queria porque Aidan parecia ser o tipo de garoto que lhe jura fidelidade e leva essa promessa até o fim. Ele não era parecido com os outros garotos. Era maduro, silencioso, misterioso, muito belo realmente, mas o que mais atraía-me nele, sem dúvida alguma, era a sua integridade, o seu cavalheirismo”.

- Becki, por que está contando-me isso? – perguntei-lhe, completamente aturdida. Ela apenas me ignorou e prosseguiu em seu discurso.

- Eu realmente cheguei a odiá-la, Agatha, mas somente porque eu queria ser você. Eu queria estar no seu lugar a qualquer custo. E eu não mediria esforços para alcançar esse meu objetivo.

Becki encerrou seu discurso com um sorriso amargo nos lábios, e um arrependimento profundo nos olhos.

- Agatha, eu sinto muito mesmo, por tudo o que te fiz passar.

- Você não precisa pedir-me desculpas.

Ela sorriu desconcertada, baixando seus olhos até o chão.

- Eu sei de tudo. – sussurrou ela – Como eu te coloquei em perigo naquela noite. Ele contou-me tudo.

Senti o sangue fugir de meu rosto, meu coração acelerou em meu peito, e minha respiração tornou-se mais densa, mais pesada.

- Eu não sei do que você está falando.

E então os olhos de Becki voltaram até os meus, mas havia algo de diferente neles, algo maléfico, algo tenebroso.

- Você não precisa mentir, Agatha, eu já sei de tudo. Sei que aquelas coisas que nos atacaram naquela noite eram Devoradores de Almas, sei do que houve com Roy e seus amigos idiotas, o que houve com Max. E de como tudo isso se relaciona com os recentes eventos pavorosos que assustaram todos os moradores nos últimos meses, e mais até, o massacre dos Hamilton. Sei de Sillentya, dos Mediadores, e principalmente, eu sei sobre Aidan Satoya.

- Não. – eu sussurrei – Você está enganada. – tentei convencê-la de que ela não estava raciocinando bem, de que ela estava errada, mas Becki mostrava-se confiante e extremamente segura do que estava dizendo.

- Não se preocupe, Agatha, ele contou-me tudo sobre você também, e de como a sua vida mudará depois dessa noite. Ele precisa de você.

- Eu não sei do que você está falando. – teimei, afastando-me da silhueta magra diante de mim, recostando-me à estrutura da pia. Até que eu fiquei presa entre Becki e ela. E então eu apavorei-me quando a vi descruzar os braços das costas, expondo o objeto que continha em suas mãos: uma lâmina longa e afiada, uma faca.

O choque atravessou todo o meu rosto e eu fiquei sem fala. Os olhos de Becki brilhavam excitados, enquanto ela empunhava a faca.

- Não... não faça isso, por favor! – eu supliquei-lhe, tentando salvar minha tola vida. E ela sorriu novamente, expondo a fileira de dentes brancos e brilhantes como pérolas.

- Os cincos dias sem nome estão aproximando-se, Agatha, e o fim dessa cidadezinha hipócrita também. Mas para nós, os sacrifícios, será apenas o começo de uma nova era, uma era livre da opressão das Sete Tristezas. Uma era que ficará marcada pela ascensão de um novo líder, o meu senhor e mestre reinará em breve.

- Becki! – gritei seu nome, esperançando que ela desistisse daquela idéia estapafúrdia, mas já era tarde demais. A mão de Becki movia-se com uma precisão demasiada.

- Adeus, Agatha. – sussurrou ela e depois enterrou a lâmina no próprio pescoço, rasgando a pele frágil de alabastro. A lâmina contaminou-se com o líquido carmim no mesmo instante. E enquanto ela rasgava a própria garganta de ponta a ponta, o sangue jorrava do rasgo, ensopando o chão, escorrendo por seu corpo, e ele misturava-se ao tecido carmim do vestido justo que ela usava.

Seus olhos perderam foco, e de seus lábios gemidos escapavam. Sua mão tombou, permitindo ao objeto ensangüentado quicar no assoalho do banheiro, manchando o piso branco e lustroso. E ela desabou no chão, já agonizante, completamente suja pelo próprio sangue, seu corpo banhava-se nele.

Levei a mão até os lábios, não acreditando que tivesse realmente presenciado tal ato. E de meus olhos lágrimas brotavam, despencando deles, escorrendo por minha face. E eu gritei, de uma maneira que jamais cogitei gritar. Era um grito de desespero, de incredulidade, de pavor.

Sim, porque meu pesadelo havia recomeçado. A fera monstruosa chamada Quimera havia despertado, e agora estava loucamente desejosa por tragar-me também.

Eu não podia ficar ali! Eu precisava fugir dali o mais depressa possível!

Se eu permanecesse, eu pereceria também, indubitavelmente.

Movida por meu desespero e por todos os meus medos, eu lancei-me para fora do banheiro, ainda aos prantos. Eu corria, eu lutava contra o tempo. Desci as escadas como um furacão, atropelei tantos que perdi a conta. Empurrei a maioria para abrir espaço e conseguir a minha tão almejada fuga.

Saí para a noite gélida e negra outra vez. Ouvi a voz de alguém me chamando, eu sabia que era Tamara, ela parecia preocupada, mas eu simplesmente a ignorei. Continuei minha corrida frenética até onde meu carro estava estacionado.

Quando cheguei, abri a porta e meti-me como uma louca para dentro dele. Retirei a chave de meus bolsos, eu tremia tanto que devo ter levado vários minutos para conseguir encaixar a chave na ignição.

Coloquei o cinto de segurança e dei a partida, manobrando o carro para deixar logo aquele local. E desci a inclinação do terreno, voltando para a rodovia principal. E eu trincava os dentes com muita força, tentando de alguma maneira empurrar minhas lágrimas de volta para meus dutos lacrimais, mas era uma batalha perdida. E eu falhava miseravelmente em reprimir meu choro.

Minha vista estava embaçada. Eu mal enxergava a estrada. E meu carro era o único transitando por ali naquela noite. Eu tinha consciência do velocímetro marcando acima dos 80, meu pé afundava no acelerador, mas nada mais importava. Eu precisava distanciar-me o mais longe possível daquele local amaldiçoado.

Parecia estranho que eu pudesse sentir o cheiro de sangue impregnado em mim. Passei as mãos freneticamente em meus braços, tentando limpá-lo, embora não houvesse mancha alguma. Eu sabia que estava entrando em pânico, mas não conseguia fazer nada para deter aquele processo.

Também limpei as lágrimas que escorriam de meus olhos, usando as costas das mãos. E rapidamente eu retornava para a estrada escura e solitária. Minhas mãos tremiam ao volante, mas eu não queria parar o carro de forma alguma. E eu dirigia, naquele estado, com os nervos à flor da pele.

Eu observava o retrovisor de forma frenética, sempre verificando se eu realmente estava sozinha ali. Recostei minha cabeça ao banco, e tentei acalmar meus nervos. Pelo menos, eu não chorava mais. Respirei fundo, e decidi que seria melhor parar o carro no acostamento e esperar.

Porém, antes mesmo que eu pudesse manobrar o carro, tirá-lo da estrada, algo aconteceu e sobressaltou-me. Eu pulei no banco quando o rádio ligou sozinho, o volume no último, e o som ensurdecedor preenchendo meus ouvidos.

Levei meus dedos até o botão para desligá-lo, mas nada acontecia. Parecia que aquela coisa tinha enlouquecido. E as estações alternavam-se sem cessar, os números corriam no visor e não parecia haver nada que deteria aquele processo.

Comecei a desesperar-me novamente, principalmente quando o ponteiro do velocímetro subiu alguns números e eu já entrava na casa dos 90. O que realmente me assustava é que eu não havia exercido uma pressão maior no acelerador.

Meti o pé no freio, tentando frear o carro de qualquer maneira, mas nada acontecia, o ponteiro não diminuía, minha velocidade não diminuía, mas meu pânico apenas aumentava.

Entrei em desespero, eu batia o pé freneticamente no pedal do freio, mas não obtinha resultado algum.

- Droga! – exclamei, furiosa e apavorada.

E então os fenômenos aumentaram, fui pega de surpresa novamente quando os limpadores do pára-brisa ligaram sozinhos e começaram a deslizar sobre o vidro de um lado para o outro. Pisquei, atônita, completamente confusa. Eu só podia estar sonhando.

No visor do rádio, os números das estações de rádio ainda corriam, o ponteiro do velocímetro ameaçava chegar à casa dos cem, e eu ainda tentava debilmente frear meu carro.

Olhei pelo retrovisor, um ato meramente instintivo, por puro reflexo, pelo menos foi disso que eu tentei me convencer. Talvez todo o meu ser já soubesse, talvez no fundo eu já tivesse consciência do que realmente estava acontecendo; a morte estava no meu encalço, mais uma vez.

Porque embora a escuridão mesclasse-se a eles, embora eles quase desaparecessem nela, eu podia vê-los. Os mantos negros e gélidos, os seres fantasmagóricos, flutuando em uma boa velocidade, em atrás de mim – os Devoradores de Alma.

Meus olhos deviam ter quase saltado para fora das órbitas. Meu coração sofreu um forte solavanco, e eu pensei que fosse ter uma parada cardíaca ali mesmo. Ao que meus olhos puderam distinguir eram três. Talvez houvesse mais, a escuridão noturna não me permitia ver mais nada.

E então eu compreendi, os poderes deles estavam fazendo aquilo ao meu carro. Então eles tentariam matar-me mais uma vez. Ainda mais desesperada, meti o pé no freio mais uma vez, mas era inútil, uma batalha em que não havia chance de vitória, e muito menos de fuga. Porque a morte me alcançaria, mais cedo ou mais tarde. E isso era inevitável.

Fitei as sombras movendo-se novamente pelo retrovisor. Depois, atrevi-me a colocar a cabeça para fora e olhar para trás, esperando que tudo não passasse de um grande engano, que meus olhos haviam pregado uma peça em mim, nada mais do que isso.

Meus cabelos eram violentamente chicoteados pelo vento brusco, devido a minha alta velocidade.

- Deixem-me em paz! – gritei para o nada a plenos pulmões, e depois me derramei em lágrimas novamente, completamente desesperada. E algo aconteceu, uma força muito poderosa e invisível a meus olhos, agiu sobre o carro, tão poderosa na verdade, que conseguiu mudá-lo de pista.

Os pneus cantaram no asfalto, e eu nem sei por que ainda continuava com as mãos ao volante, estava claro que eu não possuía mais controle algum sobre o carro.

A violência foi tamanha, que se não fosse pelo cinto eu teria sido atirada para fora do carro. Mas eu ainda seguia em alta velocidade pela estrada, na pista contrária, e logo eu entendi o porquê.

Luzes fortes e ofuscantes surgiram ao longe, eu sabia o que era. Claro que eu já sabia, mas mesmo assim, eu rezava fervorosamente para que não passasse de uma simples ilusão.

A uns cento e cinqüenta metros de mim, um enorme caminhão aproximava-se. E ele ia chocar-se contra mim, contra o meu carro.

- Não... – sussurrei para mim mesma – Não!

Em uma última tentativa desesperada de salvar minha vida, minhas mãos giraram o volante, e para o meu alívio, a força deixou de agir sobre o carro, libertou-o, dando-me a chance de salvar minha alma.

Eu virei o máximo que pude, e por um triz eu consegui. Voltei à outra pista no último segundo, mas os pneus raspavam no asfalto, produzindo muita fumaça, e o carro derrapava de lado, completamente virado.

O caminhão passou raspando ao meu lado e seguiu sua viagem sem nenhum dano. O mesmo não podia ser dito de mim. O veículo ainda derrapava, eu era lançada para a direita. Até que ele perdeu o equilíbrio e capotou, virou completamente, enquanto ele derrapava de forma violenta.

Levei minhas mãos ao meu rosto, tentando proteger-me. A lataria era violentamente prensada no asfalto de concreto. O pára-brisa explodiu em mim, centenas de cacos de vidros foram lançados na minha direção. E eu era jogada para todos os lados, sendo sustentada apenas pelo cinto quando o carro era virado de cabeça para baixo.

Perdi a conta de quantas vezes o carro capotou, minha velocidade alta só atenuou tudo aquilo. Eu podia ouvir o metal e o aço sendo dilacerados, os vidros explodindo, os cacos repousando no chão de concreto.

Mas eu não sentia a dor, não sentia o que normalmente deveria sentir e minha cabeça girava loucamente. Meu estômago estava embrulhado, eu parecia estar presa em algum turbilhão maluco que jamais cessava.

E então algo se chocou contra a lateral da minha cabeça, não sabia exatamente o que era, muito menos se ele havia batido em mim, ou se eu havia me chocado contra ele. Apenas senti a ardência tomar conta do local. E depois houve outra fisgada, dessa vez na minha perna direita. Talvez a lataria do carro tivesse cortado-a. E uma dor angustiante tomou conta de mim.

E eu tive medo. Medo por estar sozinha, medo por não ter ninguém que pudesse salvar-me agora. Medo por estar longe de Aidan. Medo por morrer completamente sozinha, ali, sem nada e nem ninguém que pudesse tirar-me daquele abismo negro no qual a morte estava lançando-me. Medo por ter de fechar meus olhos, tê-lo selados para sempre e nunca mais poder ver o rosto de meu amado.

Minha respiração era pesada, densa, dificultosa, o ar parecia não chegar até meus pulmões, e eu sufocava lentamente, perecia vagarosamente.

E depois, a movimentação cessou, o carro capotou apenas mais uma vez, estacando no asfalto de forma pavorosa, as rodas para cima, eu presa no banco pelo cinto de segurança, de cabeça para baixo. E embora eu soubesse que já havia terminado, minha cabeça não parava de girar, eu ainda não conseguia respirar normalmente e minha perna me incomodava.

Minha cabeça latejava tanto que parecia ter sido prensada por uma placa de metal gigante. E eu não conseguia mover-me de forma alguma.

Minhas costelas doíam pelo menor arfar de meus pulmões. Eu podia sentir o sangue escorrendo de minhas feridas. Pingando no teto do carro, ensopando minhas roupas. Mas tudo isso era passado despercebido por meu cérebro, tudo isso era registrado em segundo plano, porque naquele momento, tudo o que me preocupava, tudo o que me consumia e me apavorava eram as três sombras observando-me, em total silêncio, em total repouso.

E uma certeza dominou-me no mesmo instante: a Morte assistia-me.


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Notas finais do capítulo

Ahh! E então o que acharam? Aposto que vocês não esperavam por isso!

Pois é, a Becki se matou e o motivo será devidamente explicado. E a volta dos Devoradores de Alma, o que acharam?

Eles estão pegando pesado com a Agatha dessa vez... rsrsrsrsrsrs

Mas e agora? Quem irá salvá-la? A conclusão desse trágico acidente no próxim cap. e a aparição de um novo personagem!

Por favor, não se esqueçam das reviews, quanto mais reviews tiver, mais imaginação, inspiração e motivação para escrever eu terei! E mais rápido eu posto!

See you!

Beijos!