Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 22
XXI - Encurralados


Notas iniciais do capítulo

Como havia adiantado, acelerei o passo e trouxe um cap. mais cedo! *finalmente*

Mas este sim é o antepenúltimo! Tive que dividir em duas partes para que o próximo seja bem impactante e detalhista na batalha final!

Um pouquinho mais de terror para os fãs como eu... Estou caprichando nessa despedida do terror por aqui...

Espero que gostem!

Boa leitura!



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Capítulo XXI – Encurralados

“Está nos seus olhos, o que está na sua mente,

Eu temo os seus olhos e as promessas que há dentro

Está nos seus olhos, o que está na sua mente,

Eu temo sua presença, estou congelado por dentro”.

(Within Temptation – A Dangerous Mind)

Não sabia ao certo onde exatamente me encontrava. A névoa bloqueava, ofuscava, limitava minha visão. Mas era uma floresta, disso eu tinha certeza.

Os salgueiros, os carvalhos, os cedros e os imensos e imponentes pinheiros circulavam-me. Seus galhos lançavam-se sobre a pequena abertura que dava para um céu tão pálido quanto papel naquela gélida manhã.

O ar era denso, pesava em meus pulmões. Respirar ali, naquele ambiente, era uma tarefa árdua a qual eu não conseguia habituar-me.

Deixei que meus olhos confusos vagassem através do véu branco e gelado que me recobria. Estranhamente, eu tinha a sensação de que não era a única a estar ali, no meio de tamanho nevoeiro.

Movi meu pé direito, esmagando um galho seco, houve um farfalhar, um ruído em resposta, depois mais nada.

Girei o tronco, observando minha retaguarda, certificando-me de que nenhuma criatura sombria e sedenta por carnificina saltaria nas minhas costas. Mas a sensação de abandono foi maior, e eu relaxei meus músculos rijos.

Observei, fascinada, a cascata de folhas secas, amarronzadas, amareladas, que despencavam das copas das imensas árvores. Dançando em pleno ar, enquanto pousavam com graça no chão, e permaneciam imóveis.

Era Outono, conjeturei.

Mas isso não justificava toda aquela névoa.

Decidi deixar aquele local, procurar por algo que fizesse um pouco mais de sentido. Porém, caminhar através de tal nuvem gelada e densa não era fácil.

Minhas mãos escoravam-se nas cascas grotescas e ásperas dos troncos de árvores. De certa forma, aquele ambiente parecia-me familiar. Imagens borradas, resgatadas de lembranças distorcidas e sonhos inquietantes.

Continuei vagando pela floresta inquieta, movendo-me como uma figura fantasmagórica, até que a encontrei novamente...

Meus olhos mal podiam crer no que viam. Eu piscava, atordoada, esperançando que fosse apenas uma mera ilusão, uma quimera, fruto de meus maiores devaneios. Mas não era. Infelizmente.

Porque diante de mim, criatura incrédula e pasmada, encontrava-se a clareira onde se situava a velha casa dos Hamilton. A mesma casa que, quase um ano atrás, serviu-me de portal para essa nova dimensão que eu encontrei e adentrei, para nunca mais retornar à superfície.

Mas... Havia algo diferente nela. A estrutura ainda era a mesma, as janelinhas, a porta da frente, a varanda, o telhado, as vigas que a sustentavam; tudo estava exatamente igual como eu lembrava. A não ser por um mísero detalhe: ela não estava mais caindo aos pedaços.

A madeira não era podre, era nova e reluzente. A casa transpirava vida naquele momento, como uma jovem flor que acaba de desabrochar e exala seu perfume maravilhoso. A mansão estava novinha em folha.

Então, onde raios eu estava?

Circulei sua estrutura, contornando-a, até estacar no hall, onde eu observava furtivamente o seu interior iluminado e arejado. As samambaias cresciam verdes ao seu redor, flores decoravam suas laterais, conferindo-lhe ainda mais jovialidade.

E então, eu a vi.

Uma garotinha. Estranhamente, muito familiar a mim. Os cabelos dourados, caindo em ondas suaves até seus ombros, os olhinhos negros e redondos, os lábios rosados, as bochechas coradas... Não podia ser!

Era a mesma garotinha que esteve comigo dois dias atrás, que me contou toda a verdade. Aquela era a forma inocente que o Devorador de Almas usara para contar-me tudo.

Só que agora ela trajava um vestido lilás de mangas, saia rodada, e sapatinhos delicados nos pés.

Assustada, eu recuei. Meu pé vacilou, e eu pisei em falso, esmaguei várias folhas secas, produzindo um som que permeou toda a clareira, fazendo a garotinha dar-me as costas e adentrar a casa.

Levantei a palma de minha mão em sua direção, já movendo meu corpo para que a acompanhasse e adentrasse a misteriosa casa.

- Espere!

Atravessei a clareira, deixando meus instintos gritantes, que me alertavam para manter distância daquela casa, de lado. E continuei prosseguindo, pisando na madeira da varanda, e depois irrompendo pela estreita porta.

Estaquei na sala, a respiração pesada. As paredes pareciam girar um pouco a minha volta. Mas não havia sinal da menina.

Medindo cada passo meu, adentrei mais e mais na soturna residência, constatando que ela encontrava-se realmente desabitada, ou pelo menos, aparentava estar.

Uma pancada, oriunda do segundo andar, discordou de mim. E ecoou por toda a casa, sobressaltando-me.

Movi-me novamente, lançando-me escada acima e encontrando um estreito corredor com várias portas. E ao final, iluminada pelos raios pálidos daquela manhã, estava a menina, abraçada ao próprio corpo, encolhida, recostada à parede, tremulando, os olhos assustados, esbugalhados, vagos.

Os lábios trêmulos estavam entreabertos enquanto ela gemia sem cessar. Só então meus olhos baixaram, notando a poça de sangue que acumulava ao seu redor. O líquido carmim escorria pelo assoalho de madeira, espalhando-se e espalhando-se.

- Por quê? – perguntou a menina, trêmula, a voz rouca – Por que isso tinha que acontecer?

Eu recuei, alarmada, o medo instaurava-se em meu interior, enrijecendo meus músculos, fazendo meu coração bombear o sangue a toda velocidade. O jorro de adrenalina em minhas veias fez-me querer sair dali o mais depressa possível. Mas, eu não conseguia.

Estava presa a aquele lugar por algum motivo que eu desconhecia.

Ofeguei, sentindo o pânico alastrar-se por todo o meu corpo. E então, aconteceu o pior: a menina levantou-se da poça de sangue, o líquido escorria de suas vestes, manchava o tecido de seu corpo, e ela encarou-me com olhos severos e penetrantes. Olhos que possuem somente fúria, ódio, raiva. Aqueles eram os olhos do mal.

Eu tentei sair dali, tentei correr, tentei gritar, mas minhas pernas não me obedeciam, e minha voz era sufocada por meu pânico. Pânico este, que só se atenuou quando o sangue começou a jorrar das paredes, transbordando das fissuras, escorrendo e empoçando no chão.

A menina ainda caminhava na direção, decidida. Ela elevou ambas as mãos, espalmando-as para mim, e muito que deliberadamente, tocou-me.

Tudo depois desse toque ficou meio indistinto. Teriam as paredes ao meu redor perdido consistência? Elas pareciam meio molengas e esponjosas. Querendo, de alguma forma, ceder ao meu redor e tragar-me para dentro de si.

O chão assemelhava-se a areia movediça, prendia meus pés como cimento, fixava-me ali, impedindo-me de escapar daquele inferno. Eu podia sentir algo estranho infiltrando-se pela minha pele, invadindo meu corpo, dominando-me. Algo com o qual eu simplesmente não podia lutar, não podia resistir.

Tudo ao meu redor girava, e apenas a menina loura permanecia imóvel a minha frente. As mãos agora repousadas junto às laterais de seu corpo miúdo. O cenho permanecia franzido e os olhos negros exalavam maldade pura e concentrada.

Ela retorceu os lábios em uma careta, enquanto eu definhava bem diante de si. E depois, um sorriso cruel emoldurou seus lábios delicados. Claire Hamilton, ou seja lá o que fosse aquela coisa, sibilou com uma voz demoníaca, deixando minha mente oca no mesmo instante.

- Hora de vir até mim, Agatha.

E tudo cessou...

Toda e qualquer movimentação parou abruptamente, repentinamente. Os ruídos pavorosos deram lugar ao silêncio amedrontador, o sangue que ainda escorria das paredes desapareceu em um piscar de olhos, e as paredes que antes giravam sob meus olhos atordoados, fixaram-se em seus lugares.

Eu semicerrei meus olhos, minha expressão agora devia denunciar toda a minha confusão, todo o caos que havia se instaurado no meu interior naquele momento.

Meus lábios permaneceram entreabertos, enquanto eu arfava lentamente, sentindo o oxigênio retornar aos meus pulmões. Apenas uma parte da minha mente tinha consciência de tudo o que havia acontecido, a outra se encontrava submersa em algum tipo de realidade paralela, dimensão inebriante, uma da qual eu jamais poderia escapar.

A menina sumiu de minha vista, e eu não sabia se sentia alívio ou temor por esse fato. Meu corpo oscilava, sentia-me meio molenga, como se não tivesse controle mais sobre mim mesma. E permaneci nesse estado de espírito até que uma voz, desconhecida e arrepiante, sussurrou meu nome, puxando-me para a realidade, e eu despertava de meu sonho sombrio.

- Agatha...

Meus olhos abriram-se de uma vez só, encontrando a luz pálida daquela manhã. Os raios luminosos ofuscaram minha visão por alguns segundos, e eu tive que apertá-los para dissipar a desconfortável sensação.

E depois veio o reconhecimento, meus olhos vagaram pelo ambiente ao meu redor, no qual encontrava-me, o ginásio da escola, as arquibancadas longas, as clarabóias, por onde a luz penetrava, o grande portão de ferro, lacrado às sete chaves para nossa própria proteção, e duas figuras ainda imersas em sonhos profundos; Peter e Tamara ainda dormiam, revirando-se e murmurando coisas sem nexo.

Eu dava pela falta de uma terceira pessoa, mas não conseguia me lembrar de quem era exatamente. Não era importante, minha mente constatou.

E a voz, mais impaciente desta vez, chamou-me novamente, ecoando do além, ressoando em meus ouvidos.

- Agatha, venha até mim...

Sentei-me sobre a arquibancada na qual meu corpo jazia, olhei em derredor uma última vez, e então caminhei, descendo degrau por degrau, atravessando o ginásio e estacando diante da porta de ferro batido e chapas imensas.

Minha mão alcançou a tranca, e agilmente, meus dedos a puxaram, enquanto eu deslizava a pesada porta e estacava diante de um imenso corredor. Aliás, imenso, vazio, onde o silêncio predominava com eficácia.

O vento assobiava através da estrutura do prédio, e seu murmúrio sombrio chegou até meus ouvidos, soprando de leve em meu rosto. Foi a última coisa que senti antes de avançar pelo corredor, sentindo que o dono da voz aproximava-se gradativamente de mim.

As sombras foram intensificando-se conforme eu mergulhava em direção ao corredor, recobrindo-me, ocultando minha presença ali. Meus passos ritmados ecoavam ao fundo, delatando-me, entregando-me.

Eu sabia, em algum lugar distante da minha mente, que não devia prosseguir. Era perigoso, minha consciência alertava-me. Mas nada parecia ser suficientemente forte para me arrancar daquele profundo e misterioso devaneio.

E eu finalmente alcancei a luz branca que provinha da larga porta de vidro da frente do colégio. Estranhamente, o vidro havia sido todo arrebentado, e os cacos espalhavam-se pelo chão, cintilando como milhares de cristaizinhos.

Meus sapatos alcançaram a pequena e estreita passarela de pedra, atravessando a dianteira do prédio, e depois, eu já estava no meio da pista.

Eu podia sentir a presença do dono daquela voz misteriosa ficar mais e mais próxima a mim. E eu também podia sentir a satisfação que nossa proximidade lhe concedia.

Eu podia sentir o vento gélido tocar em meu rosto, vergastar algumas mechas de meu cabelo, mas nada parecia capaz de impedir-me em meu caminho.

Sorri com a mera possibilidade de encontrar o dono daquela voz. Porque embora me parecesse assustadora, demoníaca, cruel, eu sabia que precisava de mim, necessitava da minha ajuda.

E eu realmente teria chegado ao meu destino, se uma sombra, movendo-se com agilidade por trás, espreitando-me, não tivesse me detido em meu caminho, se seus braços não tivessem me segurado, apertado-me contra o seu corpo.

Debati-me, tentando me libertar daquela criatura, mas ela era forte e resistia a minha vontade. E sua voz ressoou em meus ouvidos, tirando-me finalmente daquele transe.

- Acalme-se, Agatha, sou eu...

Meus olhos esbugalharam no mesmo instante, era Christian! Aquele quem me protegera nos últimos meses, aquele quem estivera ao meu lado nos últimos meses, o irmão mais novo de Aidan.

Relaxei em seus braços, enquanto chegava a difícil constatação de que havia sido manipulada, mais uma vez. O desertor havia invadido minha mente através de meus sonhos e havia me hipnotizado pela segunda vez, como quando tentei cometer suicídio no começo do ano naquela ponte.

Christian sustentou todo o peso do meu corpo, sentando no asfalto, tendo a mim ainda em seus braços. Respirei, aliviada, e Christian afagou meus cabelos.

- O que foi isso? – consegui perguntar, um pouco trêmula.

Christian olhou em derredor, e trincou os dentes, furioso.

- Eu senti a energia dele nos arredores, sabia que ele tentaria algo, então resolvi procurá-lo, mas ele foi mais esperto, despistou-me, e ainda por cima tentou te atrair até ele, quase não chego a tempo de detê-la. Sinto muito, Agatha.

- Tudo bem... – sussurrei e então me desvencilhei de seus braços, virando-me de frente para ele – Christian, por quanto tempo mais teremos que suportar isso?

Ele encarou-me, incrédulo, e um tanto desconfiado. Hesitei um pouco, mas depois despejar tudo o que estivera pensando e cogitando nas últimas vinte e quatro horas.

- Talvez devêssemos deixar a cidade, esperar pelo término do Wayeb longe daqui, e então podemos retornar com o pôr-do-sol do quinto dia, com tudo acabado, e seus poderes e habilidade completamente restabelecidas.

- Não, não podemos. – ele discordou de mim.

- E por quê não? Christian, ao menos leve Peter e Tamara daqui. Não podemos mais permanecer no olho da tempestade, temos que fugir.

Ele revirou os olhos como se estivesse diante de uma criança que insistia no mesmo erro com veemência e teimosia.

- Não, Agatha, o que quero dizer é que ele jamais permitirá que deixemos a cidade, seja com quem for que estamos lidando, é esperto, ele provavelmente lacrou todas as saídas da cidade, ele não a perderá de vista, confie em mim.

- Mas como você pode saber? Ainda nem mesmo tentamos. – eu insisti novamente.

Christian segurou em meus ombros, trazendo-me para mais perto de si, fazendo-me adentrar a intensidade deslumbrante de seu olhar. Eu perdi o fio da meada.

- Acha mesmo que eu arriscaria sua vida dessa maneira? Eu jamais poderia conviver comigo mesmo, Agatha, se algo lhe acontecesse. É por isso que eu estou a mantendo aqui, onde é mais seguro. Confie em mim. – pediu-me ele, convincentemente.

Assenti, muda. E ele puxou-me mais para si, levantando ele próprio do asfalto, ainda comigo na proteção de seus braços. Ouvi passos, e depois Tamara e Peter juntavam-se a nós dois ali.

- O que estão fazendo aqui fora? – perguntou uma Tamara pasmada – Querem cometer suicídio?

Peter permaneceu um pouco mais atrás, encarando-me com um olhar de decepção. Decidi ignorá-lo e foquei-me apenas em Tamara.

- Precisávamos de um pouco de ar fresco.

- Ótimo – ela exclamou, ainda irritada –, agora será que todos podemos retornar lá para dentro antes que nossos amigos resolvam aparecer novamente?

Encarei, Christian, sugestivamente, mas seus olhos estreitavam-se suavemente, algo no semblante dele deixou-me alarmada. Toquei o ombro dele, trazendo-o de volta para mim.

- Christian, o que foi?

Ele não me respondeu, continuou encarando a viela deserta, prestando atenção em cada detalhe, como o vento vergastando os galhos secos dos carvalhos que margeavam as ruas, os prédios desabitados, as nuvens cinza-claro que deslizavam preguiçosamente pelo céu. E então, seus olhos arregalaram-se e seus lábios entreabriram-se.

- Corram para o carro, agora! – esbravejou ele, já me pegando pelos cotovelos e levando-me junto dele. Tamara e Peter seguiram-nos, berrando algumas coisas sem nexo, e outras que eu conseguia compreender.

- O que está havendo?

A voz de Christian era fria enquanto respondia.

- Estão vindo, muitos deles!

- Então, temos que retornar para o ginásio! – sugeriu Peter, mas Christian o ignorou e continuou caminhando, levando-me com ele em seu ritmo frenético.

- Não há tempo, agora vá! – ordenou ele, furiosamente. Seja lá o que Peter tenha visto na expressão de Christian, fê-lo recuar, e depois engolir em seco, assentindo.

Christian empurrou-me para o carro, socando a porta com uma violência exagerada. Correu com uma velocidade inumana até o outro lado, um borrão veloz, e entrou no carro, já girando a chave na ignição.

Seu pé afundou no acelerador, e os pneus cantaram no asfalto, seja qual for a ameaça que ele tenha previsto, aquilo o estava deixando tenso e desesperado para tirar-nos dali.

E através do ronco silencioso do motor do carro, eu pude ouvir, meus ouvidos puderam captar a ameaça eminente. Olhei pelo retrovisor, vendo as criaturas que se lançavam a toda velocidade em nossa direção.

Correndo pela viela deserta, um grupo com vários deles, talvez dezenas, reconheci alguns rostos, mas estavam distorcidos demais pela maldade e pela sede por carnificina, proeminente da possessão por espíritos. Então o desertor finalmente estava agindo.

Christian manobrou o carro com habilidade, virando-o na esquina e acelerando de novo, deixando-os para trás. Ou talvez, nem tudo pudesse ser tão fácil assim.

Tamara tapou os ouvidos e cerrou os olhos, encolhendo-se no banco, enquanto Peter os encarava, tão pasmado quanto eu.

O vento parecia incendiar em minha pele agora, com a velocidade que estávamos. Meus cabelos eram lançados em meu rosto, e eu apertava meus dedos no cinto de segurança, cujo fecho eu não prendera.

Tornei minha face para a frente novamente, vendo enquanto Christian manobrava o carro novamente, prestes a virar na próxima esquina.

Porém, fomos surpreendidos por uma emboscada, uma barreira, formada pelos corpos dos próprios Escravos. Eles estavam em nosso caminho, e pior, chocar-se iam conosco.

Vi Christian trincar os dentes e apertar os nós de seus dedos no volante.

- Segurem-se, nós vamos passar! – ele avisou-nos, já afundando ainda mais o pé no acelerador, o ponteiro do velocímetro disparou e meu corpo afundou no banco.

A última coisa que pude registrar antes do choque de nossas batidas foi Christian olhar para mim, direcionando toda a sua atenção para mim por meros milésimos de segundos, e então, nós batemos...

O impacto impulsionou-me para a frente, e eu quase bati minha testa contra o painel. Christian passou através da multidão que nos cercava, batendo em muitos, perdendo velocidade, lançando-os ao chão.

Os baques produzidos pelo choque do carro com os corpos diminuíam gradativamente a nossa velocidade. Christian desviava o máximo deles, girando o volante, costurando entre eles, e ainda assim, alguns conseguiam subir no capô, os olhos negros devoravam-nos, e então socavam o pára-brisa, estilhaçando o vidro.

Um homem continuou a socar violentamente o vidro, e eu protegi meu rosto com as mãos. Pelas pequenas frestas de meus dedos pude ver que seus socos finalmente surtiram efeito, o vidro cedeu, e suas mãos voaram até meu pescoço, agarrando-me.

Christian reagiu, agarrou a mão dele, puxando-o para si e depois o socando violentamente. O homem deslizou pelo capô até cair no asfalto, inerte.

Os pneus continuavam a cantar no asfalto, e Christian finalmente perdeu o controle do carro, derrapando e derrapando, e girando e girando. Até que tudo se tornou uma espiral de barulho e confusão na minha mente.

Eu pude sentir o baque, a lataria do carro cedendo, desmoronando, quando batemos em algum poste de iluminação.

Meu corpo foi lançado para frente e eu bati minha testa no painel. Um zunido irritante ecoava em meus ouvidos, e o barulho enlouquecedor, estava ao fundo, ocupando uma parte pequena e reservada de minha mente.

O alvoroço não cessava, muito menos a movimentação ao meu redor. Agora o carro era sacolejado violentamente. Dezenas de mãos ocupavam-se de empurrá-lo e empurrá-lo mais e mais.

Levei uma de minhas mãos até o corte em minha testa, latejava, e o sangue escorria livremente pela fissura aberta.

Ofeguei, olhando em derredor, ainda zonza, e vi a figura de Peter e Tamara, desacordados. Ao meu lado, Christian travava uma verdadeira batalha para livrar-se da porta amassada, chutando-a violentamente.

Mas eu ainda não conseguia assimilar os fatos corretamente. E depois, mãos puxavam-me para fora do carro. Eram muitas, não havia como resistir, mesmo se eu tivesse condições para tal. O corte em minha testa ainda me deixava um pouco tonta e sonolenta. Eu poderia apagar a qualquer momento.

E então fui retirada do carro, a porta não mais existia – fora arrancada pela força bruta e esmagadora das criaturas sombrias e lançada ao asfalto como se não fosse nada.

As criaturas agarraram meus dois braços, arrastando meus pés enquanto me conduziam pela multidão enfurecida e ensandecida.

Eu podia ouvir Christian bem atrás de mim, socando várias daquelas criaturas, derrubando-as, mas o que mais ele poderia fazer? Estava enfraquecido, sem acesso pleno aos seus poderes. Eu poderia até tentar ajudá-lo, mas aquela sonolência perturbadora não me deixava pensar com clareza, muito menos me concentrar em algo.

Através da multidão alvoroçada, eu fui guiada, sendo carregada como um nada. Tantas mãos em cima de mim, tantos ao meu redor, era... Sufocante.

Até que as criaturas cessaram, a roda em volta de mim dissipou-se, apenas duas criaturas mantiveram suas mãos em mim, amparando-me pelos braços.

Através de minha visão turva e distorcida, vi um vulto, uma figura meio encurvada e esguia. Cabelos ruivos, ondulados, pele com aspecto meio doentio, meio apodrecido. E a aura ameaçadora ao seu redor, repelindo-me instantaneamente. Lílian Stewart havia retornado para me levar consigo.

Ajoelhei-me, derrotada, no asfalto áspero e esperei pela vinda da mão do destino.

E ela realmente viera.

A figura sombria repousou a palma gélida de sua mão em minha testa, e murmurou palavras sem nexo algum para mim. Palavras que não faziam sentido algum, mas que mesmo assim, mexiam comigo de alguma forma estranha e profunda.

A voz demoníaca pronunciou-se, o mal contido em cada palavra proferida, o mal estava em seus lábios, em sua língua, em sua garganta, em sua voz rouca.

- Miriart vandemar psiciosa caledus sevire...

Uma sonolência ainda maior tomou posse de meu corpo, alastrando-se por meus músculos, dominando meu sistema nervoso, fazendo sucumbir a minha mente.

Meus olhos cerravam-se involuntariamente, minha respiração tornou-se tão leve como uma pluma, e eu apaguei, completamente, não tendo mais consciência do caos ao meu redor, não tendo mais consciência de absolutamente nada.

E eu afundei em torpor e sonolência...


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Notas finais do capítulo

e Agatha finalmente caiu nas mãos do desertor! *medo*

E agora quem conseguirá defendê-la??? *não vale chapolin!*
—qn kkkkkkkkkkkk'

Brincadeirinha, próximo capítulo a batalha final entre o bem e o mal e a aparição do desertor! E Agatha conseguirá salvar a vida daqueles que ama com seus poderes???

E estamos mesmo no final... Puxa, passou tão rápido... Mas logo eu começo com a atribulada 3ª fase! *ansiosa por isso*

Reviews???? *Faça um autor feliz!* rsrsrsrsrsrs

Beijinhos e até o penúltimo capítulo dessa fase!