Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 20
XIX - O Voo da Fênix


Notas iniciais do capítulo

E enfim eu apareço por aqui!

Não me matem pela demora! Mas aqui está um cap. cheio de surpresas e reviravoltas! hehe...

Boa leitura!



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Capítulo XIX – O Vôo da Fênix

"Segurando meu último suspiro
A salvo dentro de mim,
Estão todos os meus sentimentos por você
Doce luz extasiada,
Que termina aqui esta noite".

(Evanescence - My Last Breath)

Recoloquei o telefone no gancho, um zunido baixo ecoava em meus ouvidos. Meus batimentos estavam lentos, talvez porque eu não conseguisse processar a informação recente que adquirira.

Levei as costas da mão até meus olhos, enxugando a umidade transbordante e tomei uma decisão. Como um furacão, lancei-me escada acima, irrompi por meu quarto, revirei meu guarda-roupa até encontrar um casaco decente.

Vesti-o às pressas e desci novamente. Christian continuava ali, tão imóvel quanto uma estátua. Seus olhos azuis acompanhavam minha movimentação frenética sem nada dizer.

Ele aproximou-se do sofá, pegou sua jaqueta de couro negra, que estava depositada entre as almofadas e a vestiu tranqüilamente. Ignorei-o, disposta a dar o fora o mais depressa dali.

Apanhei as chaves do carro – que estavam no exato local onde costumavam ficar – e corri em direção à porta. Ainda nervosa e sobressaltada, abri a porta do Grand Jeep Cherokee e estava preste a deslizar para o banco do motorista, quando um aperto sutil deteve-me.

Christian puxou-me para perto de si, o cenho franzido, os olhos penetrantes semicerrados; uma expressão intimidadora.

Eu recuei diante de tamanha intensidade.

- Sabe que não pode salvá-la. – sussurrou ele, a voz aveludada, tentando não me assustar, conjeturei.

Puxei meu braço, tentando libertar-me, mas foi em vão. Ele não me deixaria partir.

- Preciso tentar, Tamara é minha amiga. Eu... Eu preciso tentar. Não posso deixar que ela faça isso consigo mesma.

- Por quê não?

- Já perdi um amigo dessa forma, há alguns meses, não quero ter de repetir isso.

Seus olhos leram a dor e o desespero em meu rosto, ele inspirou, claramente irritado, afrouxou o aperto em meu braço, mas quando fiz menção de entrar no carro novamente, ele deteve-me mais uma vez, virando-me para si de novo.

- Eu dirijo. – intrometeu-se ele, decididamente.

Mordi o lábio inferior, em dúvida, mas deixei que a chave do carro repousasse na palma de sua mão estendida. Ele soltou-me e eu corri para o outro lado, batendo a porta. Só agora meu coração lembrava-se de martelar violentamente em meu peito. Minha respiração havia se tornado dificultosa.

Christian fechou a porta do motorista e meteu a chave na ignição. O motor roncou, silencioso e então ele o manobrou, dando a ré e depois seguindo pela viela deserta e medonha. Era estranho que a cidade estivesse tão silenciosa e vazia como estava naquele momento.

Christian ligou os faróis, iluminando parcialmente as ruas enegrecidas pelas trevas noturnas. Eu ofegava, sentindo cada centímetro de meu corpo congelar pouco a pouco, como se eu estivesse sendo soterrada na neve.

- Tem idéia de onde ela pode estar? – perguntou-me ele, os olhos fixos na pista.

- Não... Eu não sei, mas você sabe, não é?

Seus olhos azuis estreitaram-se suavemente, sem me encarar nem mesmo por um segundo.

- Tenho uma vaga noção. Pode me dizer o exato local dos cinco sacrifícios iniciais?

Minha mente de repente foi dominada pela razão, e meus olhos arregalaram-se por reflexo.

- O chalé abandonado dos Hamilton.

- Então será lá – murmurou ele a meia-voz –, terminará onde exatamente foi iniciado.

Ele desviou os olhos da pista, fitando meu semblante apreensivo, parecia hesitar em contar-me algo, a julgar pela relutância em seus olhos.

Fitei-o, e ele imediatamente tornou a encarar a viela enegrecida e silenciosa. Os nós de seus dedos envolveram o volante, enquanto ele estreitava suavemente os olhos azuis como lápis.

- Tem algo que você deve saber... – sussurrou ele, a seriedade presente em cada palavra proferida por seus lábios.

- E o que é? – eu o incitei.

Christian sacudiu a cabeça, parecia estar tomando uma difícil decisão. Toda aquela sua relutância só serviu para atenuar meu desespero.

- Tem relação com o selo da Fênix no seu ombro.

Instintivamente, meus dedos roçaram o tecido que recobria meu ombro esquerdo, meus olhos baixaram, enquanto meus dedos, delicadamente, empurravam um pouco de tecido, revelando minha pele clara – quase translúcida.

- O que tem ele?

Christian suspirou profundamente, olhou-me algumas vezes, analisando-me com seus olhos penetrantes e azulados como as águas tórpidas do oceano.

- Seu selo está falhando, posso senti-lo agora mesmo, ele está enfraquecendo progressivamente, e isso só tende a piorar daqui para frente.

- O quê? – eu arfei – Do que você está falando?

- Tem relação com o Wayeb, como a barreira que separa ambos os planos estará enfraquecida, o mesmo ocorrerá ao seu selo. Você pode sentir muita dor, ou até mesmo desligar-se da realidade, isso porque o selo fará de tudo para suprimir seus poderes até o fim do Wayeb.

- Meus mal-estares... – sussurrei, percebendo a conexão - Então, quer dizer que durante os próximos cinco dias o selo no meu ombro estará enfraquecido? Isso me deixará... mais vulnerável?

- É muito mais complexo do que isso – murmurou ele, uma leve tensão em sua voz –, você terá acesso a um pouco dos seus poderes.

Dessa vez eu não consegui nem mesmo respirar, havia me esquecido de onde estava e para onde estava indo.

- Você está brincando, não está?

- Não. A dor será insuportável se você tentar usá-los, porque o selo lutará até o último momento para continuar suprimindo-os, mas, se você puder agüentar, pode usufruir de seus dons, ou de uma parcela bem pequena deles, de qualquer maneira, é uma carta a mais na manga.

- Uma a carta a mais para o quê?

- Para evitar que você seja sacrificada durante o Wayeb.

Não tornei a fazer-lhe outra pergunta. Mas a idéia martelava em minha cabeça. Eu... era capaz de ter acesso e controlar meus dons durante os cinco dias sem nome?

Eu tenho o poder necessário para pôr um fim nisso tudo, eu posso salvar as pessoas que amo. Mas, somente, e somente se eu for capaz de suportar a dor que o selo tentará submeter-me.

Fixei meus olhos na pista escura, afundei no couro do banco, esperando que meu desespero não me dominasse naquele momento; não seria de utilidade se isso acontecesse.

E então, minha mente vagou até as lembranças sombrias que estavam enterradas no fundo de minha mente. As lembranças daquela noite negra, quando eu adentrei de vez nesse mundo sombrio e perigoso.

Meus temores só se atenuaram, ao lembrar da expressão de Max: a despedida entalada em sua garganta, o adeus em seus olhos. Eu jurei a mim mesma que jamais permitiria que outro amigo meu perecesse bem diante de minha figura incapacitada. Eu faria qualquer coisa para salvar Tamara. Eu estava disposta a tudo.

Engoli em seco, e obriguei-me a dissipar essas negras nuvens que recobriam meus pensamentos e vedavam meu corpo. Christian logo pediu minha ajuda para chegar a rodovia que nos levaria a parte mais sombria e inacessível da floresta, onde encontrava-se a casa podre e caindo aos pedaços dos Hamilton. Quando ele pegou a trilha no meio da mata, forçando o motor do carro de minha mãe e agüentar o terreno pedregoso e íngreme, eu senti as palmas de minhas mãos suarem geladas.

Alguns minutos depois ele estacionava o carro em uma clareira próxima a casa abandonada. Abri a porta, deslizando do banco com uma presa demasiada. Nem me importei em fechá-la, simplesmente disparei em direção ao chalé.

Atravessei o solo úmido, esmagando as folhas secas, chutando cascalhos e desviando das raízes das árvores. Até que meus olhos encontraram aquele ambiente mais uma vez.

Estaquei, ouvindo o som de minha respiração entrecortada, Christian postou-se ao meu lado. Deixei que meus olhos vagassem pela floresta mortalmente silenciosa e fria, estava exatamente igual. Como quando eu e Max resolvemos vir bisbilhotar nessa antiga habitação, onde havia rumores de que rituais de magia negra estavam sendo realizados. Agora eu sei que podia ser muito bem, os rituais de um desertor.

Um vento frio passou cortando meu corpo, vergastando meus cabelos e circulando nas copas das árvores mais altas. Senti um arrepio subir através de minha espinha.

Trinquei os dentes, irritada. Por que raios eu estava hesitando?

Meu pé moveu-se, um passo trêmulo, esmagando um graveto seco. Tentei mover o outro, mas o toque de Christian fez-me recuar. Encarei sua expressão, ele parecia pensativo, parecia estar analisando algo.

Confiei nele, e nem mesmo me movi, eu mal respirava. Seus olhos azuis vagavam pela clareira, seus ouvidos captavam o murmúrio do vento, seus sentidos aguçados procuravam por qualquer coisa que pudesse estar fora do comum.

Ele estreitou seus olhos mais uma vez, franziu os lábios, comprimindo-os em uma linha rígida, e então, o choque atravessou seu rosto, os olhos arregalaram-se, tomados pelo pânico e pela incredulidade, e a mão em meu ombro fechou-se em punho, empurrando-me com força para trás.

Eu cambaleei, tropecei e fui ao chão, caindo sentada em meio às folhas secas. E compreendi sua atitude: algo havia saltado em sua direção, uma figura esguia e curvada, cinza-escura.

Meus olhos arregalaram-se, eram lobos!

Christian caiu de costas na terra fofa, somente seu braço esquerdo o separava da mandíbula mortífera da fera bestial. O lobo fincava suas garras na jaqueta de couro dele, rasgando-a, deixando-a em retalhos, enquanto ele batia os dentes uns contra os outros, a mandíbula fechando-se e se abrindo, enquanto ele tentava abocanhá-lo e feri-lo.

Christian semicerrou os olhos, franzindo o cenho com uma fúria perceptível, os músculos de seu braço forçaram a fera para cima, empurrando-o. Suas mãos voaram até o dorso do animal, forçando-o a recuar. O lobo vacilou, e Christian foi certeiro, não perdeu a oportunidade.

Dobrou seu joelho, enfiando-o embaixo do corpo do animal e então, chutou-o para longe. O corpo cinzento e esguio do lobo atravessou a clareira, chocando-se violentamente contra o tronco de uma árvore.

O animal caiu aos pés do imenso pinheiro, sem dar sinal de vida.

Christian pôs-se de pé em um salto, limpando a terra que se acumulara em sua jaqueta de couro. Os olhos lampejaram para mim pelo menor dos segundos, um sorriso zombeteiro emoldurava seus lábios. E outra figura esguia saltou do meio das árvores; outro lobo.

Christian virou-se para ele, atingindo-o com um soco no focinho em pleno ar, antes mesmo que ele pudesse sequer tocá-lo. O outro lobo caiu em meio às folhas secas, levantando um amontoado de terra. Este, porém, levantou-se alguns segundos depois do impacto, mancando em uma das patas e ganindo de dor.

Eu encarei a figura de Christian, sem acreditar no que havia acabado de presenciar. Mas não deveria deixar que algo assim abalasse-me.

Ouvi um rosnado bestial bem atrás de mim. Meus olhos arregalaram-se por instinto, meu coração cessou suas batidas, o sangue congelou em minhas veias, enquanto eu virava-me para a fera que espreitava.

Os olhos negros da fera pareciam dois abismos sem fundo. Ameaçaram tragar-me para dentro deles, consumindo minha alma com um fogo eterno.

O lobo curvou-se sobre as patas dianteiras, preparando-se para saltar. Os dentes afiados estavam expostos pelo focinho retraído e a boca recurvada.

Levei um dos braços à frente do corpo, instintivamente e preparei-me para receber seu bote certeiro. Como último vislumbre, vi a fera saltar na minha direção, a mandíbula pronta para estraçalhar meu corpo, dilacerar minha carne. Eu esperei, mas o bote não veio.

Ousei abrir meus olhos, vendo a cena inusitada. Christian havia impedido que o animal machucasse-me. Ele aplicava uma espécie de chave no pescoço da criatura, sufocando-o, enquanto o animal resistia à força pétrea de seus braços fortes.

Christian apertou-o ainda mais, fazendo o animal soltar algum tipo de tosse engasgada. Ele trincou os dentes em um som audível, aumentou e aumentou a força empregada em seu aperto de aço. Um estalo foi ouvido, e depois a cabeça da fera pendia para o lado, o olhar vago, a negridão recuava, e a língua pendia em um dos cantos de sua boca. Estava acabado.

Christian afastou-se do corpo imóvel e lânguido do animal. Seu olhar deteve-se em minha face, horrorizada e aliviada. E ele sorriu de canto.

Mas minha alegria durou pouco, eu ainda me lembrava do motivo de estar ali. Sem hesitar mais, lancei-me através da clareira, irrompendo pelo velho casarão que um dia pertencera aos Hamilton.

A porta de madeira podre quase foi arrancada do batente por minha força exagerada. Examinei o cômodo vazio, meus olhos decepcionando-se ao constatar que ela não estava ali, pelo menos, não no primeiro andar.

Meu pé hesitou no assoalho velho e que rangia, mas antes mesmo que eu pudesse sequer dar mais um passo em direção à escada, uma mão agarrou meu braço, detendo-me. Olhei para a figura reprovativa de Christian, e deixei que a confusão atravessasse todo o meu rosto.

- Ela não está aqui, Agatha, não sinto a presença dela. – murmurou ele em um tom de voz calmo, tentando não me sobressaltar ainda mais, imaginei.

- Mas... você disse que o ritual...

- Sim, ela está por aqui, mas acho que devemos procurá-la na floresta.

Assenti e permiti que me conduzisse pelo bosque escuro e silencioso. Toda a floresta tingia-se pelas penumbras medonhas da noite. A luz da lua mal chegava ali. E eu mal enxergava mergulhada em tamanha bolha de tinta negra.

Mas, conforme avançávamos pela mata grotesca, um cheiro que não devia pertencer a aquele lugar encheu minhas narinas. Olhei, sugestivamente, para Christian e eu não era a única que havia notado algo de muito estranho ali.

Sorvi o cheiro desconhecido com uma intensidade maior e constatei o que era: gasolina.

Não sei ao certo o que deu em mim, apenas que em um momento, eu estava ao lado de Christian, no outro, eu corria feito louca pela floresta escura. Deixando-me guiar por meus instintos, avancei mais e mais, até encontrar uma segunda clareira, muito maior do que a outra.

Estaquei, reconhecendo a silhueta magra mergulhada nas sombras, imóvel como uma estátua, mas a cabeleira ruiva destacava-se contra o fundo preto.

- Tamara! – gritei, sentindo o oxigênio pesar em meus pulmões, a adrenalina pulsava a toda velocidade em minhas veias.

Tentei correr até ela, no centro daquela imensa clareira, mas dois braços agarraram-me por trás, envolvendo minha cintura, restringindo meus movimentos, enquanto eu debatia-me, tentando me libertar e salvar a vida de minha amiga.

- Solte-me! – exigi, cuspindo através dos dentes trincados – Deixe-me ir até ela!

- Você não pode! – gritou Christian, a fúria presente em cada palavra sua – Não vê que ela está sob o controle mental?!

Gemi, derrotada, deixando que meus olhos recaíssem sobre a silhueta fantasmagórica no centro daquela clareira. Reconheci um galão branco, quase que completamente esvaziado, recostado próximo a uma árvore.

Olhando mais profundamente pelas penumbras, reconheci uma segunda figura, atrás da de Tamara, próxima a dois grandes e majestosos pinheiros. Eu ofeguei, reconhecendo a figura recurvada e medonha de um Escravo das Sombras, mas não qualquer Escravo, Lílian Stewart, ou o que sobrara dela, encontrava-se próxima à silhueta em transe de Tamara.

Só quando meus murmúrios e meus xingamentos cessaram que eu pude ouvir a reza estranha que era cantada e proferida por seus lábios. Palavras que se despejavam ao ar, carregando-o, deixando o ambiente mais frio e assustador, e mantendo Tamara sobre aquele controle mental. Forçando-a a fazer coisas que ela não queria.

Trinquei os dentes, desesperada e irritada. Christian não afrouxou seu abraço, manteve-me perto de si, enquanto os olhos verdes de Tamara cintilavam na escuridão, como duas esmeraldas polidas, havia um brilho maléfico neles, algo que me fazia recuar.

E então, seus lábios rosados repuxaram-se em um sorriso de dar arrepios.

- Olá, Agatha. – cantarolou ela, em um tom alegre – Olá, Mediador, vejo que finalmente decidiram juntar-se a nossa pequena festinha! – ela praticamente jubilava e exultava.

E então ela gargalhou ruidosamente, o tronco curvando-se até o chão, em uma crise histérica de risos. Tamara batia as palmas de suas mãos e praticamente dançava de alegria e satisfação.

- Aguardei tanto pela vinda de você dois, - ela parou, apontando o dedo para mim – principalmente, você, Elemental. Fiquei me perguntando se teria de caçá-la depois que o último sacrifício fosse finalmente realizado. Mas, você poupou-me o trabalho, vindo até mim.

Só então me dei conta de que Tamara falava por alguém, as palavras eram somente colocadas em seus lábios, mas a mente maligna por detrás de tudo aquilo não estava ali.

- Espero que se divirtam durante o Wayeb! – exclamou ela, e então sacou uma pequena caixa do bolso de seu jeans. Reconheci serem fósforos. O cheiro da gasolina ainda preenchia minhas narinas, e espalhava-se por toda a clareira.

- Tamara, não faça isso, por favor! – implorei-lhe, sentindo as lágrimas arderem em meus olhos, empoçando, mas sem se derramar.

- Tarde demais, Agatha, sua amiga agora pertence a mim!

Os dedos pálidos abriram a caixa amarela, retirando de lá um fósforo que ela acendeu com eficácia, raspando sua ponta na lateral da caixa. Ela segurou o palito entre os dedos, os olhos prendendo-se na chama que bruxuleava, dançando graciosamente.

Seus olhos vagaram até meu semblante vincado pela dor uma última vez, um sorriso fraco repuxou seus lábios nos cantos, e ela estendeu a mão que continha a chama do fósforo.

- O apocalipse apenas começou... – sussurrou ela antes de deixar que o fósforo escorregasse de seus dedos.

O tempo pareceu ter congelado naquele instante, ou tudo corria com uma lentidão demasiada. Meus olhos viram a chama despencar dos dedos pálidos de Tamara, a gravidade interveio, puxou-a para baixo, a chama alaranjada dançou no curto espaço vazio, cintilando até o último instante, e então, com meus olhos ainda presos e enfeitiçados pela chama, ela atingiu o solo.

É impossível descrever o que houve depois disso, uma muralha de fogo eclodiu do chão, elevando-se como uma fera engaiolada que agora estava liberta. E ela expandiu-se, expandiu-se, até lançar a mim e a Christian no chão, desnorteados.

Ele girou seu corpo, postando-se na minha frente, protegendo-me do impacto, mas o cheiro de fumaça preencheu toda a clareira. Pelas pouquíssimas frestas pude ver o fogo alastrando-se, consumindo tudo o que encontrava pela frente. E as chamas letais dançavam graciosamente.

Christian levantou-se, permitindo que eu me sentasse no solo. Observei a cena, arrasada, o corpo de Tamara estava caído no centro da clareira, o controle mental a abandonara, ela estava livre dele, mais inconsciente.

Com um salto pus-me de pé, a muralha de fogo separava-me de minha amiga naquele instante. O que eu deveria fazer agora?

Lágrimas rolavam minha face, eu estava entrando em desespero.

Christian levantou-se, postou-se atrás de meu corpo, a mão gentilmente repousada em meu ombro, e seus lábios, macios como veludo, sussurraram:

- Use seus poderes.

Virei-me para ele, estupefata, mas não havia sinal de vacilo em seus olhos. Eles demonstravam apenas certeza, certeza e convicção de que eu poderia conseguir.

Engoli em seco, tornando a fitar incisivamente as chamas alaranjadas que dançavam graciosamente na clareira, iluminando-a com suas luzes opalescentes e vivas. E a decisão foi tomada em minha mente.

Um pouco hesitante, eu dei o primeiro passo na direção da muralha de chamas vivas que se elevava do solo de folhas secas e terra seca. Dei outro passo, sentindo as ondas de calor chocarem-se contra meu rosto, ardendo em minha pele, a sensação de vivacidade e perigo iminente ao mesmo tempo fez meu coração sofrer um forte solavanco. Mas eu estava determinada, eu estava convicta. E levaria aquela loucura até o fim.

Um pouco vacilante, estendi minha mão direita, as pontas de meus dedos sentiam o calor intensificar-se conforma eu me aproximava das chamas letárgicas e graciosamente dançantes. Obriguei-me a continuar com minha marcha lenta, meus instintos alertavam-me de que eu estava próxima demais. Então, ouvi Christian gritar as minhas costas:

- Concentre-se, Agatha, deixe que seus instintos falem por você!

Assenti e concentrei-me nas chamas mais uma vez, eu precisava ser rápida, pois elas já marchavam em direção à figura caída de Tamara.

Avancei ainda mais, até que as ondas de calor tornassem-se insuportáveis e chocavam-se com mais violência contra meu corpo. Cerrei meus olhos, incapaz de fitá-las. E obriguei minha mente atordoada a lembrar-se da exata sensação que eu tivera naquela tarde gelada. A energia que se expandia ao meu redor, a energia que fluía dentro de meu corpo, a energia que fazia parte de mim.

É impossível descrever o que houve depois disso. Algo pareceu fervilhar dentro de mim, quase como uma pequena chama com vida própria, que crescia e crescia.

Limpei minha mente, concentrando-se nessa sensação, usando de minha determinação e minha força de vontade em salvar Tamara, eu a senti evoluir dentro de mim, passando de uma pequenina chama para um imenso fogaréu.

Christian estava certo, era algo instintivo, natural, fazia parte de mim, estava cravado de mim, no fundo de minha alma.

Senti a energia viva e pulsante inflamar dentro de meu corpo, minha determinação e meu desespero era o combustível ideal e a impulsionavam a crescer e alimentar-se cada vez mais e mais. E quando não pude mais contê-la, quando senti que estava no seu limite, eu a liberei, permitindo que a energia fluísse ao meu redor, se expandido e se expandido, tomando toda a clareira.

Assemelhava-se a um véu transparente, espelhado, luminoso, era a coisa mais bela que eu já tinha visto em toda a minha vida; a energia que deu origem a todo tipo de vida.

Trinquei os dentes e concentrei-me ainda mais, focando-me nas chamas. O véu, que antes se espalhava por toda a clareira, regrediu, retornando ao seu ponto de origem; o meu próprio corpo. E recobriu-me como uma capa incrustada com milhões de centelhas vivas e cintilantes. Era a hora.

Semicerrei os olhos e avancei ainda mais em direção às chamas, ciente do risco que estava correndo, mas também, completamente consciente do desejo arrebatador que me levava em direção a elas, impelindo-me a prosseguir.

Parecia que as próprias chamas estavam chamando-me para elas, para um contato para o qual eu não sabia se estava pronta. Concentrei-me ainda mais, e estendi minha outra mão em direção ao fogaréu, parecia que meu corpo estava sendo dominado por uma outra entidade, outra mente assumira o controle sobre mim. Uma outra Agatha, muito diferente daquela eu conhecia e estava acostumada a ser.

Levei meus braços, que estavam estendidos em direção às chamas, para as laterais de meu corpo, minhas mãos permaneceram espalmadas, prontas para domar o fogo.

Uma nova chama de fúria e poder nasceu em meus olhos, ardendo em meu coração de forma desenfreada e incontrolável, explodindo em meu interior como uma bomba de puro poder e magnificência. Mas o mais inacreditável, não foi sentir essa energia, a forma como estávamos conectadas, ou essa sensação de poder e imponência. Não. O mais inacreditável, para mim, foi ver as chamas dançarem na minha direção, não com naturalidade, mas com uma graça superior e inegável.

As chamas rastejavam até mim, e depois, flutuavam em pleno ar, como se algo as aspirasse, como se algo as chamasse até mim. Olhei o fogaréu diminuir progressivamente, e entendi, eu não estava controlando as chamas, estava absorvendo elas.

O fogo elevou-se do chão ainda mais, tornando-se um funil alaranjado e vermelho, que girava para mim e somente para mim. A energia pulsante dentro de meu corpo tremeluzia ao sentir a proximidade das chamas escaldantes do fogaréu e regozijava-se, satisfeita.

O calor do fogo penetrava minha pele, chegava até os meus ossos, mas estranhamente não me machucava nem um pouco. Naquele momento, o fogo e eu éramos apenas um. Fundidos, em um estado de perfeição que eu jamais teria imaginado.

Eu podia sentir a vida pulsando por trás do calor fumegante e do poder de destruição que ele continha. E compreendi novamente. Fogo não era morte, era vida. Que outro elemento teria tanto poder para mudar os materiais ao seu redor como ele? Que outra força da natureza seria tão imponente e poderosa? Nenhuma.

O funil de chamas que ainda girava, era absorvido por meu corpo com eficácia e rapidez, pouco das chamas ainda restava. Mas então, o selo em meu ombro protestou, tentando deter meus poderes e desfazer a minha conexão com as chamas.

Meus poderes oscilaram, o funil de chamas que eu absorvia tremulou, vacilante, mas eu trinquei meu maxilar e ignorando os espasmos de dor que sacudiam meu corpo, mantive-me firme como uma rocha. Finquei pé no solo e obriguei minha mente a isolar a dor, esquecendo-me dela e focando-a somente em minha conexão com o fogaréu.

Porém, outra apunhalada de dor atingiu-me em cheio e eu fui de joelhos ao chão, atordoada. Mas não me detive, mantive minha mente focada somente na energia que me recobria, no fogo que me rodeava.

Franzi o cenho e pus-me de pé novamente, meu corpo latejava devido a dor, minhas pernas estavam bambas e meus joelhos trêmulos mal sustentavam meu peso.

Gemi, enquanto o selo aumentava a pressão sobre meus poderes, tentando sufocá-los e suprimi-los, mas eu estava cem por cento convicta do que queria. E eu queria levar aquela sandice até o final, não importava o preço, não importava as conseqüências. Meus músculos enrijeceram pela dor, eu mal conseguia senti-los, uma dormência parecia alastrar-se por meu corpo, entorpecendo minhas articulações.

Enterrei minhas unhas nas palmas de minhas mãos até que sentisse a pele ceder e o sangue escorrer, e pude sentir meus braços novamente, da cintura para baixo eu não tinha consciência de mais nada. Mas era o que bastava.

A dor intensificou-se ainda mais, comprimiu meu tórax, meu peito estava todo dolorido, meus batimentos ecoavam em meus ouvidos, lentos, ritmados, eu lutava pela vida. Meus pulmões pareciam estar sendo esmagados, eu sufocava, sentindo o oxigênio entalar em minha garganta.

Usando de minhas últimas forças remanescentes, de meu fôlego quase extinto, e do pouco que restava de minha determinação, eu concentrei-me ainda mais, absorvendo uma quantidade muito maior de chamas, sentindo elas queimarem dentro de meu interior, incendiando tudo.

Eu suava, podia sentir o suor escorrer por minha testa, deixar minhas mãos pegajosas e escorregadias. A chama nos meus olhos intensificou-se, a Fênix libertou-se de seu cativeiro, alçando vôo, a fera aprisionada dentro de mim alcançou sua liberdade, ela já não era uma cativa.

O fogo, antes de ser completamente absorvido por meu corpo, expandiu-se por toda a clareira, roçando as copas das árvores mais altas, roçando em suas folhagens, mas sem queimá-las.

A noite escura de repente foi tomada por um clarão alaranjado e intenso, refletindo-se no céu negro, e então, tornando para mim, de uma vez só.

O choque foi tão grande que meu corpo não conseguiu contê-lo, era demais para mim. Eu ainda não estava pronta para tamanha intensidade. E conforme a dor em meu ombro alastrava-se por todo o meu corpo, dominando até mesmo a minha parte que ainda resistia veemente, eu senti o calor desaparecer, as chamas foram-se todas, mas meu corpo fora lançado violentamente para trás, como se uma poderosa força invisível tivesse me empurrado.

A energia viva e pulsante que antes me recobria, recuou, retornando para dentro de mim, o selo finalmente prevaleceu, e eu preparei-me para bater a cabeça no chão ou talvez no tronco de uma árvore. Porém, mãos apararam-me, pegando-me em pleno ar, pousando-me gentilmente no chão de terra fofa, enquanto eu arfava, sentindo o oxigênio retornar finalmente para os meus pulmões.

Meu corpo queimava, uma estranha fumaça era exalada, eu sentia-me um aparelho que entrou em curto, como se tivesse enfiado o dedo na tomada e tomado um grande choque.

Meus membros ainda estavam um pouco dormentes, mas pouco a pouco, eu recuperava o controle sobre eles. A dor em meu ombro diminuiu progressivamente, até extinguir-se completamente. E eu respirei, aliviada; estava tudo acabado.

Encarei o céu estrelado que se revelava por entre os finos galhos das árvores que circulavam a clareira. E dois olhos azuis – tão azuis quanto o céu estava naquele momento - encontraram os meus, Christian sorriu, aliviado por me ver bem.

- Isso foi incrível. – murmurou ele, tentando descontrair o ambiente – Nem mesmo eu teria feito melhor.

- Eu... sei... – exclamei sem fôlego.

Mas então, algo me lembrou de uma figura caída em meio às folhas secas, no centro da clareira.

- Tamara...

- Ela está bem – respondeu-me ele, prontamente –, só está inconsciente, e eu devo alertá-la, ela ficará bem confusa quando acordar.

Sorri para ele, e Christian permitiu que eu me sentasse. Eu o observei ir até o corpo de Tamara, pegá-lo nos braços e então carregá-lo até mim.

- Acha que pode andar? – perguntou-me ele, um estranho sorriso de escárnio nos lábios.

Assenti, muda, e levantei-me, um pouco tonta e cambaleante do chão. Mas, o pior já havia passado.

Toquei meu ombro com a ponta dos dedos, a fênix queimava, estava vários graus mais quente que o restante de meu corpo. Estranho, mas compreensível, considerando que eu havia absorvido um fogaréu inteiro.

Christian e eu caminhamos de volta até o carro, onde ele depositou Tamara no banco traseiro, ela ainda estava inconsciente, mas ele garantiu-me que ela ficaria bem.

Entrei no carro, deslizando com uma vontade ainda maior para o banco do carona, sentia-me um pouco cansada, como se tivesse acabado de me livrar de uma forte gripe.

E em algum momento, enquanto meus olhos oscilavam entre o semblante sorridente ao volante, e o céu estrelado, enquanto Christian dirigia de volta à cidade, eu acabei adormecendo, mais uma vez.

Só acordei quando um toque de celular ecoou por todo o automóvel. Eu lembrava-me perfeitamente o local onde o meu estava: no fundo do rio, na caminhonete de Peter.

Então, a não ser que Christian tivesse um, era o de Tamara que tocava.

Eu inclinei-me para o banco traseiro, tateando os bolsos de seu jeans até encontrar o aparelho irritante, pela tela vi que se tratava de Peter. Eu disse a ele que estava com Tamara, ela estava sã e salva, e que não havia motivo para se preocupar.

Também combinei de nos encontrarmos em uma praça no centro da cidade. Christian assentiu e rumou para lá, estacionando, poucos minutos depois. Eu pretendia ligar para a minha mãe, tranqüilizá-la, dizendo que estava bem e que logo ia para casa, mas estranhamente, ninguém atendeu ao telefone em casa.

Peter chegou alguns minutos depois de nós, a expressão ansiosa. Àquela hora Tamara já se encontrava desperta e fazia perguntas atrás de perguntas. Desde o inicio da tarde, quando ela partiu para o vestiário feminino e não retornou, ela não se lembrava de nada, era como se tivessem passado uma borracha em sua mente.

Ela encontrava-se sentada na ponta do banco traseiro, a porta estava aberta e ela respirava o ar puro e gélido da noite. Sua expressão estava decepcionada e nada contente. Acho que eu poderia compreendê-la, seria horrível se eu vagasse pela cidade inteira sem nem ao menos me lembrar do que havia feito.

Aproximei-me dela, tocando em seu ombro.

- Como se sente?

Ela suspirou profundamente, depois fitou as mãos, levou-as até as narinas, cheirou-as para então franzir o nariz de desagrado.

- Bem, é claro, tirando o fato de que estou cheirando à fumaça e que não me lembro de nada do que houve, estou ótima.

Afaguei seu ombro, lançando-lhe um sorriso de diversão.

- Você supera isso.

Ela assentiu, ainda sem ânimo.

- Claro. Mas... Agatha, eu realmente tentei tirar minha própria vida?

Meus olhos entregaram-me, e Tamara apoiou a cabeça entre as mãos, desolada.

- Sinto muito. – sussurrei, tentando confortá-la.

- Tudo bem, eu ficarei bem, acho que só preciso pôr os pensamentos em ordem.

- Eu a deixarei um pouco. – murmurei, já lhe dando as costas.

Deixei-a imersa em seus próprios pensamentos e especulações, caminhando até a figura solitária e distante de Christian. Ele mantinha as mãos nos bolsos de seu jeans e seus olhos vagavam pelos inúmeros pontinhos brilhantes naquele céu escuro, iluminando-os. Ele virou-se assim que notou minha presença, os olhos azuis como lápis cintilavam maravilhosamente.

- Então, nós impedimos o quinto sacrifício... – conjeturei, baixando meus olhos, enquanto chutava alguns cascalhos.

Christian soltou um longo suspiro, parecendo-me desanimado, ou extremamente irritado com algo.

- Sim, nós impedimos.

- Acha que tudo voltará a ser como antes, agora?

Sua resposta foi objetiva e categórica.

- Eu realmente espero.

Christian tornou a fitar as estrelas, e o silêncio instaurou-se entre nós dois. O vento assobiou fino nas copas das poucas árvores que havia naquela praça. Deixei que meus olhos vagassem até os finos galhos que eram tão suavemente sacolejados pela brisa gélida.

Cruzei os braços, abraçando-me, esfregando minhas mãos em meus braços para me aquecer. A temperatura estava caindo. Christian tornou a me fitar, a expressão taciturna e inquieta.

- Você terá que vir comigo. – murmurou ele, por fim.

Deixei que a confusão tingisse todo o meu semblante.

- O quê? – arfei, ainda incapaz de assimilar os fatos.

Ele virou-se completamente para mim, o cenho franzido, os olhos severos. Um calafrio percorreu todo o meu corpo.

- É a única maneira de mantê-la viva, se continuar nessa cidade, Agatha, você atrairá mais e mais caçadores, ou acha que o aparente silêncio de Blake passará despercebido por Ducian? Ele enviará esquadrões inteiros de caçadores, senão lutadores juntos, todos para pôr um fim a sua vida. Não somente você, mas todos aqueles que se encontram ao ser redor, correrão um grave risco se permanecer aqui. Sua única chance é vir comigo para Ephemera.

- Ephemera? Acha mesmo que posso encontrar segurança lá?

Ele assentiu, e eu não conseguia nem mesmo respirar naquele momento. Somente de imaginar em ter que deixar tudo para trás, minha mãe, John, meus amigos, minha cidade natal... Um vazio imenso abriu-se em meu corpo, sentia-me inconsolável naquele instante.

Eu teria mesmo que deixá-los para trás se quisesse salvar não somente a vida deles como a minha própria também? Somente em Ephemera, sob a proteção dos demais Elementais eu estaria segura?

Era difícil aceitar. Principalmente quando eu havia nascido e crescido nesse fim de mundo. Era tão... doloroso. Parecia até fisicamente impossível.

Christian aproximou-se de mim, puxando-me para um abraço, encaixando minha face em seu ombro, aninhando-me protetoramente. Meus olhos ardiam, vergonhosamente. Eu estava tão frágil... Era tão constrangedor.

Vi pelo canto dos olhos que Peter encarava-me com uma expressão de decepção. Suspirei, e então tomei uma decisão.

- Acho melhor eu voltar para casa, o sumiço de minha mãe está me preocupando. – murmurei e Christian soltou-me, um pouco relutante.

Tamara levantou-se do banco traseiro, parecendo estar recuperada. Peter e ela aproximaram-se de mim e de Christian. Estava prestes a me despedir, quando o som de um motor roncando, e luzes vermelhas e azuis, piscando, sobressaltaram-me; era uma viatura da polícia de South Hooksett.

Mesmo na escuridão, reconheci a figura rechonchuda e imensa do delegado Percy ao volante. Ele trajava o uniforme e tinha na cabeça um chapéu caramelo.

Ele estacionou a viatura próxima de meu carro. As sirenes no teto do veículo branco ainda piscavam, devia estar no final de seu turno, afinal que horas eram? Quase meia-noite.

Seus olhos, curiosos, voaram até meu rosto, depois repassaram para o rosto de Tamara, Peter e finalmente, Christian.

- O que estão fazendo aqui a essa hora? – perguntou ele, a voz grave e intimidadora.

- Nós... – iniciei uma frase, droga! O que faríamos agora?

Peter interveio a meu favor, salvando minha pele, seria terrível se ele desconfiasse de nós, principalmente se fosse considerar as dezenas de vezes em que fui apanhada na companhia de Max aprontando uma.

- Nós decidimos sair um pouco, mas já estávamos nos despedindo, senhor.

Seus olhos, desconfiados, vagaram até meu rosto novamente, mas depois, simplesmente desistiram, e ensombreceram, deixando-me alarmada.

- Então se apressem nessa despedida, não quero que jovens como vocês fiquem vagando a essa hora da noite, principalmente hoje.

- O que houve? – perguntou Christian, o tom de voz sério, os olhos suavemente semicerrados.

- Um homem cometeu suicídio agora pouco. Essa onda de suicídios está me deixando preocupado, terei que decretar toque de recolher até que coisas se aquietem.

Encarei Christian, sugestivamente, mas ele não estava prestando atenção em mim. Vi uma centelha de desconfiança brotar em seus olhos, e depois se confirmar por si só.

O delegado deu a partida na viatura novamente, deixando-nos a sós novamente. As luzes ofuscantes desapareciam em meio às densas penumbras.

- Christian, o que foi isso? – perguntei, sem fôlego, esperando que ele me dissesse que não era nada, que tudo ia ficar bem, embora, talvez, no fundo eu soubesse que isso não era verdade.

- O quinto sacrifício foi feito. – murmurou ele, o tom de voz azedo.

- Não! – eu exclamei – O quinto sacrifício era Tamara, nós a detivemos!

- Não, Agatha. – ele discordou de mim, delicadamente – Tamara era apenas uma distração, o escolhido não era ela. E agora que foi feito, o Wayeb começou, os cinco dias sem nome acabam de começar.

Encarei sua face, sem realmente ver. E uma punhalada de desespero golpeou-me, retirando meu fôlego e inundando-me com medo e pavor.


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Notas finais do capítulo

Uau! O que acharam da pequena demonstração dos poderes da Agatha? Legal, né? Isso pq ela usará mais vezes os seus dons por aqui, até o final da fic!

E eu peguei todo mundo de surpresa, até eu fui pega de surpresa!

Tamara não era o 5º sacrificio, era uma pequena distração! hehe...

E agora, finalmente, finalmente, finalmente, o Wayeb começou! E o bicho vai pegar!

Mas é com pesar que eu informo, que agora a fic entra na sua reta final, não sei ao certo quantos capítulos teremos, mas que essa 2ª fase já tá com os dias contados, isso está!

E então eu entro com a grandiosa e trágica 3ª fase! haha!!!

Agora eu faço um apelo:
Como alguns viram, iniciei uma outra fic (tá lá no meu perfil) e ela tá só no comecinho, mas para quem é fã de suspense, mistério, terror e romance, dêem uma passadinha por lá, é apelo de escritora! Porque essa fic tá me dando um trabalhão danado, e eu quero que ela dê frutos, pois eu amo o enredo sombrio e misterioso dessa fic...
Então, recado dado! Apelo feito...

Próximo capítulo, as coisas esquentam e o circo vai pegar fogo! Agora é tudo ou nada! E South Hooksett será dominada por uma força maligna e sinistra... *medo*

Não esqueçam dos reviews, senão eu demoro de novo para escrever... rsrsrsrsrsrs *má eu não??*

Beijinhos!!!!