Verdade e Consequências escrita por Lara Boger


Capítulo 14
Pazes


Notas iniciais do capítulo

Não estou muito inspirada, mas espero que perdoem.



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Algum tempo depois. Hospital.

Tanya pensou muito se deveria voltar naquele dia. Tinha medo do que poderia dizer a ele. Não sabia como lidar com aquela situação. Condenava-se por ter se envolvido com aquilo... e por segundos amaldiçoou-se por ter ido lá naquela manhã para tê-lo visto passar mal. Uma situação que durou pouco porque logo caiu em si. Poderia ter sido muito pior: e se Adam tivesse caído e se machucado?

Era uma armadilha da qual não tinha como fugir. Um segredo ou a culpa?

Sem querer se preocupar mais, colocou mais pressa nos seus passos que a levavam através dos corredores. Talvez fosse melhor acabar com isso depressa. Costumavam dizer que prolongar a dor era pior. Caso fosse verdade, então era melhor fazer logo.

Ainda no corredor, junto a porta viu o pai de seu amigo. Tremeu, hesitando por um momento, sem saber o que fazer. Ainda tinha algum tempo, pois ele não parecia ter percebido a sua presença. Parecia mais preocupado com o copo de café na sua mão, um olhar perdido para a parede. Talvez estivesse pensando em algo, ou preocupado com alguma coisa. Provavelmente em Adam.

Respirou fundo. Teria de enfrentá-lo de qualquer forma.

- Sr. Park? O senhor está bem?

- Ah... oi Tanya. – sorriu, simpático, parecendo distraído. – Sim, estou bem. Eu só me distraí um pouco.

- Adam está aí?

- Sim, está. Pode entrar, se quiser.

Agradeceu, meneando levemente a cabeça, sem dizer mais nada. Abriu a porta do quarto, suavemente sem querer fazer alarde de sua presença. Adam tinha um livro nas mãos, e parecia concentrado. Estava aberto um pouco antes da metade. Tanya ainda pensou em recuar e fechar a porta antes que ele a visse... mas não houve tempo.

- Vai ficar aí parada na porta, Tanya? – ele disse, sem tirar os olhos do livro.

- Eu não queria te atrapalhar.

- E quem disse que você atrapalha? – ele marcou a página em que parou e fechou o livro, pondo-o ao seu lado. - Pode vir.

Ela obedeceu, aproximando-se da cama a passos lentos. Sentiu-se insegura com aquilo, mas não disse nada, tentando não deixar transparecer.

- Como sabia que eu estava aqui?

- Meus anos de ranger valeram de alguma coisa, ainda tenho os meus reflexos. E até bem pouco tempo eram bem úteis. – sorriu, parecendo constrangido.

Houve um pequeno momento de silêncio. Apenas alguns segundos mas que para Tanya pareceram longos e insuportáveis.

- Desculpe por hoje, Tanya. Eu não queria fazer você se sentir mal.

- Não tem motivos pra me pedir desculpa.

- Você saiu daqui chateada por minha causa.

- Eu não fiquei chateada. Eu só fiquei... assustada. Pensa bem, se alguém te visse do jeito que eu vi, qualquer um ficaria nervoso.

- É, imagino... mas não ia adiantar nada chamar alguém. Acontece todo dia e não dá pra fazer mais do que um remédio pra enjôo. Chamar alguém só por isso só ia deixar todo mundo mais preocupado... especialmente alguém aí fora.

- Seu pai. – completou, vendo seu amigo menear a cabeça, concordando.

- Meu pai não sai mais daqui. Aposto que só vai pra casa pra tomar banho ou trocar de roupa. Desde o dia que vim pra esse hospital que não ouço ele falar em trabalho... e ele é um cara viciado em trabalho! – gesticulou, parecendo exasperado – Eu não... eu não queria que fosse desse jeito. Ele está vivendo em minha função!

- E o que você esperava, Adam? – indagou, curiosa – Ele só quer cuidar de você.

- Ele não precisa cuidar de mim. Eu já estou em um hospital. Não tem absolutamente nada que ele possa fazer ficando aqui.

- Nem companhia?

- Precisa ficar grudado em mim vinte e quatro horas pra me fazer companhia?

- Adam, - falou, séria. – Você está sendo cruel. Ele só quer o seu bem. Ele quer que você fique bem! É o seu pai! Ele ama você!

- Eu sei disso, Tanya. É claro que eu sei. Só não quero que ele fique aqui se desgastando a toa. Não quero que ele fique mal por minha causa. Sou eu quem está doente e não ele. Meu pai não tem que ficar internado junto comigo, ele não tem que largar a rotina dele por minha causa.

- Se ele ouvisse isso, ficaria magoado.

- Sim, ficaria. É por isso que não posso dizer nada. – olhou para a amiga que parecia entristecida e sem entender muita coisa. – Tanya... isso não significa que eu não queira ter gente por perto. Eu quero sim, mas num horário normal. Ninguém precisa ficar fazendo sacrifícios por minha causa. É desperdício de tempo.

- Por que desperdício?

Adam não disse nada. Apenas ficou calado olhando para os olhos dela, esperando que o silêncio pudesse significar alguma coisa. Tanya entendeu mas ficou em silêncio esperando por qualquer palavra dele que indicasse que estava errada. Esse impasse durou apenas alguns segundos mas, para ambos, foi algo difícil de suportar.

- Lamento que tenha visto aquilo, Tanya. A última coisa que eu queria era te fazer se sentir mal. Se quiser contar pra ele não vou me importar.

- Eu prometi que não ia contar, e vou cumprir a minha promessa. Além do mais não tem sentido falar nisso depois de horas. – olhou para ele, que estava de cabeça baixa. – Você está bem?

- Eu tô legal.

- Tem certeza?

- Absoluta. Não senti mais nada depois daquilo.

- Será que eu devo acreditar em você? Não quer fazer comigo o mesmo que faz pro seu pai?

- Não. – balançou a cabeça, dando um sorrisinho. – Eu não consigo mentir pra você.

Ao ouvir aquilo, Tanya começou a rir quase descontroladamente. Adam apenas olhou para ela, com o mesmo sorriso mas sem entender o motivo daquela reação. Apesar de sentir-se quase ofendido imaginando o porquê, achava graça. Ao menos ela estava rindo, e por mais que aquele riso o assustasse, era melhor que ver a culpa estampada em seus olhos.

Após alguns segundos o riso foi parando, dando vez a um rosto levemente vermelho, mas escondido pela pele negra, os olhos cheios d´água de tanto rir e a respiração ofegante que demoraria algum tempo para normalizar. Encarou-o, esperando dele alguma reação, fosse uma pergunta malcriada ou uma palavra, mas Tanya logo percebeu que caberia a ela quebrar o silêncio.

- Não vai perguntar do que estou rindo?

- Não precisa. Eu sei o motivo. Eu deveria ficar chateado por sua descrença mas acho que essa risada foi melhor que a cara que você saiu daqui de manhã.

- Ah... chateado? É mesmo? Bem feito!

- Obrigado pelo apoio moral, Tannie. Eu precisava mesmo ouvir isso. - disse, irônico.

- Nós só queremos o seu bem, Adam. Quando vai entender? – ela perguntou, puxando-o para um abraço breve e delicado, sem esperar resposta. 

Adam sabia que ela não queria uma resposta audível, e correspondeu ao gesto carinhoso. Estava aliviado porque era uma resposta que não poderia dar. Muita coisa estava em jogo, e amava todos o suficiente para querer protegê-los de tudo, até de si mesmo e da conseqüência dos próprios atos. Ninguém mais tinha de pagar o preço. Apenas ele. Assim eram as regras do jogo.


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Notas finais do capítulo

Hããããã... reviews?



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