-E então? – indagou Hale cruzando os braços – Quem é que vai começar abrindo a boca?

-Não sei de onde ele tirou tal idéia – respondeu Yvan já se voltando para o carro.

Hale revirou os olhos ao segundo que vi Zafira apontando uma automática para ele. Depois Russel ficou ao meu lado pondo a mão no meu ombro.

-Vocês serão bons meninos e virão comigo – instruiu Hale correndo seus olhos de mim para Yvan – Aos demais, cuidem de limpar essa bagunça.

Dei um rápido suspiro relaxando meus ombros.

Aquela mulher era fogo.

Entrei no 4x4 seguido de Hale que tomou o volante com uma expressão concentrada. Parecia refletir sobre alguma coisa que não deveria ser muito boa.

Ouvimos meu celular tocar, logo depois enfiei minha mão no bolso de minha calça retirando-o, mas antes que o levasse ao ouvido, Hale estendeu sua mão na minha direção me olhando séria pelo retrovisor.

Relutante, já que se tratava de Gabrielle, lhe entreguei meu celular e a vi levando-o ao ouvido.

-Depois você conversa com ele, Gabrielle – disse ela dura – Não se preocupe que o devolverei inteiro, ou pelo menos em partes, só preciso esclarecer algo entre ele e o Yvan. Até mais.

Depois ela me devolveu, retornando seu olhar para o trajeto enquanto Yvan levou sua mão ao rádio deixando que uma musica povoasse o carro, talvez querendo amenizar a fera que dirigia em alta velocidade.

Retornei meu olhar para a janela vendo a medíocre paisagem passar como um borrão.

Não tinha tanto medo do que Hale viesse a fazer, mas sim do que Yvan poderia vir a falar. Esse sim sabe de mais, tal como se ele fizer estará me dando de bandeja sua assinatura de morte. Ou seja, tinha que ordená-los mais um pouco antes de tudo começar a explodir.

Meus dedos tamborilavam na minha coxa analisando Hale que se mantinha concentrada no trajeto.

O que será que passava por sua cabeça?

Acharia que novamente a estava traindo?

Se fosse, ótimo, seria mais fácil ela achar isso e ir ainda mais atrás de saber quem está querendo nos derrubar do que qualquer outra coisa, a menos que Yvan consiga persuadi-la á não fazer nada, o que acho muito difícil.

Hale é arredia demais para jogar uma suposição fora, ainda mais se envolver algo sobre a King e Kellan que certamente fora morto pela MI6. Só preciso descobrir quem mandou matá-lo.

Apenas isso.

-Saiam – ordenou ela saindo do carro e fechando a porta com violência.

Fazia tempos que não via essa raiva toda.

Pelo menos desde o dia em que descobriu que eu era o seu chefe.

Sai do carro acompanhando-os, enquanto reparava que Yvan estava bem relaxado, relaxado até demais.

Ele iria mentir.

O desgraçado iria mentir e sabia fazer isso melhor que ninguém.

Ele continuava o mesmo de cinco anos atrás.

O jeitinho doce e inocente escondia melhor que qualquer mascara sua faceta assassina e fria, mas por um segundo pensei que ele estaria desarmado pela Hale, mas é o mesmo que pensar de Papai Noel mora mesmo no Pólo Norte.

Ela abriu a porta deixando-a aberta para que pudéssemos entrar. Depositou sua pistola na mesinha ao lado do sofá e depois girou em seus calcanhares nos encarando gélida.

-Sentem-se – indicou ela o sofá a sua frente –Agora.

Como crianças bastante obedientes sentamos-nos enquanto ela assumiu o outro sofá nos encarando reflexiva cruzando os dedos.

-Agora podem ir abrindo a boca e dizendo o que está acontecendo – disse ela calma e solene.

-Apenas Kisuke se confundiu – iniciou Yvan sereno – Ele deve ter esquecido que sou seu aliado e pensou que eu estivesse por trás da morte de Kellan Marjorie com quem nunca me encontrei na vida.

-Mesmo? – indaguei com escárnio – Pensei que o agente mais popular da MI6 estivesse com ele naquele assunto em Mirian.

-Fora outro agente que foi, tive um contratempo – explicou ele sem se virar para me olhar.

-Serio? – indaguei cruzando os braços – Até onde me lembro Kellan dissera que era realmente você que até por um segundo ficará surpreso com quem carregava a fama assassina.

-As pessoas enganam-se – replicou ele serio

-Fama assassina? – sibilou Hale cruzando os braços encarando Yvan – Pode me dizer de onde saiu isso?

-Da mente de seu amigo aqui – ele apontou para mim, mas a expressão cada vez mais sombria dela o fez mudar de idéia – Meus serviços acabam sendo mais pesados do que contei.

-Matar faz então parte do seu trabalho? – indagou ela cética – Pensei que tivesse tido que não aconteceria mais segredos entre nós.

-Bem, parece que começará uma DR aqui – disse me levantando – Assim melhor deixá-los á sós.

-Senta e cala boca – ordenou Hale autoritária com um olhar assustador – Ninguém está indo pra cama com ninguém aqui, assim sendo engula suas palavras.

Assobiei antes de me sentar.

-O que foi que te deram hoje? – perguntei com escárnio

-Poupe-me desses seus comentários ridículos Luzt – respondeu ela encarando-me antes de se voltar para Yvan – Quer saber de uma coisa, os dois. Não estou nem um pouco me importando com as coisas inacabadas que vocês tem, mas quero que saibam que se eu vier a descobrir que um de vocês tem algo escondido por trás dessa situação toda, rezem para que eu nunca encontre vocês, fui clara?

-Mais do que pensa – concordei rindo internamente.