Encaminhei-me para o corredor quando num encontrão acabei me deparando com quem queria ver desde que cheguei, mas não imaginei que estivesse diferente também.

-Oi, Claer – disse ele junto a um sorriso meio contido.

Olhei seus olhos cor de mel que ainda deixavam um brilho marcante no rosto alvo, o cabelo negro estava curto e repicado, as feições mais severas igual ao porte ainda mais atlético, parecendo com o de um militar. Os músculos dos braços estavam bem acentuados na camisa branca colada ao seu corpo que realmente estava na melhor forma possível.

Por que todos só agora resolveram cuidar de ter um tanquinho?

-Como vai? – perguntou ele casualmente

Olhei para seu rosto ansioso. Dei-lhe um tapa fazendo-o me olhar espantado.             

-Por que não me contou que fazia parte do serviço de inteligência, Yvan? – perguntei o olhando seria.

Ele ainda mantinha a mão na bochecha onde o bati e a expressão de espanto começava a dar lugar a de compreensão.

-Porque estou nisso faz apenas quatro anos – respondeu ele me olhando pesaroso – Se estivesse antes certamente teria te contado, sabe disso.

-Sei mesmo? – indaguei retórica cruzando os braços – Sua namorada Laisa é quem deveria saber disso.

-Tempo de colégio Claer – esclareceu ele – Não leve isso em conta.

-Quer dizer que não estão mais juntos? – perguntei meio surpresa

-Claro que não – respondeu ele num tom como se fosse a coisa mais obvia do mundo – Não iria querer ficar com ela por tanto tempo, na época estava tentando arrumar uma maneira de terminar.

Abri a boca para falar, mas não emiti som algum.

Não esperava por essa.

-Olha queria muito conversar mais com você – começou ele a dizer com a tristeza latente em seu olhar – Mais preciso ir, tenho que acertar algumas coisas com seu chefe.

Quando ele se virou o segurei pelo antebraço fazendo-o olhar para mim.

-Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? – indaguei o olhando de maneira inquisitiva.

Ele deixou um suspiro escapar antes de beijar minha testa.

-Não quero contar a respeito disso – disse ele se afastando de mim – Queria que ficasse mais atenta às coisas de agora em diante. Rider não é lá uma competição agradável de se participar.

-Já comecei a notar isso – satirizei enquanto ele dava um leve sorriso.

-Até mais, Claer – se despediu de mim indo para o elevador.

Com um leve suspiro retornei meu foco ao bar que ficava no extremo norte do andar e certamente seria bom dar uma passada por lá.

Encaminhei-me então para o bar onde quando entrei notei que já havia algumas pessoas sentadas nas mesas bebericando seus drinks com expressões serias, divertidas e outras mais que pudesse se fazer uso.

Aproximei-me mais rumo ao balcão onde vislumbrei o charmoso garçom que antes poderia ter ficado ou coisa do tipo.

-Um Martini puro – pedi me voltando para o resto do bar que entoava uma musica que não reconheci o cantor.

-Um uísque duplo – pediu um cara depois se voltando para pra mim exibindo suas pedras amendoadas – Oi.

-Olá – retribui amável enquanto pegava o copo com a bebida.

Ele franziu a testa me olhando, como se tentasse lembrar de onde me conhecia.

-Claer Morris Hale? – indagou ele hesitante

-A própria – disse sorvendo um pouco do conteúdo do copo antes de depositá-lo no balcão – E você é?

-Murphy Williams – se apresentou ele estendendo sua mão para um aperto.

-Prazer – disse apertando-a – Faz parte do F.B. I?

-É tão notável assim? – indagou ele com um leve sorriso

-Arrisco a dizer que sim – disse indiferente ao fato – Pelo visto vamos nos esbarrar com vontade até que isso acabe.

-Provável – disse ele de maneira vaga

Retornei meu olhar para ele antes de pegar novamente meu copo e sorver mais um pouco no conteúdo que desceu por minha garganta rasgando.

-Deve ser interessante ser a capitã da King, não? – indagou ele fazendo círculos no balcão.

-É – dei de ombros – Tirando algumas partes é bastante divertido.

-Que partes? – perguntou ele completamente interessado

Virei o resto do conteúdo do meu copo antes de fitá-lo novamente.

Quando fiz isso comecei ver minha visão turva e uma estranha queimação invadir cada célula de meu corpo.

-Acho que é aqui onde nossa conversa acaba – disse ele com seus lábios quase colados aos meus – Deveria ter tido mais cuidado ao pedir sua bebida.

Senti a ira tomar conta de meu corpo, mas antes que fizesse qualquer movimento tudo ficou negro aos meus olhos.

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Certamente eu caminhava no estreito caminho da lucidez com o abismo da ilusão e da inconsciência enquanto sentia que era carregada por alguém que pelo cheiro do perfume reconheci sendo Sandro.

Não sabia o que falavam ao meu redor, tudo que era enviado a minha mente era completamente um enigma que não estava disposta a quebrar tão logo. Na verdade não conseguia quebrar.

Senti que algo macio ficava por baixo de minhas costas, o cheiro de girassóis invadiu meu nariz com a violência de um golpe no estomago. Sentia novamente a queimação dominar toda minha escassa lucidez.

Parecia que pequenas agulhas aquecidas perfuravam lentamente meu corpo em todas as partes possíveis. Não havia um único lugar que não estivesse queimando, ardendo me causando a maior dor que podia ter.

Minha cabeça parecia querer explodir. Como se houvessem colocado um contador dentro dela que fazia um barulho insuportável.

Quem fizera aquilo comigo?

Murphy?

Era veneno que corria em minhas veias causando tão imensa dor?

Que inferno!

Arqueei minhas costas dando um primeiro grito de dor agarrando a colcha da cama.

Provavelmente estava no quarto de Zafira.

Ou de quem quer que fosse.

Novamente soltei um grito de pura agonia.

-Façam isso parar – consegui dizer por entre meus dentes cerrados

Outro grito rompeu de minha garganta alto e estridente quando meu corpo todo ia pra frente e vislumbrava alguém entrar no quarto com a expressão aterrorizada no rosto.

Logo reconheci quem era.

Luzt.

Trinquei meus dentes prendendo o grito que queria sair enquanto ele se inclinava na minha direção.

Foi a ultima coisa que vi antes de tudo novamente ficar negro aos meus olhos.