Quando não se tem nada melhor pra fazer o que sugeri que eu faça?

Dançar macarena? Ficar dormindo? Correr pelo parque para ver se encontrar sua alma gêmea?

Ah, um segundo esse tipo de pensamento é de alguém que não tem nada melhor para fazer, certo?

Errado.

É pensamento de gente com tédio.

O que chega á ser meu caso.

Muito bem, de inicio permitam-me que me apresente de maneira mais agradável.

Claer Morris Hale.

E minha vida é um lixo.

Grande novidade.

Grande mentira isso sim!

Mentira porque não é um lixo, quer dizer, mais ou menos.

Mentira, pois não me importo com meu trabalho, pelo menos um deles.

Afinal minha vida desde os 15 anos é uma mentira.

Sendo bem rápida e clara.

Sou uma assassina, exerço o cargo de capitã na King, uma organização cheia de múltiplos sentidos.

Perdi uma amiga, não uma irmã, cinco anos atrás, ao mesmo tempo em que descobri que o cara que gostava era o todo poderoso da King, mais conhecido como Kisuke.

Só que pode chamá-lo de Luzt, além de imbecil, irritante, desalmado, vira-lata e por ai vai.

Por isso me distanciei de todos os laços daquela época que não são muitos pra falar a verdade.

Muito bem, antes era comandada agora comando, coisa que adoro apesar de me dar uma dor de cabeça medonha.

Por que?

Tenho uma equipe composta de dois delegados e dois regentes que sempre me criam situações onde tenho que me intrometer.

Muito bonito.

Retornando ao momento real, estou caminhando até a sala do meu chefe.

Atualmente finjo trabalhar em uma agencia de publicidade.

É legal, mais todos são cobras venenosas, viciados em beleza, trabalho e porque não dinheiro.

Não me surpreendo por essas coisas bestas e banais.

Já que beleza ainda bem que mantenho a minha o suficiente para que consiga fazer meu segundo trabalho com eficiência, dinheiro... Três contas espalhadas pelo mundo gordinhas está de bom gosto para mim agora trabalho, o doido que gosta, mas não sou eu.

Parei de pensar asneiras, pois agora estava diante do gordo, careca e baixinho mais conhecido como Gordon Finders.

-Senhor – disse solene enquanto fechava a porta

-Hale – disse ele com certa alegria enquanto mostrava um meio sorriso

-O que o senhor deseja? – perguntei formal

Não sou de dar entrada para chefe nenhum, depois de Kisuke. Distancia para mim virou fator fundamental.

-Bom minha agenda para hoje...

-Apenas um jantar com o dono da loja de roupas que estamos fazendo a propaganda – o lembrei com uma seriedade proeminente em meu rosto

Ele ergueu seu olhar castanho para mim e mexeu-se na cadeira giratória com nervosismo.

Ah vá, será que ele queria me convidar para um jantar?

-O que deseja, Finders? – retomei a perguntar calma e o olhando de maneira segura

-Sobre esse jantar... – ele fez uma pausa pensativo – Poderia ir comigo?

Que cruel consigo mesmo.

Convidar alguém mais nova, quanta incredulidade para mim.

Quando abri minha boca para falar meu celular começou a tocar dentro do bolso do meu blazer.

Parece estranho que o carregue ali, mas dentro da minha bolsa é o ultimo lugar que acho confiável.

-Atenda, fique á vontade – consentiu ele gesticulando.

Assenti com a cabeça ao tempo que dava um sorriso de desculpas pegando meu celular.

Ao ver quem se tratava senti o sangue correr de minhas veias.

Sai da sala e caminhei rumo ao fim do corredor onde não havia ninguém.

-Até que fim atendeu – disse a voz estridente de Cassie aliviada ao que notei

-Problemas – expliquei rapidamente – A que devo essa ligação?

-Como você não atende as ligações do Kellan e do Shin – refletiu ela – Muito menos vem as reuniões, tenho o dever de te contar uma coisa.

-O que? – perguntei me encostando na parede

-Na verdade prefiro não falar isso ao celular – respondeu ela meio hesitante – Um jantar hoje ás nove no Villart?

-Claro – concordei prontamente – Compareça, capitã.

-Acho que isso seria eu quem deveria falar – retorquiu ela com certa alegria na voz

-Até mais tarde, Cassie – me despedi antes de desligar.

Guardei meu celular no bolso e retornei a sala de Gordon que estava uma pilha de nervos.

Não me diga que estava tão ansioso por mim assim?

Que tolice.

-Desculpe, Finders – disse no tom mais sincero que encontrei – Não poderei ir ao jantar, pois tenho um compromisso mais urgente.

-Não foi um convite, Hale – replicou ele debruçando-se na mesa.

-Foi uma ordem – conclui o olhando severa

-Exato – confirmou ele me encarando

-Sendo assim – disse ajeitando meu blazer – Estou pedindo demissão.

-O que? – perguntou ele surpreso

-Isso mesmo que ouviu – respondi – O compromisso que tenho não posso adiá-lo e como disse que é uma ordem que eu vá nesse jantar, peço demissão.

Sai da sala deixando-o boquiaberto com minha atitude.

Francamente, não iria nem se não houvesse jantar com a outra capitã da King.

Acho que devia me lembrar que a organização é composta por 30 calouros, 23 veteranos, 19 regentes, 10 delegados, 5 capitães, 2 majores e 1 comandante geral.

Os demais capitães são Shin, com quem vivi até depois da morte da Camyla, Kellan Marjorie que foi uma espécie de mentor para mim antes que eu me tornasse capitã e o Scar que nunca vi desde a morte de Steve, que foi meu antecessor no cargo.

Não penso muito nessa parte da burocracia, hierarquia, pois tenho uma equipe, tenho obrigações, poucas para com eles, mas tenho. Isso sem falar que preciso cuidar de matar algumas pessoas que eles não conseguiriam.

O que não se pensa quando não tem nada melhor.

Cheguei na minha mesa tendo os olhares das outras secretarias sobre mim e cochichavam.

Pareciam abutres em cima de carniça.

Arrumei minhas coisas rapidamente quando me virei para sair acabei me esbarrando em Demitri que me olhou com aquelas suas pedras esverdeadas que me deixaram um segundo hipnotizada.

-O que houve, Claer? – perguntei ele vendo minhas coisas

-Pedi demissão – respondi rapidamente – Tenho que ir Demitri alguma hora nos vemos.

Apressei o passo para o elevador enquanto deixava-o sem palavras por minhas costas.

Nada de laços, nada misturado com nada.