Chocolate escrita por Nina_Waka


Capítulo 10
9. HISTÓRIAS




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A família do Lenser mudou-se a pouco mais de um ano. – Nós três nos sentamos em uma mesa. – Eram uma boa família, eles moravam perto de casa. – Erick tomou um pouco de fôlego e continuou. – Lenser era mais baixo que você e tinha os cabelos castanhos muito curtos, sempre andava arrumado, do tipo todo certinho. Nunca fazia nada de errado.Era o filho perfeito.

— E o que aconteceu? – perguntei curiosa.

— O garoto em menos de uma semana começou a mudar. Seu olhar ficou completamente negro, começou a faltar na escola, a usar roupas do tipo bad boy e ficou rebelde. Tudo isso em dois dias. – Erick parou. – Foi quando o pior aconteceu. Na quarta, Lenser fugiu de casa. Os pais dele ficaram desesperados. Como nossos pais eram amigos, ajudamos a procurá-lo. Mas foi em vão. O garoto havia sumido do mapa. Como um cara de dezessete anos desaparece assim?Ele não tinha levado dinheiro, carro, roupas, nada. Os pais nunca haviam desistido de procurar, foram três meses de buscas. Até que ele ligou..

— Como ele estava? – perguntei ainda mais curiosa.

— Lenser disse que estava ótimo, que nunca se sentiu tão bem. Só que falou para os pais pararem de procurá-lo, por que eles nunca iriam o encontra e mesmo que achassem, Lenser não iria voltar.

Jessye e Erick ficaram mudos por um minuto, até que quebrei o gelo.

— Vocês tem certeza que era ele com o Laon?

— Claro que tenho. – Erick falou como se eu o tivesse ofendido. – Está bem diferente, com o cabelo nos ombros e as roupas. Até o olhar está mais negro e tão ruim. – Parou.

— Só o tamanho dele que.. – ela não continuou.

— Sim, ele está enorme. Um e oitenta, acho. E Jessye, você viu como está forte, o que será que aconteceu?

— Não sei.

— Já aconteceu outros casos assim? – perguntei olhando para o Erick.

— Pelo que lembro não, no entanto, Jessye mora aqui há mais tempo que eu.

— Houve de outro garoto.. – começou. – mas foi outra história.

— Como assim outra historia?

— Não lembro o nome dele. Era um nome com P: Pirre, Piedro... era Pietro. – Um sorriso surgiu por ter se lembrado. – Só que o dele foi estranho, não me lembro muito bem. A família dele havia acabado de chegar da Itália, acho. – Jessye tentava lembra-se de tudo para nos contar. – Eles estavam há dois dias aqui, e o filho morreu.. – vi as lágrimas em seus olhos.

— Morreu. – Eu quase gritei.

— É o que todo mundo achou na época, é o que eu achava até..

— Até que.. – deixei para ela completar.

— A família dele, disse para a policia que ouviram uns barulhos estranhos no quarto e depois ouviram o Pietro gritar. Assim que subiram para ver, ele não estava mais lá. Havia apenas roupas rasgadas no chão, marcas de garras por todo o quarto e a janela quebrada.

— Ai, meu Deus! – como isso poderia ter acontecido, coitada da família dele.

— Porém, a mãe dele disse que viu um urso marrom-escuro correndo para o bosque. A policia não acreditou, não havia sangue.

— Tudo parou nisso? – aquela história era realmente estranha.

— Claro! – Erick bateu a mão na mesa com raiva. – Ninguém descobriu o que aconteceu, e por falta de provas, arquivaram o caso.

Urso correndo para o bosque e será que Pietro é... Não, Selina!Nem todos os garotos são lobisomens. Entretanto, iria fazer sentido.

— Só que hoje..

— Jessye não era ele. – Erick olhou-me.

— Eu tenho certeza que era.

— Você acha que o viu. – sussurrei.

— Ela acha. – Erick começou a se zangar.

— Selina, era ele sim. Com o Laon, o Lenser e mais dois garotos. Só que assim como o Lenser, Pietro estava maior.

— Sabe, acho melhor nós irmos embora. – Ele sugeriu e Jessye o olhou brava.

— Eu vou com vocês. – Falei com a voz baixa.

— E o seu carro? – ela olhou-me.

— Verdade. – Coloquei a mão na cabeça. – Fica para a próxima.

— É, aquele carro velho. – Erick brincou.

— Não é velho, é clássico. – Retruquei

— Tudo que é clássico, é velho. – Jessye riu quando terminou de falar.

— Até você? – sorriu incrédula.

— Você tem que comprar outro carro, um Chevette 78 não é para você. E ele ainda é vermelho. – Erick falou puxando a Jessye para irem embora.

— Tchau para vocês dois. – Fingi estar brava

— Tchau! – falaram juntos.

Já estava chegando perto de casa, quando vi a imensa lua cheia no céu. Estremeci quando me lembre que no bosque, havia lobos que andavam sobre as patas traseiras e mediam mais de dos metros.

‘‘Jared. ’’ O nome dele veio como um letreiro com luzes florescentes.

Desde que ele deixou-me, sinto-me incompleta.

Porque o amor tem que doer tanto?Essa pergunta ficou na minha cabeça até eu chegar em casa.

— Selina. – Nick já me esperava na varanda. — Você fechou a loja agora, sabe que horas são?

— Nick, agora não. – Pedi, ter lembrado dele no caminho não foi uma coisa boa.As punhaladas estavam vindo,conseguia sentir.E o sangue que sempre eram na forma de lágrimas estavam cada vez mais perto.

— A Lila falou-me que você estava chorando hoje cedo, e já são seis horas. Você está péssima.

— Aquela linguaruda. – Entramos na sala. Eu tentava de todos os jeitos não subir para o meu quarto, no entanto, se acabasse brigando com a minha irmã, teria que subir.

— Não fala assim dela, Selina Jones! – sua voz alterou-se.

— Desculpa. – Virei para ela e abaixei a cabeça. Nick apenas suspirou.

— Mamãe saberia o que fazer... – sussurrou.

— Está se saindo bem. – Dei um meio sorriso.

— Obrigada. – Ela riu sem jeito. – Vai contar-me o que é?

— Um cara vai vir me buscar. Ele me chamou para sair.. – não podia contar a história toda. – e vai passar aqui às oito. Vou ir dormir.

— Hei, espera. – Parei na escada. – O garoto vai vir aqui, e você está indo dormir?

— Aposto que esse encontro vai furar. – Minha voz saiu monótona.

— Por quê?

— Ele nem sabe onde eu moro. Tchau. – Subi os degraus.

Chegando à porta, hesitei para abri-la. ‘‘Será que Jared vai estar aqui dentro?’’Perguntei para eu mesma. ‘‘Duvido. ’’Abri a porta.

No quarto não havia ninguém. Mas o cheiro dele ainda encontrava-se aqui.

Deitei na cama olhando para o teto de madeira, e o que eu tanto temia,aconteceu. As lembranças dos dias mais perfeitos que já tivera consumiram-me. Tudo voltou em um segundo. As conversas, a voz, o cheiro dele, os olhos, o calor, o sorriso, o beijo e o abraço tão protetor. E assim que me dei conta,abraçava o travesseiro,sentindo as punhaladas e chorando.

— Por que tem que ser assim? – falei sozinha. A dor ficava cada vez mais forte. Olhei para o relógio e já eram oito horas.

Ouvi o barulho de um motor agressivo do lado de fora, será que era o Laon?Não poderia ser. Corri para a janela e abri as cortinas. Havia um carro vermelho – aparentemente nada barato. – parando em frente de casa.

— Nick, acho que tem alguma amiga sua lá fora! – gritei abrindo a porta do quarto.

Nick subia os degraus para falar-me a mesma coisa.

— Acho que esse é o seu príncipe encantado. – Falou-me rindo.

— Não. – Respondi séria. – Deve ser o Laon. – Comecei a descer a escada com a Nick atrás de mim.

— Laon?

— O garoto que falei para você. Eu achava que ele não viria. – A olhei desesperada.

— É, ele veio. Dentro de um carrão.

— Interesseira. – Acusei. Ela apenas cruzou os braços e bufou.

Uma batida forte e firme surgiu na porta.

— Não vai atender? – apontou para a porta.

— Vou. – Falei sem graça.

Coloquei a mão na maçaneta e abri a porta.

Era ele mesmo. Laon vestia uma calça social preta e uma camisa vermelha. Mas havia algo em seus olhos, estavam mais negros. Minha atenção foi desviada no momento em que em seus lábios, surgiu um sorriso tão caloroso, que deixou minhas bochechas quentes.

— Olá Selina. – Sua voz era profundamente provocante e deixou-me sem ar. O que aconteceu com ele? O garoto tímido de hoje cedo tinha sumido completamente, em seu lugar, surgiu um ser sedutor e misterioso.

— O-oi. – Gaguejei.

— Para você. – Esticou seu braço e em sua mão estava o buquê mais lindo de rosas que eu já havia visto. As rosas eram de um vermelho tão intenso e com algumas gotinhas d’água, como se tivesse sido colhidas depois de uma leve garoa. Elas eram enroladas em um plástico lindo. Era perfeito.

— Obrigada. – Agradeci pegando o buquê. Nossas mãos tocaram-se e senti a sua pele queimando a mais de noventa graus. – Você está bem? – perguntei assim que o senti tão quente.

— Estou ótimo, só espero que goste de rosas.

— São lindas. Eu nunca tinha visto um buque tão perfeito. – Nós dois coramos.

— Eu iria trazer chocolates, mas mudei de idéia. Afinal, você vive com eles. – Sorrimos. – Vamos? – apontou para um carro que eu nunca havia visto.

— Espere, ainda não me arrumei.

— Está linda. – Laon pegou a minha mãe e levou-me até o carro. – Gosta de carros?

— Um pouco, este é um Porche? – em seus lábios surgiu novamente aquele sorriso tão caloroso.

— Não, é uma Mercedes Benz SL65 AMG Black Series. Já ouviu falar?

— Não, porém, é um nome bem comprido.

— É uma edição limitada, apenas duzentas unidades.

— Nossa, deve ser bem carinha.

— Trezentos e vinte mil dólares.

—Nossa. – Falei admirada pelo preço.

— Ela vai de zero a cem quilômetros em três oitavos de segundos, e alcança trezentos e dezessete quilômetros por hora.

— Você gosta de velocidade heim.

— Gosto. – Olhou-me com um misto de malicia e convencimento. – Gosta de cinema? – abriu a porta para mim.

— Bastante. – Pausei. – Vamos ver romance, não é? – minha voz saiu estranha.

— Por quê? – perguntou-me surpreso.

— Você gosta. – Não foi uma pergunta.

— É que..eu achei,que como estamos saindo juntos,romance poderia ser bom.

— Tem lógica. – Sorri sem jeito. – Então pode ser romance. – Estava perdida.

O caminho para ir até o cinema foi bem calmo, o filme realmente me fez chorar. – Era a história da minha vida. A mocinha apaixona-se pelo mocinho, os dois vivem um romance intenso. O garoto vai embora e o filme termina com a mocinha chorando. – Para a minha sorte, Laon não tentou invadir meu espaço nenhuma vez. Nada de mão boba, nem tentativas de beijos no cinema.

Já era onze e meia, e nós estávamos perto de casa, quando ele freou o carro bruscamente. – Se eu não estivesse com o sinto de segurança, teria batido a cara no vidro.

Suas mãos voltaram o seu cinto e uma delas apertou o volante, como se estivesse nervoso. Encolhi-me no banco.

Ouvi um barulho entre as árvores ao lado de fora. Graças à luz fraca da lua, consegui ver dois olhos negros brilhando e dentes brancos, parecidos com navalhas a mostra. Laon não demonstrava estar vendo-o. Não conseguia ver o que era, no entanto, sabia que não era um urso.

Meu coração começou a bater forte, minhas mãos começaram a suar e minha respiração era tensa. Eu tremia de medo.

— Olha.. – quando Laon falou, eu soltei um grito abafado de susto. – Você está bem? – sua voz aparentava preocupação.

— Estou, mas por que você parou o carro?

— Eu tenho que falar uma coisa, Selina.. – sua voz era tensa e um pouco apavorada.

— O que foi? – perguntei cautelosa.

— Selina, e-eu sou um..Lo-biso-men. – Laon separou a palavra de um jeito estranho.

— Está brincando, não está?Só pode estar brincando. – Não acreditava. Outro lobisomem, só poderia ser brincadeira.

— Bem que eu queria.. – a voz dele era um mero sussurro. – Selina, eu gosto muito de você, mas não poderia mentir. É o que sou. – Olhou-me com os olhos cheios de lágrimas. – E vou entender se você nunca mais quiser me ver.

— Espera, você realmente está me contando que é um lobisomem?

— Sim. – Ele abaixou a cabeça esperando eu o mandar embora.

— Não vou te mandar embora. Você confiou em mim, mesmo nós não nos conhecendo direito.

— Obrigada. – Abraçou-me.

Assim que ele abraçou-me, um uivo cortou o silencio da noite, era como um choro. Ouvindo o lobo, meu coração se quebrou e as lágrimas surgiram. E tratei imediatamente de engoli-las, não podia chorar na frente do Laon.

Quando ele olhou-me, seus olhos estavam magnéticos. Laon colocou uma das mãos no meu rosto e começou a aproximar-se. Eu sabia o que viria agora,uma punhalada forte surgiu,fazendo-me lembrar do Jared, de sua despedida. O momento veio como um flashback e as palavras surgiram: ‘‘.. É por isso que estou tirando você de perto de mim. ’’ E outro uivo cortou a noite, dessa vez, pior que o primeiro.

— Desculpe Laon. – Eu o afastei. – Eu..não posso. – Uma lágrima escapou.

— Tudo bem. – Ele enxugou a minha lágrima. – Não vou forçar você a nada. – Apenas retribui com um sorriso. – Agora, tenho que levar você para a casa, se não a sua irmã irá chamar a policia.

Nós dois rimos.

Não estávamos longe. Chegamos em casa no máximo de dez minutos depois.Ao parar o carro,seus olhos encararam-me com um certo medo.

— Já disse que não vou te mandar embora. – Sorri.

— Você realmente é um anjo. – Laon deu um beijo na minha bochecha e depois sorriu. – Obrigada novamente.

Depois que desci do carro, a chuva começou a cair. Fiquei na varanda até não ver mais o carro de aparência agressiva.

— Por que ela está demorando? – uma voz curiosa perguntou dentro da sala.

— E se eles estiverem se beijando. – Outra voz pronunciou-se animada.

— Acho que não, ouvi o barulho do carro.

Todas as vozes vinham da sala. Já poderia imaginar quem eram as garotas donas daquelas vozes, e o que iria enfrentar. Bem, eu poderia dormir na rede, ela era confortável também. Entretanto, Nick ficaria preocupada e com certeza chamaria a policia,dizendo que um ruivo lindo havia me seqüestrado. Um escândalo desses, não pegaria nada bem.

Respirei fundo e entrei.

A situação era pior do que havia imaginado. Nick estava na sala, com as suas amigas. – Não me dava bem com a maioria. – Todas se encontravam sentadas no chão e com um balde de pipoca no meio delas.

Estavam a Roberta, – a ruiva com os cabelos cortados igual ao de um menino. – a Carla, - uma loira, que não gostava de mim. – Milady – com longos cachos e a pele acobreada. – e a Lila. – Que me olhava como se tivesse feito algo errado. O pior é que ela realmente fez. Se não fosse pela Lila,não precisaria ter discutido com a Nick e não subiria para o quarto,lembrando-me dele com tanta força.

— E então? – Milady perguntou tão animada, que parecia ser o último dia de aula.

— Vou subir para o meu quarto. – Apontei para as escadas e dei um sorriso simpático. – Tchau meninas. – Subi os degraus correndo. Enquanto subia, consegui ouvir a Carla resmungando: ‘‘Puxa, como ela é grossa. ’’

A porta do meu quarto não era mais um portal para isolar-me do mundo, era para entrar em um mundo de lembranças, que se tornavam punhais cada vez mais afiados.

Vesti o meu pijama velho e branco, deite na cama e comecei a conferir meus deveres de casa.O sono não vinha,então fazia tudo o possível para as lembranças não apareceram.


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