CAP. 1 Decidi que ia me matar no dia, se as coisas não fossem como eu queria. "Eu nunca quero a coisa certa..." Estava sentado no balcão do bar[como sempre], encharcando meu fígado de vodka[como sempre], olhando para a pista de dança[como sempre], esperando nada menos que um milagre[como sempre]. Ela estava com um vestidinho bordado, laços no cabelo, sapatos de boneca. Seus cachinhos loiros sendo balançado por seus movimentos na pista. Os lábios, contornados por um batom ridiculamente vermelho e as unhas, pintadas de amarelo. Talvez, pelo fato de ter 9 anos. Não tirava os olhos de Lola. As pessoas ao redor, pareciam não perceber minha paixão doentia por ela, sorte minha. Deveria ser preso, chicoteado, crucificado e o que mais pudesse ser. Além de pecado, o que eu sentia era crime. Crime por amar uma pessoa? Crime por amar uma criança. Mas eu não precisava ser julgado pra receber minha pena: eu mesmo já me castigava em pensamento, 25 horas por dia. Por que só acontece comigo? Virei mais um copo inteiro de bebida, só pra tentar pensar em outra coisa. Não funcionou. -Eeeei, vai com calma, Nick, esse já o quarto... -Me deixa em paz, Mandy, se eu quiser foder o meu fígado, eu fodo e o problema é meu! -Você acha que bebendo e se drogando, vai conseguir resolver seus problemas?! Tentei lançar-lhe o olhar mais ameaçador possível. -Ok, você é quem sabe! Mas se passar a noite inteira vomitando, não venha correndo pra mim! Deitei minha cabeça no balcão, colocando meus braços dobrados por cima. -Nick... - ela disse, tocando meu ombro. -Me deixa, ok? Eu tô ótimo, nunca me senti melhor! - levantei a cabeça, voltando a olhar pra pista. Ficou um tempo em silêncio e, provavelmente cansada de argumentar comigo, foi atender outro cara. Por que minha vida é assim? Cambaleando, me levantei do balcão. Mandy Era minha amiga, mas tinha dias em que conseguia ser terrivelmente chata. Fui pro sofá que ficava perto da entrada, o mais longe possível de Lola, é claro, propositalmente. Julian estava lá, fumando. Me joguei ao seu lado. -Que cara é essa? -A gente já pode ir embora? - perguntei, implorando com os olhos. Eu parecia uma criancinha quando pedia algo do tipo pra ele. -Mas Nick, não faz nem uma hora que... -Eu quero ir embora, Julian... - encostando minhas costas naquele sofá. -Não dá pra esperar mais um pouco? -Se eu tiver de esperar mais um pouco, vou esperar mais um pouco no banheiro, vomitando. -Vai precisar de ajuda? - ele perguntou, sorrindo. Fiz um olhar de censura. Sem dar nenhuma resposta, roubei o cigarro de sua boca, colocando-o agora na minha e voltei o olhar pras pessoas ao redor. -Vou tomar isso como um "talvez"... - ele disse, olhando pra mesma direção que eu. Depois disso, ficamos calados. Ele fez menção de abrir a boca uma ou duas vezes pra falar, mas logo em seguida, a fechava. Acho que não encontrava as palavras que estava procurando. Já estava agindo estranho fazia uns dias, mas depois daquilo? Bom, ficou meio óbvio que ele estava pra me falar alguma coisa. Mas não perguntei. Eu também tinha "certas coisas" pra contar pra ele e nem por isso, ficava me questionando. E nem precisei perguntar. -Nick... - ele já me olhava sério, metia até medo pensar em qual seria o assunto -...eu...eu preciso falar com você...