Vicky. às Vezes, Vachel. escrita por Li-k


Capítulo 1
Esqueça seus valores, mocinha católica.


Notas iniciais do capítulo

A história no ponto de vista de Victória. (uau, uma rima)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/103284/chapter/1

   Vermelho, laranja, amarelo. As cores se erguiam, misturadas, oscilantes, emitindo um brilho fascinante, funesto. Aquilo remeteu a Victoria algo que ela conhecia, mas não conseguia se lembrar. Elas começaram a se tornar distintas e a tomar uma forma quase humana, o vermelho deu origem a um longo vestido digno da nobreza, o laranja, a longas e lisas madeixas acobreadas e o amarelo, olhos faiscantes e felinos: era a própria garota.

   E ela se viu frente a um espelho, sorrindo. Não sentia nenhum sorriso nos lábios, mas sua imagem mostrava quase todos os dentes num largo e intimidante sorriso, os olhos sérios. Victoria estremeceu. Mas ela não viu medo no espelho.

   Inconscientemente levou as duas mãos ao espelho, a imagem fez o mesmo. Quando as pontas dos dedos se encontraram, uma força sobrenatural puxou o corpo de Victoria com violência contra o vidro, como um ímã atraindo pequenas fagulhas de ferro. Estava com o corpo completamente colado na superfície, como um insignificante inseto preso na armadilha de fios de uma hábil tarântula, onde qualquer movimento apenas agravaria a situação.   

   A imagem apenas tocava nas palmas das mãos de Victoria e gargalhava freneticamente. Aproximou o seu rosto ao da garota, o sorriso sádico na face

  "Você não é mais a única aqui, pequena Vicky...eu sou você, você é eu, eu sou seus medos, sua esperança, seu refúgio, seu pior inimigo. Será que você não se lembra?"

 

    A imagem movia os lábios, mas a voz ecoava dentro da sua cabeça. Era a sua própria voz de um jeito que nunca havia ouvido antes: cínica, fria, maldosa. O que ela queria dizer?  Do que ela tinha que se lembrar?

   Victoria tentou se mover desesperadamente em vão, e notou que estava lentamente sendo tragada para dentro do espelho, como este tivesse se tornado líquido. Simultaneamente a outra saía dele, rindo psicoticamente. 

   Fora completamente sugada e a imagem havia tomado seu lugar. Tudo era escuridão, apenas o formato do espelho de onde tinha vindo podia ser visto, agora sólido como diamante novamente e, através dele, estava a outra; real. Victoria atirou-se contra o espelho tentando gritar, mas nenhum som saía. Mais uma vez aquela voz sinistra ecoou na sua mente

   "Agora você observa, enquanto eu me divirto."

  Agora livre, a outra virou-se e saiu caminhando lentamente, aos risos altos e arrepiantes, mais macabros que nunca.

   Victoria sentiu o desespero tomar conta do seu corpo e insistiu em fazer o máximo esforço para gritar.

"...!"

"......!!!"

-....NÃO!!!

...um teto, um rachado e gotejante teto. Victoria ficou inerte, sem entender. Aos poucos começou a sentir um tecido macio nas costas, o vestido pousado sobre o corpo."Foi um sonho", pensou, enquanto se levantada aos poucos. "E agora estou deitada na minha cam...?"

Não era bem o cenário que esperava ver. Estava num quarto não muito grande, pouco luxuoso. Havia uma estante de madeira escura com alguns poucos livros tombados, um armário da mesma madeira muito bem trabalhada, entre os dois um formato oval semelhante a um espelho coberto por um pano branco (Victoria desviou o olhar numa velocidade incrivel), uma porta um pouco arranhada e uma janela completamente selada com tábuas de madeira. É, aquele não era seu quarto, nem nenhum outro que já vira na vida, e Victoria julgou ser parte do seu sonho. Tentou se levantar, e teria conseguido...se não fosse a dor alucinante que lhe ocorreu nos braços. Caiu de volta na cama, soltando grunhidos de dor: era como milhões de agulhas a espetando, como se seu braço tivesse se desintegrando, como se fosse....

...fogo?

  Agora notou que seus braços estavam enfaixados com ataduras medicinais. O antebraço e a mão no direito, o esquerdo por completo desde o ombro. Aquilo ardia em contato com a carne, estavam completamente queimados. E a dor lhe parecia mais real do que qualquer outra que já tivesse sentido.

   Estava tentando se mover o mínimo possível para superar a dor, quando ouviu o som da porta abrir...e fechar. E passos.

  Adentrou a figura de um rapaz jovem, não muito alto, de cabelos castanho-claros semi-arrumados com os dedos; trazia na face alva uma espressão séria e serena. Puxou uma cadeira e sentou-se próximo a ela com os cotovelos apoiados nas coxas, fitando-a, como que esperando ela dizer algo como "Quem é você?" ou "por que me trouxe aqui?", mas ela ficou olhando-o em silêncio. Aquilo o deixou interessado.

-Não quer me perguntar nada? - perguntou o rapaz, intrigado.

 -Pra quê? Você é parte do meu subconsciente. Logo vou acordar.

O rapaz desabou do interesse à decepção, mas riu.

  -Dizem que a melhor maneira de perceber se está sonhando ou não é lembrar-se do que aconteceu antes. Do que você se lembra, Victoria?

Ela fez uma expressão de espanto, sequer tinha lembrado de se lembrar e num mínimo esforço tudo veio a sua mente num instante.

E ela percebeu, que não se tratava de um sonho.

~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨

Seu nome era Victoria Mistyrain, era de uma família de nobres ingleses de cabelos vermelhos. Seu pai e sua mãe, o Conde Harrison e a Condessa Julie sempre foram muito presentes e acabaram por mimar demais a filha que se tornara de certa forma arrogante, apesar da polidez impressionante que mostrava socialmente ainda muito nova. Gostava quando os adultos a elogiavam. Ticava piano, ficava quieta quando iam a concertos musicais, era educada, gentil, enfim, tudo o que os adultos admiravam.

Seus pais serviam a um lorde húngaro chamado Viktor(seu nome fora uma homenagem a ele). Um homem que Victoria viu poucas vezes quando ainda era muito nova, mas lembrava-se de que ele era um homem alto e muito pálido, que despertava certo medo. Ouvira que o Lorde Viktor era um vampiro, e por não poder andar no sol usava a sua família para realizar seus afazeres matinais. Mas ela, como uma boa garotinha católica jamais acreditou nisso.

Tinha uma irmã, Alice. Era 6 anos mais nova e despertava um leve ciúmes em Victoria, mas nunca deixou de gostar e de se dar muito bem com ela.

Teve uma noite....

Ela tinha 14 anos. Estava lendo em sua cama enquanto sua irmã brincava com algumas bonecas no chão. Ouviu barulhos estranhos vindo de baixo: portas batendo, passos apressados....gritos. Pegou sua irmã e sem pensar se enfiou no guarda-roupa. Os barulhos cessaram, um clarão passava pelas frestas da porta do seu esconderijo. Quente, tremitante. Passos no quarto.

O fogo chegou até o guarda-roupa. Victoria empurrou a irmã a tempo de uma tora flamejante cair sobre ela mesma. Sobre seus braços. Ardia como nada que houvesse sentido antes. Havia homens no quarto. Dois. Eles tentaram se aproveitar das meninas. Victoria já não pensava, não queria pensar, não queria querer pensar. Por quê...? Minutos atrás estava feliz. Tinha tudo o que queria. Agora, tudo..tão derrepente.

Os gritos sendo sufocados. "Não, mentira. É tudo mentira". O homem sobre ela a despindo." É mentira". A carne queimando." Não..."Os gritos cessando-se.

Tudo estava ficando embaçado, o som dos gritos sendo substituídos por zunidos e a lucidez se distanciando...

~Se a realidade não lhe agrada, por que não criar uma?~

E Victoria se entregou, e se deixou esquecer de todo aquele sofrimento.

...e é incrível o que o instinto de sobrevivência do ser humano é capaz, não é?

Abrira os olhos. Aquele mesmo rapaz estava na sua frente, os homens estavam detidos. Alice..."oh meu Deus, Alice..."

-Por favor, ajude-me...

e tudo ficou escuro novamente.

~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~¨~

-...deixe-me.

O rapaz se levantou e se dirigiu à porta. - Chame por mim quando precisar. À propósito, meu nome é Andrew. - e saiu.

Ela ficou inerte, mastigando tudo o que havia acontecido. Ergueu os braços trêmula, as faixas cobrindo-os. A dor neles que sentia já não era mais nada. Eis que uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

E ela mal sabia que a lágrima era feita de sangue.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente atualizei!

O RPG em que jogo com ela está acabando..:( então decidi escrever mais um pouquinho para matar a saudade. Vou tentar escrever a história de todo o jogo em sí, mas duvido que consiga..muuita coisa!

Escrever essa parte da história me deixa um pouco triste,[SPOILER DANGER DANGER DANGER] pois no jogo o Andrew morreu...e vocês neeem imaginam como! [/SPOILER]

Enfim..muito obrigada por ter lido. Talvez eu esteja escrevendo isso ao vento mas tudo bem XD



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vicky. às Vezes, Vachel." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.