Dont Stop Believin escrita por Nizz e Cherry


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

EU DEMOREI DEMAIS, I know it.
Já expliquei tudo o que rolou nas respostas das reviews e peço desculpas mais uma vez. O capítulo está grande, espero que compense D;
Realmente agradeço por todas as pessoas que comentaram *-*
Xoxo.
Nizz :P



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/103206/chapter/17

Capítulo 16

A escuridão...

 

— Ágatha, por favor, abra a porta... – a voz dele demonstrava a mais pura preocupação. Os soluços que vinham de dentro do quarto não cessavam desde o crepúsculo e agora o sol estava prestes a despontar no horizonte. Ele estava com a testa apoiada na porta, a mão na maçaneta, esperando. Ela tinha pedido para ficar sozinha, mas já fazia tempo demais.

Tudo tinha sido tão abrupto. O choque ficara evidente nos rostos de todos quando a notícia foi dada, quando Lupin deixou o jornal cair entre seus dedos e tentou alcançar a filha. A loira leu a notícia e seu rosto entrou num torpor de desespero. E agora lá estava ele, parado em frente à porta de seu quarto, de pé há tantas horas que já perdera até a conta.

Esperando e esperando para que pudesse confortá-la.

— Ágatha... Por favor. – ele pediu novamente.

Os soluços cessaram por breves instantes, instantes que fizeram o coração de Fred acelerar em ansiedade, e então a porta se destrancou. Ele desencostou a testa da madeira, entreabrindo para encontrar-se num recinto totalmente às escuras; Ágatha jogou-se em seus braços assim que ele entrou, apertando seu tronco com tanta força que tirou-lhe o fôlego. Fred a abraçou de volta, suspirando de alívio por poder estar ao seu lado finalmente.

A tragédia devia está-la sufocando. Ele se lembrava perfeitamente do choque, do modo desesperado com que ela saíra correndo na chuva e aparatara no limite de segurança da Toca. Restou a ele adivinhar onde é que ela poderia ter ido parar. Que melhor lugar senão o apartamento novo, tão vazio e isolado do mundo mágico quanto ela poderia querer?

— Vai ficar tudo bem... – ele murmurou beijando-lhe o topo da cabeça logo depois. Ágatha soluçou alto, enterrando mais o rosto em seu peito. Fred sentiu o coração se comprimir ao vê-la daquela maneira.

O ruivo beijou sua testa, puxando-a para si novamente.

— Vai ficar tudo bem. – Seu sussurro foi uma promessa.

Fred continuou abraçado a ela até senti-la fraquejar, e então a guiou até a cama. Deitou-se ao seu lado ao ver que Ágatha não o soltaria. O choro havia cessado, dando lugar a um silêncio sepulcral.

— Por que justo com eles, Fred? – Ágatha murmurou contra seu peito sem erguer o rosto para encará-lo. – Isabelle... Íamos viajar para visitar a vovó e o vovô. – ela arfou.

Shh... – Fred acariciou suas costas, sem saber como responder aquilo. Por que aquela tragédia tinha acontecido? Talvez porque a guerra estivesse próxima... Porque o mal não agia piedosamente... Porque o exército de Voldemort estava cada vez maior, e eles descontavam sua ira em famílias que eram traidoras do sangue. Porque a mãe e as irmãs e os avós de Ágatha não encontraram refúgio a tempo, e por isso agora estavam mortos.

Chegou um momento em que a loira finalmente caiu no sono, mas era nítida a tensão em seu corpo durante as horas seguintes. Fred não conseguiu dormir, o tempo todo olhando para o corpo adormecido da namorada, temendo que ela acabasse caindo num horrível pesadelo ou algo do gênero.

Quando Ágatha despertou era início de tarde e Fred não estava ao seu lado. Ela procurou pelo quarto, mas também não estava ali. Pegou a varinha da cômoda e seguiu pelo corredor em busca de qualquer sinal dele, até que acabou na cozinha. Sorriu levemente ao vê-lo preparando o café, desajeitado em busca das canecas, e com um aceno da varinha fez com que voassem até suas mãos. Fred virou-se surpreso e então sorriu. Um sorriso caloroso, contrastando com o olhar preocupado:

— Boa tarde, moça.

— Obrigada, Fred. – ele arqueou as sobrancelhas. – Por ter vindo até aqui. Teria sido mais difícil sem você ontem.

Fred abraçou sua cintura, encostando o queixo em seu ombro. Ágatha retribuiu, fechando os olhos com força, tentando evitar que o choro compulsivo começasse de novo. Precisava ser forte agora. Precisava ser forte por eles. Sua família não iria querer vê-la daquela maneira.

— Eu sempre vou estar com você, gatinha. Não importam as circunstâncias. – ele murmurou contra sua pele, fazendo-a sorrir em agradecimento. – Beba esse chá, sim? Vai fazer você se sentir melhor.

xXx

— Você tem que me jurar que vai tomar o máximo de cuidado. – Ágatha puxou-o pelo colarinho, de modo que seus rostos ficaram na mesma altura. Fred sorriu pela preocupação da loira. – Jure que vai se proteger. Jure que vai ficar atento a tudo, que vai... – ele calou-a com um beijo rápido, suficiente para fazer com que ela esquecesse o que estava dizendo.

— Vai dar tudo certo, gatinha.

— Tem certeza de que vocês precisam ir? – ela desejava referir-se a todos os que viajariam para trazer Harry em segurança, mas sua pergunta foi dirigida para os gêmeos. Era arriscado, e Ágatha havia prometido ficar por ser uma curandeira. Eles precisariam do auxílio dela caso qualquer coisa desse errado.

Remus também havia aconselhado a filha a ficar por ter passado por tanta coisa nas últimas semanas. O enterro da família ocorrera quinze dias antes. Passara um tempo com o pai e Tonks, agora que eles estavam casados, por insistência dos dois. Ela não queria incomodar, por isso resolvera voltar para o apartamento. Ao saber disso, Molly havia exigido que a garota se mudasse temporariamente para a Toca.

— Sim, precisamos ir. Aliás, Olho-Tonto vai me matar se eu chegar um segundo atrasado, então é melhor parar de me estrangular agora – Fred brincou, tentando amenizar a ansiedade da namorada. Ágatha estava daquela maneira desde a morte dos familiares. Ainda tinha pesadelos à noite e passava madrugadas em claro olhando pela janela. Fred não gostava de vê-la daquele jeito, mas Ágatha não conversava sobre as preocupações.

— Está bem então – soltou-o com relutância, cruzando os braços quando se afastou. – Boa sorte.

— Eu te amo – Fred puxou-a para si e sentiu-a sorrir por entre o beijo.

— Eu também te amo.

— Pelas barbas de Merlin, ainda estão se despedindo? – George abriu a porta para exclamar aquilo. – Nós voltamos logo, Ágatha, fique sossegada. – ele foi pego de surpresa quando a loira o agarrou em um abraço apertado, retribuindo meio sem jeito. – Hã... Eu mereço todo esse amor?

— Seu tonto. Tenha cuidado lá fora. – ela retrucou com humor. – Até logo.

Depois da despedida, Ágatha desceu até a sala, onde encontrou Gina e a senhora Weasley, ambas tão aflitas quanto ela. Sentindo-se impotente por ter que ficar ali sem fazer nada por sabia Deus lá quanto tempo, Ágatha dedicou-se a examinar todas as coisas que trouxera em seu kit médico. Rezou para que ele não fosse necessário, mas tratou de arrumar todas as poções e equipamentos necessários para curativos de maneira organizada. Seu estágio no St. Mungus vinha sendo cada vez mais útil e satisfatório. O médico para o qual servia de ajudante era um velho senhor amigável que sempre a tratava pelo nome errado, mas que passava dicas brilhantes e valiosas o tempo todo.

Suspirando pesadamente, ela ergueu os olhos para o relógio e constatou que apenas cinco minutos haviam se passado. Dedicou-se a uma leitura desinteressante por quase uma hora, até se sentir cansada da atividade.

— Precisa de ajuda com a louça, Molly? – ela indagou para a senhora Weasley, que lavava a louça suja da maneira tradicional para ocupar a cabeça. A mulher sorriu para a garota e estendeu um pano seco.

— Não se preocupe, Ágatha – ela disse ao reparar no semblante da loira. – Tudo vai ficar bem. – Ágatha assentiu relutante, o coração martelando de medo. A guerra a assustava mais do que gostaria de admitir. Ela já não era a estudante de Hogwarts ansiosa para passear pelo mundo. Ela era uma mulher a quem coisas horríveis haviam acontecido. Alguém que temia o futuro que a aguardava.

Um estalo alto fez com que a garota voltasse a si repentinamente. Harry e Hagrid haviam acabado de usar sua Chave, o que indicava que algo estava errado. Outras duas Chaves já deveriam ter sido usadas e estavam largadas pela grama.

— Harry? Você é o verdadeiro Harry? O que houve? Onde estão os outros? – Molly exaltou apreensiva.

— Como assim? Ninguém mais está de volta?

A resposta foi clara pela expressão assustada no rosto da senhora Weasley. Ágatha apoiou-se no batente da porta ao constatar que Fred era um dos que já deveriam ter retornado.

— Os Comensais estavam nos esperando – Harry disse. – Nós fomos abordados logo que nos separamos. Eles sabiam que seria esta noite...

— Graças a Deus você está bem – a mulher o puxou para um forte abraço. Quando Hagrid pediu-lhe um pouco de conhaque, Molly retirou-se para dentro da casa. Gina aproveitou aquela deixa para explicar a Harry sobre aqueles que já deviam ter chegado. Ágatha reparou nos dois objetos encantados que serviam de Chave e desesperou-se um pouco mais.

— Você e Hagrid eram os terceiros e – Gina checou o relógio. – Se tiverem conseguido, George e Lupin estarão de volta em um minuto.

A uma pequena distância uma luz apareceu na escuridão e logo Remus e George apareceram. Ágatha franziu o cenho ao notar algo estranho, pois seu pai estava ajudando George a se mover. Harry correu até lá e pegou o outro braço do rapaz, auxiliando Lupin a arrastá-lo até dentro da casa.

Ágatha levou as mãos à boca quando viu todo o sangue que cobria a lateral do rosto do amigo. Colocaram ele no sofá, onde a luz da lâmpada incidiu sobre sua pele. Faltava-lhe uma orelha. O sangue banhava o lado da cabeça e também o pescoço, manchando a camiseta que usava.

A loira adiantou-se até o sofá logo que a senhora Weasley dirigiu-se para agarrar o filho. Lupin, parecendo um pouco exasperado, sem muita gentileza levou Harry de volta para a cozinha. 

— George vai ficar bem? – Molly indagou, encarando-a com nervosismo.

— Não posso restaurar a orelha de volta. Foi arrancada por magia... – ela tocou delicadamente o rosto do ruivo e virou-o com mais cuidado ainda para examinar a extensão do ferimento. Um barulho lá fora chamou a atenção dos outros presentes e Lupin adiantou-se até a porta.

Molly voltou a limpar o machucado enquanto Ágatha dirigia-se às poções que havia trazido, os dedos trêmulos ao mover os frascos. Os ensinamentos que aprendera pareceram desesperadamente inúteis naquele instante, pois curar ferimentos causados por Magia Negra nunca haviam chegado ao seu conhecimento. Tudo que podia fazer pelo amigo era diminuir sua dor.

Pegou um pano limpo e molhou em uma poção para prevenir qualquer infecção ou efeito colateral do feitiço. Enquanto adiantava-se até George, respirou fundo. Não podia pensar em Fred e no fato de ele ainda não ter chegado ou desmoronaria.

Ela se ajoelhou em frente ao sofá e tomou o pano da mão trêmula da senhora Weasley, sorrindo em apoio ao começar seu trabalho.

— Como ele está? – Harry indagou.

— Não posso fazê-la crescer – Ágatha repetiu com um que de desculpa denotado na voz. – Só posso ajudá-lo a se recuperar.

— Ele está vivo. – Molly acrescentou com um sorriso trêmulo.

— Graças a Deus – Harry assentiu.

Repentinamente, um grande crack foi ouvido na cozinha e a voz do senhor Weasley exaltou-se sonoramente em direção à sala:

— Eu provarei que sou verdadeiro, Kingsley, depois de ver meu filho, agora saia da minha frente!

Ágatha ergueu-se logo que ouviu a voz de Arthur, e alívio percorreu seu coração logo que o rosto do namorado entrou em seu campo de visão. Ele olhou para ela por alguns segundos, suficientes para que os dois ficassem mais calmos, e então encarou George.

Ela afastou-se para que Fred se ajoelhasse ao lado do irmão, e apertou a mão sobre os lábios ao notar o horror e o medo no rosto dele.

George, talvez pelo barulho com a chegada dos dois, soltou um muxoxo.

— George, querido, como se sente? – Molly indagou.

— Mouco. – ele respondeu num fio de voz.

— Como disse? – Fred pareceu ainda mais assustado.

— Mouco – George entreabriu os olhos para encarar o irmão. – Estou surdo e estou oco, Fred, entendeu? Estou mouco.

— Patético – a expressão de Fred suavizou-se o suficiente para que um sorriso surgisse. – Com tantas piadas sobre orelhas você me sai com "mouco"?

— Ainda estou mais bonito que você – George retrucou com sarcasmo, fechando os olhos novamente.

Ágatha mal notou que lágrimas haviam escorrido por seu rosto enquanto observava a cena e as limpou discretamente, ao contrário da senhora Weasley que chorava compulsivamente. Bill e Fleur passaram pela porta e o Weasley mais velho então anunciou:

— Olho-Tonto está morto – todos ficaram estáticos pela notícia, incapazes de dizer qualquer coisa. Mundungo havia desaparecido e Moody havia morrido.

Molly os dispensou para os quartos, para se lavarem e descansar. Ágatha aproveitou o menor número de presentes para ajudar George com o ferimento e obteve auxílio da senhora Weasley.

— Avise se doer, está bem? Essa poção vai ajudar a cicatrizar – Ágatha alertou-o quando aproximou a gaze do machucado. George fez uma careta, mas aguentou firmemente enquanto ela colocava sobre o ferimento. Estava imensamente feliz por vê-lo tão bem humorado, conversando animadamente com Fred enquanto ela fazia o curativo, mas ficou quieta aquele tempo todo. De uma maneira assustadora as lembranças da morte de sua família voltaram á sua mente e as tragédias daquela noite pareceram abalá-la um pouco mais. – Acho que está bom. – disse assim que terminou de cobrir o ferimento.

— Está bom? Está ótimo, garota! Você é fantástica! – George exclamou sorridente.

— Vou lhe dar uma poção para dormir, está bem? Vai ajudar com a dor.

— Por Merlin, você quer me drogar? – ele fingiu-se de assombrado, recebendo um olhar nada gentil da loira. – Brincadeira.

— Tome isso – ela lhe entregou um pequeno frasco. – O gosto é horrível – fez uma careta ao recordar-se do cheiro da poção. – Mas é milagrosa. Amanhã você vai se sentir inteiro. – piscou-lhe um olho.

— Trocadilho desnecessário, cara Ágatha – George resmungou e a fez rir suavemente.

— Para a cama agora, senhor Weasley, você precisa descansar – indicou as escadas e usou de seu olhar feroz para incentivá-lo a cumprir a ordem. George acabou concordando e tomou a poção para passar melhor à noite. Fred disse que também sentia sono e acabou subindo.

Ágatha passou a meia hora seguinte arrumando suas coisas, tratando de fazê-lo o mais vagarosamente possível. Estava cansada, mas sabia que não dormiria naquela noite. Na verdade, nem queria dormir. Os acontecimentos ainda estavam muito vivos em sua memória e ela temia ter pesadelos com eles. Quando, por fim, o senhor e a senhora Weasley retiraram-se para dormir, a garota mentiu dizendo estar esperando para preparar uma xícara de café.

Ela o fez, de fato, mas depois de colocar a bebida numa caneca retirou-se para a varanda da Toca. Ficou sentada ali por quase quinze minutos, perdida em seus próprios pensamentos, quando ouviu a porta abrindo-se. Virou o rosto para encarar Fred, que não parecia ter pegado no sono naquele meio tempo.

— Hei – ela sorriu para ele. – Sem sono?

— O George está roncando demais – o ruivo resmungou. Ágatha riu, mas sentiu a mentira no tom dele.

— Sei – lançou-lhe um olhar inquisidor. – Pode me fazer companhia então.

— Como recusar? – ele sentou-se ao seu lado e passou o braço por seus ombros, puxando Ágatha para si. A garota aconchegou-se a ele. Sua presença trazia à loira uma tranqüilidade tremenda, coisa que ela mais precisava naquelas circunstâncias.

— Tudo bem com você, Fred? – Ágatha indagou. O silêncio dele estava soando um pouco estranho.

— Só estou pensando – ele murmurou.

Ela se afastou e segurou o rosto dele com as mãos.

— Eu não tive tempo de dizer isso antes, mas estou tão feliz por você ter voltado – a voz dela saiu fraca, o coração acelerado ao pensar em qualquer coisa que pudesse ter acontecido a ele. Fred pareceu notar seu desespero e por isso a beijou. Um beijo sôfrego, de tirar o fôlego, provando o quão ansiosos os dois estavam.

— Ficou tudo bem, apesar de tudo— Fred disse.

— É – Ágatha assentiu, voltando a abraçá-lo. – Enquanto você estiver comigo vai ficar tudo bem – a loira beijou seu pescoço diversas vezes.

— Ágatha – Fred chamou-a depois de um pouco de silêncio. – Sabe que eu nunca vou te deixar de verdade, não é? Não importa o que aconteça?

— Por que está dizendo isso? – ela se afastou para encará-lo. O rosto dele apresentava o mesmo semblante de quando ele vira George ferido.

— Nada, eu só... Queria dizer – ele sorriu sem graça. – Para deixar bem claro. Para caso qualquer coisa...

— Cale a boca – ela soou um pouco grossa demais, mas combinou com a expressão feroz. Levantou-se para encará-lo de cima usando de seu olhar mais furioso. – Chega de falar nisso. Eu quero você alegre e sorridente, fazendo piadas sobre essa guerra estúpida como sempre faz. – Fred sorriu abertamente, algo digno do ruivo. Ela cruzou os braços quando ele se levantou. – Eu sou a paranóica aqui. Nada vai acontecer, porque eu não vou deixar, está bem? Se você acabar se tornando a donzela em perigo, vou ser seu príncipe. Nada vai acontecer – ela repetiu o final com convicção.

— Donzela em perigo, é? – Fred arqueou as sobrancelhas, no rosto uma expressão cômica.

— É – Ágatha não conteve a risada, apoiando as costas na parede atrás de si.

— Então a donzela em perigo vai roubar um beijo do seu príncipe – ele apoiou uma das mãos na parede e a outra deslizou pela cintura da loira, os rostos tão próximos que seus lábios se roçavam.

— Não vai não. – Ágatha sorriu, enlaçando o pescoço dele com os braços. – Eu te dou meu consentimento.

Fred riu e então a beijou. Beijou com a mesma intensidade de antes, transmitindo naquele gesto o amor que sentia por aquela garota. Ágatha esqueceu-se de tudo naquele instante, dos medos e das preocupações principalmente, e deixou-se concentrar naquele sentimento tão puro que abraçava seu coração.

 

xXx

 

— Tem certeza de que não sente nada? – Ágatha questionou George pela milésima vez. – Quero dizer... Uma agulhada, qualquer coisa? Certeza absoluta?

— Ágatha, pela septuagésima vez... Eu estou ótimo. Perfeito como sempre.

— E humilde. – Fred acrescentou brincalhão. – Abigail vai mesmo vir?

— Já devia ter chegado. O meu vestido está com ela – Ágatha comentou frustrada ao olhar para o relógio. – George...

— Pelas barbas de Merlin, mulher, eu estou ótimo! – a loira grunhiu, mas acabou assentindo. – E ficaria feliz se parasse de me perseguir.

— George! – os três voltaram-se para a entrada da casa, onde uma Abigail eufórica e com o rosto completamente vermelho exaltou-se para o namorado. – George! – ela gritou de novo, como se não acreditasse que ele estava ali.

Então, numa atitude pouco característica dela, correu até ele e jogou-se em seus braços um tanto bruscamente. George foi pego de surpresa pelo movimento e quase se chocou contra a parede, abraçando-a pela cintura logo que recobrou os sentidos. Abigail não pareceu se importar em ter como plateia a mãe do namorado, pois o beijou longamente durante o tempo em que ficou em seus braços.

Cof cof... Eu não quero sobrinhos antes da hora – Fred repetiu o discurso do irmão com um sorriso convencido, mas acabou causando certo assombro na senhora Weasley. – Foi só brincadeira, mãe. – ele sorriu.

— Eu fiquei tão preocupada com você! – Abigail exclamou ao separar-se de George. – Tentei vir para cá mais cedo, mas minha mãe não me deixava sair de casa. Eu, aliás, fugi para vir a esse casamento, o que vai me render um grande castigo no meu retorno – ela resmungou o final consigo mesma. – Oh meu Deus, eu te machuquei? – ela levou as mãos à boca ao notar o curativo sobre o ferimento dele. – Eu fui tão bruta, George, me desculpe!

— Eu estou bem – George achou graça na exaltação da namorada.

— Eu senti tanta saudade! Fiquei tão desesperada quando recebi a carta de Ágatha, por mais que ela tenha me garantido o quão bem você estava – Abigail beijou o rosto dele diversas vezes, tratando o cuidado de fazê-lo com delicadeza.

— Eu também senti sua falta, cerejinha – ele sorriu abertamente. – Hei mãe, acho que já era hora de eu te apresentar a Abigail, não é?

Abigail imediatamente corou, voltando-se para a senhora Weasley com um sorriso trêmulo. Ela parecia ter notado que havia beijado George indecentemente na frente da "sogra".

— Bem-vinda à nossa casa, querida – Molly recebeu-a num abraço caloroso, para logo depois convidá-la para um chá na cozinha. Ágatha notou o olhar completamente encantado com que George encarou a namorada antes de ela se retirar dali e não pode deixar de comentar.

— George... Você está profundamente apaixonado, não está?

— Profundamente não chega nem perto do... Hei! Ho! – ele parou de repente. – Sem comentários, Ágatha.

— Maricas – foi Fred quem replicou.

— Eu não nego que a amo – George retrucou.

— Seus olhos brilharam tanto quando estava olhando para ela, oh George, seu fofinho. – Ágatha apertou sua bochecha e depois fugiu do olhar indignado dele.

— Fofinho? A palavra 'bonitão' seria mais bem colocada para a minha pessoa.

— Convencido também – Abigail disse ao aparecer na sala, fazendo-os rir.

 

xXx

 

Ágatha enroscou-se um pouco com o salto alto, mas com a ajuda de Abigail conseguiu caminhar pela grama sem maiores danos.

A loira usava um lindo vestido tomara-que-caia em tons pastéis, cuja parte debaixo era justa e terminava na metade das coxas. Um tecido transparente todo enfeitado por flores prateadas saía da faixa enrolada logo abaixo de seu busto e cobria até seus joelhos, sendo este solto e esvoaçante. O decote era arredondado e o busto da peça enfeitado por babados delicados.

Ela havia pensado em prender as madeixas num elaborado coque, mas Fred a havia visitado mais cedo e, enquanto ela se olhava no espelho, dissera que preferia seu cabelo solto. Ágatha havia sorrido para ele e acabara optando por arrumar os cachos da maneira mais fácil. Prendeu apenas algumas mechas com uma presilha de flor dourada. Sua maquiagem era suave e além da gargantilha que sempre usava, optara por brincos largos prateados.

O vestido de Abigail também era curto, até a altura dos joelhos, mas mais solto. Com estampa florida variando em tons de bege e vermelho, a peça era tomara-que-caia e logo abaixo do busto um cinto intrincado de espirais prateados estava preso. A saia rodada enfeitava-se com diversos cortes no tecido. A maquiagem era suave e quase imperceptível, com exceção do batom vermelho, e a única jóia que usava era um colar prateado.

As duas seguiram de braços dados, mas não foram direto para seus lugares. Sabiam que Harry, Rony, Fred e George estariam lá fora de pé na grande tenda branca esperando a chegada dos convidados do casamento.

Eram três em ponto da tarde quando as duas pararam próximas deles.

— O que fazem aqui, exatamente? – George indagou com curiosidade.

— Só andando por ai – Ágatha fingiu-se de inocente.

— Ah, claro, e o fato de que as primas veelas da Fleur vão chegar a qualquer momento não incomoda nem um pouco vocês? – Fred sorriu travesso.

— Incomodada? Quem está incomodada? Eu não sou ciumenta – Ágatha virou-se para Abigail com uma expressão suave. – Vamos lá dentro procurar o Vitor Krum, sabe, eu adoraria um autógrafo dele. – ela armou um largo sorriso quando a expressão de Fred ficou carrancuda. – A decoração está linda, aliás! – desviou de assunto, apontando para a tenda atrás de si.

— Quando eu me casar – Fred puxou o colarinho da própria veste. O dia estava quente e aconselhável para vestes menos quentes como a dos rapazes. – Eu não me preocuparei com nada dessas besteiras. Vocês podem usar o que quiserem, e eu irei lançar um feitiço do corpo preso na mamãe até tudo acabar.

— Oh não seja tão dramático! – Ágatha replicou risonha.

— Ela não estava tão mal essa manhã – George disse. – Chorou um pouco por Percy não estar aqui, mas quem o quer? Nossa, preparem-se que lá vem eles. Olhem.

Um a um os convidados foram aparecendo nos limites do jardim, logo formando uma fila rumo à tenda. O burburinho de conversas animadas foi crescendo conforme a multidão se aproximava do local.

— Excelente, eu acho que vi algumas primas veelas – George exaltou animado. Abigail encarou-o abismada e tratou de despachar-lhe alguns tapas. – Elas precisarão de ajuda para entender os costumes ingleses! Vou procurar por elas...

— Não tão rápido – Fred marchou até as garotas e deixou para trás uma Ágatha mais que abismada. – Aqui. Permitiez moi to assiter vous.

— Desde quando ele sabe francês? – Abigail indagou curiosa.

— Eu vou deixá-lo fluente em pancadas logo que ele retornar – Ágatha exclamou ultrajada. – Ele vai perder mais do que uma orelha, eu garanto. – virou as costas e disparou para dentro da tenda, mal acreditando no que Fred havia feito.

Lá dentro Ágatha procurou por seu lugar, parando vez ou outra para cumprimentar alguns conhecidos. Qual foi sua surpresa quando, acompanhada por Karl, Alicia entrou na tenda. A garota soltou um de seus gritos histéricos e atropelou duas velhas para abraçar a amiga.

— Que saudades imensas senti de você! – a garota exclamou em plenos pulmões. – Como anda tudo? Eu soube da sua família, sinto muito querida. Mas vamos falar de coisas boas, adivinhe quem está noiva? POIS É EU ESTOU NOIVA!

— Alicia se acalme pelo amor de Deus! – Ágatha agarrou-a pelos ombros e obrigou-a a acalmar-se. Depois que a novidade foi contada decentemente, a loira deu os parabéns aos noivos. Avistou Abigail passando pela entrada e retirou-se para ir atrás da amiga. – Você soube da novidade? Alicia vai se casar. – ela não pode conter o choque na voz.

— Incrível não é? Ela nos quer como madrinhas!

— Ela me disse – Ágatha riu ainda abismada. – Uau, que novidade gigantesca.

— Meninas! – Ágatha armou a maior expressão assassina quando Fred surgiu na tenda com o gêmeo ao seu lado. – Saudades!

— Você quer morrer Weasley? – ela resmungou entre dentes.

— Não antes dos sessenta, por quê?

— Então não venha me abraçar depois de ter abraçado aquelas veelas.

— Eu só estava acompanhando elas até seus lugares...

— Vou te acompanhar até a cova se não calar a boca! – Ágatha replicou furiosa.

— Saia da frente, moleque de orelhas torcidas, eu preciso chegar ao meu lugar! – George virou-se surpreso para a velha mulher que exclamara aquilo, encarando-a surpreso ao reconhecer a tia. – Além de faltar-lhe a orelha ainda é surdo? Dê passagem, Fred!

— Sou o George.

— Tanto faz – a velha resmungou, batendo com a sua bengala no quadril dele ao passar. – Os jovens de hoje em dia não são mais os mesmos. E nem as garotas. Olhe só, tornozelos finos demais – encarou Ágatha com repreensão, recebendo um olhar nada gentil de volta.

— Morcega velha – George disse logo que ela se afastou.

— Sinto falta do tio Bilius – Fred comentou pensativo. – Ele sim era a alma dos casamentos. Costumava secar uma garrafa de uísque de fogo, corria para a pista de dança, levantava a roupa e começava a tirar flores de lá...

— Absolutamente hilário! – Abigail interrompeu-o antes que finalizasse a frase.

— Eu adoraria me sentar agora – Ágatha puxou Abigail pelo braço e dirigiu-se aos seus assentos, não antes de lançar a Fred um outro olhar assassino.

— Lino! – Ágatha exclamou repentinamente ao avistar o amigo. – Pelas barbas de Merlin, que saudades! – ela abraçou-o com força.

— Não respiro – ele gemeu. – Por que, exatamente, você está num canto da festa e Fred em outro? Perdi alguma coisa?

— Ele está provocando ela – Abigail disse assim que se sentaram.

— Ele que provoque a bruxa da sua tia-avó! – Ágatha retrucou rudemente. – Não tenho paciência para brincadeiras daquele tipo. Se fosse o George você estaria do mesmo jeito.

— Tem razão. Vingue-se dele – a morena sorriu marotamente. – Há tantos rapazes lindos e solteiros na festa. Espere o casamento acabar e provoque o Fred.

— Abigail você era menos maldosa quando eu a conheci – Lino comentou brincalhão.

— Não estou com humor para isso – Ágatha suspirou pesadamente.

— Vocês dois adoram brigar. Um pouco de discussão nunca mata ninguém.

 

xXx

 

Ágatha estava sentada numa mesa, acompanhada por Alicia e Karl, e do outro lado da mesma estava Fred a papear com uma das primas de Fleur. Não havia nenhum flerte envolvido na conversa, mas Ágatha sentia o tom de provocação na maneira como Fred sorria. Lembrou-se de que ele adorava vê-la irritada e tratou de demonstrar o mínimo de raiva o possível.

Retirou-se da mesa em certo momento para encher seu copo com mais uísque de fogo e, por coincidência, esbarrou num rapaz surpreendentemente lindo. Ele encarou-a com um pouco de surpresa e depois tratou de desculpar-se por quase ter manchado seu vestido com a bebida; Ágatha sorriu por educação e acabou engatando a conversa que ele começou.

Ciente de que Fred os observava, ela exibiu seu sorriso mais radiante enquanto ouvia o rapaz dizer qualquer coisa engraçada. O sotaque francês era evidente, e ele em si era uma graça, mas a loira não se sentia bem papeando ali.

Por isso, alguns momentos depois, retirou-se para procurar Abigail. Apoiou-se num dos pilares dourados ao avistá-la dançando com George, e riu quando a viu abraça-lo com força demais e imediatamente pedir desculpas, imaginando ter machucado o local onde ele fora ferido.

— Quer dançar? – Fred sussurrou contra sua orelha, encostando seu corpo ao dela. Abraçou-a por trás para impedir que Ágatha se esquivasse. – Eu estava apenas comprovando uma teoria, neném.

— Ah é, e qual seria? O quão babaca você pode ser numa noite?

— Queria ver o quanto eu aguentava ficar longe de você e, acredite, foi uma tortura. Além do mais, você disse que não era ciumenta – ele riu contra sua pele, encostando a boca no ombro nu da loira. Ágatha permaneceu impassível, por mais que seus braços estivessem arrepiados.

— Saiba que eu detestei essa sua pesquisa.

— E saiba que eu nunca mais vou ficar longe de você – ele abraçou-a com mais força ao murmurar aquilo. Ágatha soltou outro suspiro e virou-se para ele com os braços cruzados. – Prometo.

— Seu idiota. Tonto. Cabeça-dura. Desprezível. Idiota. – ela recitou as ofensas enquanto tentava conter um sorriso, mas só fez com que Fred risse. – Não é para rir! Estou xingando você!

— Ok, desculpe – ele voltou a ficar sério, mas com um ligeiro sorriso despontando no rosto.

— E eu não vou dançar com você – ela jogou o cabelo para o lado e se afastou. – Vai ser um castigo. – alcançou Lino, que acabava de se separar de Gina, e puxou-o para a pista novamente.

Foi logo que a dança dos dois acabou, e que Ágatha demorava-se em gargalhadas com o amigo ao se aproximar da mesa do ponche, que uma coisa grande e prateada baixou na pista. Ela avançou até Fred ao avistá-lo do outro lado da pista, alcançando-o no momento em que o patrono abriu a boca e falou com a voz de Kingsley:

O Ministério caiu. Scrimgeour está morto. Eles estão chegando.

Repentinamente alguém gritou. Convidados desaparataram em pleno ar, pois os feitiços de proteção da Toca haviam desaparecido. Figuras encapuzadas surgiram no meio da multidão e começaram a lançar feitiços para todos os lados. Ágatha sacou sua varinha e ergueu uma proteção no mesmo momento em que uma azaração voava em sua direção.

Ela não sabia exatamente contra quem ou contra quantos estavam batalhando, mas o caos que se apossou daquela tenda foi suficiente para mostrar que havia dezenas de comensais atacando-os. Avistou quando Abigail estuporou dois deles e quase foi atingida por um feitiço e conseguiu ajudá-la a tempo. Não encontrou Fred na bagunça, mas viu Tonks e Lupin lutando contra dois comensais.

Depois do que pareceram horas, Ágatha não sabia exatamente quanto tempo se passara, os comensais começaram a recuar. Um a um, eles aparatavam depois de lançar um último feitiço de ataque e fugiam. O senhor Weasley gritou para que todos entrassem na Toca enquanto os mais velhos ficavam lá fora para lançar alguns feitiços de proteção – estava claro que o perigo ainda os rondava, mas parecia que por enquanto os comensais haviam desistido.

 

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews? *-*