Dont Stop Believin escrita por Nizz e Cherry


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

EU TO VIVA, AMÉM SENHOR!
Sim, eu sei que devo explicações, mas elas estão nos comentários finais. Sem mais delongas, aqui está o capítulo - enorme - para vocês :B



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Capítulo 15

That's what makes you beautiful...

– Eu não me atrasei! – Ágatha exclamou indignada. – Eu estava tentando arrastar aquelas malas gigantes, por Merlin, minha varinha estava guardada nelas, como eu faria magia pra ir mais rápido? – a avó estava reclamando sobre a demora da neta durante a viagem deles. Sally havia acabado de retirar a sobremesa e agora todos conversavam.

– E por que sua varinha estava na mala? – Abigail indagou entre risos.

– Porque a besta do Dave não entendeu que era pra deixar ela na mochila e não na mala. – Ágatha explicou rolando os olhos.

– Quem é Dave? – Vívian indagou curiosa. – Algum partido interessante? É italiano? Os italianos são maravilhosos, sabe, mas eu só fui conhecê-los depois de estar casada com esse inglês cabeça oca.

– Vovó! – Ágatha exclamou indignada. – Primeiro: Ele pode ser interessante, mas não é de meu interesse. Ele é sim italiano, mas e daí? Prefiro um inglês... Um em particular. – ela encarou Fred, sorrindo para ele. O ruivo sorriu de volta, apesar de ter ficado meio tenso com o assunto "Dave" em pauta. Depois do momento rápido da troca de olhares, a loira voltou a si, pigarreando levemente constrangida. – E o vovô não é cabeça oca.

– É porque você não convive com ele dia após dia desde seus vinte anos. – Vívian replicou irritada.

– Eu convivo muito bem contigo, Vivi, apesar de tudo. – Charles sorriu encantadoramente para a mulher, mas ela apenas rolou os olhos. Ele deu de ombros, rindo sem se importar com a frieza da esposa.

– Ah, Ágatha, você viu o presente que trouxeram pra você? – Isabelle comentou distraidamente, abrindo a porta do corredor para a sala. O filhote de cachorro entrou saltitante pela porta e Ágatha imediatamente soltou um grito de alegria.

– UM CACHORRO!

– Não, um Unicórnio. – George brincou, recebendo um olhar nada gentil da amiga. Ele apenas riu e deu de ombros.

– Oh, ele é tão meigo! E fofo! E dócil! E felpudo! – ela começou a elogiar a criatura assim que a pegou no colo, recebendo várias lambidas no rosto. – Vocês compraram pra mim? – ela indagou, os olhos verdes brilhando de felicidade. Abigail apontou discretamente para Fred, fingindo não estar envolvida na história.

– Sabe Ágatha... Eu acho que você deveria chamar o cachorro de Fred. – George comentou casualmente, rindo da cara do irmão.

– Não, chame de George. É um nome mais elegante e combina com o bichinho. – Fred replicou, rindo junto com o irmão.

– Eu acho digno ele se chamar Mr. Bubbles. – Isabelle exclamou. Ágatha encarou-a pensativa, ponderando enquanto divagava sobre a ideia.

– É um bom nome. – Sally disse. – Só espero que o Mr. Bubbles fique bem longe do meu tapete. – ela encarou a filha severamente, mas a loira apenas riu.

– Sabe, eu gostei da sua ideia, pirralha. – Ágatha sorriu para a irmã e a caçula retribuiu mostrando-lhe a língua. – Mr. Bubbles é um bom nome para ele.

– Claro que é um bom nome, eu que inventei! – Isabelle exclamou indignada.

xXx

– Esse vestido está mesmo bom? – Abigail indagou distraída enquanto rodopiava para avaliar sua vestimenta. A saia do vestido ergueu-se consideravelmente, mas não de modo exagerado.

O vestido terminava um pouco abaixo de seus joelhos. O tecido era branco com estampa de bolinhas pretas. Uma faixa branca estava amarrada um pouco acima da cintura, marcando sua silhueta, já que para cima dali ele ficava justo. Era de um ombro só e sem manga. No geral era simples, mas por se tratar de Abigail, deixava-a com aquele ar estiloso de bonequinha de porcelana.

Os sapatos pretos de camurça, de bico arredondado, tinham um salto consideravelmente alto. O sobretudo que usava por cima, por estarem numa época fria, era de veludo preto, com uma fivela dourada amarrando a cinta na cintura. Usava uma tiara branca com laçinho azul na cabeça, e o cabelo – geralmente ondulado – estava cheio de cachos nas pontas. A maquiagem era leve e quase não aparecia, com exceção do batom vermelho claro e do blush rosa.

– Apesar de achar que é toda uma produção absurdamente perfeita para um jantar... Você está linda. – Ágatha disse sinceramente.

– Obrigada. – Abigail disse com um sorriso.

– Vem cá... Onde você passou à tarde hoje? – Ágatha indagou curiosa. – Depois do almoço... Fred e George foram pra a loja, mas você não avisou para onde ia. Algum compromisso do curso?

– Ah, não... Só fui ajudar um amigo. – ela deu de ombros, fazendo Ágatha semi-cerrar os olhos.

– Amigo?

– Nada demais. – Abigail encerrou o assunto com um sorriso misterioso, mas Ágatha não insistiu.

– Prontinho. – a loira ergueu-se num salto, olhando para si mesma para conferir o visual. – Só espero não tropeçar com esse salto, Merlin me ajude.

– O Fred vai te segurar se você cair. – Abigail brincou, sorrindo marotamente. Ágatha riu.

A loira usava um vestido que caia perfeitamente bem em seu corpo – acabava na altura dos joelhos. Era feito de um tecido leve e esvoaçante, de cor rosa clara, com poucas flores mais escuras estampadas pelo vestido.

Tinha mangas curtas soltas, um decote arredondado no busto e um outro atrás, em formato de U, deixando as costas parcialmente expostas. Uma faixa circundava sua cintura, com um laço amarrado do lado de trás. O vestido era fechado por botões na parte da frente, estes que vinham discretamente desde a área da cintura até o meio do decote.

Os sapatos que usava, cor de pêssego, tinham salto mediano. O casaco que escolhera para usar por cima era bege, quase tão grande quanto o sobretudo de Abigail. Seu cabelo estava sem nenhum apetrecho, apenas fora escovado e encontrava-se sem o ondulado natural que tinha. A maquiagem contava apenas com brilho labial na boca, nada mais.

– Foi sorte conseguirmos chamar Alicia e Lino, aposto que nos matariam se não tivéssemos convidado. – Abigail comentou casualmente, rindo junto de Ágatha.

– É, com certeza nos matariam. – a loira assentiu risonha. – Vai ser meio que um reencontro, tipo daqueles formandos trouxas que se reúnem em um bar para falar sobre a vida emancipada da escola? – ela indagou curiosa.

– Meio que vai ser isso. – Abigail ponderou. – Mas é um jantar, não uma troca de bebidas. Até porque eu não bebo...

– E eu bebo? Você sabe muito bem que se eu ingerisse álcool, o fim do mundo chegaria mais cedo. – Ágatha exclamou entre risos, fazendo a morena acompanhá-la. – Ah, então amanhã de manhã está tudo certo, não é? Você vai poder ir comigo encontrar meus amigos.

– É, vou sim. E Alicia disse que pode também. – Abigail sorriu ao ver a animação da amiga.

– Ah, você vai adorar eles, sério. Principalmente o Dave. Ele é perfeito! Um doce de pessoa e... – ela parou de falar assim que chegaram ao fim das escadas da casa de Ágatha (antiga casa, já que agora ela tinha um apartamento.). A loira sorriu sem graça ao ver o olhar nada gentil de Fred sobre si, mas tentou não ligar. – Olá meninos.

– Boa noite. – George cumprimentou-as, abraçando Abigail assim que ela parou ao seu lado. – Vamos? Estou morto de fome.

– Pelo amor de Deus, George. – Ágatha resmungou, rolando os olhos para ele. – Tenha classe.

– Eu tenho classe, só não tenho paciência para momentos em que a fome fala mais alto. – ele retrucou.

– É a mais pura verdade. – Fred concordou. – E a gente ainda tem que ficar aqui, plantado, esperando as damas que demoram eternos anos para se aprontar.

– Mentira. – Abigail e Ágatha exclamaram juntas. – Estávamos prontas há muito tempo, só que a Ágatha não achava o sapato. – Abigail explicou pacientemente e a loira virou-se indignada para ela.

– Eu? E você que não ia sair do quarto sem o arquinho? – ela afinou a voz, fazendo-a um tom parecido com o natural de Abigail. A morena lançou um olhar mortal à Ágatha, mas ela não se intimidou.

– Ok, garotas...

–... Não queríamos causar uma terceira guerra mundial, vamos com calma.

– Não estamos guerreando...

–... Estamos discutindo civilizadamente. – Ágatha completou a frase da amiga, e as duas entreolharam-se sorrindo ao fim. – Aha, estou começando a pegar o jeito.

– Jeito em que? – Fred indagou curioso.

– Jeito de comunicação geminiana. – ela disse com um tom pomposo. – Sabe... Depois de sete anos ouvindo vocês completando a frase do outro, eu meio que começo a pegar a manha do negócio. – Fred e George entreolharam-se, rindo logo depois. – O que? É uma coisa divertida de se fazer!

– Ai, Ágatha...

–... Só você.

xXx

– Por que nós não aparatamos com eles mesmo? – Ágatha indagou curiosamente. – E, de novo, por que a Abigail se despediu como se não fossemos nos ver de novo essa noite?

– Ágatha, você faz perguntas demais. – Fred resmungou tediosamente.

– Eu estou tentando descobrir porque estou sendo seqüestrada. E porque estou sendo obrigada a passar fome enquanto estamos na loja sem um motivo concreto. Ela não parece ter sido saqueada nem nada do tipo, então, podemos simplesmente dar meia volta e seguir nosso caminho até aquele restaurante recheado de comida?

– Ágatha. – Fred virou-se para ela. A loira arqueou uma das sobrancelhas, armando sua expressão de desconfiança. – Pode confiar que não é um seqüestro, nem nada que coloque sua segurança ou sua alimentação em risco, está bem?

– Ok. – ela assentiu, mas permaneceu desconfiada. – Então por que estamos aqui?

– Por Merlin, mulher! – Fred exclamou indignado.

– Já calei, já calei! – ela exclamou de volta, bufando para ele. – Mas ainda quero saber o motivo. – murmurou, olhando para as paredes.

– Ok, agora feche os olhos.

– Como é? – a voz da loira desceu uma oitava em razão a surpresa. – Por que eu devo fechar meus olhos?

– Quer mesmo que eu estrague a surpresa e conte tudo para a senhorita-não-consigo-esperar? – ele retrucou.

– Vou ser seqüestrada? – ela entreabriu um dos olhos, encarando uma expressão nada gentil no rosto do ruivo. – Já calei, já calei.

– Não abra os olhos. – ele pediu. Ágatha resmungou alguma coisa em um tom inaudível, mas assentiu. Fred segurou sua mão e abraçou-a pela cintura, já que se tratando de Ágatha – e ainda mais ela estando de olhos fechados – não era muito seguro guiá-la sem um apoio.

– Ouviu meu estômago roncar? – ela indagou rindo. – Pois eu ouvi. E, meu amado Fred, eu fico meio selvagem quando estou com fome, é algo primitivo. Então, se não quiser me ver subir pelas paredes, acho melhor parar com o suspense e me levar logo para aquele... – Ágatha parou de falar quando seus pés vacilaram numa depressão à sua frente, e ela quase abriu os olhos.

– Desculpe, esqueci de avisar do degrau. – ele segurou o riso. Recebeu um beliscão forte no braço, mas isso só fez com que ele risse. – E tem mais uma série de degraus daqui pra frente.

– Ah, claro, e agora é o fim de Ágatha Lupin então? – a loira replicou indignada.

– Quanto exagero. – o ruivo rolou os olhos. Num movimento rápido, passou o braço por baixo dos joelhos dela, erguendo-a com facilidade. Ágatha soltou um gritinho pela surpresa. – Sua expectativa de vida voltou ao normal agora, oh princesa?

– Não me chame de princesa, isso é deveras piegas. – ela resmungou risonha. – Prefiro algo mais ameaçador.

– Ah, claro, felina. – Fred brincou, fazendo-a gargalhar.

– Não exagere. Acho que eu estou mais para um elefante montando uma bicicleta no meio de um campo minado. Isso é bem ameaçador. – concluiu pensativa, fazendo-o rir.

– Tem razão.

– E eu achando que você ia dizer: Oh, não, Ágatha meu amor, você é tão feminina e incrível, não se parece em nada com um elefante. – ela engrossou a voz. – É bom saber que meu namorado me vê como um elefante numa bicicletinha, é realmente magnífico. – Fred riu ainda mais da indignação dela.

– Já disse que eu adoro o seu jeito de desastrada, Ágatha. – ele replicou.

– Podia ter me classificado com algo mais apropriado do que eu mesma fiz. Acho que eu estou mais para girafa, já que sou alta. É o que a Isabelle diz de mim, pelo menos. Hei, por que paramos de andar?

– Porque a gente chegou. – ele colocou-a no chão, fazendo-a perder levemente o equilíbrio. – Pode abrir os olhos agora.

Ágatha abriu parcialmente uma das pálpebras, para depois arregalar seus olhos. Aquele cômodo era se não lhe falhava a memória, o mesmo porão debaixo da loja de logros que, antes de sua viagem para a Itália, estava abarrotado de caixas e poeira. Mas não estava como antigamente. Era o mesmo lugar, completamente mudado.

Não tinha mais poeira ou bagunça, as caixas tinham sido removidas dos cantos, um lustre tinha sido instalado no teto e alguns porta-retratos estavam pendurados nas paredes. O chão estava limpo, encerado e, numa área ao fundo da sala, estava montado um jantar em forma de piquenique. Um tapete muito felpudo e macio estava estendido no chão, e várias almofadas de diferentes tamanhos estavam jogadas sobre ele. Numa mesinha atrás daquele espaço estavam colocados petiscos, doces e bebidas. Apesar do lustre no teto, era um "jantar" a luz de velas.

– Ah... Meu... Deus! – Ágatha exclamou exaltada. – Fred, que lugar mais perfeito! Esse espaço sofreu uma mutação incrível, sério. Foi você quem fez isso?

– Digamos que eu vinha planejando há certo tempo e tive ajuda de certa amiga na arrumação...

– Foi aqui que a Abigail passou à tarde? – ela indagou curiosa, sorrindo enquanto examinava o cômodo.

– Foi.

– E a ideia foi sua, desde o início? – ela virou-se para o ruivo com os olhos brilhando. Ele assentiu. – Ah, que coisa mais linda! – exclamou, abraçando-o pelos ombros. Fred enlaçou sua cintura com rapidez, aproximando seus corpos perigosamente. Ágatha sorriu, acabando logo com aquela demora em selar o beijo.

– Senti muito sua falta. – ela murmurou quando eles se separaram, seus lábios tão próximos que suas respirações se misturavam facilmente.

– Eu também. – ele confessou, sorrindo para ela. – Mas agora, que tal jantarmos? Eu estou ouvindo seu estômago e aposto que alguém do outro lado do mundo também. – Ágatha lançou-lhe um olhar furioso, tratando de lhe dar uns belos tapas. Fred riu, desviando-se dela com facilidade.

– E como anda... Tudo? – Ágatha indagou curiosa, sentando-se no amontoado de almofadas sobre o tapete. Fred sentou-se de frente a ela, uma expressão pensativa dominando seu rosto. Por fim, ele deu de ombros.

– O de sempre. Suspeitas sobre Você-Sabe-Quem, todo mundo morrendo de medo... Os alunos de Hogwarts nas férias de Natal prontos para gastar seu precioso dinheiro com a loja. – ele sorriu ao fim, fazendo-a rir.

– Então acho que está tudo bem, num apanhado do que andou acontecendo na minha ausência. – Fred assentiu.

– Agora... Conte-me sobre a Itália. Tenho certeza de que você está desesperada pra contar tudo de lá. – o ruivo arqueou uma sobrancelha para Ágatha, que sorriu timidamente, mas não parou de falar sobre cada detalhe de sua estadia na Itália. Contou sobre os alunos, os cursos, demorou-se em xingamentos à Giulia (apesar de agradecer por ela tê-la passado para o estágio) e então tocou num assunto que, se tivesse se lembrado, irritava profundamente Fred. Ágatha começou a falar sobre Dave.

– E ele é muito divertido, você nem faz ideia! Uma vez, porque a classe toda não tinha estudado pra um teste, ele conseguiu transfigurar uma taça num sapo enorme e colocou-o na cadeira da professora. Ela odiava sapos, então imagine a confusão que foi! Sem falar que ele sempre foi muito atencioso. Ajudava em tudo que podia, porque eu era um desastre e... – ela parou de falar de repente, encarando o ruivo desconfiadamente. – O que foi Fred?

– Nada. – ele mentiu.

– Nada. – Ágatha resmungou, aproximando seu rosto do dele. – Você está com ciúmes?

– E se eu estiver? – ele retrucou impassível, desviando o olhar do da namorada. Na verdade, da maneira mais inexpressiva possível, Fred deitou-se sobre as almofadas, parecendo mais interessado no teto do que em olhar para Ágatha.

– Vai mesmo virar o rosto pra mim, Fred Weasley? – Ágatha exclamou indignada, ajoelhando-se ao lado dele. – Saiba que pode ser a última coisa que você vai fazer.

– Peça para o seu amigo Dave ficar olhando nos seus olhos. Vocês são tão íntimos. – ele replicou. Ágatha riu secamente, indignada com a atitude do ruivo. A loira bufou, erguendo-se o suficiente para que seu rosto ficasse sobre o dele. Fred arqueou uma sobrancelha para ela, ainda impassível.

– Isso é atitude de um bebê, Fred. – ela resmungou. – Deixa de ser criança. Ele é meu amigo!

– Em cinco meses vocês ficaram tão íntimos desse jeito? – Fred retrucou. – É meio suspeito.

– Não acredito que você está suspeitando de mim! – ela exclamou raivosa. – Fred, eu já não deixei mais do que claro o quanto eu amo você? Será que minha palavra não é suficiente?

– Não é em você que eu não confio. É nele!

– Não tem porque desconfiar dele, Fred!

– Ah é, e por quê? Eu nem o conheço para saber se ele não está louco por você. – Fred ergueu-se subitamente, quase dando uma cabeçada em Ágatha. A loira afastou-se o suficiente para lançar a ele um olhar furioso, mas o ruivo não foi afetado.

– Ele não está louco por mim.

– Você afirma isso, mas eu duvido que seja verdade. É impossível não ficar louco por você, Ágatha. – ele resmungou, sua expressão era de puro desgosto. – E ele teve esse tempo todo com você... Enquanto eu só me comunicava de vez em quando.

– Fred. – ela rolou os olhos para ele, engatinhando até onde ele estava. – Deixa de ser idiota! – gritou com raiva, surpreendendo o ruivo. – Ele é meu amigo, seu ruivo pateta, nada mais. E não tem a mínima possibilidade dele gostar de mim, sabe por quê?

– Porque ele é idiota?

– Porque é ele gay, Fred. – Ágatha apertou os lábios ao ver a expressão de surpresa de Fred, e quase riu por isso. – Entendeu seu idiota? Eu e ele somos amigos. AMIGOS. Amigos. – ela disse repetidas vezes a palavra amigos, fazendo o ruivo ficar sem graça. Rindo, Ágatha surpreendeu-o ao se jogar em seus ombros, colando seus lábios sem deixá-lo dizer nada.

Pelo súbito pulo de Ágatha, Fred desequilibrou-se e caiu sobre as almofadas, levando a loira consigo. Os dois começaram a rir assim que se separaram; a tensão da briga já tinha sido apartada. Quando pararam de rir, Ágatha encarou-o severamente, mas com um sorriso no rosto.

– Desculpe. – ele pediu.

– Tudo bem. – ela deu de ombros. – Do mesmo jeito que eu sou um desastre, você é puro ciúmes.

– Nem tanto assim...

– Ah, lógico que não. – ela rolou os olhos, rindo dele. – Vamos esquecer isso, está bem?

– É, acho uma boa. – ele sorriu maliciosamente, aproveitando o momento para roubar outro beijo dela. Ágatha foi tão levada por aquele beijo que, quando deu por si, estava deitada nas almofadas, com Fred sobre si. Os dois trocaram um olhar intenso quando separaram seus lábios, as mesmas coisas passando por suas cabeças. A loira sorriu, abraçando-o pelo pescoço para trazer seu rosto perto de novo.

– Hei... – ele murmurou quando suas bocas quase se tocaram. Ágatha voltou a si, abrindo os olhos. Encontrou um olhar curioso e levemente confuso no rosto dele. – Você... Ahm... Tem certeza disso? Quero dizer... Sem forçar nada, não precisa se sentir pressionada nem...

– Fred. – ele parou de falar quando ela o chamou. Ágatha riu. – Cala a boca.

Ele assentiu levemente risonho. O beijo seguinte foi mais apaixonado e intenso do que o anterior, toda a demonstração dos sentimentos que tinham um pelo outro estava no modo como suas bocas se tocavam. Incerteza se mostrava conforme as mãos de Ágatha desciam pelo pescoço do ruivo, contornando seus ombros e acabando no peito – estava prestes a abrir o primeiro botão da camisa dele.

O toque das mãos dele contra a pele da perna da loira surpreendeu-a; Fred parou o beijo para encará-la, sentindo que a namorada estava confusa. Um sorriso iluminou o rosto dela quando viu a preocupação no olhar dele, puxando-o de volta para outro beijo – dessa vez mais intenso, porque conforme se beijavam, dessa vez Ágatha não hesitou em desabotoar a camisa do ruivo. Ele, por sua vez, desabotoou o vestido de Ágatha lentamente, enquanto distribuía beijos pelos ombros nus da loira. Da sua loira.

Ágatha não estava mais incerta sobre o que queria naquele momento – queria ele e somente ele. Deixar a relação mais íntima só aumentaria o amor que tinha por Fred, se é que isso fosse possível. Seu coração estava tão acelerado naquele momento, a sensação de felicidade excedia as expectativas da loira. Ela sorriu quando ele distribuiu beijos por seu queixo e bochechas, seguindo o caminho pelo pescoço e ombro. O vestido que usava estava praticamente aberto, mas ela não sentia vergonha... Estar com ele, não importava do modo que fosse, só lhe trazia alegria.

Fred atrapalhou-se para tirar o vestido da namorada, fazendo Ágatha gargalhar. Ele riu junto, enquanto ela erguia-se um pouco para puxar a peça pelas pernas, jogando-a longe. O olhar do ruivo sobre seu corpo foi intenso, fazendo-a corar um pouco.

– Você é tão linda. – ele murmurou, seus lábios roçando nos dela.

– Eu quase joguei o vestido numa das velas. – Ágatha comentou inocentemente, fazendo Fred rir novamente. Ele balançou a cabeça para ela, fazendo-a sorrir.

Ágatha nada disse, apenas puxou-o para outro beijo, novamente intenso. Logo não restavam mais roupas para atrapalhá-los, mas o ruivo esperou um aceno da loira para continuar – jamais a forçaria a alguma coisa, apesar de saber o quanto ela desejava aquele momento. Estar unido a ela daquela maneira trouxe-lhe uma sensação de felicidade sem tamanho, ainda mais quando ouvia seu nome sendo sussurrado por ela, conforme a cena de amor ficava mais intensa; cada vez mais ele confirmava que o amor que sentia por aquela garota era maior do que qualquer outra coisa que já sentira na vida.

A loira ofegou e logo depois soltou um longo suspiro quando chegaram ao clímax. Abraçou-se ao ruivo, sentindo um sorriso bobo estampar seu rosto como nunca antes acontecera. Eles nada disseram um ao outro, apenas trocaram um olhar cúmplice e amoroso, para adormecerem abraçados.

xXx

– Abi... Acho que poderíamos ir dar mais umas voltas. Tenho medo de chegar à loja e ouvir sons traumatizantes, sabe? – George comentou brincalhão, enquanto caminhava pela rua trouxa abraçado à namorada. Abigail deu risada, balançando a cabeça para ele.

– Pare de ser bobo. Já está bem tarde, faz quase cinco horas que deixamos aqueles dois sozinhos.

– Vai saber a energia que eles têm. – George deu de ombros, recebendo um soco de volta. – Brincadeira!

– Nada de brincadeiras psicologicamente traumatizantes perto de mim, Weasley. – ela retrucou, cruzando os braços.

– Brincadeira, minha cerejinha com chantili. – George abraçou-a pela cintura, fazendo a morena rir.

– Cerejinha com chantili? Eu tenho cara de doce agora, é?

– Você é o doce mais gostoso que eu já encontrei na vida, se considerar um elogio. – George brincou, fazendo-a corar rapidamente.

– Elogios menos constrangedores, George. – ela pediu, completamente envergonhada.

– Oh, menina, assim você restringe minha lista de piadas e elogios. Fica difícil trabalhar com você! – o ruivo retrucou, fingindo-se de indignado.

– Sabe que eu fiquei com uma vontade tremenda de chantili agora? – ela comentou divertidamente. – Tem uma sorveteria trouxa aqui por perto, e ai você poderia me pagar um sorvete.

– Eu poderia te pagar? Já te paguei um jantar digno de uma família inteira! – George exclamou indignado, fazendo-a arregalar os olhos numa expressão raivosa. – Brincadeira, chuchu!

– ESTÁ ME CHAMANDO DE GORDA?

– Tecnicamente eu não disse isso. E NÃO, você não é gorda! – completou rapidamente, temendo um ataque. – Só digo que você tem um ótimo apetite, ora essa.

– Não precisa me pagar o sorvete, ok? Eu tenho dinheiro e dignidade suficiente para comprar sozinha. – ela marchou para longe dele, mas foi detida com um simples puxão. Estacou contra George, que tinha uma expressão divertida no rosto.

– Era brincadeira, Abi. Você sabe que eu te compraria até a lua se pudesse. – a morena riu.

– Que coisa mais clichê, George!

– MEU DEUS, MULHER! Eu tento te agradar de todos os jeitos, sendo romântico, engraçado, brincalhão, O QUE VOCÊ QUER DE MIM, Ó SER CRUEL?

– Só quero você. – ela respondeu simplesmente, ainda rindo pelo ataque dele. Abraçou-o pelos ombros e ficou na ponta dos pés, sendo recebida com um beijo completamente apaixonado.

xXx

– Bela Adormecida... – Ágatha resmungou algo inaudível, frustrando a quarta tentativa de Fred em acordá-la. A loira tinha o sono mais pesado que o de um defunto. – Ágatha, você tem um compromisso hoje, não tem?

– COMPROMISSO? – ela pulou, indignando o ruivo.

– Você estava com um sono do capeta, não estava? – ele indagou, mas só recebeu um sorriso brincalhão dela.

– Ah... Eu tenho que aproveitar para dormir até tarde antes que volte ao curso. – contrapôs, mas não convenceu Fred.

– Pois bem, estou lhe acordando porque fiquei sabendo que você tem que encontrar seus amigos, algo do gênero. Abigail passou aqui mais cedo e...

– ELA PASSOU AQUI E VOCÊ SIMPLESMENTE A DEIXOU ENTRAR?

– Calma, mulher! Eu acordei faz umas três horas e já estava cuidando das coisas da loja, quando a sua querida amiga compareceu ao meu encontro e pediu para lhe avisar que deve encontrá-la na sorveteria trouxa próxima a entrada do Beco Diagonal. – ele disse tudo calmamente, já que a mente sonolenta da loira demoraria a assimilar tudo.

– Ok... E eu estou atrasada? – ela indagou.

– Não porque você tem um namorado lindo que lembrou de te acordar quinze minutos antes.

– QUINZE MINUTOS ANTES? – ela exclamou, assustando Fred. – SÓ ISSO, HOMEM?

– Mas que diabos de ingratidão é essa? – ela ergueu-se apressadamente, enrolando o lençol que a cobria em volta do corpo. – Ah... Ágatha, meu amor, não tem nada ai... – ele apontou para ela toda. – Que eu não tenha visto noite passada. – apesar da aparente vergonha, ela virou-se irritada para ele.

– Não me importa que tenha visto tudo presente no meu ser físico, eu tenho direitos de ficar vestida quando desejo. – retrucou impaciente, enquanto recolhia suas roupas para vesti-las. Quando começou a colocá-las, notou que Fred a encarava. – Ah... Com licença?

– Mas o que tem de errado com você? Não estava com vergonha ontem.

– Ontem foi uma situação completamente diferente. – replicou, suspirando. – Por favor? Só vire-se!

– Mulheres... – ele resmungou. – Sabe Ágatha, tem uma coisa legal nessa sala que, creio eu, você ainda não reparou. – Fred comentou casualmente, e ela resmungou perguntando o que era. – Ah, esses espelhos aqui na parede, eles refletem perfeitamente e...

– FRED WEASLEY! – ela voou contra ele, jogando-se em suas costas. Já estava com o vestido, mas faltava abotoá-lo, porém pouco se importava. Só queria matar o ruivo, apesar de ele estar rindo descontroladamente.

– É brincadeira, sua boba. – ele exclamou meio sufocado, tentando livrar seu pescoço dos braços de Ágatha. A loira soltou-o, armando um bico de raiva. Fred abraçou-a mesmo assim, ouvindo-a bufar sem a menor intenção de retribuir o gesto. – Nos vemos mais tarde, que tal? Um jantar romântico? – ele indagou num sussurro, arrepiando-a.

– Não posso. – Ágatha resmungou, parecendo decepcionada. – Mamãe vai armar um jantar daqueles lá em casa e eu sou obrigada a comparecer.

– Não há escapatória? – ele indagou, dramatizando a situação.

– Não. – a loira riu da expressão de desespero dele. – Vamos nos ver amanhã, Fred.

– É muito tempo para me manter separado da senhorita. – o ruivo retrucou.

– Posso tentar vir visitá-lo um pouco antes do jantar, quem sabe? – ela sorriu maliciosamente.

– Sabe que o Natal está chegando, não sabe? Vai passar lá em casa, e isso não é um convite. – Fred disse calmamente, fazendo-a sorrir.

– Eu iria adorar passar o Natal com os meus futuros sogros. – ela brincou, abraçando-o pelos ombros.

– Futuros? Por que não agora, baby? Hoje em dia nem se precisa de matrimônio para casar.

– Ah claro! Então agora somos marido e mulher? – ela gargalhou, fazendo-o rir também.

– É, talvez eu tenha ido um pouco longe.

– Um pouco?

– Só me prometa uma coisa: quando casarmos, não deixe a mamãe organizar nossa festa. – Ágatha riu ao ouvir o pedido de Fred, balançando a cabeça para ele.

– Agora eu preciso mesmo ir. – avisou, afastando-se dele. Indignado, Fred puxou-a pelo braço, beijando-a intensamente antes de um protesto.

– Achou mesmo que ia embora sem um beijo de despedida? – ele retrucou quando se separou dela, fazendo-a sorrir.

xXx

– É bom tê-la conosco novamente, querida. – a senhora Weasley abraçou com força Ágatha, fazendo-a perder a respiração momentaneamente. A loira iria ficar hospedada na Toca, apesar de ter insistido em não atrapalhar – pelo que ouvira muita gente iria passar o Natal ali e ela não queria ocupar espaço. A senhora Weasley protestou tanto que Ágatha acabou cedendo, dividindo o quarto com Gina.

Seguiu sozinha para a cozinha, enquanto Molly terminava de colher uns legumes para Harry e Rony limparem – ela os fazia trabalhar sem magia, pobrezinhos. Ao chegar lá, encontrou-os conversando, no mesmo momento em que Fred e George chegavam ao recinto.

– É, bem, deixando de lado a nádega esquerda do Fred...

– Perdão? – Fred exclamou. Ágatha conteve o riso. – Ah, George, olha só isso. Eles estão usando facas e tudo. Deus os abençoe. – disse sarcasticamente, fazendo Rony ficar mais mal-humorado do que já estava.

– Vou fazer dezessete anos dentro de dois meses e uns dias, então vou poder usar magia para fazer isto. – retrucou Rony.

– Mas, nesse meio-tempo... – George sentou-se á mesa da cozinha, colocando os pés em cima do móvel como se estivesse no próprio quarto. – Podemos apreciar sua demonstração de uso correto de uma... EPA!

– A culpa foi sua! – Rony exclamou zangado, chupando o corte no dedo. – Espere até eu fazer dezessete anos...

– Tenho certeza de que vai nos deixar deslumbrados com suas insuspeitadas habilidades em magia. – Fred comentou em meio a um bocejo. Ágatha reprovou-o com um olhar zangado, sem deixar de sorrir pela graça da situação.

– E, por falar em insuspeitadas habilidades em magia, Ronald... – George começou a falar, pensativo. – Que história é essa, que estamos sabendo pela Gina, entre você e uma jovem chamada... A não ser que a informação esteja errada... Lilá Brown? – Rony corou, voltando sua atenção às couves.

– Cuide de sua vida. – replicou.

– Que resposta malcriada. – Fred repreendeu-o. – Não sei aonde vai buscá-las. Não, o que eu queria saber era... Como foi que isso aconteceu?

– Que é que você quer dizer com isso?

– Ela teve um acidente ou coisa parecida?

– Quê?

– Bem, como foi que ela sofreu um dano cerebral tão extenso? Cuidado com isso! – Fred exclamou indignado. Transformou a faca arremessada por Rony em um aviãozinho de papel bem a tempo, enquanto a senhora Weasley entrava na cozinha.

– Rony! – exclamou furiosa. – Nunca mais me deixe ver você atirando facas!

– Não vou deixar. – ele replicou. – Você ver. – murmurou baixinho. Ágatha lançou a Fred um olhar irritado, repreendendo-o por zoar com o irmão mais novo. O ruivo, porém, só deu de ombros.

– Fred, George, lamento, mas Remus vai chegar hoje à noite e Bill vai ter que se apertar no quarto de vocês. – Molly explicou.

– Não esquenta. – George deu de ombros.

– E, como Charlie não vem isto deixa Harry e Rony no sótão. E se Fleur dividir o quarto com Gina e Ágatha...

– Isso é que é um Feliz Natal! – Fred exclamou.

–... E todos ficarão confortáveis. Bem, pelo menos terão uma cama. – Molly acrescentou meio cabisbaixa.

– Não se preocupe senhora Weasley. Vai ser ótimo passar o Natal aqui! – Ágatha disse para animá-la, fazendo a bruxa sorrir.

– Então Percy não vai mesmo mostrar a carranca dele por aqui? – Fred indagou. A senhora Weasley virou-se de costas para responder.

– Não, ele está ocupado, imagino, no Ministério.

– Ah, ele é o maior babaca do mundo. – Fred comentou assim que a bruxa retirou-se da cozinha. – Um dos maiores... Bem, George, Ágatha, vamos indo.

– Que é que vocês vão fazer? – Rony perguntou. – Será que não podiam ajudar a gente a limpar essas couves? É só usarem a varinha e ficaremos livres também!

– Não, acho que não podemos fazer isso. – Fred respondeu sério e virou-se para Ágatha, que cogitava a ideia. – E a senhorita das causas humanitárias também não.

– E por que não?

– É bom para a formação de caráter, aprender a limpar couves-de-bruxelas sem recorrer à magia. Faz você entender como é difícil para os trouxas e bruxos abortados...

–... E se quiser pessoas que o ajudem, Rony... – George acrescentou. - Não deve ficar arremessando facas nela. É só uma dica. Nós vamos à aldeia, tem uma garota linda me esperando por lá.

Ágatha ouviu Rony resmungar enquanto se retiravam da casa, seguindo pelos jardins.

– Não sabia que a Abi estaria na aldeia. – Ágatha comentou casualmente. – O que ela faz lá?

– Foi comprar algumas coisas trouxas, acho eu. E também azarar a menina bonitinha da papelaria, ela ficava sorrindo para mim. Fazer o que, sou irresistível. – George gabou-se com um sorriso pra lá de maroto. Ágatha rolou os olhos tediosamente.

– E humilde.

– Não adianta, mano, você tem que admitir que eu sou o mais bonito. – Fred retrucou.

– Ha, o mais bonito! – George riu do irmão, fazendo Fred resmungar.

– Os dois são lindos, está bom assim? – Ágatha exclamou, ficando entre eles para abraçar cada um pelos ombros.

– É, gatinha, mas não adianta tentar ser imparcial. – George replicou. – Você sempre vai ter a queda pelo Fred.

– Do mesmo jeito que a Abigail tem por você. – a loira retrucou.

– É, tem razão. – George assentiu pensativo.

– Bobos. – Ágatha retrucou risonha.

xXx

A noite de Natal finalmente chegou, trazendo com ela uma decoração na Toca pra lá de exagerada – Gina decorara a sala de estar com tanto exagero que dava a impressão de se estar no meio de uma explosão de papel em cadeia. Um gnomo de jardim era usado como anjo no alto da árvore de Natal, mas apenas os gêmeos, Rony, Harry e Ágatha sabiam de tal detalhe – apesar da suspeita, já que o tal gnomo era feio e estava com uma cara amarrada.

Todos no recinto ouviam o programa de Natal apresentado pela cantora favorita da senhora Weasley, Celestina Warbeck – cuja voz saía tremida do grande rádio. A música do momento era "Um Caldeirão cheio de amor quente e forte". Ágatha não quisera participar do jogo de snap explosivo armado por Fred, George e Gina e se dirigira até a cozinha, o único recinto vazio na casa.

A loira vestia-se de maneira simples e incrivelmente bela. O vestido era preto e justo; as mangas eram compridas, mas os ombros ficavam expostos por um recorte no tecido. A peça chegava até a metade de suas coxas, onde podia-se ver brevemente uma meia-calça cheia de detalhes na costura.

As botas encobriam desde um pouco abaixo á metade das coxas, tendo um tom de marrom escuro – eram de bico fino e salto alto. Envolto em seu pescoço estava um lenço simples com entalhes marrons e brancos. O cabelo estava solto e com leves ondulações. A maquiagem era pouca – apenas rímel e delineador.

Pegou mais um copo de cerveja amanteigada servida na mesa recheada de guloseimas e sentou-se numa das cadeiras para beber. Estava um pouco triste por passar outro Natal longe da família, mas pelo que soubera sua mãe e sua irmã mais velha não poderiam comparecer á Ceia – restando apenas os avós, o padrasto e a irmã caçula. A família não estava completa, mas sempre fora assim em sua casa – ao contrário dos Weasley, que faziam de tudo para ficar juntos. E Ágatha se sentia honrada por ter o privilégio de ficar ali com eles.

Passos trouxeram-na de volta á si. Sorriu quando visualizou quem viera lhe fazer companhia.

– Oi, Fred.

– Oi, neném. – ele disse com diversão, fazendo-a rir. – Por que está aqui sozinha?

– Vim pensar um pouco. – disse simplesmente.

– E eu posso atrapalhar seus pensamentos? – indagou o ruivo, fazendo menção a se retirar. Ágatha ergueu-se imediatamente, parando-o.

– Sua companhia nunca atrapalha nada, Fred. – um sorriso enfeitou o rosto da loira, fazendo-o sorrir também.

– Pode me dizer em que estava pensando, senhorita?

– Só um pequeno remorso por não estar com a minha família... Pelo menos uma parte dela. – deu de ombros, fingindo-se de forte. Mas Fred sabia o quão boa era a atuação da namorada.

– Não está feliz de estar aqui?

– Não! – exclamou imediatamente. – Eu estou muito feliz, mesmo. Foram só pensamentos bobos, Fred. Eu jamais trocaria essa festa maravilhosa por qualquer outra coisa.

– Afinal de contas, somos sua segunda família. – o ruivo argumentou, fazendo-a sorrir.

– Com certeza são, irmãozinho. – brincou, fazendo-o rolar os olhos.

– Irmãozinhos com certeza não iriam fazer as coisas que nós fizemos. – Fred retrucou. Ágatha riu abertamente.

– Devo concordar com você. – ela abraçou-o pelos ombros.

– Que coisa curiosa. – Fred comentou, olhando para cima. Ágatha seguiu o olhar e riu ao encontrar um galho de visco brotando magicamente do teto. – Quer tentar a sorte debaixo dessa planta, loira?

– Não custa tentar, ruivo. – ela retrucou, abraçando-o novamente. Os lábios se encontraram imediatamente e cada um tinha um sorriso no rosto enquanto retribuía ao beijo fervorosamente.

– KRAN... – os dois separaram-se minutos após o início do beijo, surpresos por encontrarem Molly e Arthur Weasley na porta da cozinha. Ágatha corou violentamente, escondendo-se atrás de Fred.

– Olá papai. Olá mamãe.

Arthur riu, balançando a cabeça em brincadeira. Molly, porém, exibia um sorrisinho orgulhoso – apesar da faceta de brava. Ágatha sorriu brandamente para ela, puxando Fred para saírem dali imediatamente.

– Relaxa, gatinha, são seus futuros sogros, lembra?

xXx

– Mas pelas barbas de Merlin, é cedo demais! – Ágatha exclamou indignada, bocejando pela centésima vez enquanto descia as escadas. Fred tentava manter a paciência, dizendo-lhe que seria por uma boa causa. Isso não acalmou a besta sonolenta que havia dentro da loira.

Seu visual era um pouco cômico, mas não a deixava feia: cabelos bagunçados e meio armados, uma camisola adaptada – na verdade era uma camiseta dois tamanhos maiores, que parecia mais um vestido – olhos vermelhos e cara de sono. O que não ajudou foi o fato dela tropeçar em tudo o tempo todo, demonstrando aquele ímpeto a desastres que só ela tinha.

– Eu quero minha cama. – virou de costas, começando a subir as escadas. Fred puxou-a pelo pulso, impedindo a ação. Ágatha grunhiu, mas deixou-se ser levada até a sala de estar. Levemente bagunçada pela noite anterior, mas completamente vazia.

– Ágatha, senta ai. – pediu o ruivo, sentando-se no sofá. Ágatha, porém, permaneceu de pé e com os braços cruzados.

– Diga-me o porquê da missão secreta.

– Você não aguenta aguardar um segredo garota?

– É um segredo? – ela exclamou surpresa, pulando a mesinha do centro para sentar-se ao lado do namorado. – Me conte o que é.

– Acho que fiquei com sono, agora. – ele fingiu um bocejo, irritando a loira. – Okay, eu digo! Na verdade, eu lhe mostro. É um presente...

– Um presente?

– É, e você vai ter que fechar os olhos para receber. – Fred sorriu pela indignação dela. Dando-se por vencida, Ágatha fechou os olhos e aguardou.

Fred esticou as mãos da loira e colocou uma caixinha sobre elas; Ágatha não hesitou em abrir, encontrando lá dentro um cordão prateado delicado com um pingente em forma de floco de neve. Ágatha adorava a neve.

– Oh, Fred... – disse simplesmente, jogando-se sobre ele. Fred caiu para trás pelo inesperado pulo, rindo da loira. Ágatha, porém, encheu-o de beijos e murmurou agradecimentos. – Eu sabia que você não era do tipo que dá anéis de namoro, sabe? – ela comentou brincalhona, virando-se de costas para ele. – Coloca pra mim?

O ruivo prendeu o fecho do cordão no pescoço dela, arrumando para que o pingente caísse para frente. Ágatha soltou os cabelos e voltou-se para ele – os olhos verdes brilhavam de felicidade.

– Eu te amo. – murmurou, aproximando-se dele. – e Feliz Natal. – disse rindo.

– Eu também te amo. E um também Feliz Natal. – ele respondeu, fazendo-a rir. Por fim, os dois beijaram-se intensamente, aproveitando que não havia mais ninguém ali para atrapalhá-los.

xXx

Todos estavam usando suéteres novos quando se sentaram para o almoço de Natal – exceto Fleur, já que a Senhora Weasley provavelmente não quisera desperdiçar um – e a própria Senhora Weasley, com um chapéu de bruxa novo, azul noite, que brilhava com minúsculos diamantes estrelados, e um espetacular colar de ouro.

– Foram presentes de Fred e George! Não são lindos? – ela exclamou com animação.

– Bem, descobrimos que gostamos cada vez mais de você, mamãe, agora que temos de lavar as nossas meias – disse George. – Pastinaca, Remus?

A conversa rumou até que Percy apareceu com o Ministro da Magia – Harry se retirou para falar com ele – e então depois o clima ficou pesado. Quando os dois foram embora – Percy estava com os óculos lambuzados de purê de pastinaca, algo armado pelos gêmeos – a Senhora Weasley não conseguiu permanecer por mais tempo, notava-se que tinha ficado absurdamente triste pela partida brusca do filho. O Senhor Weasley permaneceu sério, mas aturou o resto da conversa com educação.

– Ágatha, podemos conversar? – Lupin indagou após o almoço. A loira assentiu, seguindo o pai até um canto na sala de estar. – Sua mãe me informou sobre o seu novo apartamento, e que você vai começar um estágio no St. Mungus.

– Ah, pois é. – ela sorriu sem graça. – Sobre isso... Eu ia contar, só estava esperando arranjar tempo para uma conversa longa. Mamãe, lógico, já foi soltando tudo ao vento – ela bufou.

– Não fique brava com ela. Sua mãe só quer o melhor para você. – Remus disse, mas Ágatha simplesmente rolou os olhos. – É bom ver que você está seguindo a carreira em que é realmente competente.

– Por que diz isso?

– Quer maior exemplo que a Sally?

– Mamãe era competente em algo além de puxar o saco do Ministério? – Lupin riu apesar do olhar severo por Ágatha estar dizendo uma coisa daquelas.

– Ela adorava Poções, queria se especializar na área – ele deu de ombros. – Mas fez uma escolha que considerou mais... Adequada.

– É adequado ficar ao lado do Ministro? Ela esquece da própria família por causa do emprego – a loira replicou levemente ranzinza. O olhar do pai respondia à sua indagação, ele não se conformava com as atitudes de Sally. Por fim, Ágatha suspirou sem querer encher a cabeça com aquelas preocupações. – Eu vou começar o estágio logo depois do ano novo, aliás. Preciso me sair bem, ou vou ser mandada de volta para a Itália.

– Você vai se sair bem, filha – Lupin sorriu suavemente, com os olhos brilhando de orgulho. – Eu posso apostar.

– Papai... Importa-se se eu lhe fizer uma pergunta?

– Não – ele respondeu confuso.

– O senhor não pensa em voltar a... Sei lá, namorar? É assim que dizem com a sua idade? – Ágatha indagou pensativa, recebendo um olhar misto entre a surpresa e a incredulidade.

Com a minha idade? Está me chamando de velho? – Lupin retrucou, fazendo-a rir.

– Eu nunca disse isso – Ágatha assumiu uma expressão solene, mantendo o riso contido.

– Sabe que eu não acho prudente, em minhas condições, engatar um relacionamento – ele explicou, apesar de ainda fitar a filha com um pouco de indignação.

– Falando assim até parece que você é um velhote de fraldas – ela franziu os lábios.

– Ágatha, a questão não é essa... É perigoso – Lupin suspirou pesadamente, parecendo cansado de repetir aquela explicação. – Aliás, por que o interesse repentino nesse assunto?

– Nada demais, só umas suposições baseadas em pesquisas de observação que andei fazendo – ela sorriu ligeiramente, um sorriso carregado de mistério. Antes que Lupin pudesse falar mais alguma coisa, todos que estavam na cozinha entraram na sala, encerrando qualquer conversa entre os dois. Porém, quando Ágatha encarou o pai novamente, havia um sorriso maroto em seus lábios. Um sorriso de alguém que talvez tramasse algo.

xXx

Dumbledore estava morto.

Era uma frase tão impactante que, mesmo depois de ter sido murmurada, parecia uma mentira. Ágatha estava no estágio ajudando um curandeiro experiente a cuidar de um garoto cheio de furúnculos verdes no rosto quando uma enfermeira chegou exasperada, avisando ao médico sobre a notícia que havia chegado até ali. Dumbledore havia morrido, caído da Torre de Astronomia e, diziam, assassinado pelo fugitivo Severus Snape. O queixo de Ágatha caiu até o chão, tamanha sua surpresa; o professor de Poções era um morcego maligno e solitário, mas dali a matar Dumbledore? Ele era então, de fato, um seguidor de Voldemort como alguns supunham.

Depois que seu turno acabara, isso por volta das onze da noite, dirigiu-se até a loja de logros no Beco Diagonal. Ficou corroída pelo medo enquanto caminhava sozinha, em meio aos comércios fechados, alguns até para sempre, em direção à colorida loja dos gêmeos. Depois que Fred a recebeu, aliviou-se por se ver debaixo de um teto conhecido. Não ficou surpresa ao descobrir que os dois também não acreditavam na notícia da morte, mas ela era um fato. Snape havia assassinado o diretor de Hogwarts durante uma invasão à escola, onde comensais da morte duelaram contra alunos, professores e membros da Ordem da Fênix. Seu pai estivera na batalha, mas estava a salvo agora. Bill, o irmão de Fred e George, tinha sido ferido por um lobisomem, mas apesar dos machucados iria viver.

Mais tarde, decidiu aparatar direto até seu apartamento; Fred insistiu para acompanhá-la, mas Ágatha garantiu que era extremamente seguro. Sua nova casa estava rodeada por feitiços de proteção, que sua própria mãe conjurara, e a sua velha vizinha podia ouvir até o ligeiro caminhar de um gato no corredor.

No enterro do diretor, centenas de pessoas se reuniam. Ágatha foi com a mãe e as irmãs para lá, mas separou-se delas assim que vislumbrou os gêmeos. As vestimentas eram todas pretas, a de Ágatha era um simples vestido justo de corte reto e mangas compridas, e os cabelos dourados estavam presos numa trança. Abigail aparentava ter chorado até pouco tempo antes do encontro, pois seus olhos estavam vermelhos e a respiração meio entrecortada; Ágatha sabia o quanto à amiga gostava do velho bruxo. Na verdade, todos gostavam. Ou admiravam. Ou tinham respeito. Ela mesma o considerara uma pessoa incrível, e o choque de lembrar que ele se fora ainda era grande.

Foi enquanto se dirigia para seu assento que vislumbrou uma coisa surpreendente: seu pai estava acompanhado de Tonks, as mãos estavam dadas e, mesmo que discretamente, um sorriso contido iluminava o rosto da bruxa. Ágatha não se surpreendeu, já que tinha notado certas indiretas direcionadas pela senhora Weasley a seu pai, referindo-se a ele como culpa de Tonks não ser sua futura nora. Pelo menos em meio a toda aquela tristeza, um pouco de felicidade podia brilhar sobre o coração do solitário ex-professor de DCAT.

Quando o enterro enfim terminou, após uma belíssima e emocionante cerimônia, Ágatha recebeu Abigail em prantos num abraço reconfortante. Encontraram com Alicia e seu namorado da Durmstrang, Karl, e logo depois com Lino Jordan. Fred e George os convidaram para beber um pouco de hidromel lá na loja de logros, mas Alicia e o par recusaram, dizendo que tinham planos para mais tarde.

– Acho que uísque de fogo cairia melhor – Ágatha comentou casualmente, fitando o copo cheio da bebida em sua mão. Fred riu, desviando o olhar para uma prateleira improvisada.

– Acho que podemos arranjar...

– Você trabalha amanhã, moçinha – Lino replicou indignado, mas Ágatha deu de ombros.

– O estágio está se tornando cada vez mais tedioso... O curandeiro que eu ajudo é rude e muito chato. Só o agüento para não ter que voltar à Itália – ela resmungou.

– E seus amigos italianos, onde estão? – George perguntou curiosamente.

– Voltaram para a Itália por um tempo. Aniversário da avó, algo assim – deu de ombros, sorrindo fracamente. Seus olhos verdes desviaram do hidromel para o rosto dos amigos e, quando falou, fitava o namorado. – Daqui pra frente vai ser tudo muito diferente, não vai? – ela manteve o tom de voz firme, mas Fred notou a preocupação escondida em seu olhar.

– Provavelmente... Mas mudanças fazem parte, por mais que tentemos evitar – foi Lino quem respondeu.

– Acho que vai ser um ano cheio de eventos inesperados – George comentou. – E coisas inesperadas podem fazer bem.

– Um brinde ao inesperado que nos espera – Fred ergueu o copo, e todos fizeram o mesmo. Ágatha sorriu enquanto recebia uma piscadela marota do ruivo; por mais que o medo assolasse seu coração, sabia que ao lado dele nada tinha a temer.

Continua...



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Notas finais do capítulo

Eu respondi às reviews no jeito tradicional dos sites, bebês :B E se tiverem erros gramaticais no capítulo, me avisem, vim correndo postar porque tava desesperada pra vocês não me matarem e xingarem D:
Mas então, vai lá a explicação da dona Nizz pela demora ABSURDA em atualizar essa história aqui u__u
Tudo começou numa era distante, onde gigantes e fantasmas habitavam a Terra... Não, brincadeira HUSAUHASUHSAUHASUHUAHSUHAS'
Seguinte, tem DOIS motivos que valem a pena citar: a falta de inspiração E a falta de tempo. São sempre esses, eu sei o quanto clichê parece, mas é a verdade. Quando eu tinha tempo, não tinha qualquer ideia para colocar no papel - e metade do capítulo está escrita desde a última vez que eu atualizei a fanfic, sintam o drama... E quando eu tinha qualquer ideia, estava sem tempo D:
Eu realmente espero que me perdoem, e que tenham gostado do capítulo ENORME e cheio de ROMANCE *O*
O próximo já está sendo escrito, e eu tenho certeza de que vou terminar bem mais rápido que este o_o
Quanto ao final do Fred, eu já me decidi. E vocês só vão descobrir quando lerem, MUAHAHAHAHA!
ADORO MUITO VOCÊS, LEITORAS LINDAS DO MEU CORAÇÃO!
Xoxo.
Nizz :P