- O que você está fazendo no meu notebook? – foi a primeira coisa que ele perguntou, e eu já pude sentir sua irritação crescer. Ele se apressou e fechou a conversa.

            - Eu... N-Nada – gaguejei – Quer dizer, eu vim aqui para pegar aquele livro – apontei, embaraçada.

            - Você ficou lendo as minhas conversas?! – falou, adquirindo um tom bravo. Ele nem se preocupou em olhar para onde eu havia indicado.

            - NÃO! – falei, rápido demais. Clark me olhou desconfiado – Quer dizer – pigarreei – Só a que estava aberta – murmurei baixinho, mas com certeza ele ouviu, pois seu rosto foi tomado por uma expressão mais irritada. 

            - Ah, agora você acha que pode sair por aí bisbilhotando a vida dos outros? – ele perguntou e deu um passo na minha direção, ameaçador – Quem te deu esse direito?

            - Ei, ei – comecei, e me aproximei também, assumindo uma postura defensiva – Se você estivesse tão preocupado com o fato de alguém ler suas preciosas conversas com a Mary Stronp devia ter levado seu notebook para ir no banheiro também, ou seja lá o que você foi fazer!

            Clark franziu a testa.
            - O que? Não fala merda, garota! Eu fui pegar a chave de um armário pra guardar meus cadernos aqui.

            - Dane-se! O que você faz ou deixa de fazer não tem nada a ver comigo! – exclamei.

            Ele me lançou um olhar do tipo “você é idiota?”.

            - Você faz as merdas e vem tentar botar a culpa em mim?

            - Que tal ir falar com a Mary Stronp, hein? – resmunguei.

            Ouvi um suspiro. Clark balançou a cabeça e suavizou a expressão, se encostando na mesa ali perto. Então ele levantou o olhar do chão para mim, e respondeu:

            - Sinceramente, não quero. Prefiro brigar com você – deu um sorrisinho brincalhão para mim, mas sincero.

            - Ah... Devo me sentir honrada? – perguntei, sarcástica, ignorando as batidas rápidas do meu coração. Ah, aquele sorriso... Ele me preferia. Tudo bem que era meio zoado. Mas servia mesmo assim.   

            Clark ficou me encarando. Ele abriu e fechou a boca duas vezes, hesitante, e finalmente falou:

            - Sabe... Aquele negocio que você disse na lanchonete – ele parou, escolhendo as palavras – Era... verdade?

            Engoli em seco. Sim, era verdade e ainda continua sendo. Mas, assim que eu me preparei para dizer isso, me passou pela cabeça todos os problemas que essa verdade havia causado; Todas as brigas, as humilhações e todo o tempo que ficamos sem nos falar. Sim, eu amava Clark. Eu não queria, só que amava. Mas de que adianta amar alguém e fazer de tudo para que fiquemos juntos se já está obvio que, não importa o que aconteça, nada vai dar certo? Talvez não seja nosso destino ficarmos juntos, nos casarmos e termos nossos Clarks e Zoeys. Por isso, o que falei foi:

            - Não, Clark – suspirei, arrumando forças para encará-lo enquanto dizia aquela grande mentira - Naquela época era, mas não sinto mais nada por você.

            Clark não disse nada, apenas desviou os olhos para seu tênis.

            - Ótimo – ele murmurou, depois de um tempo – Acho que é melhor assim.