Love, Fate And Books escrita por Suh


Capítulo 2
Ficha 1




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           “O Mundo de Sofia”, eu li mentalmente. O meu professor de filosofia já havia nos indicado esse livro uma ou duas vezes. Eu sempre tive a vontade de ler, mas nunca havia tido a oportunidade.

E agora, finalmente, eu tinha!

Caminhei alegremente até o balcão. Parecia um idiota com um sorriso de orelha a orelha. A moça morena veio em minha direção, pegou o livro sem nem me olhar e perguntou meu nome. Ela tinha aquela expressão de quem está sempre cansado. Isso não quer dizer que ela seja chata ou antipática. Eu mesmo fazia aquela expressão de vez em quando. Talvez só fosse um dia ruim.

Enquanto digitava alguma coisa no seu computador, ela disse que aquele livro era único e não podia sair da biblioteca, o que acabou com minhas esperanças. Eu não ia poder lê-lo no conforto da minha casa e teria de arranjar tempo para ir sempre a biblioteca ler o grosso livro de pouquinho em pouquinho. Levaria meses para eu acabar o livro!

Depois que eu disse meu nome (não importante), a moça imprimiu duas pequenas fichas de papel, me pediu para assinar uma delas e me deu a outra junto com o livro. Dei uma olhada na ficha. Percebi a data de hoje, o horário que peguei o livro e o nome da faculdade. Eles eram organizados, hein.

Escolhi uma mesa longe de onde os outros estudantes liam. O que não foi difícil porque haviam muitas mesas! Sentei. Parei. É, eu sou um pouco estranho. Eu estava ansioso e não tinha muito tempo, mas era incrível poder prolongar aquele estado de euforia! Finalmente, me rendi ao poder mais forte de ansiedade e abri o livro, lendo no meu próprio tempo.

Eu não gosto de ler rápido. Nem devagar demais. Eu gosto de ler, entender, e se necessário, ler de novo. Sempre leio um ou dois parágrafos várias vezes. Nem sempre por falta de compreensão, às vezes, eu só gosto.

O livro era muito interessante! A historia de uma garotinha chamada Sofia que recebia aulas de filosofia por cartas de um professor misterioso. A primeira pergunta que aquele professor havia feito era “Quem é você?”. Assim como Sofia, fiquei intrigado com aquela pergunta e tentei respondê-la mentalmente. Eu estava completamente envolvido com a leitura.

Até que eu virei a página. Virar a página sempre é incrível. Quer dizer, eu adoro aquele suspense. “O que vai acontecer?” ou “o que será que me aguarda na próxima página?” e realmente... foi uma surpresa. Uma surpresa maior do que saber se Sofia iria receber outra carta, ou se ela ia voltar ao seu esconderijo para lê-la.

Ao virar a página, encontrei uma pequena fichinha de papel, exatamente igual a minha, mas com a data de ontem e o horário diferente, pela manhã. E não era só isso, havia alguma coisa escrita à caneta na ponta inferior à direita da ficha:

Eu sou a exceção da regra.

Bem, a primeira coisa que me ocorreu foi “HÃ?”, a segunda foi que alguém havia respondido a pergunta do professor de Sofia. “Pela letra, deve ser uma garota”, eu pensei. Lembrei do que Sofia havia pensado no livro. Se alguém perguntasse, ela responderia com seu nome, mas se o nome dela não fosse Sofia? Se fosse Maria? Ela concluiu dizendo que quando pensava em Maria, sempre pensava em outra pessoa.

Se eu não fosse Roy (e eu sei que o que eu vou dizer é bem estranho, mas), eu não seria eu. Porém, a moça que escreveu no papelzinho, havia ido mais além... pelo que entendi, ela era uma pessoa diferente das outras.

Adorei a frase. E sinceramente, acreditei que eu também era assim. Diferente, quero dizer. Mas não diferente de uma forma especial, diferente de uma forma estranha.

Então me veio a mente a ideia de também responder a pergunta. Peguei minha fichinha e procurei uma caneta na mochila. Mentira, eu pensei em procurar uma caneta, mas percebi que tinha esquecido a mochila no balcão. Voltei lá e não a encontrei.

A outra moça do balcão logo percebeu que eu procurava algo. Ela era bem branca e tinha o cabelo bem preto. Apesar de não ser tão bonita quanto a outra moça, era bem mais simpática. Então ela sorriu para mim.

- Senhor...

- Roy, me chame de Roy.

- Aqui está sua mochila, Roy.

- Obrigado...

- Pode me chamar de Lie.

- Valeu, Lie! – me virei para voltar para a mesa, mas algo me ocorreu. Voltei. – Lie...

- Sim, Roy?

  Me aproximei e falei baixo para só ela ouvir.

- Como é o nome da moreninha ali?

- É a Hellen. Por que? Está interessado? – Eu ri baixo, mas alto o suficiente para Hellen e o outro rapaz notarem.

- Não... só curiosidade. – Sorri.

- Que pena... – Ela falou tão baixo que me esforcei um pouco para entender. Mas não perguntei a razão. – O nome do rapaz é Gabriel.

Foi quando o notei. Ele era magro, baixo (não tão baixo, porém, menor do que eu) e usava óculos. Ela continuou:

- Acho bom nos conhecermos porque pelo visto você vai aparecer muito por aqui até acabar O Mundo De Sofia.

- É verdade.

Voltei para minha mesa e dessa vez procurei a caneta. Fiquei uns minutos pensando em como responder quem sou eu. Até que me lembrei de uma frase de Clarice Lispector e escrevi na minha ficha, entre aspas:

“A única verdade é que vivo, sinceramente eu vivo.

Quem sou?

   Bem, isso já é demais”

Não fui criativo como ela. Nem usei palavras minhas. “Eu sou um idiota”, eu pensei, mas já tinha escrito. Eu nem sabia se alguém ia ler aquilo. O que eu estava fazendo, afinal?

Mas eu havia seguido o exemplo de alguém. Quem sabe, quando outra pessoa decidir ler o livro, não encontre as duas fichas e decida fazer o mesmo? Quem sabe, em alguns anos, esse livro estará cheio de fichas com várias respostas de “quem é você?”. Não havia nomes nas fichas, nem fotos, só o que achamos que somos.

Filosófico? Talvez. Fiquei um tempo pensando em como aquilo tinha a ver com o livro.

  Deixei a ficha no mesmo lugar onde estava a da moça (que eu nem sei se é mesmo uma moça), para marcar a página que eu estava lendo. Talvez essa pessoa tenha feito o mesmo. Será que ela continuaria a ler o livro? Será que ela veria a minha ficha?

Fiquei tão entretido com esses pensamentos que esqueci da aula. Olhei para o relógio e percebi que já estava atrasado.

Voltei para o balcão correndo e deixei o livro.

- Até mais, Lie!

Corri até a minha sala de aula. Eu odeio chegar atrasado. Todos olham para você, a aula é interrompida, às vezes o professor reclama. Além do mais, eu sou meio desastrado, então não é nada bom chamar atenção. Às vezes ser desimportante não significa ser invisível. E ser invisível não é uma má ideia considerando o meu estado.

Eu sabia. Tropecei.

            


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Notas finais do capítulo

Reviews são bons. Estrelas também.
Se não gostou da história, vá embora e durma bem!

(???????????)

Gente louca, a gente vê por aqui o/.