Estou em Carabás, cidade pequena no meio do nada perto de algum lugar. É uma cidade pequena, me trás boas lembranças, um antigo amor, morreu tão jovem. Enfim, meu nome é Botas, mas sou conhecido como O Gato de Botas, odeio meu nome, por isso uso apenas Botas.

- Acho melhor sair desta igreja, detesto quando os sinos tocam!

- Botas, pare de reclamar por um tempo.

- Por madre de botas suecas, quem é você?

- Sou o pequeno polegar e você deveria ir ao...

Com um simples peteleco lancei o tal polegar a alguns vários metros, não gosto de companhia enquanto admiro a cidade. Pensando bem, coitado do pequeno mindinho, será que ele consegue sobreviver à tamanha queda?

-Dedo do meio, eu te salvarei – berrei.

E como uma borboleta que se joga do palito, me atirei da cruz, da mais alto da igreja. O vento passava por minhas intimidades e fazia meus pelos ficarem de pé, confesso que me excitava um pouco. Ainda me restavam três segundos de queda, com extrema suavidade me encontrei com o chão apenas com as patas traseiras e caminhei a procura do pequeno indicador.

-Botas, é você? Estou aqui do lado do hidrante.

-Pequeno polegar, peço-te desculpas pelo meu erro, o que tinhas a me dizer?

- Me pediram para te dizer que vá ao salão principal no quarto andar, do lado direito do bebedor, embaixo do quadro branco de Napoleão na Rua Fera.

-Ok, estou a caminho.

- Gato burro, não vai me ajudar? Eu te ajudei e mereço...

Sem pensar duas vezes chutei o pequeno anular o mais longe que consegui. Virei-me e escalei a escada de um prédio velho de tom violeta. Cheguei ao terraço e comecei a correr, pulando prédio por prédio até chegar ao meu destino, a Rua Fera.

- Impressiono-me com a falta de inteligência de alguns seres, isso é um beco. Como podem confundir uma rua com um beco, não tem lógica.

Caminhei rumo ao único prédio presente no beco, possuía tons cinza e sete andares. A porta da frente era bonita, vidro transparente com detalhes em prata. Tentei abri-la, mas estava fechada, recuei alguns passos e escalei um andar, a janela do segundo andar estava aberta, agora era só achar um lugar para pegar impulso. Desembainhei minha espada, cravei-a na fissura entre parede e a janela e usei-a como suporte. Atingi o segundo andar e entrei pela janela.

- Odeio dentistas, estas ferramentas não me trazem boas recordações. Quando era criança, minha mãe arrancou todos meus dentes para poder tomar o leite da vida sem que a machucasse, isso faz muito tempo. Hoje sou um felino, procurado pela policia, com ótimos dentes. - Enquanto falava me dirigi à porta, tentei abri-la, mas estava trancada. – Era só o que me faltava, por que fazem tudo pela metade?

Com um golpe certeiro do estilo tigre, acertei a porta com tanta força que a mesma rachou no meio. No fim do corredor estava a escada que dava o acesso direto ao quarto andar.

- Estranho.

Mas segui meu caminho, subi a escada e cheguei ao quarto andar. Antes de entrar na porta ao lado do bebedor, olhei para cima para checar a quadro branco. Ele era todo branco.

-Botas! Cretino, esqueceu do nosso compromisso? – Fera realmente estava estressado.

- Que compromisso, estas ficando louco Fera?

- Peter, sua revanche – Fera encostou-se na parede e deixou Peter passar.

- Peter Pan, lhe ganharei mais uma vez.

Ambos desembainhamos a espada e o metal rangeu, as espadas encostavam uma a outra, quebrando copos, cortando mesas e cortando cabelos. Subi na mesa que estava ao meu lado e ataquei Pan de cima cortando seu chapéu.

- A botas o chapéu não. To fora!

- Será que alguém pode dizer-me por que todo esse alvoroço com minha pessoa?

- Eu, Aquela que Dorme responderei. Você não foi no chá das du... – antes de terminar a frase ela foi pro chão, fiquei com cara de paisagem olhando a situação, como podiam colocar ela para falar, geralmente o que eu escutava era um “Bum” quando ela caía, mais nada.

- Gato, é simples. – Branca se levantou e amaciou minha cabeça. – Você se atrasou para o chá das duas.