-Sasuke-kun!

- Hum?

- Você deixou seus sapatos no armário errado de novo!

- É?

Esse era o casal mais feliz que eu conhecia. Aliás, acredito firmemente que eles seriam eternizados e quem sabe, canonizados, por sofrerem de uma atração química e física mútua.

Corrijam-me se eu estiver errado. Eu detesto matérias que exijam do meu cérebro.

Eles eram tão perfeitos que até eu tinha inveja. Hoje em dia é difícil arranjar uma cara metade, quem diria formar um casal que sofresse milhares de reações atrativas.

É mais simples ocorrer certas reações biológicas entre um casal que qualquer coisa, se é que me entendem.

Mas eu estou aqui pra falar um pouco sobre a família Uchiha. Não que eles sejam uma família, já que só existem dois componentes.

Bom, eles não deixam de ser uma família de dois unida, grudenta e feliz.

- Me dê esses sapatos logo, vai! E pára de gritar, irritante!

Talvez o Sasuke não seja o típico príncipe encantado. Sinceramente, eu seria um marido mil vezes melhor que ele.

- Sasuke-kunnn!

E a Sakura, nem sei o que falar. Eu era apaixonado por ela desde o Jardim de Infância, mas ela acabou se apaixonando pelo senhor - perfeição e me jogou às traças.

Fazer o quê?

Não, não sou um amigo falso e invejoso, esperando uma oportunidade para arrancá-la do Uchiha ou qualquer coisa assim.

Eu sou um amigo politicamente correto, oras!

Além do mais, eles estão casados há dez anos! Casaram-se muito precocemente! (17 aninhos)

A história desses dois não é tão fácil de ser contada, redigida ou qualquer coisa assim. Fora que eu sou tão péssimo em palavras quanto em Matemática.

Mas vamos lá!

-

-

Uchiha Sasuke trabalha como advogado numa empresa multinacional dirigida pelo seu pai esquisito.

Uchiha Sakura trabalhava também como advogada, na multinacional concorrente.

Os dois eram opostos em quase tudo: Sakura abraçava/ beijava/ grudava e todos aqueles melaços possíveis no Sasuke, em público e quando estavam sozinhos.

Já ele preferia mostrar seu amor quando estavam entre quatro paredes, sem que qualquer idiota pudesse ouvir, além dela. Não que ela fosse uma idiota, claro.

Eles moravam em um apartamento pequeno e nem tão luxuoso quanto seus salários poderiam pagar. A decoração simples e a bagunça até carregada provocavam uma cena nem tão agradável aos olhos dos outros, exceto para os dois.

Antes de conhecer Sakura, o Uchiha era o cara mais mal-humorado que eu poderia ter conhecido.

Se ele tivesse licença para matar, eu estaria ferrado.

Conheci-o por acaso em um supermercado. Acho que eu tinha uns 15 anos. Foi o segundo dia "mais feliz" da minha vida. O primeiro, foi quando meu tênis caríssimo e novíssimo havia sido roubado por um ladrãozinho desgraçadíssimo.

Estava tão empolgado com a nova amizade que, em uma manhã ensolarada e feliz, acabei apresentando ele a minha amada e idolatrada Sakura.

Foi a coisa mais retardada que eu fiz, e olha que eu já fiz muitas coisas retardadas nessa vida.

Poderia dizer que foi amor à primeira vista para a Sakura, porque o Sasuke comentou, depois que ela foi embora, que gostaria de manter a máxima distância dela.

Até chegou a falar que se a visse novamente, não hesitaria em pular de um penhasco. Ou da parte mais alta da Torre de Tókio.

Digamos que a Sakura estava extremamente nervosa, acabando por falar coisas que não deveriam ser ditas, como sobre seu ódio mortal pelos Uchihas.

Só depois de três dias é que ela soube que seu príncipe nem tão encantado assim fazia parte da família odiada e referida na conversa.

Foram muitos encontros e desencontros até que o Sasuke caiu na armadilha amorosa.

O que me surpreendeu, foi que a “ex” Haruno já estava tão desistente quanto àquele idiota, que quase recusou o pedido de casamento dele.

Sim, o Sasuke não é um cara normal, apesar de tudo.

Eles nem haviam se beijado, pra você ter uma idéia. Só que rolou aquela química legal e fez-se o sol onde só havia as trevas. (Sim, estou me referindo ao coração do Uchihinha irritante).

Eles se casaram, obviamente, e Sasuke já estava louco pra ter alguns milhares de filhos, quando a voz talvez autoritária, ecoasse em uma ordem:

- Não vou ter filhos agora, Sasuke-kun! Seja mais paciente!

Aquela típica expressão franzida voltou à tona, só que ele não disse uma palavra. Acho que estaria pensando em castigos para a Sakura como “Greve de sexo”, “Sem chocolate por um mês” ou até “Ameaçar um suicídio”.

A última idéia seria extremamente agradável.

Enfim, o sonho de criar uma prole foi adiado até que a sua esposa mudasse de idéia. Ou até que ele sumisse com a cartela de anticoncepcionais dela...

Só que, como sabe, não veio filho algum em dez anos.

Porém, essa foi a época de um auge profissional e pessoal para os dois.

Só poderia melhorar se Sakura engravidasse logo e realizasse o sonho de seu marido de formar um time de futebol.

Bom, tudo estava perfeito, afinal de contas.

Perfeito até demais, eu diria.

Eu estava quase arranjando uma namorada perfeita, naquela época, mas acabou não dando certo por causa de um problema.

Sakura faleceu dez anos depois de seu casamento.

Acho que aquele foi o ponto final na história do Sasuke.

Poucos sabiam que ela estava doente, inclusive que aquela doença iria matá-la logo.

Ela sabia, pois semanas depois do seu enterro, Sasuke encontrou os papéis dos exames que ela fazia regularmente.

Ele nunca iria achar, disse pra mim.

Nem eu imaginaria que Sakura pudesse ser tão boa em esconder coisas.

Só acho que o que matou ainda mais ele, foi o fato de ter descoberto que ela estava grávida de dois meses.

Foi por pouco que ele não morreu naquela tentativa estúpida de suicídio.

Aí veio a época de culpa.

Sabe quando bate a razão? Então.

Ele se lamentava por ter sido tão egoísta e não ter entendido os sentimentos dela.

Ela iria morrer.

Era talvez lógico que não quisesse ter filhos.

Mas ele não percebeu...

Depois que o Sasuke se deu conta disso, foi formando uma espécie de ápice para que tentasse novamente se matar.

Depois de três semanas em que ele ficou “preso” em seu apartamento, eu resolvi visitá-lo.

Já havia dado tempo suficiente para que se lamentasse.

Sakura não gostaria que a vida dele acabasse com a sua morte.

Eu gosto do Sasuke.

E tentei de tudo para que ele se sentisse melhor.

Foi quando um vídeo chegou a ele, no dia de seu aniversário, quatro semanas depois da morte dela.

Estávamos sentados no sofá do apartamento, assistindo a algum filme banal e idiota.

Dentro do embrulho, estava um vídeo.

Tratei logo de ver o aquilo, claro, enquanto Sasuke dava uma olhada no remetente.

O Uchiha nunca foi de chorar, exceto quando as coisas se referiam a Sakura.

Foi essa a minha surpresa, ao perceber que algumas lágrimas tímidas e discretas corriam livremente em seu rosto, enquanto suas mãos tremiam e seus olhos insistiam em focar o maldito remetente.

O que quase não foi a minha surpresa, ao tirar o envelope de suas mãos e ler o que estava deixando-o tão fora de si.

Uchiha Sakura.

Iniciou-se outro drama...

Continua...