35.

— Está tudo bem, gente, eu garanto. Eu estou ok! – Rachel tentava fazer o babafá sobre sua perna machucada parar, a final, foi só um hematoma que quase liquidificou cinco centímetros quadrados da sua canela, mas tudo bem.

Estava com uma atadura amarrando o local para que o gel anti-inchaço agisse mais rápido.

As garotas ainda se encontravam no vestiário e agora que já haviam tomado o banho, aos poucos saíam para a comemoração da vitória, que acontecia no salão de festas da escola. Todos estavam esperando as vencedoras com ansiedade.

Vickie e Stark ainda assopravam cornetas e línguas-de-sogra e faziam suas dancinhas da alegria pelo salão repleto de gente.

— Adoro dias de jogo! – Stark comentou.

— Por que a gente vê a Rae jogando? – Vickie perguntou.

— Não, por que as aulas vão pro quinto dos infernos nesses dias!

A loira riu e voltou a dançar com o garoto.

Num outro ponto, mais afastado da multidão...

— Pode me falar agora então? – Jam encostou Luana na parede, literalmente.

A ruiva se assustou com a atitude inábil do garoto, mas de certa forma gostou de ver ao menos ele tomando alguma atitude. Odiava gente lerda, e ele já estava a cansando.

— Ok, Janinho, mas seria bem melhor se você me soltasse. Sabe... Pode pegar mal, nós dois assim! – Disse marota, e Jam se refez. — Muito bem...

— O que você falou sobre a Alanis mesmo?

Luana bufou. Não queria falar do assunto, porém, ver que sua “amiga” estava conseguindo se aproximar do sonho de consumo dela, enquanto Stark estava cada vez mais distante a fez se sentir traída. “Que Alanis se dane agora!”.

— Ok. Vou te explicar como isso aconteceu. Desde o início, mas se você me prometer que não vai me levar a mal...

Alguns minutos depois...

— E ME DIZ COMO EU NÃO PODERIA TE LEVAR A MAL? – Jam surtou.

— Eu te preveni. Não venha estourar tudo pra cima de mim, ok? Você lembra que eu não falei nada quando a Alanis estava repassando o “plano” para você! Eu não concordava com essa ideia ridícula dela por que eu via que não me prevalecia em nada!

— Então por que você não me deu um toque? Por que não...?

— ORAS! Por que eu pensei que você fosse perceber a falta de lógica naquela ideia maluca e fosse se tocar sozinho. Mas aí eu vi que você era bobo demais pra fazer isso sozinho!

— E então decidiu me avisar em cima da hora?

— E deu certo não foi? A final, você não beijou a Rachel! Sem mortos nem feridos. Agora esqueça!

Luana virou as costas, porém Jam a segurou.

— Esqueça? Sinceramente eu me pergunto aonde vim parar? Por acaso aqui não tem ninguém normal? – O garoto parecia indignado.

— Defina normal! – Luana falou soltando seu braço da mão dele, empinando o nariz.

— Normal é aquela pessoa que não se mete na vida das outras, pessoa que não inveja a amizade do outro. Por Deus! Ninguém é de ninguém, vocês já pararam para pensar nisso? – Jam falou tão sério e seguro que fez Luana se encolher. — Não, não é? Fala sério! Você é interessada nesse garoto aí... Mas ele gosta da Vickie! Acha que eu vou traçar um plano terrorista pra separá-lo dela? Se Vickie não quisesse proximidade com ele, ela mesma trataria disto! Se eu tivesse autoridade sobre ela, eu mesmo a faria ficar de volta comigo. Mas não! Cada um é dono de si! Talvez você devesse ensinar isso à sua amiga. Na verdade, muita gente aqui poderia aprender isso!

Luana continuou vidrada no olhar indignado e quase cintilante de tantos sentimentos fervorosos de Jam. Ele via a garota acuada e com a língua presa. Com certeza tinha atingido-a como queria. Farto, ele deixou de pressioná-la e se afastou, virando a costa e caminhando para longe. Luana apenas conseguiu o ver saindo.

***

— Ei pessoal! Viram a Rachel? – Danilo se aproximou de Vickie e Stark, que agora pintavam o rosto um do outro com desenhoszinhos de um monte de besteiras. Vickie escreveu “Meninas Super Poderosas” na lateral do rosto de Stark e ele escreveu “Rock, Descendo o Braço!”, com batom, na bochecha dela.

— Acho que as meninas do time ainda não subiram, Dan! – Vickie informou.

— Quando a Rae chegar, sequestra ela direto pra cá, ok? – Stark falou entretido na pintura de uma caretinha mostrando língua na testa de Vickie.

Danilo balançou a cabeça rindo dos seus amigos.

— Tudo bem, Lindinha e Rock, deixa que eu avise!

Danilo saiu de perto dos dois malucos e Stark sem querer, querendo, borrou a linha de “Todo Mundo Em Pânico” para cima da boca de Vickie.

— AH! Cacete, Stark! Você não sabe fazer nada certo! – A loira bufou e tentou passar a mão por cima.

— Não, não, não. Espera! Se mexer vai ficar pior!

— Pior! Eu devia te passar o batom agora!

— Fica a vontade! – Stark piscou para ela de forma desavergonhada. Vickie acabou cedendo um sorriso, a final, ele estava muito engraçado com “Jonas Brothers, I love U” pintado na bochecha, e dentro de um coração o símbolo Hippie.

Stark viu Vickie olhar para baixo, meio intimidada com seu olhar insistente, e adorou notar a falta de jeito instantânea dela, o que era muito incomum! Por um momento perdeu a linha da brincadeira que ia tirar e se concentrou em tentar corrigir o traço de batom que borrou.

Vickie teve que fechar os olhos, pois o toque de Stark nos lábios dela poderia causa algum efeito indesejado. A final, quem ela queria enganar? Stark era lindo e mesmo que ela não quisesse, ele poderia provocar algumas coisas que... Enfim, seria melhor ela não pensar.

O garoto passou o polegar com cuidado por cima do lábio inferior volumoso e delicado de Vickie. Era tão frágil e macio que o fez lembrar de marshimellows, e riu com isso. Como em sequência a isto, veio ao pensamento daquela vez em que conseguiu beijá-la. Foi um surto de inconsequência, com certeza. Mas não dava para se arrepender.

É preciso dizer que Vickie também lembrou? Pois é, gente... Ela lembrou...

O toque suave e cuidadoso de Stark a fez sentir quase como se estivesse sendo beijada de novo. Com a concentração completamente focada naquilo e sem noção de mais nada, Vickie acabou um pouco conta, com os olhos fechados. Mas não quis interromper o momento de boas sensações que estavam a invadindo. Assim, se apoiou no braço de Stark que, inconscientemente se chegou mais a ela.

Stark parou de pensar e, graças a isso, não há muito que dizer do momento, a não ser descrever os fatos. Ele deixou sua mão escorregar para o rosto dela e, sem se importar em borrar alguns desenhos, segurou seu maxilar com cuidado. Viu os lábios de Vickie entreabrirem hesitantes e sentiu o coração vir à boca, pronto para de alguma forma tentar dar a ela.

Vickie não precisou abrir os olhos para ver, pois sentiu o calor da pele de Stark bem perto da dela e suas respirações se misturaram. Sua outra mão correu para o ombro dele e ela ficou um pouco na ponta do pé. Sua testa tocou a de Stark e uma onda de sensação indescritível a invadiu, doce e quente. Como se alguma parte de si precisasse daquilo, Vickie se agarrou a Stark com os braços, parecendo até que poderia perdê-lo.

Stark tentou apoiá-la já que percebeu que ela estava toda esticada, e firmou uma mão em sua nuca. Foi o tempo em que Vickie ergueu um pouco o rosto, tornando acessíveis seus lábios a Stark. Ele ficou inebriado e, sentindo-a pequena e fugaz, tocou seus lábios nos dela devagar, aproveitando a sensação que poderia se esvair assim que ela se desse conta do que estava fazendo. Porém, o loiro se surpreendeu quando Vickie pressionou mais o toque e começou a beijá-lo mesmo sem que ele tenha instigado isso.

Com medo de a culpa recair sobre ele, o loiro preferiu não beijá-la e deixou que somente Vickie o fizesse. Claro que ela percebeu, e já estava ficando encucada com isso. Tanto que, segundos depois, ela parou de tentar.

— O que é Stark? Por que você não...?

— Por que eu não quero ser o responsável por isso e dar razão pra você me culpar... – Ele admitiu abrindo os olhos e vendo que, em vez de Vickie ter ficado fula, ela estava rindo.

— Deixa de ser tonto, homem! Eu te beijei!

— Ah, você assume, então?

Vickie rolou os olhos e deu de ombros.

— E então? Por acaso não quer mais me beijar? Ou não... Gostou? – Ela hesitou insegura.

Stark ergueu as sobrancelhas, incrédulo.

— Está brincando, né? Eu adoro marshimellows!

— E por caso eu tenho cara de um? – A loira se empertigou e pôs as mãos na cintura.

— Não, cara não... Mas boca sim! – Stark respondeu todo gaiato, cheio de graça e, antes que pudesse perder a oportunidade, pegou Vickie de volta em seus braços e, com a permissão explícita dela, tornou a beijá-la, dessa vez com total liberdade pra isso.

***

O time da SRP chegou ao salão de festa com toda a pose, e logo foi percebido por todos. Cada jogadora se juntou aos seus conhecidos, mas todas foram aplaudidas como uma só.

Ciça correu para a irmã, Grazi, e Vanessa foi com Bels e Suelen para seu grupo de amigos, que era imenso, por assim dizer. A goleira Patrícia foi praticamente raptada pela sua trupe do barulho, que a levou para perto da mesa de sons. Assim, as outras meninas mal tiveram tempo para raciocinar, já estavam sendo requisitadas. Claro, Rachel foi rapidamente interceptada por Danilo, que até então estava na festa apenas de olho.

— Rae! – O moreno gritou enquanto tentava chegar mais perto dela, mas já havia um grupo (principalmente de garotos) falando em cima dela.

— Dani! Desculpa, gente... Com licença... – Rachel foi se espremendo pelo caminho e conseguiu passar, pulando nos braços de Danilo, que a abraçou entusiasmadamente.

— Parabéns, Rae! Meus parabéns, mesmo!

— Obrigada! Eu... Eu nem acredito ainda!

— Pois eu só acredito por que eu sempre soube que você era capaz! Deixou todo mundo orgulhoso sabia? – Danilo disse se afastando para olhá-la.

— E-eu nem sei o que dizer... Foi um trabalho grupal. – Rachel corou com a atenção toda especial de Danilo em cima dela. — Hum... E... Cadê a Vi e o Estrelinha! Estou louca pra falar com eles!

— Ah, sim, claro! – Danilo despertou. — Vem! Eles estavam se...

Os dois pararam, bobos, ao se depararem com a cena.

—... Se beijando? – Rachel completou.

— Não, pelo menos há um segundo atrás não! – Danilo disse embasbacado.

— Então... A gente chama ou deixa?

Ambos se olharam.

— Chama? – Danilo supôs. — Eu não gosto de atrapalhar milagre, mas... Eles estavam doidos pra ver você também!

— Aham... Eu estou vendo!

Danilo riu e Rachel também, o que fez Stark e Vickie pararem. Quando repararam que estavam sendo observados, se soltaram rapidamente. Stark foi o primeiro a explodir.

— RAQUETINHA!!!! – O loiro desgrenhado gritou, pegando Rachel desprevenida e a tirando do chão num abraço.

Rachel riu dele, todo pintado e borrado, assim como Vickie.

— Nossa! Até parece que eu sumi por um século. Tanto amor! – A morena falou ao ser posta no chão.

— Mas é claro! Eu te amo muito, muito! Muito, muito, muito, muito, muito!

— Tá bom, eu já entendi! Agora... Vickie!

Rachel se virou para a amiga e ambas se abraçaram com bastante força.

— Não imagina o quanto eu gritei! Foi tão tenso! Oh, Deus! Como você está? Está muito machucada? – A loira disparou.

— Não muito, podem ficar tranquilos todos vocês! – Rachel garantiu.

— A Vickie também quase perdeu a voz por outra razão também! – Danilo comentou.

— Qual? – A loira falou.

— Quase te roubaram a língua, não foi?

Danilo e Rachel riram enquanto Vickie e Stark assumiam a pior cara de culpados.

— Eu vou me vingar de você, Danilo Luxer! – Vickie ameaçou.

— Ora, por quê? É você quem vive tirando graça da minha cara todo dia! Aceita uma, querida! – O moreno disse e planou um beijo na bochecha da amiga. Num outro segundo, já estavam rindo dele. — O que foi já?

— Você ficou sujo de batom! – Vickie disse e zombou, mostrando a língua.

Danilo pareceu a boneca Emília. Rachel continuou rindo.

— Quer que eu limpe pra você? – Ela ofereceu.

Stark rolou os olhos:

— ÓMITO! É outra usando a tática do batom!

— Seu CRETINO! ENTÃO ERA UMA TÁTICA? – Vickie surtou, fazendo os amigos entenderem e rirem.

— Não era, mas... Funcionou! – Stark respondeu cinicamente e viu Vickie ficar encarnada.

— Ora seu... Ora seu... CAFAJESTE! – A loira se meteu a correr a trás de Stark com a mão pronta para tapas, enquanto o ele tentava fugir, escapando festa adentro.

— Eles têm algum jeito? – Danilo perguntou rindo.

— O deles. Mas pelo menos é um jeito... – Rachel suspirou e olhou para o garoto, que tinha os olhos na festa. — Não acha?

— Todo mundo tem um jeito, Rae... A gente só precisa... Achar a frequência.

Danilo e Rachel se encararam. Ele sabia que ela entendeu a frase toda, porém, Rachel só queria ter certeza de que Danilo a falara de propósito.