-O quê?!Mas você deveria estar dormindo!!

-E você também.-Disse ele em um tom frio.

-Deixe-me ir!-Gritou ela.

-Ora querida...É o dever de uma esposa acompanhar seu marido em qualquer momento!

Ela se soltou, mas ele a prendeu de novo, dessa vez a imobilizou segurando seus braços.Por que ele sempre tinha que ser mais forte?Por quê?

-Eu te odeio!Eu não quero e nunca quis ser a droga da sua esposa!-Gritou ela.

“Não posso perder tempo, daqui a pouco o fogo da lareira vai consumir todo o hall...Não!O galão de gasolina vai espalhar fogo por todo o andar debaixo,é uma questão de minutos até que ele chegue até aqui!”.

Mas ele continuava a segura-la,sem se importar com o fogo que logo chegaria até eles.

            -Me solta!Eu não tenho tempo!-Ordenava ela.

            -E você acha que eu tenho?Deveria ter considerado o fato de que eu não tenho muita tolerância a medicação...Você deveria ter usado o dobro de morfina.Não é?-Disse ele em tom de desdém.

            -Que se dane!Se você me soltar ainda temos tempo pra sair daqui!

Depois de dizer isso, ela se deu conta do que fizera.

“Não acredito que disse isso... Eu só posso estar louca!”.

Ele a olhou incrédulo.Teria ele realmente escutado aquilo?Ele fez uma pausa, refletiu e então finalmente falou.

-Não creio que haja mais razão para continuar a viver assim.-Proferiu ele friamente.

-Como assim?

-Olhe para você!Você acha que conseguiria viver normalmente com esse seu vicio?

-Eu poderia para quando quisesse!Eu nunca quis realmente tê-lo!-Disse ela sem pensar...Cometendo outra vez uma falha.

“O que eu disse! Não! Espero que ele não tenha ouvido!”.

Mas ele a escutou e se lembrou de quando a ensinou a queimar formigas.

Lembrou-se do verão em que ela queimou uma boneca na sua frente, ela devia ter uns 12 anos...

‘-Primo!Primo!Veja!Isso é bem mais legal do que queimar formigas!

-O que você está fazendo!Você pode se queimar!

-Eu só queria que você me desse atenção...

-Tudo bem, mas isso é perigoso.Me dá isso aqui,por favor,sim? Disse ele pegando a boneca com os cabelos em chamas de suas mãos.

-Tudo bem.’

Ele parou, congelou.Tentou entender a gravidade de seu ato.Tentando encontrar uma razão, uma saída talvez...

-Foi tudo a minha culpa, não foi?Quer dizer, esse vício foi minha culpa...-Murmurou ele.

Para o desespero da nossa incineradora.

-Você, só fazia aquilo para ganhar a minha atenção, não é?-Continuou ele.

-Não sei do que você está falando, será que dá pra você parar de me enrolar, eu não quero morrer, sabia?

Ela aproveitou do momento em que ele estava atordoado e se levantou.Mas ele a derrubou na cama e prendeu seu rosto com as mãos.Obrigando-a olhar para sua face.

-Você sempre quis atenção, não é?Seus pais nunca lhe deram tiveram tempo para você, e eu só ajudei a piorar tudo te mostrando essa forma de conseguir olhares...Meu Deus!Isso é tudo culpa minha!

-Isso pode ser verdade.Isso é tudo culpa sua, mas é minha também.Quando vi que isso dava resultado eu comecei a praticar mais vezes.E começou a sair do controle,isso me dá prazer sabia?Você criou um monstro.Está feliz?