Amor, Calibre 45 escrita por LastOrder, Luciss_M


Capítulo 5
Too close


Notas iniciais do capítulo

"O elevador aos poucos, ficou completamente lotado, deveria haver umas dez pessoas tentando dividir o pequeno espaço disponível, e foi pelo excesso de pessoas que Thereza não percebeu que o homem que tanto procurava estava a menos de um metro dela."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/101622/chapter/5

Sede da família Bolevuc

18/12/2007

No estacionamento subterrâneo do prédio que era a sede das empresas Bolevuc, mais especificamente no subsolo três, havia um porsche amarelo. Dentro dele, uma jovem de vinte anos utilizando um longuete azul marinho e saltos pretos, procurava desesperadamente algo no porta luvas.

-Mas você não disse que conseguia arranjar o gravador? – Gary a repreendia pelo telefone.

- Eu arranjei a droga do gravador, eu só... – Tessa tirou toda a papelada de dentro do compartimento. -... Achei! – Pegou o gravador na mão.

- Certo, você ainda se lembra o plano?

-Claro que sim. – Disse indignada. – Fui eu quem o planejou.

- Sim, é verdade, mas só estou confirmando, ainda acho que não devia fazer isso sozinha.

Tessa revirou os olhos e ajeitou o cabelo pelo retrovisor.

- Não se preocupe Gary, esta tudo sobre controle, eu sei me virar.

- Aham, eu já vi como você sabe se virar Thereza, lembra da última vez que você me disse isso, quase que um prédio desabou e cima de você!

Engoliu em seco, sabia que Gary nunca se esqueceria disso.

- E quando você quase colocou fogo numa casa? Sorte que estava vazia, infelizmente você queimou todas as provas!

- Ei! Não se esqueça que isso foi um acidente! Eu não sabia que havia gasolina no chão da cozinha.

- Talvez, mas isso não justifica o que aconteceu quando você acidentalmente...

Tessa já sabia o que Gary ia dizer, e o cortou.

- Gary – Imitou um barulho de chiado. – Tenho que desligar. – Fez novamente. – Estou entrando num túnel.

- Nem pense em desligar esse telefone, menina! Eu sei muito bem que não há túnel nenhum...

Ela não deixou que o colega terminasse de repreendê-la, desligou o celular e o colocou na bolsa. -

-----------*---------

Apartamento de Miguel

18/12/2007

“ - Onde está garoto? – O homem barbado abriu a porta da casa de seu sitio na zona rural de uma cidade próxima a Londres.

Miguel apareceu na sala, atendendo o chamado daquele que havia destruído sua família, nutria um ódio terrível por aquele homem, mas mesmo assim tinha medo dele. Não entendia por que o havia levado para morar com ele.

- Venha comigo. – Disse e saiu.

Miguel correu atrás dele.

Ambos foram para os fundos do terreno da casa onde a picape velha estava estacionada, de lá o homem tirou uma mulher de cabelos castanhos enrolados e a amarrou numa das arvores. Marcas de hematomas se espalhavam por quase toda a sua pele.

Miguel encarava aquela cena assustado. O homem parou a suas costas e lhe passou uma pistola.

- Mate-a. – Ordenou, a voz tão fria quanto seu olhos azuis.

Os olhos do garoto se arregalaram, de repente a arma parecia pesar toneladas em sua mão. A mulher chorava e implorava pela vida.

- Não,eu não posso. – Sussurrou, mais para si mesmo do que para o homem.

- Eu não quero saber! – Disse furioso. – É uma ordem, Miguel! Mate-a agora!

- Não! – Gritou sentindo lágrimas escorrerem pelos seus olhos.

Ele tomou a arma das mãos do garoto e atirou na mulher, seu sangue respingou em ambos.

- Você é fraco! – Falou e virou o punho para dar uma bofetada no rosto de Miguel com tanta força que o derrubou o chão. – Ouviu o que eu disse?!!

Levantou-o pelo colarinho da camiseta apenas para poder acerta-lhe um murro na boca do estomago.

- Dá próxima vez que eu disser para matar, você mata! – segurou os cabelos negros do garoto e o tirou do chão novamente para que pudesse encarar aqueles olhos azuis idênticos aos seus. – Não vou admitir que se torne um fraco. Esse mudo é dos fortes, somente nós conseguimos sobreviver. É bom entender isso. Senão eu mesmo vou matar você.

Jogou-o no chão de sangue e caminhou para dentro da casa deixando Miguel sozinho, viu o cadáver a poucos metros de si, não sabia o que era pior, a dor em seu corpo ou a dor em sua alma.”

- NÃO! – Miguel acordou com um pulo de mais um de seus pesadelos rotineiros.

Olhou em volta rapidamente, confirmando a si mesmo que tudo havia sido um sonho gerado por suas lembranças, inspirou fundo e sentiu a dor de seus pontos.

O relógio marcava uma da tarde. Levantou-se e foi até o banheiro, tomou os antibióticos que Sarah havia lhe receitado para a infecção.

Fitou tudo a sua volta, não sabia por que, mas havia acordado com uma estranha sensação de perseguição.Talvez tivesse algo a ver com aquela maldita entrevista que Anne Bolevuc havia feito na tarde passada, ele tinha certeza de que aquela garota iria usar essa historia para chamar atenção.

E isso não seria nada bom, para ele pelo menos.

Resolveu então que teria que falar com Louis e alerta-lo sobre a boca grande da filha caçula, antes que a policia começasse a bater em sua porta.

Suspirou. Miguel definitivamente odiava a policia. Ela sempre estava ali para dificultar seu trabalho.

------------*-------------

Sede da família Bolevuc

18/12/2007

Thereza havia ficado um tempão esperando ser atendida por Louis Bolevuc, quando conseguiu entrar na sala, fingiu ser uma exportadora de jóias interessada em fazer um acordo com ele, ela sabia que Louis conseguia toneladas de ouro da África através do mercado negro.Todos sabiam, mas ninguém conseguia provar.

Quando ele saiu da sua sala para atender a um cliente importante, Tessa rapidamente procurou o lugar perfeito para esconder o gravador, terminou por deixá-lo dentro de um vaso de flores perto da janela.

Assim que Bolevuc voltou, fingiu ter um compromisso urgente na Índia, e disse que voltaria o mais rápido possível.

Despediram-se com um breve aperto de mãos e assim que Thereza saiu da sala, praticamente correu para o elevador, não via a hora de colocar aquele gravador para funcionar.

O elevador aos poucos, ficou completamente lotado, deveria haver umas dez pessoas tentando dividir o pequeno espaço disponível, e foi pelo excesso de pessoas que Thereza não percebeu que o homem que tanto procurava estava a menos de um metro dela.

----------*----------

Sede da família Bolevuc

18/12/2007

Miguel tomou um banho rápido e vestiu uma camisa de mangas compridas azul clara e calça jeans, antes de ir até o prédio onde encontraria Louis Bolevuc. Estacionou o carro na rua e seguiu para o prédio, entrou no elevador lotado que descia para os subsolos.

De todos os estacionamentos o subsolo um era o mais utilizado, pois era o que ficava mais perto do térreo, então Miguel não ficou surpreso quando todas as pessoas do elevador saíram, agora só havia ele e uma mulher que falava no telefone.

- Claro que sim. – Dizia. – Olha, você precisa confiar mais em mim, eu disse que tudo estava sob controle.

Ele não estava realmente interessado na conversa, muito menos na mulher que estava ali, a única coisa que queria era que o elevador chegasse logo no subsolo três, para que pudesse voltar a subir o quanto antes.

Um dos grandes problemas de Miguel sempre fora essa sua tendência à claustrofobia, andar de elevador era um tormento, mas subir trinta andares até a cobertura era ainda pior.

- Tudo bem, tchau. – A mulher loira ao seu lado desligou o celular e o guardou na bolsa.

Ambos ficaram encarando a luz indicando que o subsolo três agora estava bem próximo.

De repente o elevador chacoalhou-se violentamente fazendo com que Miguel e Tessa tivessem que se segurar nas barras de apoio na lateral da cabine.Quando a maquina se estabilizou, as luzes estavam apagadas e era evidente que estavam presos no meio do caminho.

Tessa franziu o cenho, lá se ia sua onda de boa sorte. Sua maior preocupação agora era pensar no que faria enquanto o elevador não voltasse a funcionar.

Miguel, por outro lado, começava a sentir o inicio do pânico por estar preso num elevador, uma voz dentro da sua cabeça lhe dizia que este poderia cair a qualquer momento, enquanto outra lhe dizia que nunca sairia de lá.

Seu coração batia fortemente contra seu peito, já sentia o suor frio escorrer-lhe pela testa. Pegou o celular.

- Miguel? – Louis atendeu.

- Estou preso no elevador do prédio, perto do subsolo três. – Respirava fundo tentando se acalmar, algo que já sabia ser impossível.

- Sim, já estou ciente do problema, os mecânicos chegarão em breve, não se preocupe.

- Certo. – Disse descontente, provavelmente ficaria o dia lá dentro. Desligou o celular e o pôs no bolso da calça.

Fechou os olhos e limpou o suor com a manga da camisa.

- Você está bem? – Perguntou Tessa.

Miguel se virou para encarar sua acompanhante pela primeira vez, e por um curto momento se esqueceu da situação em que se encontrava. Tinha a estranha sensação de já ter visto aqueles olhos em algum outro lugar, embora nunca realmente se lembrasse de ter visto olhos tão bonitos como aqueles.Tão brilhantes, exalavam vida e felicidade, algo de que há muito tempo se esquecera.

Quem era ela?

- Sim. – Disse simplesmente.

(...)

Três horas haviam se passado, ambos estavam sentados em cantos opostos da pequena cabine escura e fria, o aquecedor havia sido desligado também.

Tessa abraçava os joelhos tentando entender o que havia sentido quando aquele rapaz a havia encarado com aqueles olhos azuis tão claros. Ela tinha quase certeza de já tê-los visto em algum lugar, mas não eram tão frios quanto os do homem ao seu lado.

Ela girou a cabeça discretamente pra o seu lado direito.

Miguel não estava muito bem, suava por todos os poros de seu corpo, seu coração parecia querer abrir um buraco em seu peito e saltar para fora. Sua boca estava seca.

Olhava de um lado para outro, as paredes pareciam fechar-se sobre ele, a cada minuto estavam mais próximas. A respiração acelerada, os músculos tensos, todos os sintomas de quem enfrentava uma crise de pânico.

Era uma questão de tempo até Miguel se jogar contra a porta do elevador e tentar abri-la a murros e ponta pés.

Fechou os olhos com força, como sair dali?

- E então, o que um claustrofóbico faz num elevador? – Thereza estava ajoelhada de frente para Miguel procurando algo em sua bolsa.

- Eu não sou... Claustrofóbico. – Disse encarando a mulher a sua frente, com certa curiosidade.

-Aham, claro que não. – Tirou uma cartela de comprimidos de dentro da bolsa. – Tome.

Miguel franziu cenho.

- Não faça essa cara, são calmantes, vão inibir os sintomas do seu ataque de pânico. Se você tomar um não vai morrer.

Pegou o remédio da mão da jovem e o levou a boca, não sabia por que, mas algo lhe dizia que podia confiar nela.

- Se você fechar os olhos não vai conseguir ver as paredes se fecharem. – sorriu inocentemente.

- Você parece entender bem dessas coisas. – Fechou os olhos, o remédio já fazia efeito.

- Meu irmão é claustrofóbico. – Pegou um lenço dentro da bolsa e o passou sobre a testa de Miguel, ele não reagiu ao toque inesperado.

- Eu já disse que não sou claustrofóbico.

- E quem aqui disse que você é?

Riu fracamente, aquela garota sabia como responder.

Tessa passava o lenço pelo rosto de Miguel sem saber quem realmente ele era, nunca iria imaginar que aquele garoto fosse o assassino que a estava atormentando com seus crimes de mestre.

Contava as suas respirações, poderia jurar que estava dormindo agora. Assim que retirou o lenço sobre a testa de Miguel, se deparou com olhos de gelo que a encaravam no meio da quase escuridão do elevador.

- Se sente melhor? – Perguntou vendo que ele não deixava de olhá-la.

- Sim, obrigado.

A grande chacoalhada que a máquina deu em seguida fez com que Tessa perde-se o equilíbrio e caísse sobre Miguel, apoiada em seu peito. Ele segurava a cintura da moça, um reflexo para evitar que ela caísse e se machucasse.

Havia realmente se preocupado com alguém?

- Desculpe. – Ela sussurrou. O rosto muito próximo ao seu.

- Tudo bem.

O coração de Thereza estava descompassado, aquilo a assustava; Não estava acostumada a lidar com emoções tão fortes.

Ele iria beijá-la? Talvez.

E ela corresponderia? Muito provavelmente.

As luzes da cabine se acenderam cortando o magnetismo que parecia puxá-los para mais perto, despertaram e se deram conta do que estavam prestes a fazer.

Thereza se afastou rapidamente levantando-se, Miguel imitou os movimentos. Ambos estavam constrangidos demais para encarar um ao outro ou falar qualquer coisa que fosse.

A porta do elevador se abriu, muitas pessoas esperavam ansiosas do lado de fora, aquilo parecia mais uma cena de resgate do que um pequeno problema técnico.

Thereza e Miguel foram levados para lados opostos por paramédicos, e se perderam na multidão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor, Calibre 45" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.