Amor, Calibre 45 escrita por LastOrder, Luciss_M


Capítulo 23
A rush of blood to the head


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas cheguei!
Cap bem grande pra ninguem fla mau rsrsrsrs
bjs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/101622/chapter/23

Chicago

24/01/2010

A neve caia sem piedade nas ruas e sobre as cabeças de quem se aventurasse a sair naquela noite. As poucas luzes das ruas começavam a ser acesas. Chicago não estava mais tão iluminada quanto estivera há algumas semanas na época cálida das festas de final de ano.


A enorme placa de uma lanchonete brilhava alto quando a porta de vidro se abriu deixando sair um homem de pouco mais de vinte e cinco anos. Caminhou a passos duros pela calçada e nem olhou para trás quando notou o olhar que o acompanhava pela janela. Não queria mais pensar nela.


Thereza suspirou baixo mexendo inconscientemente numa das pontas dos cabelos loiros, que agora lhe caiam até a base das costas. Pegou o celular da bolsa que repousava no estofado ao lado. Esperou.


– Tessa? – A voz da amiga albina soou do outro lado da linha.


– Odê, eu queria saber se você está livre para sair hoje?


– Por quê? Você não ia sair com Raphael hoje?


Ela soltou um novo suspiro cansado.


– É... Eu ia... Mas...


– Ah! Tessa! – Odette exclamou. – Por favor, não me diga que você conseguiu estragar tudo de novo?!


Tessa pôs a mão na cabeça, apoiando o cotovelo na mesa, como se o peso do mundo estivesse em suas costas, esperando para esmagá-la a qualquer momento.


Não tinha desculpa para isso. Sabia que a culpa era sua, só sua. Raphael era um homem bom, não a merecia. Não merecia sofrer como tinha certeza que estava sofrendo ao lado dela.


– Eu... Eu... sinto muito...- Murmurou, a voz grogue dava indícios de pranto.


– Olhe... Não precisa ficar assim, há muitos outros homens por aí, certo?


Uma lágrima desceu pelo rosto da loira.


– Mas eu só quero um deles, Odette.


Era a vez da albina suspirar, sentia pesar pela dor da amiga. Já fazia dois anos, e agora começava a se perguntar se realmente ela superaria algum dia.


– Tessa, já conversamos sobre isso...


E como haviam conversado. Sentia dor de cabeça só de se lembrar de todos os sermões e discursos que Odette lhe havia dado.


– Certo, tem razão.


– Ótimo, vou encontrar você na sua casa, pode ser?


Tessa concordou com um murmúrio e desligou o telefone. Pagou a conta e após por o casaco saiu em direção ao seu apartamento.


A rua que levava para sua casa estava escura e silenciosa, poucas pessoas andavam pela rua, mas isso não era capaz de assustá-la, já era uma agente especial do FBI, não tinha mais nenhum supervisor, os casos que se envolvia eram sempre confidenciais e até mesmo respondia por um codinome o qual ela achava extremamente estúpido.


Olhou para o relógio de pulso, era dia 24 de janeiro,suas férias já estavam acabando, em pouco tempo teria de voltar para Washington, voltou sua atenção para a neve que caia fina sobre sua cabeça, agarrou-se mais no agasalho.


Suspirou, simplesmente não conseguia parar de pensar nele. Às vezes tinha vontade de acordar com amnésia para não ter que continuar sofrendo daquele jeito.


Parou de repente quando viu para onde seus pés a haviam levado, não percebera que havia caminhado tanto, mas isso nem importava agora, muito menos o fato que Odette odiava esperar e que em breve seu celular tocaria impaciente.


O prédio de vinte andares continuava o mesmo, a janela do seu apartamento continuava escura, e Tessa sabia que nunca mais veria a luz se acender por detrás da cortina.


Segurou a alça da bolsa com firmeza e voltou a fazer o caminho para sua casa, sabia que não fora uma boa idéia voltar para Chicago de qualquer jeito.


Eram nove da noite, faltavam poucos metros para que Tessa chegasse a rua onde ficava o apartamento que alugava quando ia passar as férias com a família. Estava pensando em onde Odette pensaria levá-la naquela noite fria para se divertirem quando ouviu o barulho de passos abafados e o som estrondoso de metal caindo.


Virou-se num ímpeto e franziu o cenho. A rua estava deserta a não ser por um cão de rua que revirava a lata de lixo a procura da sua próxima refeição. Tessa soltou um suspiro de alívio, havia ficado realmente nervosa desta vez.


No entanto, quando se voltou para continuar seu caminho, foi surpreendida por dois braços que a puxaram com força para a penumbra do beco ao lado da calçada.


Deixou cair a bolsa no chão para poder se defender do seu agressor com mais facilidade, se remexia de um lado a outro tentando se livrar daquele aperto que com certeza deixaria marcas roxas em seus braços.


– É melhor se comportar, loirinha. Não queremos que nada de ruim aconteça, certo? – Thereza parou de repente ao sentir a lâmina fria da arma contra suas costas. Não podia acreditar que era ele.


– O que quer de mim? – Tentou evitar deixar que o medo que sentia ficasse explicito em suas palavras.


A risada de Boris fez com que um arrepio de pavor passasse por sua coluna, o que faria agora?


– De você? Nada. – A sua voz ficou mais séria quando disse as palavras seguintes. – Eu apenas tenho contas a acertar com alguém que você conhece.


Ela virou o rosto para encará-lo e a última coisa que foi capaz de ver foi um par de olhos azuis tão frios quanto gelo cheios de ódio e rancor, os olhos de um assassino.








Penitenciária Saint Dominic Kai, Texas.

07/02/2010



– Muito bem, Miguel, vamos começar?


A voluntaria era uma mulher de cerca de quarenta e poucos anos, levantou seus óculos exageradamente finos que lhe caiam pelo nariz e dirigiu seu olhar do seu caderno de anotações para o paciente.


– Então...


Miguel permaneceu em silêncio, se havia algo que odiava mais do que hospital, mais do que médicos, era, sem dúvida, psiquiatras, por que eles simplesmente queriam saber de tudo o que havia acontecido em sua vida? Queriam chorar pela sua infância perdida? Dizer um eu lamento pela morte de seus entes queridos?


Como se precisasse daquilo. Eram tão medíocres.


A mulher soltou um suspiro, já conhecia Miguel, e ele era o mais difícil de lidar. Em casos normais, os detentos rebeldes desabafavam depois de duas os três sessões... Mas ele... Já fazia dois anos.


– Certo então, vamos começar de onde paramos da ultima vez.– Se endireitou na poltrona enquanto fingia ler as anotações, olhou para Miguel, ainda inexpressivo no sofá a sua frente. – Ainda anda tendo alucinações?


Ele suspirou.


– Sim


Antes eram apenas pesadelos com ela. Mas agora... Eram como se seus sonhos o perseguissem durante o dia, o assombrando por qualquer lugar que fosse. Sem descanso.


– Miguel, já parou para pensar que isso pode ser resultado das ações que você cometeu?


– Você acha que eu me arrependo de ter matado todas aquelas pessoas? – O tom em sua voz deixava transparecer como aquilo era ridiculamente engraçado para ele.


– Diga-me você, se arrepende? – Ela continuava impassível.


Endireitou-se apoiando os braços sobre os joelhos.


– Me arrependo tanto que se eu tivesse uma arma aqui você já estaria morta. – Sorriu malicioso ao ver a expressão de espanto no rosto na médica. – Não vai anotar isso, doutora?


Ela engoliu em seco antes de se recompor, desde a primeira sessão descobrira que os olhos de Miguel eram capazes de paralisá-la de medo, ainda mais quando ele a ameaçava assim.


– Não, não será necessário. – Respirou fundo. – Certo, então vamos tentar começar de novo... Hã, que tal me dizer algo sobre sua infância.


Miguel se jogou sem vontade sobre o estofado.


– E que tal você me dar a receita do medicamento logo para eu poder ir embora?


– Não é assim que funciona, Miguel. – Colocou a caneta sobre a mesinha ao seu lado. – Não posso simplesmente lhe dar um remédio sem saber qual é a origem do problema.


Passou a mão pelos cabelos, realmente, quanta inutilidade. Perdeu o olhar em todos os bibelôs que havia num canto da sala. Talvez a única sala descente daquela penitenciaria.


– Por que é mesmo que você está aqui? – Perguntou irônico.


– Eu só posso te ajudar se você me ajudar.


Seus olhos se voltaram para a psiquiatra.


– Você só quer uma historinha para contar para suas amigas quando for tomar café. – Disse seco.


Ela suspirou, tão rebelde. Pegou uma pasta na mesa ao lado.


– Tudo bem, se não quer conversar sobre sua infância... – Abriu a pasta e de dentro dela tirou um pequeno bloco de folhas. Colocou em cima da mesa que havia entre eles. Os olhos de Miguel se arregalaram. - ... Vamos conversar sobre isso?


– Onde diabos conseguiu isso?! – Pegou o objeto e o folheou rapidamente para ver se nenhuma pagina havia sido arrancada. Há três dias havia dado pela falta do seu bloco de desenhos, mas nunca imaginaria que aquela médica o havia pego.


– Entenda, Miguel, você quase não fala sobre sua vida antes da prisão. Tive que tomar certar medidas para conseguir informações.


– Roubar minhas coisas?! – Ele estava irritado. Havia ganhado aquele bloco e um lápis há um ano por bom comportamento. Também fora a ultima vez em que havia podido falar com Gary Thompson e ter noticias dela.

– Não vai me dizer quem é ela? – A mudança de assunto fez com que Miguel ficasse sem palavras pela primeira vez em uma daquelas sessões. E a doutora soube que aquele era o ponto que tanto estava buscando.


– Eu... Eu... Não tenho nada para falar sobre isso. – Desviou o olhar para um dos bibelôs no canto da sala.


– Você a conhecia, Miguel?


Ele segurou o bloco com mais força entre os dedos. Memórias que achou que estavam esquecidas voltavam ainda mais sólidas e só conseguiam machucá-lo mais.


– Eu não quero falar nisso. – Murmurou.


– Você a matou?


Ele se levantou subitamente encarando a mulher que segurou com força a pasta em suas mãos, os olhos azuis brilhavam numa raiva contida.


– Você não sabe de nada! Eu nunca a machucaria, está entendendo?! NUNCA! – Bradou. Os nós de seu punho brancos pela força que usava para se manter no lugar.


– Então por que ela é tão importante para você? – E foi desarmado.


Não queria dizer para aquela estranha o que Thereza significava para ele, ninguém entenderia o tamanho do seu sentimento. Ninguém entenderia o sacrifico que teve que fazer ao deixá-la ir. E como uma parte sua se arrependia todos os dias por isso.


Sentou-se no sofá, lançou o olhar para um ponto indeterminado no carpete.


– Já disse que não quero mais falar nisso. – Ouviu a médica respirar fundo. – Apenas me dê a receita e vou deixá-la em paz.


–Miguel, já falei que...


– Que droga! Será que você não entende?! – A mudança inesperada de temperamento fez com que pulasse na poltrona. – Todas as noites eu a vejo morrer de formas que você não pode nem imaginar e eu não posso fazer nada para impedir!


Nesse momento seus olhos deixavam passar um desespero que jamais havia visto.


– E... quando acordo, ela está lá para me culpar pela sua morte, em todos os lugares. – Abaixou o rosto escondendo-o entre as mãos. – Eu não sei quanto tempo mais vou agüentar, então por favor, me dê logo a droga do remédio.


Ele levantou o olhar para fita-la depois de alguns minutos de silêncio, não conseguia entender direito o que havia nos olhos daquela mulher agora.


– Miguel...


E talvez nunca conseguisse, por que no instante seguinte sua atenção foi chamada para o canto da sala onde seu pai estava parado segurando Thereza com um braço, e com o outro apertava levemente uma faca contra seu pescoço.


– Não... – Miguel sussurrou incapaz de tirar os olhos daquela cena.


– Veja só quem chegou mais tarde em casa. –Boris sorria maliciosamente.


A doutora parou na frente de Miguel, segurando-o pelos ombros, tentando chamar sua atenção, sacudindo-o para que retomasse o controle.


Miguel... Corra... – Os olhos verdes soltavam inúmeras lágrimas que lhe escorriam pela bochecha.


E ele podia lutar contra ver aquelas lágrimas e até mesmo contra ver o seu pai a ameaçando. Aquilo não era real, era fruto da sua imaginação masoquista que adorava torturá-lo.


Mas definitivamente, não podia lutar contra ver a faca prateada afundando dentro do estômago de Thereza, o sangue saiu pela ferida e depois pela sua boca até pingar no carpete.


– Não! Tessa!


Ele empurrou a doutora para um lado e nem ouviu quando ela mandou chamar os guardas com urgência. E quando estava a ponto de alcançá-los, a imagem desapareceu sem deixar vestígios.


Miguel caiu sobre os joelhos no lugar onde deveria haver uma mancha de sangue no chão. Passou a mão no tecido, como se busca-se qualquer sinal de que o que vira não fora outro fantasma.


Mas era...


Virou para trás quando ouviu a porta se abrir e viu dois guardas entrando, isso não foi capaz de prender sua atenção por tempo suficiente. Por que ao lado deles havia algo ainda pior.


A arma era a mesma, as roupas eram as mesmas... Os olhos eram os mesmos, o sorriso malicioso também. Mas o rosto... Aquele rosto, não podia ser...


– Não! Não, eu não fiz isso! – Ele se debatia enquanto era segurado pelos guardas. Não queria ver a sua própria imagem com o sangue de Thereza nas mãos. – Pare! EU NÃO A MATEI! Você não vai me convencer disso! Está me ouvindo?!


A agonia era tanta que nem percebeu a médica se aproximando para lhe aplicar o sedativo na jugular. A última coisa que viu foi a sua imagem se aproximando a passos lentos e se agachando para ficar a sua altura.


Você se arrepende?





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor, Calibre 45" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.