Começou o ultimo ano antes da faculdade. Sorte minha que este ano é mais revisão. Sempre tirei notas a partir de oito.

  Hora da chamada. No total vinte alunos. Ano passado eram dezenove. Aluno novo, seu nome era Petruc.

  Ela era meio pálido, com cabelos loiros e olhos castanhos, quase com as mesmas características que Cássio, só que mais bonito. Todas as meninas tentavam falar com ele no recreio, até a Fá e a Lili (Fábia e Liliane). Menos eu, que sou mais reservada. Por essa minha característica, os outros meninos davam em cima de mim. Inclusive Cássio, o segundo.

  Um dia, na hora do almoço, eu estava com a Fá e a Lili, sem os meninos, quando o Petruc foi até nossa mesa:

  —Posso sentar com vocês? – ele pergunta

  —Claro! – respondem elas em coro

  —Pode... – eu falo fria

  Ele senta do meu lado e começa a comer. Elas comem e olham para ele, e eu ignoro sua presença ficando quieta.

  Depois de comermos, eu vou levar meu prato para lavarem, Petruc me segue. Saio e ele continua me seguindo até eu chegar ao jardim, paro e pergunto:

  —Por que está me seguindo?

  —Você ainda não percebeu, Clara?

  —Percebi o que?

  Ele fica quieto. Então ele se ajoelha e vira o cavalo branco:

  —Então, você é ele...

  —Tecnicamente ele sou eu neste momento.

  —Verdade, mas, o que você que você quer comigo?

  Ele se transforma em humano novamente e me empurra contra uma árvore:

  —Não quero nada de você. Eu quero VOCÊ!

  Frase meio sem sentido, mas deu para entender:

  —Mas, você é... É um cavalo...

  —Realmente eu sou. Mas eu também sou humano!

  —Você é complicado, isso sim!

  —E você, é totalmente... Irresistível!

  Pegou pesado agora... Irresistível?!:

  —Serio?

  —Mais sério do que você imagina.

  —O que fez você gostar de mim?

  —Tudo em você, desde os seus quatro anos, quando nos conhecemos, esperei os seus dezoito anos.

  —Só porque eu estou livre?

  —Claro. Ser um imortal solitário é muito triste...

  —Imortal? Legal...

  —Legal nada! É muito chato, mas agora chega de conversa porque eu estou me segurando faz exatamente quatorze anos!

  Ele coloca a mão na minha cabeça e começa a acariciar o meu rosto:

  —Preparada? – ele pergunta

  —Para quê?

  Ele não responde. Em vez disso, aproxima sua cabeça da minha e me beija:

  —Pe... Petruc...

  Depois desta fala eu começo a beijá-lo também. Então, Fá e Lili chegam ao jardim à minha procura. Quando nos vêem dão um gritinho que nos faz parar:

  —EU NÃO CREEEEEEEEEEIO! – grita Fá

  —A CLARA E O PETRUC SE... SE... SE...

  —B-E-I-J-A-R-A-M! 

  —VAMOS ESPALHAR PELO COLÉGIO!

  Elas saem correndo feito malucas:

  —Elas são sempre assim? – pergunta Petruc

  —Só quando vêem algo e ficam muito felizes...

  —Malucas...

  —Total...

  Ele olha para mim, eu olho para ele e voltamos a nos beijar. Quando bate o sinal, paramos e voltamos para a sala de aula.

  Na aula toda, Petruc ficou olhando para mim, como fazia nos anos passados. Ainda não entendi esse grande sentimento que ele tem por mim. Só sei que são verdadeiros, pois, naquela hora em que ele me beijou, senti amor no beijo dele.

  Fim do período. Foi só eu sair da classe que um monte de meninas histéricas chegam em volta de mim e começam a fazer perguntas:

  —ELE BEIJA BEM? – pergunta uma

  —VOCÊS ESTÃO NAMORANDO? – pergunta outra

  —DIZ QUE NÃO! – fala outra

  E mais um monte de perguntas. Não estava gostando nada. Fiquei brava com minhas amigas. Fechei os olhos e tapei os ouvidos para ver se parava o barulho ensurdecedor, quando eu estava quase chorando me sinto ser levantada e colocada no colo de alguém, tiro os dedos dos ouvidos e abro os olhos, quando faço isso vejo Petruc, então ele sussurra para mim:

  —Você está bem? – ele fica com uma cara preocupada

  —Não... – falo e começo a chorar

  Ele olha bravo para as meninas, beija minha testa e sai correndo comigo no colo. Quando chegamos a um lugar cheio de árvores ele se transforma em um cavalo e me leva a uma floresta e depois, para uma casa:

  —Onde estamos? – eu pergunto

  —Na casa de minha família.

  Ele entra comigo no colo e grita:

  —MÃE! TEMOS VISITA!

  —QUEM É?

  —DESCE!

  Então, depois de um minuto, uma águia chega voando, olha para nós, pousa e se transforma em uma mulher:

  —Então você deve ser a Clara, correto?

  —Sim, senhora...

  —Mãe, cadê o pai e a Helen? – ele pergunta

  —Seu pai foi ao Jóquei ganhar um dinheiro extra e sua irmã foi cuidar daquele ninho que ela achou...

  Imagino que ele puxou o pai e a irmã puxou a mãe... Mas é só uma possibilidade:

  —Petruc, tenho que ir para casa antes que meus pais estranhem minha ausência. – eu falo

  —Tudo bem, eu te levo até lá.

  —Tchau senhora...

  —Lane.

  —Tchau senhora Lane!

  Eu monto no Petruc e ele me leva para casa. Chegando em casa, ele volta a ser humano e tenta me beijar novamente, mas eu não deixo:

  —Aqui não Petruc, tchau!

  —Ok, tchau.

  Eu aceno e entro em casa. Dou oi aos meus pais, janto, tomo banho, coloco pijama e vou fazer lição. Depois de tudo isso, vou dormir.

  No meio da noite, ouço alguém entrar pela janela, quando me viro vejo Petruc:

  —O que você está fazendo aqui? – pergunto

  —Ver você por uma hora, como fiz todas as noites desde aquele dia em que nos conhecemos, mas só hoje você me viu aqui. Agora, volte a dormir.

  —Tudo bem...

  Então eu volto a dormir e ele continua a me observar.