Read Between The Lines escrita por LostInStereo


Capítulo 4
Turn it off


Notas iniciais do capítulo

Heey

Finalmente consegui escrever este capítulo. Desculpem a demora =X

Espero que gostem!



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“Tem certeza que você tá bem?” Ouvi Tom me perguntar, preocupado, pela enésima vez naquele fim de tarde. Ele, felizmente, conseguira me tirar do armário, após ouvir meus soluços abafados pelo metal enquanto voltava do vestiário. Agora nos encontravamos na sala de estar de sua casa. Fiz que sim com a cabeça, ele me fitou, aparentemente não acreditando em mim. Acomodei-me no sofá, desviando o olhar dele, sentindo-me extremamente incômodo. “Dan...” ele chamou, em um tom de voz alarmado. Cerrei os punhos, respirando fundo.

“Não quero falar sobre isso agora, tá?” disse, com a voz rouca, devido a enorme frustração que estava sentindo. Olhei em volta, estranhando o silêncio que pairava no ar.  – normalmente estaríamos vendo algum filme ou jogando videogame – E não era só pelo fato de que os pais de Tom haviam viajado. Tinha o pressentimento de que ele estava tentando dar uma de psicólogo, mas não era disso que eu precisava no momento. Provavelmente era possível enxergar o desânimo que emanava de meu corpo, porque depois de alguns segundos silenciosos fui puxado para um abraço apertado. Nesse instante em que meus músculos relaxaram, não consegui mais conter o choro. As lágrimas corriam soltas por meu rosto e os soluços comprimiam minha caixa torácica de tal maneira que parecia que meu peito estava prestes a explodir. Tom não disse nada, apenas manteve seus braços ao redor de meu tronco até que eu colocasse tudo para fora. Aos poucos, me acalmei, e as lágrimas finalmente cessaram.

“Tom?” disse, com a voz falha, enquanto enxugava meu rosto com a mão direita.

“Que?”

“Obrigado.”

“Por que?”

“Por estar aqui”

..

Já passava da meia noite e eu ainda estava na casa de Tom. Logo após minha crise de choro decidimos que seria mehor eu me distrair. Primeiramente ficamos tocando violão.  - Ambos estudavamos o instrumento desde mais novos: ele começara com oito anos e eu com dez. Tom era tão talentoso que eu sentia até vergonha de tocar na frente dele, apesar de ele afirmar que era eu quem tocava melhor. – Logo, ficamos assitindo a DVDs de shows durante um bom tempo, até que pegamos no sono. Enquanto me revirava inconscientemente sobre o sofá, começei a ter um pesadelo.

Eu me encontrava dentro de uma casa estranha, um lugar que nunca tinha visto em minha vida. As paredes eram brancas como pérolas, mas a luz alaranjada e fosca das lâmpadas e o piso de madeira lhe davam um ar um tanto quanto mórbido. As janelas da sala eram enormes e davam de frente ao quintal, que estava muito escuro. Fiquei olhando para lá por um momento, foi quando vi que Dougie estava lá, praticamente imóvel, me encarando.

“Dougie?” disse, em um sussurro quase inaudível. A frieza em seu olhar me causou um frio na espinha. Me aproximei da porta que dava acesso ao quintal e tentei abrí-la, sem sucesso. Tentei todas as janelas. – estava tudo trancado. “Dougie!” chamei, começando a me desesperar. Ele fez uma careta. Engoli em seco. “Dougie, por favor!” Ele olhou para baixo, cerrando os punhos. Esmurrei a janela. Algo dentro de mim me fazia querer sair dali a qualquer custo. Estava assustado. Dougie levantou a cabeça, seus olhos escurecidos pelo desprezo.

“Fique longe de mim.”

Acordei ofegante, sentindo o suor frio escorrer por meu rosto. Vi os olhos castanhos de Tom me observando, curiosos. Estremeci e tentei respirar fundo. Ele me encarou, agora com compreensão em seu olhar. Nada precisou ser dito.

Mas ele não se deu conta de que talvez eu tivesse chegado ao limite.

...

No dia seguinte acordei na mesma hora de sempre, sentindo logo o sono pesando em meus olhos. Passei uma mão por meu cabelo, bagunçando-o enquanto deixava escapar um bocejo. Dirigi-me ao banheiro, abri a torneira e joguei uma generosa quantidade de água em meu rosto. Olhei meu reflexo no espelho. A expressão vazia que se fixara em meu rosto desde o dia anterior havia me tornado irreconhecível.

Como se isso fizesse alguma diferença.

Voltei a meu quarto, abri meu armário e peguei um jeans preto, uma camisa xadrez verde e meu All Star preto. Vesti-me rapidamente. Meu subconsciente estava tomado pela indiferença. Era apenas mais um dia de aula. Mais um dia aguentando os filhinhos de papai metidos da escola. Mais um dia aguentando os professores. Mais um dia no qual meu antes melhor amigo me evitaria como a praga.

Depois de um café da manhã leve, fui andando até a casa de Tom, que ficava a uma quadra da minha, para que caminhássemos juntos até a escola. Sempre pontual, ele estava parado em frente a porta, me esperando.

“Você tá estranho.” Constatou ele, enquanto andávamos a passos rápidos, não querendo nos atrasar. Virei o rosto para encará-lo.

“Como assim?” perguntei. Ele franziu a testa.

“Está sério demais.” Afirmou. Consegui ver a confusão em seus olhos.

“Não é nada.” Disse, em um tom de voz baixo. “Só estou cansado, não dormi bem.”

Estávamos agora no corredor lotado de alunos. Peguei o que precisava de meu armário e fui até a sala de aula, sem grandes expectativas de que seria um dia bom. Sentei-me na carteira de sempre e me espreguiçei, enquanto Tom se sentava a meu lado. – Felizmente ele tinha essa aula comigo, então eu não precisava aguentar o professor de física sozinho.

Olhei para a porta e notei Dougie entrando na sala, de mãos dadas com a Frankie. Senti meu estômago revirar de ciúme. Dougie fingiu que não me notou olhando para eles e dirigiu-se com ela até o fundo da sala. Meu olhar os seguiu, involuntariamente. Para meu profundo desgosto, ao perceber isso, ele a puxou para perto e começou a beijá-la vorazmente. Franzi a testa. - Algo me impedia de desviar os olhos daquela cena. – Ao interromper o beijo, ele se virou, olhando em minha direção. Provavelmente queria verificar minha reação. Maldito seja. – Pensei.

“Nem pense em ir tirar satisfação.” Ouvi Tom dizer, repreendendo-me como só ele sabia fazer, ao ver que que estava me mexendo na carteira, agitado. Cerrei os dentes, utilizando toda minha força de vontade para olhar para frente.

Este não seria um dia fácil.

...

O sinal tocou, indicando o fim de mais um dia de aula. A única coisa que me deixava razoavelmente alegre era o fato de que era Sexta-Feira. – Poderia descansar e colocar meus pensamentos em ordem. - Guardei os livros que precisaria para estudar na mochila e coloquei-a nas costas. Tom fez o mesmo antes de se virar para mim com um olhar que demostrava que ele se sentia apreensivo.

“O que foi?” perguntei, confuso.

“Hoje não vai dar pra caminhar com vocé até sua casa.” Ele disse, coçando a nuca. Ergui uma sobrançelha. “É que eu...err...meio que tenho...um encontro.”

“Ah.” Eu disse, um pouco surpreso. “Entendi.” Fiquei apenas olhando-o por longos segundos, até que minha curiosidade foi mais forte. “Com quem?”

“Giovanna Falcone, do segundo ano.” Ele mordeu o lábio inferior, encarando-me. Parecia que estava silenciosamente tentando se desculpar. “Mas, enfim, só queria saber se está tudo bem pra você.”

“Ah, sim...claro.” respondi, dando de ombros, por algum motivo tentando me mostrar indiferente. – Quando na verdade isso tudo estava sendo estranho demais para mim. Nunca tinha me sentido desconfortável falando com ele.

“Tem certeza que vai ficar bem?” ele insistiu.

“Vou sim, não se preocupe.” Lembrei-me das palavras de Dougie, ‘seu guarda costas’ e isso me deixou um pouco aflito. Tom era um grande amigo, mas eu não podia depender sempre dele. “Eu sei me virar.”

Ao sair do prédio da escola, me arrependi de não ter vestido um moletom. Havia começado a chover e eu não tinha com o que cobrir a cabeça. E então decidi que, afinal, isso não importava. – Minha vida já estava ruim o bastante, que diferença faria se eu me molhasse um pouco?

Bom, ao menos, alguém estava feliz em meio a toda essa situação. Feliz tendo encontros com garotas do segundo ano, enquanto eu ia sozinho para casa, no frio.

Parei de andar subitamente, já a duas quadras da escola, por conta do que estava passando por minha cabeça. Era loucura. Eu não poderia estar sentindo ciúme...poderia? - Tentei logo afastar isso de minha mente. Seria ingenuidade demais arriscar a única amizade verdadeira que tinha.

Foi nesse momento que o som de passos atrás de mim me deixou em estado de alerta. O pressentimento de que algo ruim estava prestes a acontecer tomou conta de meu subconsciente e eu me virei, olhando para trás e avistando quatro dos garotos do time de futebol, um deles sendo Travis, se aproximando de mim com sorrisos sádicos estampados nos rostos.

“Olha só, é o Jones veado.” Exclamou Travis, com sua voz naturalmente rouca. Os outros soltaram risinhos. Senti meus músculos enrijecerem, antecipando defesa.

“O que você quer?” perguntei rispidamente.

“Que bichinha estressada.” Ele disse. Fechei a cara. “Temos um recado do Doug.” Permaneci mudo. A expressão deles me disse que aquilo não ia acabar bem. Eles se entreolharam, recuei alguns passos.

Antes que conseguisse processar o que estava acontecendo, eles partiram para cima de mim.

...

Peguei minha chave do meu bolso e destranquei a porta de entrada. Entrei na casa com certa dificuldade, mancando. Minha respiração estava alterada e meu coração estava a mil. Subi as escadas lentamente, deixando escapar gemidos de dor. Entrei no meu quarto e joguei a mochila sobre a cama. Tirei os tênis e minha camisa, agora rasgada, e os larguei no chão.

Com um suspiro, andei até o banheiro. Lavei o rosto. Ao me secar com a toalha, vi de relançe meu reflexo no espelho. Meu cabelo estava completamente bagunçado, o corte em meu lábio estava sangrando e eu agora possuia um olho roxo. Sem mencionar os hematomas que, com certeza, estavam espalhados por meu tronco.

Eu realmente não fazia ideia de quanto mais poderia aguentar. Eu não merecia tudo isso. Nunca tinha feito mal a ninguém, era um aluno médio e nunca me metia em confusões. Não merecia ser tratado como um lixo apenas por tentar ser fiel a quem eu sou.

Não. Definitivamente eu não poderia aguentar mais.

Apertei a borda da pia com as mãos e fechei os olhos por um momento. Foi então que uma solução me veio à cabeça. Era a mais irracional, a mais estúpida possível e talvez a mais egoísta. Mas em minhas condições, não conseguia enxergar outra saída além dessa.

Peguei meu aparelho de barbear e retirei dele uma das lâminas. Ergui o braço esquerdo e respirei fundo.

Seria melhor assim.


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Notas finais do capítulo

Tenso, não? Me digam o que acharam :D