Read Between The Lines escrita por LostInStereo


Capítulo 3
Nice guys finish last


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora =X



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Fazia quase duas semanas desde que Dougie parara de falar comigo. Durante esse tempo, passei a andar com Tom na escola. Parecia que, a medida em que os dias passavam, nossa amizade se fortalecia. E, por mais que os chingamentos e as provocações continuassem constantes em minha vida, eu tentava não deixar que isso me afetasse, pois agora tinha alguém que me ajudava a esqueçer meus problemas.

Eu poderia dizer que as coisas estavam melhorando, não fosse por um pequeno detalhe: os bullys haviam decidido que Tom era tão ‘merecedor’ das ofensas quanto eu, apenas pelo falto de ele ser meu amigo. E era pior quando ele tentava me defender. Não era raro sair da sala para vê-lo no intervalo e encontrá-lo com a cabeça encharcada de suco.

E foi assim que o encontrei em uma segunda feira, em frente a meu armário, tentando furiosamente apagar algo da porta.

“Tom?” chamei. Ele virou-se, sua testa estava coberta de mechas de cabelo molhadas que deixavam escorrer um líquido roxo por seu rosto. – Provavelmente suco de uva. “O que aconteceu?”

“Uns idiotas estavam riscando seu armário.” Ele disse, irritado. “Amigos do Travis. Então eu pedi que apagassem.” Com ‘pedi’, entendi que ele deveria ter feito um escândalo no meio do corredor. “Não deu muito certo.” Ele apontou para o cabelo. Eu deixei escapar um risinho, que fez com que sua expressão de profundo incômodo sumisse por um momento. “Infelizmente, acho que não vai sair.”

“O roxo do seu cabelo?” perguntei.

“Não, anta, o escrito da porta.” Respondeu, rindo. “Claro que não vou ficar com o cabelo roxo, é só lavar que sai.”

“Ah, é uma pena.” Eu disse. “Então não vou poder te chamar de ‘cabeça de uva’.” Ele revirou os olhos.

“Vou fingir que não ouvi isso.” Foi minha vez de rir. Porém, meu sorriso não durou muito tempo, porque quando ele se aproximou, finalmente consegui ver o que estava escrito na minha porta.

Jones dá o cu pro Fletcher.” Li, em um tom de voz próximo a um sussurro. Tom franziu a testa ao notar minha mudança de humor.

“Não ligue pra isso.” Disse, tentando me animar. “Não passam de um bando de retardados.” Ele colocou a mão direita em meu ombro. Consenti com a cabeça e respirei fundo. Ele me deu um tapinha leve nas costas. “Enfim, acho melhor eu trocar isto.” Constatou, puxando o tecido de sua camiseta cinza do Star Wars que estava vestindo. – e que agora estava tão encharcada quanto seu cabelo -  “Ou vou acabar pegando um resfriado.” Ele abriu a porta de seu armário, que ficava ao lado do meu, e revirou suas coisas até achar o que procurava: uma camiseta branca, com a estampa do Coringa. “Se precisar de mim, estarei no vestiário.” Com isso, afastou-se a passos tranquilos, olhando para trás momentânteamente para se cetificar que eu estava bem. Escutei-o murmurar uma música do Green Day enquanto caminhava.

Nice guys finish last

You're running out of gas

Your sympathy will get you left behind

Não pude deixar de sorrir, por conta da ironia da situação.

Segundos depois, enquanto via quais livros precisaria nas aulas seguintes, senti que alguém se aproximava. Não tive nem tempo de piscar e já tinha sido levantado do chão por dois pares de braços fortes. Consegui ver a cabeleira ruiva e desgrenhada de Travis antes de que a porta de meu armário fosse fechada na minha frente, deixando apenas um feixe fraco de luz ao alcançe de minha visão.

...

Passaram-se vinte minutos e eu ainda estava lá, trancado em meu próprio armário. – Aquilo era humilhante. Ainda por cima, estava perdendo a aula de Física, matéria na qual tenho uma notável dificuldade. Teria que me explicar com o professor depois.

Estava ficando abafado lá dentro. Comecei a tentar abrir a porta, empurrando-a, sem sucesso. O silêncio pairava no ar, deixando claro que o corredor estava vazio naquele momento. Engoli em seco. Provavelmente teria que esperar que o sinal tocasse para receber ajuda.

Após mais dez minutos, porém, ouvi um som parecido ao de rodinhas de skate. Escutei com mais atenção. Era definitivamente alguém andando de skate no corredor.

“Douglas, quantas vezes vou ter que repetir?!” A voz alterada do diretor O’Malley ecoou. Não é necessário dizer que, ao perceber que Dougie estava ali, meu coração disparou. “Nada de skate no corredor, ou vou te dar uma detenção!”

“Tá, tá, tanto faz.” Ouvi Dougie dizer, com indiferença em sua voz. O som de atrito do skate com o chão parou.

“Que isso não se repita.” Disse o diretor, sério, antes de que o som de seus passos indicasse que ele se afastou. Fiquei por um momento apenas prestando atenção, até que a ficha caiu.

“Dougie!” gritei, enquanto socava a superfície metálica do armário com as duas mãos, rezando para que ele me ouvisse. “Dougie, eu estou preso!” Senti que ele parou de andar. “Me ajuda!” Ele com certeza conseguiria me tirar dali. – Era o único que sabia a senha do meu armário, além de mim. Ouvi-o dar dois passos, aproximando-se. E então nada. O silêncio permaneceu, aumentando cada vez mais minha frustração. “Dougie...?”

“Peça pro Fletcher te ajudar, ele não é seu guarda-costas?” ele disse, rispidez tomando conta de sua voz. “Eu tenho que ir pra aula.” Com isso, ele se foi. Me deixou lá, sem saída. Cerrei os punhos e tentei conter o choro, sentindo que um nó se formava em minha garganta.

Afinal, ele simplesmente não se importava.


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Notas finais do capítulo

Curtiram o capítulo?
Bom, gente, infelizmente não vai da pra atualzar no fim de semana que vem (ENEM, adoro -n), mas quando der, postarei o próximo capítulo o/



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