Unreachable
18 – Declaração Para Os Pais

Às vezes, o coração nos obriga a contar fatos antecipadamente, de forma que não saberemos se isso nos fortalecerá ou se nos machucará.  Mas, o grande peso na consciência e a liberdade estará fluindo. Foi o que Nicky estava pretendendo. Seus pais estavam na cozinha conversando sobre assuntos gerais da viagem e quem conheceram. Foram citados diversos nomes incomuns. Robinson e eu ainda estávamos no mesmo cômodo – a sala – conversando sobre a idéia que ele tivera:

— Você tem certeza? Não quer esperar ? — Interroguei preocupado e colocando o dedo na boca. A aflição me fazia voltar aos velhos tempos de bebê, Hehehehehehe.
— Esperar mais o quê? Eles precisam saber! — Nicky elevou o tom de voz, fazendo o casal escutar sua fala da cozinha.

— Algum problema, gente? — Perguntou a mãe com um olhar sorridente.

Nicky paralisou seus lábios, engoliu a saliva firme e forte, mantendo a postura de “tudo bem” e falou:

— Quero lhes contar uma coisa, mas irei dizer isso de forma subliminar para que possam entender perfeitamente. A partir do momento que eu começar, vocês já irão perceber do que se trata. — Ele alertou e meu coração já disparava pelo medo, não tive coragem de olhar para os olhos deles.

Então, Nicky começou: seu primeiro ato foi me pegar pelo braço e abraçar-me. Não pude esconder pelo olhar para eles. Encarei-os. Quando senti seus braços me envolvendo, já não me sentia tão temeroso. É como se fosse uma maneira de me proteger... de dizer aquilo por nós dois. Eu amei a sua atitude e por isso, entrelacei os meus braços nele também.

Até então, os pais deles só nos olhavam alegres e às vezes trocavam olhares entre eles.

— Sabe, pai e mãe; durante toda a minha vida eu me sentia o tal. Tirava sempre boas notas no colégio, não fiz nada para que vocês pudessem ter algum arrependimento. Fui o orgulho de vocês e até hoje fico feliz por saber que vocês sempre me apoiaram em tudo.

— Mas é claro, filho. — Disseram eles juntos.

— Mas faltava algo na minha vida... um vazio que não era possível de se preencher. Não importava quantas pessoas estivessem ao meu redor, havia sempre algo no meu coração que faltava. E como era grande! — Nicky fez ênfase na última frase. — Depois de anos, reencontrei a pessoa que poderia preencher todo o meu coração — Ele passou uma das mãos por debaixo da camisa na região do peito onde o coração fica. Senti que elas estavam quentes. Fiquei quieto. —, todo o meu vazio. Essa pessoa... é o Guillermo.

Tomei um susto quando ele falou o meu nome. Arregalei os olhos para seus pais, pensando que veria uma expressão de pavor ou algo do tipo... mas não!

O que eu vi, foi o sorriso acolhedor de pais que sempre quiseram a felicidade de um filho. Eles simplesmente vieram até a gente e disseram:
— Era isso?
— Sim. — Nós falamos.
— Que lindo! Vocês são namorados! — Sua mãe nos abraçou com carinho.

Fiquei em estado de choque! Absolutamente! Onde está a chuva de tijolos ou disparos das armas? Nada aconteceu. A notícia sobre o nosso namoro foi como algo absolutamente normal a eles. Sua mãe me encheu de beijos e seu pai me abraçou forte!
— Guillermo, o garoto da minha vida! — Comemorou.
— Ah, mas por que fizeram tanto suspense? — Sua mãe falou.
— Não entendi também. — Seu pai falou.
— Isso é algo que pais não gostariam de saber. — Nicky informou.
— Ô, meu filho! Mas tudo o que queremos nesta vida é vê-lo feliz. Não importa com quem, seja homem ou mulher. Nós te amamos do jeitinho que é! Nunca quisemos controlar seus sentimentos ou emoções. — Ela falou emocionada. — E agora eu tenho um filhinho novo! — Continuou ela, agora apertando minhas bochechas.

Eu estava vermelho. Sem pensar muito. Tudo aconteceu de uma maneira contrária do que eu esperava. Tive o apoio deles. Estava tudo dentro dos conformes. Meu sorriso foi de alívio.

Não sabia como reagir diante deles. Estava imóvel e deixei que minha expressão falasse por mim. E quando fui ver, ela estava me chamando:

— Vem com a sogrinha, meu garotinho! — Falou ela toda emocionada querendo o meu abraço.