11 – Percepção

Depois da Meia-Noite...

Dois garotinhos estavam em sérios apuros na rua. Felizmente, os encontramos e os trouxemos para nossa segurança. Eles estavam perdidos e muito encharcados. Provavelmente, já estariam ali muito mais tempo que Nicky e eu.

Cinco minutos depois, o temporal se acalmou. Até então não trocamos nenhuma palavra. O gelo foi quebrado...

– Vocês estão doidos de estarem sem a companhia de seus pais. É perigoso demais aqui fora! – Adverti os dois garotos; abaixaram a cabeça rapidamente.

– Sabemos... – Disse um deles.

Havia algo nos olhos dos dois garotinhos que eu não sabia distinguir. O modo em que se olhaVam. A percepção visual para o outro... Como se houvesse um sentimental especial. Nicky também percebeu. Algo neles espelhava-se em mim... Conseguia sentir!

– Tudo bem. – Nicky sorriu. – Como se chamam?

– Eu sou Átila.

– Me chamo Thales.

Nomes completamente incomuns, e ao mesmo tempo eles tinha tudo a ver. Átila era bem fofinho: olhos azuis e brilhosos, cabelos loiros e pouco cacheados, pele clara meio que pálida, tinha um corpo magro – mas estava ideal à sua altura. Thales já era bem diferente do amigo (?). Seus olhos negros refletiam no azul do amigo que o olhava sem parar, seus cabelos eram de mesma cor, sua pele era morena escura e ele tinha um corpo mais avantajado que o outro. Aparentemente, mais velho.

– Qual a idade de vocês? – Indaguei, num tom desconfiado.

– Eu tenho quatorze e ele treze. – Replicou Thales.

Então, eu acertei o meu palpite! Boa! Agora podem bater palmas, virei um vidente de meia tigela. Situação dramática, não?

– Onde vocês moram? – Interrogou Nicky, coçando a cabeça. – Podemos levá-los de moto, assim irão em segurança conosco.

– Rua 4B. – Responderam juntos. Era a minha rua, porém nunca os vi antes, se vi, não lembro.

Nicky e eu nos olhamos por alguns segundos. Cogitamos a hipótese de levá-los junto conosco, mas como pensariam seus pais se os vissem ao lado de dois estranhos? Poderiam pré-julgar-nos como psicopatas – exagerei legal.

Ao voltar nosso olhar para os adolescentes, nos deparamos com uma cena romântica. Era justamente o que eu pensava na primeira vista. Os dois formam um casal. Estavam se beijando apaixonadamente; e abraçados.

Mas espera aí! Há algo de diferente nisso aí... Por Quê...

– … Tiveram essa liberdade de fazer isso perto de nós? – Uma pergunta acompanhada de um sorriso.

– Algo bonito de ser ver, hein Guillermo! – Exclamou Nicky, pegando em minha mão de repente.

Preciso dizer que fiquei envergonhado?

– Por isso mesmo! – Respondeu Thales, focando seus olhos no toque de nossas mãos.

– Vocês são apaixonados! – Átila incrementou.

– Como você sabe? – Nicky perguntou.

Como assim “como sabe”? Nicky gostava de mim? Olhei assutado para ele e rapidamente separei minhas mãos. O fitei diferente.

– Suas mãos...

– Quero dizer... de onde tirou isso? – Nicky reformulou a pergunta, agora com outras palavras.

Nada do que ele dissesse poderia contradizer sua afirmação. Eu sei que é a verdade, assim como sei que também sou apaixonado.

Ficamos em silêncio. Nicky fez conforme planejamos. Após explicar a situação aos pais de cada um, compreenderam numa boa e pediram para adentrarmos a casa e nos secar, uma pequena forma de agradecimento. Os pais dos garotos estavam numa mesma. Parecia uma república.

– Peguem estas toalhas! – A mãe de Thales nos entregou, graciosamente.

– Muito obrigado! – Respondemos.

– Quero agradecer por terem salvado o meu e o filho da minha amiga. – Disse ela.

– Não foi nada. Fizemos o que qualquer um faria. E eles são bos meninos, só precisam tomar mais cuidado ao sair quando o tempo estiver em péssimas condições, como essa. – Eu disse.

Após um ligeiro bate-papo, chegou o momento de irmos embora. Minha mãe ficaria preocupada se ultrapassasse o horário estabelecido. Entretanto, antes de sairmos...

– Guillermo, Nicky! – Desceram correndo, clamando por nossos nomes. A expressão no rosto deles eram de alegria.

– Oi? – Dissemos.

E fomos recebidos por um longo abraço grupal. Pareciam estarem mesmo agradecidos. Achei muito boa a atitude deles. No final, selamos uma nova amizade!

Amanhã tem mais, gente! O próximo episódio será um dos maiores, no quesito de conteúdo e tamanho. E para despertar uma curiosidade:

Episódio Doze – A Grande Declaração!