Eu não sabia se perguntava o que era ou se perguntava se ela estava bem, tudo o que aconteceu comigo  foi diferente do que aconteceu com ela, eu tinha medo de que acontecesse alguma coisa com ela, Bruna é ingênua demais.

_Você está bem Gabi?_Ela me olhava minuciosamente, procurando alguma mudança no meu comportamento eu respirei me acalmando, a olhando seriamente.

_Eu realmente acho que devemos nos preocupar em como sair daqui e não com o que nos estamos lidando Bruna, passou na sua cabeça que o quanto mais nós sabermos mais risco temos de não sair vivas daqui?_Esperei sua reação vendo que ela estava meio que ofendida.

_Na verdade, eu acho que nos tínhamos que saber pelo menos o que está acontecendo, não adianta nós sairmos daqui e depois acontecer o mesmo que aconteceu conosco com outras pessoas.

_E daí? Nós falamos com a imobiliária, sei lá._Falei dando os ombros.

Eu não concordava com o modo que a Bruna estava pensando, eu não queria mais nada na minha cabeça, já é demais estar trancada numa casa mal-assombrada e ainda ter que escutar isso.

_Se você não quer saber mesmo..._Ela parou e me olhou._Eu não estou nem ai._Ela se virou e eu a encarei.

Poxa vida, ela sabe que eu sou curiosa, mas nessa situação que eu estou brava com ela isso é chantagem demais.

_OK, fala logo._Ela me olhou séria e depois soltou tudo de uma vez.

_Eu acho que estamos lidando com um anjo e um demônio._A olhei incrédula. Essas coisas não existem... Nada disso existe!

_Tem certeza? Porque o que eu sei é que essas coisas não existem.

_Eu acho que existem, nossos amigos morreram e o que aconteceu conosco foi diferente, foi... Enfim, nada que acontece aqui nessa casa é normal!_Não respondi nada e olhei ao meu redor.

Essa casa parecia tão comum, como foi se tornar algo assim?

“Que bom que você veio”

Escutei uma voz infantil vindo do corredor, e olhei vendo a escuridão

_Você disse alguma coisa Bruna? _Perguntei aflita.

_Não, por quê?_Ela me encarava e eu fingi desinteresse.

_Nada, é porque eu pensei que você tinha dito alguma coisa.

Bruna não disse nada e nem eu, o pior é que eu sinto que alguma coisa alguém me chamava e eu a conhecia. Eu agora não me sentia ameaçada, me sentia como se estivesse em casa.

_Acho melhor a gente continuar a tentar escapar daqui._Me levantei batendo as mãos no uniforme sujo e arrumando meus cabelos.

_É melhor acharmos algum lugar seguro por que já está ficando de noite.

_Ninguém veio nos procurar Bruna, será que não perceberam que nós duas estamos aqui?

_A sua mãe veio, mas ela foi embora... Agora eu não sei se viram atrás de nós.

_A minha mãe ou a de algum dos nossos amigos devem ter ido á policia.

_E o que a policia poderia fazer aqui? Trazer armas que matam fantasmas?

_Sei lá Bruna, a gente tem que ter pelo menos um plano B se não conseguirmos sair daqui por conta própria...

_Eu tenho um plano!_Ah não, lá vinha os planos doidos e infantis que a Bruna tinha de repente.

_Fala._ A ajudei a levantar e ela se arrumava.

_É mais simples do que parece Gabi, é só falarmos com o anjo e o demônio e pedirmos para sair.

Aff, ela não bate bem da cabeça. Nossa, eles vão deixar a gente sair por ai sem nada em troca? Até parece.

_Tá pirando? Surtou? Você acha que eles vão deixar a gente sair?

_Claro, é uma simples questão de lógica..._Realmente estávamos as duas ficando loucas aqui dentro, pior que eu estava confusa demais para pensar sozinha e ela estava pensando demais e tendo as idéias erradas.

_Que tal a gente ir dar uma voltinha aqui na casa e ver se achamos de novo aqueles quartos? _Perguntei tentando tirá-la dessas idéias malucas.

_Não, já imaginou entrar num outro quarto e ver aquelas coisas nojentas? Prefiro ficar aqui!

_Então vamos fazer o que?_A olhei minuciosamente, alguma coisa estava errada, terrivelmente errada, ela batia os pés... Era um sinal de impaciência e ela nunca fazia isso.

Ela me olhava e praticamente nem piscava, outra coisa errada, e os olhos meio vermelhos.

_Você chorou Bruna?_Perguntei me aproximando de seus olhos e observando de perto, eles pareciam mais claros.

_Eu pergunto o mesmo Gabi, seus olhos estão meio inchados._Se não estivéssemos nessa situação nós duas daríamos risada, estávamos as duas olhando para os olhos da outra.

_Eu não fiz nada Bruna, e você?

_Também não fiz nada.

_O que você acha que está acontecendo dessa vez?_Parecia que algo dentro de mim já sabia mais nada de conclusivo vinha a minha mente.

_Eu não sei, mas não me parece uma coisa boa._Bruna olhava ao redor e eu senti uma brisa em mim.

“Você não pode negar que está com ciúme.”

Uma voz grossa sussurrou em meu ouvido.

_Eu não estou com ciúmes!_Respondi rápido e Bruna se virou para me olhar. Estremeci como se alguém se encostasse a mim.

“Junte-se a mim Gabriela, e seremos felizes.”

Virei-me para a direita e para a esquerda, mas estava só eu e Bruna no cômodo. Eu sentia olhos nas minhas costas e Bruna me olhava assustada.

_Gabi, seus olhos estão estranhos, você tá se sentindo bem?_Ela colocou a mão na minha testa e eu

recuei. Sua pele estava quente demais, parecia que fritava em contato com a minha

- Bruna você está bem? Você está queimando!_Ela parecia mais corada e seus olhos estavam ficando claros

_Claro que eu estou bem! Você que não parece, tem alguma coisa acontecendo.

“Se torne minha, o outro não gosta de você e vai matá-la... Vai virar sua amiga contra você e contra mim!”

_Bruna, tem alguém falando comigo, um homem e eu tinha escutado uma garota também!_Bruna se aproximou enquanto eu caia no chão... Eu sentia uma dor infernal passando pelos meus membros.

Só que de repente, a dor passou e eu abri meus olhos.

Bruna me fitava preocupada e eu sentei no chão.

_Tá tudo bem Bruna, já passou._Ela me ajudou a levantar.

_Tem certeza? O que tá acontecendo? Você tá escondendo alguma coisa de mim?

“Minta”

A voz infantil veio pairando no ar, mentir me parecia tão certo que me deixei levar.

_Não tá acontecendo nada Bruh, não estou escondendo nada._Me virei e por um instante vi um vislumbre de olhos vermelhos no corredor, me peguei sorrindo e complementei.

_Acho melhor agente sair dessa sala._Puxei a mão de Bruna e saímos andando.