Narrado em 3ª Pessoa

Dois dias depois, os machucados de Jessica estavam quase que completamente curados. Ela estava na mesma sala, onde comia e dormia. Luke a visitava todos os dias, as vezes para interroga-la e as vezes apenas para falar dos planos.

-Sei que vai ser ruim para você – ele riu – Mas você terá que chegar em alguns adolescentes metidos, fingir ser amigo deles e depois traze-los para cá.

-Para cá aonde? – ela perguntou curiosa e Luke não notou segundas intenções na voz dela.

-É o nosso próprio Acampamento – ele explicou – Os que apoiavam nossa causa antes da Batalha de Manhattan e que ainda estão vivos vivem aqui, assim como os novos que chegam todos os dias.

-Parece ser organizado – ela comentou enquanto bebia a água – Estive pensando... Se não teria um lugar para mim ficar aqui?

Jessica viu o olhar surpreso de Luke, mas falou com o máximo de sinceridade que conseguia.

-Parece que mudou de idéia – ele sorriu com zombaria – Estava esperando isso, na verdade.

-Esperando que eu me juntasse a vocês?

-Exato – ele sorriu – Você é esperta, Jessica.

-Obrigada – ela falou.

Luke parecia satisfeito. Ele havia esperado vários dias para que finalmente conseguisse levar Jessica para seu lado. Ela seria um trunfo que ninguém iria esperar, todos pensavam que ela seria leal aos deuses. Estavam enganados. Sorrindo compulsivamente ele foi até o garoto de tapa olho filho de Nêmesis que a mesma trouxera de volta do próprio Tártaro.

-Ela finalmente virá para nosso lado – disse Luke vitorioso.

-Demorou – concordou Ethan – Ela será uma boa adição.

-Uma das melhores até agora – disse Luke – Quero que você comece a ensinar os novatos o manuseio da espada. Vou estar um pouco ocupado daqui em diante.

-Claro – ele disse e então gritou – EI NOVATOS!

Luke deu uma breve risada, mas logo depois se calou e ficou sério. Com uma rapidez impressionante ele foi até uma pequena sala perto de onde Jessica estava. Quando entrou, a garota que estava lá levantou os olhos. Ela tinha cabelos pretos lisos com uma franja caída sobre os olhos azuis elétricos e levemente cinzentos. Estava sentada no canto do cômodo abraçando as pernas.

-Elena – ele cumprimentou enquanto trancava a porta atrás de si – Já pensou na minha proposta? 

-Você me pergunta isso todo o dia, mas não merda, não quero me juntar a esse seu Acampamento de loucos do cara...

-Olha a boca – ele a repreendeu.

-Como se você se importasse, idiota – ela rosnou enquanto lançava olhares maldosos para Luke – Não quero, eu já disse. A única coisa que me importa agora é voltar para minha casa.

-Que casa? – ele zombou.

-Vá para put...

-Você tem a boca muito suja – ele disse sorrindo – Mas seria ótima se estivesse ao nosso lado. Você sabe que sendo uma filha de Zeus...

-Ele não é meu pai – ela rosnou.

-É sim, você querendo ou não – ele disse – Você pode tentar melhorar suas habilidades, a garota da sala ao lado, Jessica, vai treinar com você.

-Filha de quem?

-Macária, deusa da boa morte – ele disse com um sorriso macabro – Ela é bem impressionante.

-Não me importa – ela retrucou e Luke começou a se sentir nervoso – Não vou fazer isso.

-Vai sim – ele sibilou – Por bem ou por mal.

-Não – ela desafiou com brilho nos olhos.

-Vai sim – ele disse se aproximando dela para poder encará-la nos olhos – Não quer que machuquemos seu irmão, ou quer? 

-Deixe o Victor fora disso – ela disse, tentando bater em Luke. Ele segurou seus braços e os jogou para o lado.

-Você vai me obedecer? – ele perguntou em voz baixa.

-Vou – respondeu baixinho Elena.

-O que disse? – perguntou Luke irônico – Não ouvi.

-Vou – gritou Elena e então deu um tapa no rosto dele. A marca dos dedos dela ficou no rosto de Luke.

-Vou – foi o grito que Jessica ouviu vindo de uma parede. Ela caminhou até lá e espiou por uma pequena fresta. Havia uma garota com a mão levantada e Luke com o rosto vermelho. Deduziu que ela havia batido nele.

-Nunca mais faça isso – ele disse com a voz raivosa, mas controlada – Você sabe que a vida do seu irmão está nas minhas mãos. 

-Não, por favor – ela disse com os olhos marejados.

-Então você vai me ajudar?

-Vou – ela prometeu – Juro.

-Ótimo – disse Luke satisfeito – Amanhã você vai começar a treinar com Jessica.

Jessica voltou novamente para o lugar de antes com um ponto de interrogação em sua mente. Na verdade eram vários. Quem era aquela garota? Quem era o pai/mãe dela? Por quê era tão importante?

Ela estava tão imersa em pensamentos que nem ouviu a porta se abrir e Luke entrar. Ele estava com o rosto ainda vermelho. Parecia irritado.

-Jessica, Jessica – ele teve que estalar os dedos várias vezes na frente dela para tira-la de seus pensamentos.

-Ahn? Sim? – ela perguntou com o rosto confuso.

-Sei que você viu.

-É, eu vi – ela disse sem a menor ponta de medo estampado no rosto.

-Não vai nem tentar negar?

-De que adiantaria?

Ele deu um pequeno sorriso.

-Você também vai me ajudar?

-Vou, vou sim.

No Acampamento, Lucas estava preocupado. Fazia dois dias que Jessica sumia, e ele achava que ela havia ido embora, mas depois que viu suas roupas no armário, achou que algo aconteceu. No mesmo instante tinha corrido para avisar Quíron, que se desesperou e logo mandou uma M.I. para a mãe dela. A deusa ficou desespera, porque sua única filha havia sumido.

-Lucas? – perguntou Chris, o namorado de Clarisse, a irmã dele – Você está bem?

-Não exatamente – ele disse, enquanto olhava para o mar. Ele ia ali para se sentir mais perto de Jessica, e ela adorava o mar.

-O que rolava entre você e Jessica?

-Nós... – disse Lucas e então sentiu um nó na garganta. Não conseguia pensar nela.

Chris deu uma risadinha.

-Você gostava dela?

-Sim – ele suspirou, enquanto tirava a espada da bainha e começava a girá-la nas suas mãos.

-Hm – foi o que Chris disse.

-Clarisse pediu pra você vir aqui?

-Ela está preocupada com você – foi a desculpa que Chris usou.

-Não precisava.

-Cara, ela é sua irmã – começou Chris – E ela se importa com você.

Depois de alguns minutos de silêncio, Lucas se pronunciou novamente.

-Ela não foi embora por vontade própria. Acho que alguém a levou.

-Também acho isso – concordou Chris – Já disse para Quíron?

-Já – murmurou Lucas totalmente infeliz – Ele disse que isso seria meio impossível e que devíamos pensar que ela precisa de um tempo para si mesma. Mas fala sério, qual garota não iria levar pelo menos uma mochila com roupas?

-Clarisse – disse Chris e Lucas teve que rir. Ele sabia que sua irmã se preocuparia primeiro em por armas e mantimentos na mochila do que roupas.

-Não sei o que fazer! – desabafou Lucas.

-Em relação a quê?

-Tudo – ele disse – To me sentindo perdido ultimamente. Tudo virou de cabeça para baixo...

-Ah – riu Chris – Você está apaixonado.

-Eu o QUÊ? – cuspiu Lucas se levantando de susto – Não estou não.

-Está sim – acusou Chris – Sem olhar demonstra tudo isso que você sente.

-Talvez – ele murmurou, cedendo – Eu não quero...

-Parecer um idiota apaixonado? – zombou Chris e Lucas concordou com um gesto da cabeça.

Longe dali, a deusa Macária estava sentada no trono do seu palácio. Tinha a expressão preocupada, os olhos estavam fundos, inchados e vermelhos. Tudo que ela queria naquele momento era ter sua filhinha de volta, a pequena Jessica Mary Bennet. A deusa soube que ela havia sumido quando Quíron lhe mandara uma M.I. no dia anterior. Desde então ela estava vivendo como uma morta-viva. Visitara seu pai, Hades, e ele jurara que a filha dela não estava morta. A mãe, Perséfone e a avó, Deméter, a consolaram ao máximo.