Des:contados escrita por Miss D


Capítulo 3
Um minuto


Notas iniciais do capítulo

Não sei o que está dando em mim ultimamente. Por favor, por favor, sejam legais, ok? Se vcs quiserem me matar, eu vou entender, mas deixem reviews.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/100141/chapter/3

  Quando não resta muito tempo para o que se tem para contar, parece que as palavras fogem, correm para longe da mente. Ou ficam emaranhadas demais para que se entenda algo.

  Definitivamente, não restava muito tempo àquela mulher, jogada de qualquer jeito em uma viela escura. Ela sequer conseguia pensar em seu nome. Não se lembrava.

  Todo o seu corpo gritava de dor, em protesto. Queria poder se levantar, queria poder reagir, mas não tinha forças. Estava fraca por inteiro.

  Pensava em muitas coisas ao mesmo tempo, enquanto sucumbia lentamente ao torpor. Ele demorava a chegar de uma vez. Ou era o que parecia naquele momento. Ela sabia que não tinha muito tempo.

  Flashes inconstantes apareciam todos de uma vez em seu cérebro. Havia rostos, agora irreconhecíveis naquelas imagens embaçadas, frutos do cansaço, da exaustão. E emoções também. Indistintas, confusas.

  Um gemido escapou de seus lábios quando a dor pulsou mais forte abaixo do tronco. Toda aquela área estava insuportavelmente dolorida, desde as pernas até os quadris. Suas articulações pareciam inúteis.

  Um rosto em particular aparecia mais freqüentemente do que os outros, acompanhado de uma emoção intensa, que apertava no peito. Ela conseguia vê-lo vagamente. O rosto anguloso, regular, os lábios finos, os olhos azuis. Azuis como pedras safira. Ele sorria.

  Podia sentir os segundos se passando, rápidos, constantes. Definitivos. Um vento gélido açoitava seu corpo retorcido e nu. Cortava sua pele, penetrando até sua alma. Ela o escutava assoviar, sussurrando segredos incompreensíveis. Também havia chuva. Uma chuva fina, caindo como agulhas sobre sua tez magra, disforme, impulsionadas pelo vento.

  Aos poucos, aquelas lembranças odiosas foram voltando à sua mente. O caminho de volta da escola, o homem atrás dela, seguindo-a. O medo avassalador que a possuiu. E tudo o que aconteceu depois, como ele a agarrou, forte, rude, inabalável. Dominador.

  E a tortura. Essa era a pior parte, lembrar de tudo o que aquele homem perverso fizera com seu corpo, possuindo-a a força. Fazendo coisas que ela jamais permitiria.

  Coberta de hematomas, todo o seu ser dilatou novamente, ainda mais pungente do que antes. Mais forte, mais insuportável. Respirar doía, pensar doía. Tinha a leve impressão de que, quanto mais se esforçasse, quanto mais tentasse resistir, pior seria. Mais difícil seria suportar aquilo, enquanto estava perto de acabar. Ainda assim, estando semi-morta, tendo sido deixada no meio daquela rua deserta, nua, ferida, e sem nada além da consciência dos últimos acontecimentos em sua vida, ela esforçou-se para recordar-se do resto. Além do sofrimento, além daqueles momentos horríveis.

  Então, como uma luz acendendo-se em meio à escuridão, as memórias alegres voltaram. Ela precisava delas, para poder terminar em paz. Os gestos, os beijos, os carinhos. Aquela felicidade genuína de quando estavam juntos.

  Era isso. Aquele rosto insistente em sua cabeça, aquele dos olhos de safira, era quem a estava esperando. Era quem sempre a esperaria, em sua mente, em seu espírito. Seu amor, aquele cuja emoção era mais forte do que todas as outras.

  Ela se lembrava. Lembrava-se de seu sorriso, do som de sua voz. De quando se conheceram e ele perguntou seu nome, e olhou dentro de seus olhos, sem medo. Do dia em que insistiu em levá-la até o parque, pediu que parasse e fechasse os olhos, ajoelhou-se no chão, como um tolo apaixonado, e pediu sua mão. E depois a beijou. Recordava-se quase com perfeição de sua risada harmoniosa, graciosa, e de como seu coração se inundava de felicidade a cada vez que ele recitava em seu ouvido, pela milésima vez, que a amava.

  E, deitada ali, prestes a morrer, ela sabia que sempre o carregaria dentro de si. A espera pelo casamento havia sido a coisa mais inquietante de sua vida, e agora, quando faltava apenas dois dias, tudo estava perdido, acabado. Mas percebia que eles já eram um só. Que, independente do que acontecesse, ele era o amor de sua vida.

  Um minuto, era tudo o que ainda tinha. Um minuto para pensar, recordar, lamentar... Um minuto de dor ou um minuto de resignação. Um minuto de fé, de esperança. Um minuto para dizer adeus.

  Desejou, apenas naquele seu curto instante final, enquanto seu minuto se esgotava, estar ao lado dele. Visitá-lo em seus sonhos. Beijá-lo. Dizer o quanto sempre o amaria, por toda a eternidade. Porém, não era capaz, ainda estava ali. Largada na chuva, no frio e na dor.

  Uma lágrima lavou deu rosto juntamente com a água da tempestade que desabava sobre sua cabeça, enquanto reunia suas pequenas últimas forças para dizer, com a voz rouca e fraca:

  – Eu te amo. Sempre.

  E assim expirou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpe. Sei que ficou horrível, mas sabe quando aquela ideia não sai da sua cabeça até que você resolva escrevê-la? Essa era uma delas. Preciso da opinião de vocês. Bjuss...