Des:contados escrita por Miss D


Capítulo 1
Henrique e Julieta


Notas iniciais do capítulo

Eu estava deprimida... Não me julguem tanto. Comentem, por favor! preciso de reviews pra sair da fossa...



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  O nome dela era Ana. Nem me lembro qual seu sobrenome, nunca me importei. Por que faria isso? Ela não tinha nada de atraente. Não tinha um corpo bonito, era totalmente insípida. Não havia nada que me interessasse nela.

  Fazia muito tempo que eu sabia que ela gostava de mim, mas ainda era divertido vê-la corar toda vez que eu a flagrava olhando na minha direção. Na verdade, isso logo se tornou bastante lucrativo. Que ela gostasse de mim. A garota fazia tudo para mim, se eu pedisse. Mesmo que depois eu nem olhasse para ela, nem dissesse obrigado, nem nada. Mas ela sempre fazia tudo novamente.

  Eu achava isso uma coisa extremamente imbecil, e até ria, apesar de não ver problema nenhum se quisesse continuar sendo minha empregadinha.

  Eu não tinha realmente nada para fazer. Estava entediado. Foi só por isso que fiquei com ela. Não houve nenhum motivo especial para isso. Era apenas conveniente. Eu tinha acabado de levar o meu primeiro fora, da minha namorada. Nunca tinha levado um fora, eu que dava nas garotas. Acho que foi um pouco de orgulho ferido, também. Nada mais do que isso.

  Não nego que a provoquei.  Talvez tenha até enganado, já que Ana era bem burrinha. Tããão adolescente apaixonada. E eu só queria extravasar, só queria diversão. Ela não pareceu enxergar isso.

  Ana se entregou tão facilmente que fiquei espantado. Eu devia ter sido mais intuitivo a esse respeito, mas não fui. Eu fiz com tudo fosse perfeito, cada olhar, cada toque, cada sensação. Como um conto de fadas. Será que depois de quatro anos seguidos estudando comigo ela ainda não tinha se tocado?

  Não, não tinha. Achava mesmo que eu gostava dela. E, quando me cansei e comecei a dar um gelo na garota, Ana desabou. Eu não atendia seus telefonemas, não a procurava mais, evitava o máximo que podia me encontrar com ela. Ela parecia não entender. Eu já tinha conseguido tudo o que queria dela, será que era tão difícil ver?

  Eu disse a ela, disse tudo.  Ela me implorou, disse que me amava desde o segundo ano, que não conseguiria viver sem mim. Se me perguntassem eu diria que foi terrivelmente melodramático.

  - Eu achei... achei que você... - ela balbuciou, rouca.

  - O que? Que eu gostava de você? Ah, por favor! Você é louca?!

  Ana olhou em meus olhos, e eu vi todos aqueles sentimentos idiotas ali. E não me importei nem por um segundo. Nós ficamos juntos por três semanas. Não foi tanto tempo assim.

  - Eu amo você - ela disse.

  Tédio.

  - Sério?! Problema seu.

  Essa era a verdade. Eu não dava a mínima para aquela garota e seus sentimentos infantis. Já havia partido outros coraçõezinhos. Muitos outros.

  Não pensei que seria diferente. Não imaginei que seria tão deferente. Mas soube que tudo estava perdido, que eu havia feito tudo errado no dia seguinte. As pessoas me olhavam de lado, estranhas, hostis. Com desprezo. Eu apenas me perguntava o que havia acontecido. Não precisei esperar muito tempo para descobrir.

  Depois de uma semana sem que eu sequer me desse ao trabalho de falar com ela, Ana finalmente conseguiu falar comigo e enfim entender o que estava acontecendo. Ela não era nada, não significava nada para mim. Deixei isso bem claro.

  Ana não podia viver sabendo disso. No fundo, ela me venerava. Realmente gostava de mim. Os pais dela disseram que chagava a ser doentio. O que eu podia fazer? Como poderia imaginar que os sentimentos dela eram tão... intensos? Ana se matou. Por minha causa. Cortou os pulsos depois de escrever um bilhete para mim. Dizia que não queria viver se eu não a amasse.

  Nunca me senti tão culpado, tão pequeno. Vomitei tudo o que tinha comido. Meu estômago se contorcia dentro de mim. Eu sabia que era apenas uma coisa momentânea, o choque pela notícia inesperada. Iria passar.

  Porém não passou. Eu podia tentar esquecê-la, mas não conseguia. Sua imagem sempre estava lá, sentada em seu lugar na sala, me observando em uma mesa afastada no refeitório, seguindo meus passos com olhos acusadores. Ela gritava para mim. Seu cheiro estava em todo lugar, espalhado pelo ar.

  "Eu te dei tudo o que eu tinha. Eu te dei a minha alma, Henrique".

  Eu queria fugir, queira que ela saísse da minha cabeça. Mas ela persistia ali dentro, me atormentando.

  "Está assustado, meu bem? Por quê? Achei que não se importava", ela dizia.

  Passei os dias sozinho. Não conseguia comer, nada tinha gosto. Havia uma coisa dentro de mim, uma coisa que pesava em minha alma. Ela sabia que eu estava assim, ela queria que eu remoesse sua morte até enlouquecer. Mas eu não daria lhe esse gostinho.

  "Foi sua culpa. Você me matou", ela repetia e repetia.

  Foi sua culpa. Foi sua culpa. FOI SUA CULPA! Os berros de sua voz ecoavam em minha cabeça.

  Ana sempre estava perto de mim. Ela ria porque eu não conseguia pensar, não conseguia comer... não conseguia mais viver.

  "Você está bem, querido? Coma um pouco", ela dizia. "Sabe como é morrer? É frio, é vazio. Foi sua existência que me empurrou para esse buraco escuro".

  Não, eu não fizera isso. Fizera?

  "Você era doentia".

  "Talvez. Mas minha doença tinha um nome. O seu".

   Acho que emagreci, não tenho certeza. Que diferença faria? Minha alma ceifara uma vida, uma vida inocente. Eu a matara. E Ana sempre havia sido boa e gentil, sempre me ajudou e eu... Eu apenas a usei.

  Talvez essa idéia já estivesse enraizada em meu cérebro havia muito tempo, em um lugar fundo e escondido. De que valia minha existência? Eu era um inútil. Merecia que alguém como Ana tirasse sua vida por mim enquanto eu continuava aqui, desperdiçando seu sacrifício? Onde está a emoção nisso?

  O mundo parecia tão frio agora. Sem cores, sem gostos, sem vida. Não havia risos, não havia alegria, nem diversão... Apenas o meu arrependimento, minha dor. Uma dor que invadia meu corpo, que pulsava em meu peito. Um arrependimento maciço, dilacerador. Eu me sentia sem vida, apesar de que quem estava morta era ela. Porque eu a invejava. Agora mais do que nunca. Ana teve muito mais coragem do que eu, fazendo o que nunca fui capaz de fazer. Uma coisa tão simples, um fim a todas as dores. Principalmente aquela. Por que eu não conseguia fazer também? Por que era tão fraco, sempre fui?

  Não. Eu não seria um covarde, não havia mais sentido ali, mesmo.

  "Venha, meu amor. Vamos ficar juntos novamente"

  "Não sei se posso..."

  "Venha, eu preciso de você. Fique comigo", ela sussurrava em meu ouvido.

  "Eu vou..."

  "Seremos felizes para sempre. Como um conto de fadas".

  Sim, felizes para sempre. Eu seria. Não a deixaria vencer sozinha, não a deixaria triunfar daquela maneira.  Porque eu também podia fazer aquilo.

  Então eu vi as cores, senti os sabores. Primeiro o gosto amargo do medo, que logo se desprendeu de mim; depois o escarlate fluindo, gotejando como água corrente. Cristalino, ardente. E, por último, o negro, a escuridão que se apossou de tudo.


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Notas finais do capítulo

É, eu sei. Super drama, eu um drama MEGA diferente do que alguém aqui já me viu escrever (*JESSICA*). Gostou? Comente. Abominou? Comente também. Só preciso que vx escreva ALGUMA COISA.