Herança de Amor escrita por Lewana


Capítulo 8
Capítulo 8




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     Carolina permaneceu horas diante do computador, tentando continuar o trabalho. No final da tarde seu pescoço e ombros doíam muito. Nilda falara em fazer exercício e bem que gostaria de andar um pouco a cavalo. Mas com Laura por perto seria um risco.
    Levantou-se e começou a andar de um lado para outro, inquieta. Estava deixando que Laura a fizesse ficar acuada em seu quarto. Será que ia passar os próximos doze meses ali dentro?
    Decidida, vestiu uma roupa apropriada e saiu para a tarde. Viu Dudu brincando com uns garotos e o chamou para cavalgar.
    - Vá você, mãe! - foi a resposta. - Quero ficar aqui.
    Sentiu-se desapontada, então lembrou que o filho andara a manhã toda a cavalo, com Rob.
    Quando entrou na cocheira, um conhecido veio cumprimentá-la:
    - Zack! - exclamou, acariciando o focinho do cavalo. - O que está fazendo aqui? Isso quer dizer que a "incrível" Laura saiu para passear com outro?
    Observou e não notou nada que o impedisse de ser cavalgado. Laura apenas preferira sair com outro cavalo. Como Zack era o único que conhecia, decidiu montá-lo.
     Selou-o com agilidade: Erick a ensinara a montar e ela gostara, passando a cavalgar sempre que podia. Depois da morte dele não tivera mais dinheiro para isso.
     Montou e saiu galopando com Zack. Em segundos, o vento tinha soltado seus cabelos e ela riu de prazer. Pela primeira vez em muito tempo, sentia-se livre.
     Ela e Zack estavam ofegantes quando pararam sob um grande carvalho. Carolina prendeu as rédeas de Zack num galho baixo, de maneira que ele pudesse pastar, depois sentou-se à sombra da árvore. Abriu o primeiro botão da blusa, recostou-se no tronco e fechou os olhos. Apagou todos os problemas da mente e relaxou.
    O disparo de um rifle a fez retornar à realidade. Pôs-se de pé num salto e a primeira coisa que viu foi Laura. Ela estava a cavalo, a uma boa distância, apontando o rifle direto para Carolina. Por um momento, ficou com medo. Depois o medo sumiu de repente. Em algum ponto do seu íntimo havia a certeza de que ela jamais a machucaria. Podia apostar a vida nisso.
    Laura abaixou o rifle, cavalgou na direção de Carolina e começou a gritar antes mesmo de saltar do cavalo.
    - Que diabos você pensa que está fazendo, vindo aqui sem me avisar? Sabia que saí para caçar um coiote!
    - Você disse que iria para o sul. Não pensei que a encontraria por aqui.
    - E não imaginou que o coiote poderia vir para cá? Ele deve ter passado a dez metros de você. A sua sorte é que me ensinaram a ter certeza do que é o alvo antes de atirar. Percebe que eu poderia ter atirado em você?
    - Sim. Acredite, eu realmente percebi - respondeu Carol.
   Só então Laura notou o quanto Carolina estava pálida e suas mãos tremendo.
    - Pensou que eu queria atirar em você?
    - Não! Sim - atrapalhou-se. - Por um instante a idéia me ocorreu, mas...
    - Deixe-me acabar qualquer dúvida. Eu estava caçando coiote. O que lhe deu a idéia de que poderia assassinar você? Aquelas porcarias de fitas que o velho idiota lhe deixou?
    - Ted não era um velho idiota!
    - Não! Era pior que isso.
    - Se você escutasse as fitas, Laura, talvez conseguisse entendê-lo. - A voz de Carolina suavizou-se: - Ele se importava com sua mãe e com você. Foi por isso que fez Nilda casar-se com outro homem: sabia que não seria um bom marido, nem bom pai.
    - É assim que ele se justifica? E você acredita?
    - Sim, acredito.
    - Você é mesmo assim cega? Ou não quer ver? - riu irônicamente. - Velho, doente, quase morrendo e ainda estava colecionando mulheres!
    - Se está querendo dizer...
    Laura a interrompeu:
    - Que você e Ted eram amantes? Não estou "querendo", estou dizendo isso muito claramente.
    - Você não entende o tipo de carinho que havia entre nós, então classifica tudo pelo seu nível, transforma tudo em algo sórdido e barato!
    A raiva brilhou nos olhos azuis:
    - Oh, seu preço não foi barato, moça! Seu preço foi um rancho inteiro. E, no meu modo de ver, fui eu quem o paguei.
   O olhar de Laura abaixou para o botão aberto da blusa de Carolina. Nos encontros anteriores, Carolina conseguira diminuir sua raiva e a fizera com um único beijo. Mas agora Laura ia controlar a situação, decidiu.
   Um arrepio percorreu o corpo de Carol. Instintivamente, ela deu um passo na direção de Zack, mas o cavalo estava muito longe. Laura avançou até fazê-la encostar-se na árvore.
    - Por favor... - implorou Carolina negando seu próprio desejo.
    - Não precisa implorar por isso, meu bem. Vou lhe dar o que você me pediu desde a primeira noite. E quando eu terminar, não vai mais nem lembrar do nome de Ted Emory - disse Laura, tentando disfarçar o ciúmes na voz.
    Carolina viu as inteções dela nos olhos azuis. Paixão e fúria misturavam-se, fazendo o coração dela bater depressa. Ela sentia repulsa e atração, medo e excitação. Queria Laura, mas queria a Laura gentil que a salvara na tempestade, não aquela estranha agressiva. Ela hesitou e o momento de dúvida selou seu destino.
     Sem notar a repulsa de Carolina, Laura enfiou o rosto entre o pescoço e o ombro dela, beijando-a naquele ponto sensível. Desde a morte de Anne, adaptara-se a mulheres que gostavam de sexo rápido e rude, no limite entre o prazer e a dor. Depois de descobrir quem realmente era Carolina, percebera que ela não era diferente daquelas mulheres.
     Carol fechou os olhos com força e lutou contra as lágrimas: Laura não era diferente de todos, como imaginava. Ela a feria em um nível mais significativo, mais importante do que o físico. O fato de ser Laura quem a tratava deste modo machucava-lhe a alma.
    Inesperadamente Laura se afastou. Hesitante, Carolina abriu os olhos; ela a olhava como se a visse pela primeira vez, observando as lágrimas cairem pelo seu rosto com uma expressão de chocada surpresa.
    Algo no rosto de Laura rompeu uma barreira invisível no íntimo de Carolina, que começou a tremer e chorar descontroladamente. A angústia a fez fechar os olhos e rezar para que ela tivesse a descência de ir embora. Mas Laura praguejou e tornou a abraçá-la.
    Com as costas apoiadas na árvore, Laura deslizou-se até sentar-se, com Carolina no meio de suas pernas. A mesma, escondeu o rosto em seu pescoço e chorou até as lágrimas acabarem, depois abraçou Laura deixando-se embalar.
    Laura sentiu o corpo de Carolina ir se descontraindo aos poucos; com cuidado, segurou-lhe o queixo, ergueu-lhe o rosto e olhos avermelhados a fitaram.
    - Por que diabos você não disse que não me queria? - perguntou Laura, com tanta suavidade quanto a raiva permitia.
    - Acho que quero você desde a noite em que nos conhecemos. Só não quero você... desse modo. Não quero ser machucada.
    - Então, por que não me disse que a estava machucando?
    - Pensei que me machucar fosse a sua intenção.
    Laura ia explicar porque havia feito aquilo, mas parou para pensar. Depois olhou a mulher que tinha nos braços. Momentos antes, via apenas a mulher sem escrúpulos que roubara seu rancho. Agora perguntava a si mesma se ela existia ou fora criada pela sua imaginação.
    - Por mais estranho que possa parecer, Carol - murmurou rouca - , achei que você gostava do que eu estava fazendo. O que quero dizer é que nenhuma outra mulher jamais escolheria uma pessoa com um rosto como o meu se quisesse uma noite de amor doce e gentil.
    - O que seu rosto tem a ver com isso?
    As palavras e o olhar dela a tocaram em pontos que Laura juraria estarem mortos há anos.
    - Ah, diabos, Carol! Se não gostava do que eu estava fazendo, por que ficou calada e aceitou? Por que não fez nada, não disse nada?
    - Achei que não podia dizer ou fazer algo que a detivesse.
    - Você se enganou. - Laura ajeitou-lhe os cabelos. - Nunca mais, nunca mais mesmo, deixe que alguém a trate de uma maneira que não quer. Ouviu, Carol?
    - Acho que me acostumei a ser tratada assim - disse simplesmente.
    Carolina aconchegou-se mais ao corpo dela.
    Essa simples declaração fez Laura ver tudo vermelho. A vontade dela era de sacudir Carolina até fazê-la entender.
    - Conte-me - pediu Laura, suave.
    Carolina não pretendia e não queria contar, mas as palavras pareciam soar por conta própria.
    - Meus pais morreram em um acidente de carro, quando eu tinha doze anos. Fui para um orfanato e, depois, as pessoas que me adotaram era boas, mas já tinham uma filha. Lisa me odiou desde que me viu pela primeira vez, apesar de eu não entender o porquê na época. Para se livrar de mim, ela roubou dinheiro da mãe e disse aos pais que eu o roubara e que ameaçara bater nela se contasse.
    - Por que não contou a verdade a eles?
    - Eu contei, mas não acreditaram. A assistente social também não. Fui colocada em uma casa especializada em "casos problemáticos". Estava indo bem até meu pai adotivo começar a mostrar demasiado interesse por mim. A princípio achei que isso era ótimo, eu precisava muito de amor e afeição, porém a afeição que ele queria me dar era de outro tipo. Percebi isso na primeira vez que ele pôs as mãos em mim.
    - E você deixou o canalha tocá-la?
    - Quando percebi que aquilo não iria parar mais, contei à minha mãe adotiva. Ela disse que eu era uma mentirosa e ameaçou me manter trancada até fazer dezoito anos, se continuasse inventando mentiras. Depois do que acontecera na primeira casa eu já achava que ninguém iria acreditar em mim, de qualquer forma... Mas uma das outras crianças adotivas, um menino, tinha visto o que meu pai adotivo fazia e se ofereceu para ir comigo falar com a assistente social. Fomos e nos colocaram em outras casas, separados, enquanto investigavam a acusação.
    Franzindo a testa, Carolina arrancou uma folha de grama do chão. Prosseguiu:
    - Meu pai adotivo acabou confessando e foi preso.
    - Era o que merecia! - declarou Laura, percebendo que Carolina se sentia culpada. - E seu marido? Como ele se encaixa nisso tudo?
    - Erick era o garoto adotado que foi comigo falar com a assistente social. Da primeira vez que o vi, achei que era um tolo pretensioso. Depois percebi que a pose dele era uma defesa provocada por complexo de inferioridade. Ele não era especialmente esperto, talentoso ou atraente, então inventava histórias nas quais tinha essas qualidades. Mas sua história predileta era sobre como seus maravilhosos pais tinham sacrificado suas vidas para salvá-lo de se afogar. Uma das outras crianças do primeiro orfanato me contou a verdade: os pais de Erick não estavam mortos, tinham abusado dele e maltratado a tal ponto que o Estado o tirara deles. Ninguém o amara na vida...
    - E você compreendia profundamente a necessidade de amor.
    Carolina encarou Laura, impressionada com a sensibilidade dela.
    - Sim, entendia isso muito bem. Tratei Erick Brolin como o irmão que nunca tive e em troca ele me deu amor, proteção e lealdade. Fomos separados depois que nosso pai adotivo foi preso e pensei que nunca mais fosse vê-lo outra vez. Mas mandávamos cartas um para o outro e juravamos que seríamos sempre amigos.
     - E a outra casa para onde você foi, como era?
     Carolina deu de ombros, como se não ligasse para isso.
     - Fui morar com um casal mais idoso, que não tinha filhos. Tudo que eles queriam de mim era o dinheiro que recebiam do governo. Tudo que eu queria deles era um quarto e comida, então nos demos bem. Mas quanto ao mundo fora da casa adotiva, eu sentia medo demais de ser rejeitada para tentar fazer amigos. As garotas da escola pareciam não querer nada comigo, a não ser para caçoar das minhas roupas de segunda mão. Quando fiz dezoito anos, meus pais adotivos me mandaram embora, porque o governo parou de pagar a pensão para eles me sustentarem.
     Laura tentou imaginar a terrível solidão dela. Ela, assim como Carol também fora abandonada, mas não ficara só.
     - Eu trabalhava como secretária numa clínica feminina e fazia cursos noturnos de contabilidade quando Erick decidiu me procurar. Quando nos encontramos, ele pareceu atento apenas à minha aparência, como as demais pessoas. Depois, o clima desagradável sumiu e voltamos a ser Erick e Carolina, dois solitários que tinham apenas um ao outro.
     - Aí, você casou com ele.
     - Ele me amava, me compreendia e isso já era mais do que eu esperava ter. Erick queria uma família como a que eu perdera, como a que ele nunca tivera.
     - Aí, você o perdeu também.
     As palavras subiram aos lábios de Carolina, ela queria contar a história toda, mas teve medo. Medo de que se o fizesse Laura viria a condená-la, como ela própria se condenava.
     Foi Laura quem rompeu o silêncio:
     - De alguma forma, por algum motivo, você se sente culpada pela morte de Erick, do mesmo modo que sentiu-se culpada por seu pai adotivo ter sido preso e por todas as outras coisas terríveis que aconteceram em sua vida.
     - Assim como você se condena pela morte da Anne? - indagou Carolina, incerta.
     - Esta é a diferença entre nós duas, Carol. Anne estava me deixando por outra pessoa e eu queria vê-la morta.
     Uma sensação de choque passou pela mente de Carolina e por um instante ela imaginou se Laura teria causado a morte de Anne, mesmo sem intenção. Mas não podia acreditar nisso. Estendendo a mão, procurou confortá-la, mas ela a repeliu.
     - Desejar uma coisa num momento de raiva não torna a gente culpada quando essa coisa acontece, Laura.
     - E que tal estar no volante da "arma" do crime?
     - Você fez algo intencional com o carro?
     - Já contei a história uma vez para a polícia e não pretendo contá-la de novo.
     Carolina contara sua vida e ficou triste por Laura não contar a dela. Ia levantar-se quando Laura a abraçou:
     - Não quero mais falar sobre o passado, Carol. Quero me concentrar no presente e em você - declarou ela, passando a mão livre pelo rosto de Carolina. Admirou-a: - Você é linda Carol...Linda mesmo.
     Carolina riu, envergonhada:
    - Eu to suada, meus cabelos devem estar um horror agora, e minhas roupas...
    Laura a interrompeu colocando os dedos em seus lábios:
    - Está linda - murmurou ela, curvando-se para beijá-la, mas Carolina recuou. - O que foi? Ainda estou assustando você?
    - Não... É só que eu... Bom, não sou muito boa nisso.
    - Não é?
    - Eu... com Erick... Ele tentou, mas eu não conseguia corresponder. Como não queria que ele ficasse triste, eu fingia. Mas nem isso parecia satisfazê-lo. Erick ficava sempre tão bravo quando as outras pessoas reparavam em mim! Mudei o modo de arrumar o cabelo, o estilo de roupas, mas nada parecia deixá-lo satisfeito.
    - Que droga, Carol! E você? Tinha o direito de ser satisfeita.
    Carolina afastou a idéia, sentindo desconforto com a sensação causada pelas emoções reprimidas por tanto tempo.
    - Você não compreende - suspirou. - Emocionalmente, Erick não era muito forte.
    - E as outras pessoas com quem você esteve, Carol? Nenhuma delas lhe deu o prazer que você deu?
    - Erick foi a única pessoa com quem estive - Carolina corou.
    Laura ficou feliz por Carolina não estar olhando seu rosto. A expressão de surpresa e descrença provavelmente a teriam feito se zangar. Laura imaginou se aquilo seria possível. Apesar da aparência sexy, havia uma inocência nela quando a abraçava. Para sua própria surpresa, ela percebeu que não importava se Carolina estivera com uma ou com milhares de pessoas. Naquele momento, não havia ninguém entre elas. Naquele espaço finito de tempo, ela era apenas dela.
    - Vou tentar fazer amor com você do jeito que você quer, Carol - prometeu em voz baixa -, se ainda me lembrar de como é ser gentil. Quero que me diga o que sente, que me conte tudo que sentir.
    Carolina sentiu os lábios dela em seu rosto; suspirou e fechou os olhos. Quando, por fim eles chegaram à sua boca, ela separou os lábios instintivamente, para sentir a língua ávida de Laura buscando a sua.
    Deixou de sentir o sol e o vento, seu mundo ficou restrito às sensações que vinham da boca, do contato de seu corpo com o dela.
    Laura, lentamente, deitou-a na grama e se colocou por cima:
    - Melhor assim? - indagou.
    Carolina moveu o ventre contra o dela, gemendo. Sentindo pela primeira vez o peso daquele corpo que a tão pouco tempo já a estava enlouquecendo.
    " Meu Deus, eu poderia morrer agora."
    - Assim é melhor - murmurou já ofegante. - Mas não o bastante.
    - Não? - Laura sussurou, com a voz rouca pelo desejo.
    Carolina enfiou as unhas nas costas dela que, lentamente, desabotoou-lhe a blusa.
    A língua de Laura acariciou o lódulo de sua orelha, então envolveu-o com a boca e Carolina gemeu de prazer e frustação.
    - O que você quer, Carol? - sussurrou. - Diga.
    - Quero que faça isto comigo.
    Sem sentir vergonha, ela empurrou o rosto de Laura para o seu seio. Laura livrou-a do sutiã rapidamente e fez o que Carolina queria, abocanhando-lhe os seios de uma maneira urgente e prazerosa, como se precisasse deles para sobreviver, ofegando e tremendo enquanto fazia tal gesto.
   Carolina arqueou o corpo com a sensação maravilhosa e Laura continuou até ela estar a ponto de arrancar-lhe a camisa.
    - Melhor assim? - perguntou Laura.
    - Por favor... por favor...
    Carolina não pôde responder, abalada por ondas sucessivas de prazer. Ofegante, agarrou-se a ela e gemeu seu nome, como se implorasse por um toque mais íntimo.
    Laura observou o rosto bonito, iluminado pelo prazer, e teve uma profunda satisfação. Devagar, começou a se mover em cima de Carolina com um desejo  absolutamente, apaixonado e ardente. Os sexos, mesmo com uma barreira, dançando no mesmo compasso - inebriante, pulsante, urgente...
    Quando Laura levava a mão ao fecho da calça de Carolina, ouviu o tropel de cascos de cavalo.
    Sentou-se ainda ofegante e viu um dos caubóis cavalgando na direção do rancho.
    - Será que ele nos viu? - indagou Carolina, ansiosa.
    - Deve ter visto o bastante para imaginar o resto...
    Ao fitá-la, Laura precisou conter-se para não tomá-la nos braços outra vez. Seu corpo estava clamando para saciar aquele desejo febril que ainda sentia por aquela mulher. Praguejando em silêncio, ela forçou-se a ficar de pé.
    Tentar fazer amor à luz do dia, no meio de um pasto aberto! Que diabos lhe dera na cabeça? Ela sabia: só existia Carol em sua cabeça, apenas Carol. Sempre gostara de sexo somente, mas quando olhava para ela sentia algo mais do que apenas isso. E isso fora acontecer justamente por uma mulher em que seria estúpida em confiar. Esta era uma idéia que ela não tinha vontade alguma de aprofundar e sentiu-se desconfortável. Preocupada, quis eliminar a causa desse desconforto o mais depressa possível.
    Disfarçando o tremor do seu corpo ainda tomado pelo desejo, disse:
     - Levante-se e se arrume, Carol. Agora.
     O tom duro de Laura apagou todo o prazer de Carolina; surpreendida e magoada com aquele súbito distanciamento, ela se recompôs.
     Não falaram durante a volta e chegaram ao rancho ao cair da noite. Um grupo de caubóis estavam reunido no cercado central, fumando e conversando. Fizeram absoluto silêncio quando as viram.
     Carolina ficou vermelha quando percebeu que os homens cochichavam, mas manteve a cabeça erguida ao passar por eles ao se encaminhar com Zack para a cocheira. Então, ouviu a voz masculina às suas costas:
     - Ela é tão boa quanto parece, senhora Bittencourt?
     Com lágrimas nos olhos, Carolina fez Zack parar diante da sua baia e esperou a resposta de Laura, na certeza de que a linda experiência iria ser destruída por completo.
     - A sra. Brolin é a dona do Double Diamond e é quem vai assinar os cheques de pagamento de agora em diante - esclareceu Laura. - Por isso, se quiserem conservar o emprego, é bom que tomem cuidado com o que falam.
     Carolina desmontou e, sentindo-se insegura, firmou-se na sela a fim de se voltar para Laura. Viu nos olhos azuis o reflexo de sua própria amargura e dúvida.
     Ficou imóvel, olhando-a. Laura fez o cavalo girar e saiu a trote, até desaparecerem nas sombras da noite.
     Carolina chorou pela segunda vez nesse dia.


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Notas finais do capítulo

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