Herança de Amor escrita por Lewana


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oie...

Quero pedir mil desculpas pela demora da postagem amores (esses dias eu estava passando muito mal e não deu pra terminar de escrever esse capítulo para vocês) =/
Mas a boa notícia é que o outro já está pronto e mesmo tendo imprevistos como este (ou não), ele vai ser postado o mais rápido possivel.
Então aí vai a 6° parte para vocês.
Bjinhus!



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       Carolina perdeu a concentração e ficou ofuscada pela luz súbita que inundou o quarto. Pestanejando, viu o pequeno vulto que se aproximava. Mal teve tempo de parar o gravador antes que Eduardo, depois de acender a luz, corresse e lhe desse um beijo no rosto, deslocando o fone de ouvido.
      - Nilda disse para avisar que o jantar está pronto - informou ele, saltando na cama dela.
      - Não pule na cama!
      Ela nem percebera que já estava escuro e não podia acreditar que trabalhara tanto tempo sem notar. Quando levantou, os músculos protestaram, confirmando as horas que ficara sentada na mesma posição. Depois de se espreguiçar, mancou até a porta.
      - Vamos, mãe! Depressa! - incentivou Dudu, correndo para junto dela e pegando-lhe a mão.
      Ao entrarem na sala de jantar, encontraram Nilda e Rob já sentados. Laura não estava. Torcendo para que ela não aparecesse, Carolina sentou-se, livrando-se rapidamente da decepção por não vê-la.
      - Como você é a nova dona do Double Diamond  - disse Nilda, com suavidade -, quero que saiba que estou deixando à disposição o cargo de dirigir a casa e pretendo deixá-lo de vez em algumas semanas.
      Carolina quase engasgou com a água que bebia:
      - Por que você iria deixar de dirigir a casa, Nilda?
      - Sim, por quê?
      O tom da voz de Laura fez Carolina ficar tensa.
      - Há muito tempo não vou ao México ver minha família - explicou Nilda. - e sempre quis conhecer a Europa.
      Laura parecia tão surpresa quanto Carolina.
      - Mas mãe - interferiu Rob -, você nunca falou em deixar o rancho!
      - É que antes não era possível.
      - Se você for embora, mãe, quem vai fazer seu trabalho aqui? - insistiu Rob.
      - Carolina talvez queira cuidar disso. Há apenas uma empregada e a cozinheira para supervisionar. Claro que durante o verão a situação é outra.
      - Claro - concordou Carolina, sem entender o motivo da afirmação.
      Rob esclareceu, ficou com pena dela:
      - Durante o verão, viramos uma colônia de férias. Alugamos nossos quartos a pessoas que pagam para conhecer a vida num rancho; fornecemos comida e atividades. Mas não se preocupe, nunca tivemos mais que dez convidados ao mesmo tempo.
      - Acho que posso cuidar disso - Carolina tentava parecer confiante. - se você me ensinar antes de ir.
      Sem dar atenção a conversa dos adultos, Dudu puxou a manga de Carolina:
      - Estou com fome. Quando vamos comer?
      Como que atendendo a um sinal misterioso, a criada entrou e serviu a mesa. Carolina ficou surpresa com a quantidade de comida, mas só até ver Laura e Rob se servindo, pois era incrível como a comida sumia.
      Carolina ja servira o filho, a si e ia começar a comer quando Nilda fechou os olhos e abaixou a cabeça. Carolina imitou-a.
      - Agradecemos pelo alimento de hoje, Senhor, e pedimos que nos ensine a pensar não no que nos foi tirado, mas sim que sejamos gratos pelas coisas boas que recebemos.
      Sentindo-se observada, Carolina ergueu os olhos e viu Laura olhando-a, acusadora.
      - Amém.
      Decidida a não se intimidar, Carol voltou a atenção para o jantar. Pouco depois, tocou num assunto que ia desagradar Laura:
      - Comecei a transcrever as fitas de Ted hoje e...
      Dudu escolheu esse momento para virar o copo de leite e exclamar:
      - Merda!
      Carolina deteve-se com a mão no ar.
      - O que você disse?
      - Merda - repetiu Eduardo.
     Um som estranho veio de trás do guardanapo que Laura levara à boca e Carolina teve certeza de que era uma risada.
     - Você ensinou isto a ele deliberadamente!
     - Acha que eu ia ensinar deliberadamente um garoto a praguejar? - rebateu Laura fazendo-se de ofendida.
     - Acho.
     - Lamento desapontá-la, moça, mas ele ouviu isso por acaso. É bom saber que é a coisa menos pesada que Eduardo vai ouvir vivendo entre caubóis.
     Ela ia retrucar, mas Dudu a interrompeu puxando-lhe a manga:
     - Desculpe eu ter dito isso, mãe! Não vou dizer de novo, mas não briguem!
     - Não estamos brigando - Carolina desceu a voz para o volume normal.
     - É, você pode ficar despreocupada Carol - comentou Laura como quem não quer nada - os caubóis realmente não influenciam. Mas eu me lembro bem do dia em que um deles me ofereceu tabaco, e eu não pude resistir - inventou, ainda com um sorriso malicioso pairando em seus lábios - Eu tinha doze anos quando o masquei pela primeira vez.
      Carolina ficou horrorizada com a idéia de Dudu mascando tabaco. Como Laura falava isso na frente do menino? E a grande idiota a olhava, desafiando-a a continuar a discussão. Ela queria discutir, mas Eduardo estava tão perturbado que era melhor se controlar.
      - Mascar tabaco é um péssimo hábito - assegurou Nilda. - Eu nunca permitiria que meus filhos fizessem isso, muito menos na minha casa, então não fale isso só para provocar uma discussão Laura.
      - Não estou provocando, mãe. Experimentei, mesmo, só uma vez - continuou Laura com ar travesso. - Mas logo descobri que as mulheres não suportam o cheiro. Para mim, isso foi o basta - assegurou, controlando a vontade que tinha de rir.
      - Eu realmente ia experimentar - complementou Rob - Mas fiquei enjoado com o cheiro.
      Nilda observou com ar de reprovação os filhos, que sorriam um para o outro.
      Carolina gostou tanto da pausa nas hostilidades que esqueceu a raiva.
      - Já terminei de comer - anunciou Dudu. - Posso ir ver tevê?
      A mãe olhou para o prato dele e achou incrível um menino ter comido tanta comida tão depressa. Assentiu:
      - Acho que sim, daqui a pouco vou ficar com você.
      - O que você estava dizendo sobre o livro do Ted? - perguntou Nilda quando Dudu saiu.
      - Parece ser uma autobiografia e estou na parte onde ele fala da infância. Ao contrário do que alguns acreditam, Ted não teve uma vida fácil. Para falar a verdade, cresceu numa favela.
      Laura soltou uma exclamação:
      - Isso é verdade?
      - Por que ele iria contar se não fosse?
      - Para obter simpatia, para bancar o pobre garotinho que lutou para vencer - escarneceu ela. - Não comenta o erro de acreditar que o que está nas fitas é a verdade absoluta. Ele era um mentiroso nato, sem escrúpulos.
      Carolina ia contradizê-la quando Nilda mudou de assunto:
      - Carolina, você sabia que Layton City e Layton Creek receberam esse nome por causa de Drew Layton?
      - Não, não sabia. Era um amigo do Ted?
      Rob riu com vontade:
      - Você está brincando?
      Como ela continuou com a mesma expressão, ele explicou:
      - Ted Emory era a maior celebridade com propriedades nesta região. As pessoas até votaram para mudar o nome da cidade e do riacho para Layton City e Layton Creek por causa de Drew Layton, o personagem principal de muitos livros de Ted e na série de tevê baseada em seus livros. Claro, isso foi há muito tempo. Ted passou os últimos cinco anos trabalhando no que chamava de "um projeto sério".
      Carolina assentiu:
      - O livro que transcrevi. A biografia de Edgar Allan Poe.
      Carolina ainda não acreditava. Mesmo depois de saber que Ted escrevera mais de cem livros, não imaginava que tinham sido assim tão conhecidos. Nunca se interessara por livros de mistério e não era de admirar que não conhecesse Ted Emory. Compreendeu então por que era tão difícil para Laura acreditar que ela não sabia da fama e riqueza de Ted e onde Nilda conseguiria dinheiro para viajar. Apesar de não haver novos livros, os ganhos com as reimpressões dos livros de Ted provavelmente manteriam Nilda muito bem pelo resto da vida.
       Pensativa, brincava com o guardanapo quando uma idéia lhe ocorreu: Ted levava uma vida muito modestam, mas o único dinheiro que mencionara no testamento eram os vinte e cinco mil dólares que deixara para Laura. Quando deu por si, já estava perguntando:
       - Se os livros de Ted vendiam tão bem, o que aconteceu com todo o dinheiro que ele ganhou?
       - O que você acha que aconteceu? Ele gastou! - declarou Laura.
       - Laura - Carolina tentou contemporizar -, não sei como foram as coisas entre você e Ted mas talvez, se ouvisse as fitas quem sabe...
       - Não preciso ouvir fita nenhuma, sempre conheci Ted Emory muito bem - reagiu ela, amarga. - Ninguém me disse que ele era meu pai. Quando estava com treze anos, descobri isso lendo uma carta que ele escrevera para minha mãe. Telefonei para Ted e perguntei se o que a carta dizia era verdade, se eu era mesmo filha dele. Houve um longo silêncio e então ele me respondeu que Ben Bittencourt era meu pai. O covarde nem me deu a chance de chamá-lo de mentiroso, desligou o telefone mais do que depressa!



~//~



       Carolina desligou o gravador e esfregou os olhos. Não adiantava. Não conseguia se concentrar em O Legado. Não via letras no monitor do computador à sua frente, via nele apenas a dor que surgira no rosto de Laura no momento em que ela contara como ocorrera a conversa ao telefone com Ted.
        Retirando os fones exclamou:
        - Chega de televisão, rapaz! Está na hora de ir dormir.
        Ao voltar-se sua expressão suavizou-se ao ver que o filho dormia atravessado na cama. Aproximou-se e beijou-o na testa.
       Vivia lutando para não ser muito protetora com Dudu. Sabia que as pessoas tinham de aprender sozinhas. Ainda assim, as vezes se deixava levar. Por que não deixá-lo dormir com ela nessa noite? Seria maldade acordá-lo.
       Com cuidado, tirou os sapatos do filho, puxou as cobertas debaixo dele, cobriu-o e apagou a luz.
       Hesitou sobre o que fazer. Era tarde, mas estava agitada demais para dormir, mas não podia continuar trabalhando. Não tinha vontade de ler. Em casa, quando se sentia assim, tomava um banho, fazia uma caneca de chocolate quente e ia para cama. Mas ali... Então, lembrou que aquela era a sua casa. Claro que podia tomar chocolate quente, se quisesse.
       Desligou a tevê, o computador e saiu do quarto. No escuro, foi tateando até a sala grande com a lareira de pedra e o teto alto. Uma parte da sala estava iluminada por um jorro de luz que vinha de uma porta aberta. Uma porta diante da qual teria que passar para chegar à cozinha.
       Estacou ao lembrar que a sala que estava iluminada era o escritório do rancho e que Laura costumava ocupá-la. Teve impulso de voltar correndo para o quarto, mas não iria se respeitar se fizesse isso.
       Não havia o que temer: talvez aquela fosse a chance de endireitar as coisas entre elas. De qualquer forma, nada tinha a perder: a relação delas não poderia ficar pior.
       Lembrando que a melhor defesa é o ataque, ajeitou os cabelos, endireitou os ombros e marchou para o covil da "loba".
      O escritório era como ela imaginava: painéis de madeira, móveis de couro preto, uma antiga mesa de mogno. Sobre a mesa, um computador, um telefone e o que pareciam ser revistas sobre cavalos e gado competiam por espaço com uma pilha de contas.
      A mulher por trás da mesa olhou-a com a surpresa estampada no rosto.
      Carolina fitou-a também, com o coração aos pulos, determinada a falar primeiro. Mas a outra foi mais rápida.
      - O que você quer?
      Carolina quase respondeu no mesmo tom, mas lembrou que estava ali para conseguir um acordo de paz.
      - Vim pedir desculpa por ter provocado você no jantar.
      - O simples fato de você estar no meu rancho já é provocação bastante, moça. Ainda não percebeu isso?
      - Rob falou sobre hóspedes que vêm para cá no verão. É só para isso que ele é usado?
      Laura olhou-a feio:
      - Se está querendo dizer que não sou uma boa administradora, é melhor que não o faça. Este era um rancho de gado até os anos setenta, quando o governo federal decidiu colocar um imposto extorsivo sobre a carne. Tivemos de receber "convidados" para não entrar no vermelho. Agora só temos algumas centenas de cabeça de gado para que o pessoal da cidade tenha com que brincar de caubóis.
      - Você trabalha com os hóspedes?
      - Meu trabalho é evitá-los, isso é responsabilidade do Rob. Eu crio e treino cavalos quarto-de-milha e nós dois cuidamos do gado.
     O tom de Laura não era amigável, mas pelo menos estavam conversando.
      - Então, o rancho está tendo algum lucro?
     Laura se levantou e Carolina deu um passo involuntário para trás.
      - É sobre isso que estamos falando, Carol? De quanto dinheiro você poderá gastar? Do lucro da sua devoção ao Ted?
      - Eu era devotada ao Ted porque ele me deu um emprego e um lugar para viver quando as únicas coisas que eu tinha era um marido morto, uma ação de despejo e uma conta bancária zerada.
      - Quer dizer, depois de você acabar com o dinheiro do seguro do seu marido, certo? Bem, deixe-me dizer uma coisa, princesa: vou cuidar para que você tenha dinheiro para viver, mas qualquer coisa além disso está fora de questão. Eu mesma ponho o rancho abaixo antes de permitir que você o sangre até o fim!
       Carolina apertou os lábios para não dizer a verdade.
       Não lhe tinham permitido recolher o seguro do marido. Mas se contasse, teria que dizer o por quê. E era por isso que sentia-se culpada.
      - Pare de ameaçar! - reagiu. - Só quero saber como o rancho funciona.
      - Por quê?
      - Porque tenho esse direito!
      - Por que não pergunta ao Rob? Aposto que ele vai ficar muito feliz em responder suas perguntas.
      - É você quem dirige o rancho. Quero que explique como são as coisas. Isso está além de sua capacidade ou tem algo a esconder?
      - Não tenho nada a esconder, mas também não tenho tempo a perder. Se não gosta da resposta ou do modo como faço meu trabalho, me despeça!
      - Você sabe que não posso. Seu emprego está garantido pelo testamento de Ted!
      Laura sorriu:
      - Então, acho que você terá de conviver com isso ou ir embora.
      - Só quando o inferno congelar! - gritou Carolina, mais enfurecida do que jamais ficara.
      Ela não percebeu como, mas no intante seguinte estava nos braços de Laura. Os lábios dela cobriram os seus num beijo que exigia em vez de pedir. Carolina curvou-se sob a força dela, sem tempo, nem energia para protestar.
      Segundo após segundo, as emoções que fluíam entre elas começaram a mudar e formar novos padrões. Agressão transformou-se em sedução, raiva diluiu-se em paixão. Os braços de Laura, de prisão converteram-se em refúgio. Aí, tão repentinamente quanto começara, tudo terminou.
       Laura soltou-a e Carolina apoiou-se na parede, desorientada e confusa.
       Carol disse a si mesma que era o ultraje que fazia suas mãos tremerem e o coração disparar daquela forma. Em seguida, olhou para Laura e viu nela o mesmo desejo relutante que sentia.
       - Você mentiu... - disse Laura suavemente e com a voz ofegante -, você me quer.
       - Nunca!
       - Você me quer tanto quanto eu a quero. Admita.
       - Não!
       - Não foi esse o verdadeiro motivo de você ter entrado aqui agora? - perguntou Laura, acariciando com os dedos, muito de leve, o contorno da garganta de Carolina.
       - Mãe?
       Carolina sobressaltou-se, olhou para a porta e deparou com Eduardo, assustado.
       - O que foi, querido? - perguntou tentando conter a respiração. - O que houve?
       - Ouvi vocês brigando. Acordei com os gritos. Por que estão zangadas?
       Feliz com a interrupção, Carolina foi até a porta e pegou a mão do filho.
       - Não se preocupe com isso. Venha, vamos dormir.
       - Carol...
       Relutante, ela voltou-se. Não havia malícia nos olhos de Laura, apenas uma certeza calma que era mais intimidante que qualquer uma de suas demonstrações de força.
       - Se você ficar aqui "isso" vai acabar acontecendo, Carol. Pode apostar o rancho!
       Carolina fez que não com a cabeça, mas no íntimo temia que Laura estivesse dizendo a verdade.
       Com gestos automáticos, Carolina trocou a roupa do filho e o colocou na cama. Então, foi para seu quarto e deitou-se. Recostada na cabeceira, tentou se recompor.
        O fato era que não podia mais negar nem a si mesma a atração que sentia por Laura. Mas nada dizia que tinha de ceder à essa atração. Se não desse a ela a oportunidade de seduzi-la, nada aconteceria.
        " Deus, essa mulher está me levando a loucura!"
        Tornando-se um pouco mais calma, Carolina acendeu o abajur, vestiu a camisola e preparou-se para dormir. Assim que se deitou a imagem de Laura surgiu-lhe a mente. Mas não era uma imagem de raiva, de medo, nem de paixão. Era uma imagem de vulnerabilidade. Houvera um momento naquela noite em que vislumbrara nos olhos dela uma fraqueza que se igualava à dela própria. Só o futuro diria se aquela imagem era real ou uma ilusão. Pouco antes de adormecer, Carolina orou pedindo que o preço para descobrir isso não fosse sua própria destruição.
     



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Notas finais do capítulo

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