This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 149
Capítulo 149




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Capítulo 149 - Viajando sem sair da garagem

  E chegou o grande dia. Até agora não sei como Wilson conseguiu reunir pelo menos vinte desocupados para um evento de ufologia nada profissional e sem a mínima estrutura na própria garagem, mas independentemente da minha surpresa, o evento era uma realidade e enquanto Demi e eu fazíamos a entrega de alguns panfletos com a programação do encontro vestindo nossas camisetas customizadas, não pude deixar de reparar na excentricidade dos visitantes.

- Ah, então é aqui. Cara, isso aqui vai bombar - disse o primeiro visitante, um cara barbudo em estilo hippie,  usando sandálias e cabelo comprido. Tenho dúvidas se ele tomou banho ou não.

- Será que todo mundo é igual a esse cara? - perguntei baixinho para Demi.

- Não sei dizer - respondeu ela - Mas pessoas que acreditam em extraterrestres são meio...diferentes, né?

 Wilson recepcionava os convidados, sem muita dificuldade para acomodá-los nas cadeiras de plástico emprestadas do bar da esquina. Devo lembrar que ele não conhecia nenhum deles pessoalmente, mas os reconhecia quando lembrava seus apelidos no fórum de ufologia que frequentou.

- Ah, então você é o Beamaniac? - perguntou outro dos visitantes cada vez mais estranhos que chegavam no local - Tá legal seu evento, heim? Fiz questão de vir de Roraima pra cá só pra conferir!

 Sério mesmo? Alguém gastou dinheiro com passagens de avião apenas para trocas experiências sobre histórias malucas? Em que mundo eu estou? E as surpresas daquele dia ainda não acabaram.

- Danzinho! - disse uma Emília com uma camiseta verde e uma calça moletom roxa que saltava aos olhos - Sabia que você estaria por aqui!

 Virei para trás com os olhos arregalados. Até lá aquela menina me perseguia?

- E-E-Emília?! - gaguejei - O que está fazendo aqui?

- Sou uma das palestrantes - disse ela - O Wilson não contou?

- Ah, Emília? Você aqui? - chegou Wilson, aparentemente não conhecendo a identidade virtual dela.

- Sou a MissNature do fórum - respondeu ela - Quis fazer uma surpresa!

- Não sabia? Sério mesmo? Então você será uma das palestrantes? Legal!

- Você não conhece nem quem são os palestrantes? - perguntei - Tem ideia do quanto seu evento tem furos de segurança?

- Relaxa, Daniel. Todas as pessoas daquele fórum são apaixonadas por ufologia. Eles até fazem um teste antes da pessoa se inscrever.

- Eu não sabia que você se interessava por ufologia, Emília - comentou Demi, sempre com um sorriso no rosto.

- Oh, e muito - respondeu ela - Acredito que os seres iluminados de outros planetas tem uma mensagem de amor e paz para nós terráqueos. Irei falar justamente disso: da necessidade da humanidade se unir caso queira sobreviver, eis a mensagem de nossos companheiros mais avançados.

 Já vi que aquele encontro era a maior concentração de malucos por metro quadrado de todos os tempos. Pessoas que estudam esse assunto seriamente devem estar dando muita risada. E enquanto nós trabalhávamos, Karina parecia muito tranquila, sentada em uma cadeira e lendo um livro.

- Ei, não acha que devia ajudar a entregar a programação do evento também? - perguntei.

- Já deixei aqui em cima dessa cadeira - disse ela - Se as pessoas quiserem ver, basta pegarem uma.

 Ela não se daria muito bem em áreas que exigem relações humanas. E o que ela estava lendo? Não pude deixar de transparecer minha curiosidade.

- Ah, "Contato" de Carl Sagan - respondeu ela - É um livro sobre alienígenas bem verossímil. Na verdade, estudos sobre vida extraterrestre são levados bem a sério por aí.

- Você devia dar uma palestra para mostrar o que é ufologia de verdade, não acha?

- Mas a ufologia científica não é tão divertida quanto a ufologia sensacionalista - respondeu ela, sem tirar os olhos do livro - Um evento desses não acontece todo dia. Por que não relaxa e se diverte?

 Isso é muito irônico vindo de alguém que nunca sorri. De qualquer forma, a programação já iria começar. Nossos convidados se resumiam a hippies, velhinhos que juravam terem sido abduzidos e amantes da Nova Era como a Emília. Das 20 pessoas confirmadas, eu via apenas treze (o que eu já acho muito). Mesmo com pouca gente, Wilson, nosso maluco-mór, resolveu iniciar as atividades.

- Boa tarde a todos - disse ele, com a lábia que lhe é peculiar - Sejam bem-vindos ao I Encontro de Ufologia da N.E.R.D. 

- N.E.R.D.? - perguntou um dos hippies - Isso quer dizer alguma coisa? Algo envolvendo alienígenas?

- Significa Notórios Estudantes da Revolução Divertida. Somos uma gangue que busca a igualdade escolar independente de partidos políticos, lutando de modo divertido e pacífico. Poderemos conversar mais sobre nosso trabalho em outros momentos, mas hoje, nosso foco será em compartilhar experiências com extraterrestres.

 Nosso trabalho? Não fale como se fossemos uma ONG. E enquanto Jorjão devorava boa parte dos sanduíches de carne louca de soja, Wilson passou a palavra para Emília, a primeira palestrante.

- Boa tarde - começou ela - Vim aqui hoje para compartilhar minha interpretação sobre visitas extraterrestres. Na minha opinião, nossos visitantes querem nos mandar uma mensagem de amor e fraternidade...

 Depois de longos quarenta minutos ouvindo sobre a falta de união da humanidade, os problemas da guerra, a luta pela paz mundial e todos esses assuntos, Wilson retomou a palavra (e eu acordei). Mas a próxima palestra foi ainda mais peculiar.

- Boa tarde, meu nome é Arandir das Oliveiras - disse o senhor, com voz grave e educada - Faço das palavras da colega anterior as minhas, pois, de fato, os extraterrestres querem apenas nos deixar uma mensagem de alerta.

 Wilson tinha preparado um datashow para as palestras e Arandir começou a falar sobre suas experiências de abdução (sim, ele foi abduzido três vezes). Mas a melhor parte foi a foto que ele mostrou de um alienígena especial que, segundo ele, está vivendo em sua fazendo no centro-oeste do país.

- E essa é uma foto do Badu, o ET criança.

- ET criança? - não resisti em repetir.

- Sim, a voz da criança não é assustadora. Ele compreende que ainda somos despreparados e assumiu uma forma infantil para não nos assustar.

- Não dá pra ver nada nessa foto.. - comentou Demi.

- Badu prefere não se expor muito...ele acha que a humanidade ainda não está preparada para vê-lo nitidamente. Isso é o máximo que ele nos permitiu tirar.

- E que mensagem o Badu tem para nos dizer? - perguntou Wilson.

- Ele resume sua mensagem em um único imperativo - disse Arandir, com uma voz lenta - Busquem sabedoria.

 Não sei não, mas já ouvi uma história parecida em algum lugar. De qualquer forma, o próximo palestrante parecia ter uma opinião diferente. O nome dele era meio complicado, não consegui ouvir direito, mas era tão enfático que se apresentou em poucos segundos para iniciar sua exaltada exposição.

- Eu não concordo com os colegas - disse ele, - Os alienígenas estão entre nós...mas não para nos mandar uma mensagem de amor e fraternidade, mas para nos observar, apenas aguardando o momento certo para agir. Em alguns momentos, eles podem aparecer em seus discos voadores, onde apenas poucos enxergam...

 Devia ser o caso do Wilson.

- Mas eu - ele continuava enfático - Eu já fui abduzido mais de cinco vezes por morar em uma região que atrai muitos discos voadores e, apesar de ter sobrevivido em todas, as experiências não são nada agradáveis. Eles passam aparelhos estranhos pelo meu corpo e registram tudo em um computador. Depois disso, me devolvem pelado no celeiro perto de casa. Minha esposa sempre estranha quando isso acontece, mas ela já se acostumou com as abduções.

 Quais as chances de alguém ser abduzido cinco vezes? Até agora a palestra da Emília foi a única que fez sentido (e se eu falar isso aí sim que ela vai apertar meu braço com cada vez mais força...além do que ela já está apertando, abraçado comigo na cadeira do lado).

- Por que há tantas abduções nessa região? - perguntou Wilson, bastante interessado no assunto. 

- Moro em uma fazenda afastada, aberta, e abaixo de uma região da Terra com alta concentração de energia positiva.

- Concentração de energia positiva? - perguntou Demi.

- Sim. Se você desenhar um octaedro (*) inscrito em uma esfera, verá que os vértices tocam a esfera em seis pontos. O octaedro de energia é um símbolo místico presente em todo o universo e ´pode ser encontrado em regiões semi-esféricas como os planetas. Essa é a energia que os extraterrestres buscam, um tipo de energia diferente, ainda não plenamente conhecido pela nossa ciência. Por acaso, a minha casa fica justamente em cima de um desses pontos.

  Espero mesmo que ufologistas sérios não leiam essa história. Mas ainda não tinha acabado.

- Os alienígenas desejam acumular essa energia, bastante presente na Terra e desconhecida por nós. Tirando proveito disso, muitas raças nos visitam para fazer uma pesquisa de campo...mas a ameaça está pairando sobre nossas cabeças. O governo estadunidense tem investigado essas ações.

- Como você sabe? - perguntou um hippie aleatório da plateia.

- Por que eu já recebi a visita de agentes do governo americano...mais de uma vez.

 Ou aquele cara era maluco ou tinha uma imaginação fora do comum. Depois de ouvir muitas teorias da conspiração, chegou o momento mais esperado. O momento onde Wilson iria narrar sua visão. E lá vamos nós de novo..

- Caros colegas, agradeço imensamente a participação de todos - disse ele - Agora é a minha vez de narrar minha experiência com seres alienígenas...

 Isso provavelmente gerará uma discussão altamente viajante. Será que eles tem uma resposta para o caso Wilson?

(*) = sólido de oito lados


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