Capítulo 150 - Debatendo feijões

  Wilson tomou a palavra. Todos pareciam atentos para ouvir seu testemunho sobre a visão de um OVNI em forma de feijão. Bem, se vocês leram alguns capítulos atrás, já devem saber qual foi essa visão. Em uma noite comum, nosso peculiar amigo Wilson, antes de dormir, viu algo que parecia um feijão gigante voador. E foi justamente isso que ele narrou, portanto, vou omitir toda essa história maluca (não que eu seja preguiçoso, mas ninguém gosta de histórias repetitivas). Dito tudo isso, é claro que as reações de fanáticos por ufologia seriam bem típicas. Após Wilson terminar seu discurso, não demorou nem mesmo um segundo para o primeiro hippie levantar o braço.

- Sim. Pode falar - disse Wilson, passando a palavra para o cabeludo da cadeira da frente.

- Cara, assim... - ele começou a falar - ...sua história é muito louca, cara. Pode ser o primeiro caso registrado de uma nave em forma de feijão.

- Sim, é verdade - levantou outro - Não temos registro desse tipo de coisa.

- Se não me engano - Arandir, um dos palestrantes que já havia falado, entrou na conversa - O E.T. Badu já comentou algo sobre isso...parece haver uma galáxia onde feijões se desenvolveram mais do que qualquer outras espécie.

- Como é? - Demi (que estava próxima) perguntou.

- Sim. As formas de vida evoluíram a partir de feijões. Você sabe...a evolução pode ocorrer de diferentes formas...se o planeta tinha condições de desenvolver os feijões, então os feijões atingiram um grau de evolução elevado.

 Charles Darwin deve estar se revirando no túmulo agora. Mas esse era apenas o começo das ideias loucas.

- Verdade? Isso faz sentido - concordou Wilson - E por que será que vieram para a Terra?

- Não é óbvio? - Emília se levantou (finamente largando um pouco de mim) - Estão aqui para nos trazer mensagens de paz! Precisamos perceber que somos iguais e irmãos...todos comemos feijões...todos somos unidos pelos feijão!

- Verdade, cara. Bonito - concordou Jorjão, começando a bater palmas. Aplausos se sucederam após essa afirmação. Eu apenas ouvia a conversa e me recusava a tecer comentários. O que eu poderia comentar?

- Eu discordo! - disse o cara que já foi abduzido várias e várias vezes - Esses alienígenas representam uma ameaça para nós!

- Uma ameaça? - questionou Emília - Mas eles não fizeram nada...só apareceram. Tenho para mim que é apenas uma mensagem que eles querem passar e Wilson foi o escolhido para ser o porta-voz desse sinal!

 Uma raça alienígena que escolhe o Wilson para ser o porta-voz de uma mensagem tão séria e importante como amor e fraternidade não deve ser tão inteligente assim...ou então eu devo concluir que o Universo todo é tão maluco quanto ele.

- Como vocês não podem perceber isso? - reclamou ele - Foi apenas uma primeira visita, para observação e preparação de terreno. Quando perceberem que não estamos preparados para enfrentá-los, seremos todos dizimados! Na pior das hipóteses, escravizados!

- Não acredito nisso - reclamou Emília - Se fosse assim, não teriam se revelado para o Wilson.

- E todas aquelas abduções que eu sofri? Eles não estão nem aí para se revelar ou não! Eles sabem que somos fracotes e vão acabar conosco! Nossas armas não podem contra feijões alienígenas!

- Mas só a nave deles tem forma de feijão...não podemos garantir que eles sejam feijão - comentou Demi.

- Mas segundo o Badu - Arandir tomou a palavra - Há grandes chances deles serem a raça de feijões megadesenvolvidos de uma galáxia hiper-distante!

- Você já sabe que é de uma galáxia hiper-distante? - perguntou Emília.

- Falei com Badu agora pela internet - disse Arandir, mostrando seu celular - Ele sempre está online.

- Estamos perdendo tempo aqui! - o defensor da ideia de alienígenas hostis continuava - Precisamos avisar as autoridades! Todos seremos eliminados por eles...e eles tem uma razão muito boa para acabar com a gente!

- E que razão é essa? - perguntou Jorjão.

- Simples. Todos nós comemos feijão - respondeu ele - Será a vingança deles...ou melhor, talvez eles já tenham agido! 

- Agido como? - questionou Demi.

- Talvez...eles já tenham implementado alguma coisa em nossos feijões...talvez os nossos feijões tenham sido modificados para acabar com a gente. Isso é terrível. Eles devem ter colocado larvas em nossos feijões e assim que os comermos, eles germinarão dentro de nossos estômagos!

- Ai, que nojo! - reclamou Demi.

- Absurdo - Emília insistia - Acho que alienígenas super desenvolvidos já devem ter a capacidade de perceber que a violência e dominação não é solução para nada. Eles vieram nos mostrar o caminho do feijão! Essa é a verdade!

 E essa foi apenas uma descrição rápida do debate que foi travado naquela tarde. Eu diria que todos continuaram a discutir e filosofar sobre as civilizações de feijão alienígenas se não fosse a chegada de uma pessoa. Uma única pessoa que mudaria o rumo daquela reunião inteira.

- Mas o Badu.. - antes que Arandir continuasse sua frase, eis que uma voz se eleva diante de todos.

- Parem! Parem esse evento agora!

 Todos olhamos para a entrada e vimos ninguém menos que nosso não tão amigo assim Cássio.

- Cássio! Você também veio? - perguntou Wilson - Também estava no fórum de ufologia?

- Que fórum de ufologia? - reclamou ele - Tenho ciência mais séria para estudar!

- Ei! - alguns ufólogos presentes reclamaram (mas a verdade é que nenhum ufólogo sério estava naquele evento).

- Apenas fiquei revoltado ao entrar no meu Facebook e ver que você montou um evento absurdo desses - disse Cássio - Fiz questão de vir aqui mostrar minha opinião e ouvi seu discurso antes de entrar. Daí ouvi o resto do debate e descobri que não poderia ficar calado.

- Por quê? - perguntou Wilson - O que você tem a dizer sobre a nave que eu vi?

- Aquilo não era nave porcaria nenhuma! - gritou Cássio.

 Não era uma nave? Não que eu já não suspeitasse disso, mas como Cássio poderia provar sua afirmação.

- Não era uma nave? Mas eu vi! Eu mesmo vi! Posso dar minha palavra! - falou Wilson, mas Cássio tinha um argumento irrefutável.

- Por acaso...você já viu isso? - ele mostrou um pôster. Na verdade, o pôster de uma certa marca nova de feijões.

- Isso...é uma nova marca de feijão! - falou Jorjão - Será que é bom?

- Olhem para o que tem na foto, imbecis - reclamou Cássio - Já viram esse dirigível aqui?

- D-Dirigível? - gaguejou Wilson.

É, dirigível. Aquele negócio que parece um balão e que pode voar pelos céus. Normalmente tem forma oval, mas aquele modelo em especial realmente parecia um feijão (e se fosse visto à noite, dava mesmo essa impressão).

- Parece com a sua nave de feijão por acaso? - perguntou Cássio.

- Idêntica - falou Wilson - Realmente...era um dirigível...

- Como assim? - perguntei - Não soube reconhecer um dirigível? É muito diferente de uma nave!

- Pensando bem - falou Wilson - Já era meio tarde...e eu já estava com sono. E o dirigível já havia passado quando chamei meu pai, né?

 Agora tudo estava explicado.

- Bem, ele acredito mesmo se tratar de um OVNI - comentou Karina comigo - Não podemos culpá-lo.

- Podemos culpá-lo por sua falta de noção - reclamei.

- Está satisfeito agora? - perguntou Cássio - Como o meu maior rival foi capaz de perder tanto tempo com assuntos com tão pouca base científica? Não poderia admitir isso..

- Ei, garoto... - alguém cutucou Cássio.

- O que foi? - ele se virou nervoso, apenas para ver um grupo de pessoas mais nervosas do que ele.

- Quem você está achando que não é sério, heim? - perguntou um deles, com uma cara não muito boa.

- E-ei, calma aí, pessoal. Não vão levar tão a sério, vão? - mas a galera já começou a perseguir o pobre Cássio por seu preconceito.

- Vamos pegar esse garoto, galera - disse um dos caras - Ele precisa ouvir muita coisa sobre OVNIs e ufologia.

- É! - gritaram os outros e assim Cássio saiu de cena tão rápido quanto entrou.

- Ué? Já foi todo mundo embora? - disse a mãe de Wilson, chegando com uma grande bandeja de sanduíches - Justo agora que eu fiz mais sanduíches.

- Ah, isso não é problema! - falou Jorjão - Manda pra cá!

- Ai, ai - suspirou Wilson - Tanto trabalho para nada.

- Não fique assim, Wilson - disse Demi, colocando uma mão no ombro dele - Quem sabe um dia você não veja um OVNI de verdade?

- Quem sabe nós não vejamos um OVNI de verdade, né, Danzinho? -disse Emília, voltando a segurar meu braço com força - Já pensou se eles nos abduzirem juntinhos para nos mostrar as grandes mensagens do universo?

- Prefiro ver as mensagens do universo aqui da Terra mesmo...- comentei.

- Tudo bem. Os alienígenas podem existir ou não - disse Wilson - Mas um dia, nós da NERD, certamente enviaremos nossa mensagem para o espaço! Podem esperar!

 Porque a Terra não é o bastante. Na visão de Wilson, a Via Láctea não é um limite.