Capítulo 148 - Chamando toda a galáxia!

- Sinto muito, Wilson. Mas não vai dar - foram as palavras da professora Vitória, nossa professora de artes e responsável pelo grupo de eventos do colégio - Nosso grupo já está focado para o festival cultural...a menos que você queira montar um estande para o festival, não podemos montar um evento exclusivo para um tema só.

- Mas é um tema de imensa importância, professora! Os alienígenas estão entre nós! Precisamos nos reunir e bolar uma estratégia de proteção contra eles! - mas o argumento de Wilson não parecia tocar o coração da professora.

- Desculpe..não dá, mesmo - disse ela - A escola está com outras prioridades. Quem sabe no ano que vem?

- Não, não dá pra esperar tanto - disse ele - Talvez a Terra já tenha sido dominada nesse meio tempo...

 Nós quatro apenas assistimos Wilson tentar convencer a professora Vitória de realizar um evento de ufologia na nossa escola, enquanto o tempo precioso de nosso intervalo passava. Parece que a sorte não estava muito do nosso lado.

- Eu falei para você que a professora estava focada no festival cultural - disse Demi - E agora?

- Bom, é uma pena que nossos próprios professores não compreendam a ameaça que ronda nosso planeta - comentou nosso hiperativo amigo - Mas isso não significa que vamos desistir! Vamos realizar esse evento de qualquer maneira.

 Para quem não se lembra, Wilson teve a ideia fixa de organizar um evento de ufologia para revelar ao mundo sua visão: um OVNI em forma de feijão. Claro que tentamos dizer a ele que poderia ser apenas uma fruto de sua imaginação, mas ele jura de pé juntos que é real. O que podemos fazer? Tirar uma ideia da cabeça de Wilson é como tentar tirar dinheiro de um cofre do banco. E essa era uma daquelas ideias que ele não iria deixar de lado até o fim.

- Garagem - falou ele, parando de repente (e eu quase dou de cara nas costas dele por essa freada sem seta).

- Garagem? Do que está falando? - perguntei.

- A garagem da minha casa...podemos usá-la para criar nosso evento. Basta colocarmos algumas cadeiras, adaptarmos o som, colocarmos alguns objetos temáticos e pronto! Teremos um perfeito evento de ufologia...tá, tudo bem, não tão bom e nem tão espaçoso quanto seria com o apoio da escola, mas certamente seria útil para dar uma palestra sobre a minha visão!

  Evento de garagem? E alguns pais ficam preocupados quando seus filhos usam a garagem para ensaiar banda de rock...seja como for, Wilson estava disposto a levar sua ideia adiante. Mesmo que as únicas pessoas nesse evento fossem só nós cinco.

- E claro que precisamos divulgar nosso evento - disse ele - Vamos lotar as redes sociais com propaganda! Já tenho até a imagem do folheto do evento em mente...nada que umas edições gráficas não resolvam. Estaremos abertos a todos os interessados da galáxia!

- Mas será que alguém vai se interessar? - perguntou Demi - Se deixássemos para o festival cultural, talvez atraíssemos mais pessoas.

- Esse assunto é urgente, Demi - respondeu ele - Mas não se preocupe...há mais pessoas nesse mundo interessadas em ufologia do que vocês imaginam.

- Isso é verdade - concordou Karina - Há uma comunidade especializada apenas nesse tema, embora não seja considerada uma ciência tradicional.

- Sim...talvez esse evento ajude a encarar a ufologia como uma ciência séria. Eu também não acreditava muito, mas depois de ontem mudei de ideia. O mundo precisa saber que não estamos sozinhos no universo!

 Até aquela data, se me perguntassem sobre a existência de seres alienígenas, diria que eles estão entre nós e que Wilson seria o mais suspeito de ser um alien disfarçado. Aliás, eu até diria que a tal nave que Wilson viu seria sua verdadeira família que voltou à Terra para levá-lo de volta a seu planeta de origem. Mas se fosse o caso, eles já deveriam ter feito isso. Ou será que estão apenas observando? Aguardando que ele chegue a idade adulta e domine a Terra? Seja como for, era melhor parar de pensar isso, por ter grandes chances de ser verdade. Sem contar que Jorjão interrompeu meus pensamentos com uma pergunta.

- Vai ter algo para comer? Alguma comida alienígena?

- O que alienígenas comem? - perguntou Demi.

- Talvez não se alimentem como nós - disse Karina - Talvez eles façam fotossíntese...dependendo do planeta, podem ser formas de vida evoluída das plantas.

- Muito bem pensado, Karina - elogiou Wilson - Se a nave tem forma de feijão, a hipótese de que eles sejam evoluções de plantas não pode ser descartada!

- Não podemos garantir que sejam feijões alienígenas só porque a nave deles tem forma de feijão - comentei.

- Hmm..é verdade. Bom, se especialistas em ufologia vieram a nosso evento, talvez alguém tenha alguma pista.

- Será que alguém virá a um evento fundo de quintal desses? - perguntei.

- Ora, Daniel. O interesse pelo desconhecido está acima de tudo! - falou Wilson - Vamos lá! Estamos perdendo tempo! Precisamos pensar na organização do evento o quanto antes e, Jorjão, podemos arranjar um bolo com tema ufológico.

 Enquanto eu tentava pensar no que seria um bolo com tema ufológico, o sinal do intervalo tocou e as aulas foram retomadas. Sobre o que ocorreu depois, digo apenas que não gostaria de estar na pele da pobre professor de ciências, que precisou aguentar uma aula inteira de perguntas do Wilson sobre vida alienígena. Não que do meu lado as coisas também não tenham ficado tensas, já que o restante das próximas duas semanas foi totalmente dedicado a transformar a garagem da casa de Wilson em um salão de festas com tema de ficção científica.

- Até que não foi tão caro arranjar esses enfeites de disco voador - falou Wilson, alguns dias depois, orgulhando-se da decoração.

- Estava esperando bonequinhos verdes e cabeçudos - comentei.

- Essa é uma concepção prévia que as pessoas tem de alienígenas - respondeu Karina - Nada garante que eles sejam dessa forma.

- E nada garante que eles não sejam - falou Wilson, enquanto brincava com um dos discos voadores pendurados por molas no teto - Mas nossos convidados poderão nos esclarecer melhor a situação.

- Convidados? - perguntei - Tá querendo dizer que alguém realmente virá nesse evento?

- Até agora umas vinte pessoas marcaram presença - falou Wilson - Será uma entrada de dez reais...exceto para nós que somos parte da organização...sem contar que desses vinte, dois darão palestras sobre o assunto.

 Essa informação me fez refletir sobre a quantidade de pessoas excêntricas que existem no mundo, mas preferi não dar muitas asas à minha imaginação para não me assustar. Além disso, eu viria a excentricidade dessas pessoas com meus próprios olhos no dia do evento. Mas o maior mistério de todos era: como os pais dele não reclamavam dessas coisas?

- Minha mãe adorou a ideia - falou Wilson - Ela sempre gosta de pessoas visitando a casa. Além disso, um amigo do meu pai topou até fazer a segurança do evento. Estamos bem profissionais, heim?

 Não, sério. Wilson deve ter inventado alguma coisa para a família dele aceitar tudo isso numa boa. Tinha alguma coisa errada nessa história.

- Nossa, isso vai ser muito legal. Você tem talento mesmo para essas coisas, Wilson - comentou Demi - Você devia ficar direto no grupo de eventos. Ia ajudar muito a galera.

- Ah, se aqueles grupos não nos dão nenhum mérito em troca, prefiro montar meus projetos de maneira independente - falou ele, lembrando de nossa triste e vã tentativa de ganhar medalhas ou mérito por participar de todos os grupos do colégio.

- E o tal bolo com tema ufológico? - perguntou Jorjão, enquanto saboreava um dos vários sanduíches que a mãe de Wilson sempre preparava para nossas frequentes visitas.

- Ah, sim, encomendei algo grande...parecido com a nave em forma de feijão que eu vi. Será o ponto alto do nosso evento. Espero que o bolo dê pra todo mundo...mas por via das dúvidas, encomendei mais pão e faremos carne louca de soja o suficiente.

- Carne louca de soja? - perguntei.

- A maioria desses ufologistas é vegetariano - falou Wilson - Precisamos ganhar a confiança deles, não acha? Heh! Acho que nesse ponto foi até melhor não ter sido na escola...eles não iriam pensar nisso.

 Resumo desse capítulo: montamos um evento de ufologia profissional em uma garagem regado a refrigerante, bolo e sanduíche de carne louca de soja especialmente para vegetarianos. Interessado em produzir um evento de baixo custo? Chame a gente! Por que eu ainda me espanto? Por outro lado eu tinha um lado sinistro que desejava ver que tipo de gente bizarra e estranha viria para esse evento. Sim, minha curiosidade mórbida estava agindo e já que acompanhei toda a produção até ali, faria questão de ir até o fim. E, claro, não poderia deixar de narrar todas as pérolas que ocorreram nesse evento, inclusive as.,

- Camisetas? - perguntei, assim que recebi das mãos de Wilson camisetas brancas com uma nave em forma de feijão (o símbolo do evento) na estampa - Sério mesmo?

- Sim, Daniel - respondeu Wilson - Somos da organização. E todo membro da organização deve vestir a camiseta do "I Encontro de Ufologia da N.E.R.D."

 Notórios Estudantes da Revolução Divertida para quem esqueceu o que significa essa sigla.

- Você pensou em tudo mesmo, heim? - disse Demi sorrindo.

- Heh! É claro - disse ele - E nossos convidados já devem estar chegando...preparem-se para conhecer ufologistas do pais todo!

 Ufologistas do país todo...mas perceba que ele não disse todos os ufologistas do país. Na verdade, para levar um evento desses a sério, apenas os mais excêntricos viriam. Claro. E eu já podia até esperar que tipo de gente iria dar as caras por lá...