Magnum escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 27
Capítulo 27




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- Nós vamos para A Boca do Inferno, Joe. – Benson disse ao velho amigo assim que entraram no hotel.

- espere um pouco, Anthony. Quero acompanhá-los. – disse Lee seguindo em direção ao salão interditado, onde os hóspedes agitados pediam por respostas.

Alguns atores exigiam a saída do hotel, mas eram retidos pelos agentes da Unidade de Defesa Biológica. Após trocar algumas palavras com um dos agentes, Joe voltou, acompanhando os investigadores até o elevador. Apertando o botão do andar, acrescentou:

- ainda não chegamos ao cassino. A inspeção ficou apenas nos corredores, mas já encontraram sinais do tal vírus e o corpo de um jovem funcionário em alto estado de composição.

- alto estado de composição? Há quanto tempo ele está morto? – Benson perguntou.

- ainda não temos como confirmar, mas alguns vírus aceleram a putrefação do organismo. É possível que ele tenha morrido há menos de uma hora, mas que aparente estar morto há mais de um mês.

- uau! – exclamou Munch. – mas até agora só encontraram uma vítima?

- sim e espero que fique por isso mesmo. Quanto mais vítimas encontrarmos, maior o nível de contágio pelo ar. – respondeu Lee.

- Se o cassino ainda não foi inspecionado há a possibilidade de encontrarmos mais corpos. – disse Benson. – É melhor ficarmos atentos. O vírus não é nossa única ameaça por aqui.

A porta do elevador se abriu. Os três agentes desceram quatro largos degraus de mármore escuro adjacentes a um extenso balcão de caixas. Algumas mesas de cartas e jogos de azar se espalhavam próximas a eles. Atravessando a próxima porta, pararam estagnados diante do cadáver de uma criatura enorme, jazida sobre mesas de bilhar e máquinas caças-níqueis tão destruídas quanto as paredes e o chão. Lee se aproximou da criatura colhendo algumas amostras da secreção sobre sua pele verruguenta.

- senhor... Que criatura é essa? – perguntou o jovem agente, ao mesmo tempo surpreso e enojado.

- alguns vírus provocam mutação, Ryan. Isso tem se tornado muito comum com o avanço dos testes biológicos. Provavelmente seja uma arma biológica. – respondeu Benson.

- Provavelmente, Anthony. – disse Lee. – essa criatura pode ter sido um simples rato ou qualquer outro animal comum. A mutação foi uma conseqüência do contato com o vírus. Não tenho como saber se é uma arma biológica, mas esse vírus certamente foi criado para isso. É coisa de terrorista, sim, mas de alguém muito poderoso. Não é qualquer um que tem acesso a uma arma dessas.

- com certeza. – Benson respondeu olhando para o cenário destruído. Seguindo até um pedaço da parede do chão, chamou Ryan. – veja só. Marcas de tiro.

- um dos seguranças? – sugeriu Munch.

- não. – Benson seguiu para o meio do caos. – olhe bem para os destroços. Estão afastados do centro. Foram impulsionados para os cantos. A criatura também. – Benson se aproximou da criatura. – Lee, me empreste a pinça. – remexendo um dos ferimentos da besta, Benson arrancou um projétil azulado. Munch se aproximou meio receoso. A criatura lhe provocava certo pavor. – é um projétil personalizado, assim como a arma de onde veio. Quem matou essa criatura sabia muito bem o que estava fazendo.

- Não foi ninguém da UDB. – disse Lee. – não faz parte do perfil deles. Além do mais, não usam armas personalizadas.

- não. Não acho que a UDB esteja envolvida com isso, embora Wong já tenha sido um agente da unidade. Vou guardar o projétil comigo. Tenho a certeza de que há mais alguém envolvido nessa história. – disse Anthony. – Lee, vou querer todos os resultados das análises e, assim que seu pessoal terminar por aqui, vou isolar a área.

- ok. Vou ficar por aqui, Anthony. Vou colher mais algumas amostras da criatura.

Benson e Munch conseguiram subir até o segundo andar, embora a escada estivesse parcialmente destruída. Munch reparou numa grande marca rasgando a parede e algumas colunas de mármore. Adiante, os agentes vasculharam o saguão de danças entre outras salas que estavam impecáveis, chegando “nos fundos” do cassino, onde se depararam com os corpos de dois seguranças em alto estado de composição.

- Mais vítimas do vírus. – Munch afirmou.

- provavelmente. – Benson se aproximou dos corpos, abrindo o terno de um deles. – foram assassinados. – disse, observando o buraco no meio do peito do segurança.

- assassinados?

- sim. – Anthony respondeu pegando os distintivos. – e não eram seguranças. Eram policiais.

- o que estavam fazendo aqui? A polícia não nos informou nada sobre eles.

- exatamente.

Munch resmungou algo que fez Anthony voltar a atenção para ele.

- é essa roupa. – respondeu. – não consigo fazer nada com el... Senhor! – Ryan exclamou repentinamente.

Anthony Benson seguiu os olhos do novato vendo o corpo apodrecido do policial se movendo lentamente.

- ele ainda está vivo?! – Ryan perguntou.

Benson se afastou enquanto o policial se ergueu, apontando os braços na sua direção, soltando um gemido lastimoso, como se a dor o impedisse de dizer qualquer coisa.

- temos que ajudá-lo! – disse Ryan se aproximando rapidamente do contaminado.

Benson o impediu, enquanto o outro policial também se levantava.

- eles não estão vivos, Ryan, pelo contrário. – afirmou o policial, sacando a arma.

- mas o que? Claro que estão...!

- não! Se afaste!

Benson atirou contra os dois policiais, que avançavam selvagemente em sua direção.

- O.. O que fez? – Munch perguntou ainda impressionado com tudo aquilo.

- eles não estavam vivos, Ryan. O vírus os transformou nisso.

- mas do que está falando?

- o vírus os transformou nessas criaturas. Acredite em mim. Eu não mataria dois policiais à toa.

Ryan balançou a cabeça, confuso.

- Provavelmente ouviu falar no desastre da cidade de Raccoon no ano passado, Ryan. Bem, aqui está uma das coisas que os noticiários não revelaram. A cidade foi tomada por uma enorme epidemia viral. A culpada: as indústrias farmacêuticas Umbrella. O que ninguém sabe é no que as pessoas se transformaram durante esse incidente. Foi um caso considerado confidencial, mas o pesadelo parece estar longe de acabar.

- Quer dizer que... Em Raccoon... ... Esse tal desse vírus... Ele transforma as pessoas nisso? – Ryan apontou para o corpo apodrecido do policial.

- sinceramente, não sei se estamos tratando do mesmo vírus, meu jovem. Mas o efeito parece ser o mesmo ou muito parecido. Eu só espero que esses sejam as primeiras e últimas vítimas que encontraremos.

- não é melhor esperarmos a UDB? – Ryan aconselhou. O que mais queria no momento era arrancar a viseira e fumar, como sempre fazia quando estava nervoso. No entanto, saber que corria o risco em se transformar em uma criatura medonha como aquelas, reprimia seu vício em uma vontade modesta e pouco suicida.

- não, Ryan, não podemos perder mais tempo. Wong ainda deve estar por aqui, além do mais, precisamos descobrir de onde veio esse vírus e o que mais ele é capaz de provocar.

Ryan não disse mais nada. Ainda estava digerindo aquela realidade assustadora. Os dois corpos jaziam podres, derretendo aos poucos com a ação do vírus e mesmo assim estremeciam, espasmódicos, como se os policiais, mesmo após o tiro, fossem se levantar e voltar as mandíbulas negras em sua direção. Ele, embora jovem e curioso, jamais sentira o enojamento tão comum diante de cadáveres. Sua mãe, legista, deixara-o acostumado com o fato de que, ao mesmo tempo em que se nasce, se morre. Que a vida era designada por uma tênua linha ao lado de um pêndulo afiado e que, a qualquer momento, poderia ser partida, bastando que o pêndulo se deslocasse sutilmente para baixo. E pelo fato de que os mortos não voltavam à vida e que os corpos sobre as mesas jamais se levantariam repentinamente para assustá-lo, ele dormira tranqüilo todas as noites.

Mas quando recuperaria suas boas noites de sono, sabendo que agora os mortos voltavam?

Anthony o levou até uma sala pequena e empoeirada, com um elevador em frente a uma mesa velha de recepção. Sobre ela um fino véu de poeira com uma marca definida e arredondada do fundo de um copo. A câmera, rente ao elevador, rodava atenta. Era a primeira câmera de todas com as quais se depararam que encontraram ligada. Munch apertou o botão do elevador. Já estava no andar. Ambos entraram no espaço pequeno de um pouco menos de um metro e meio de largura, enquanto Anthony se preocupava com o que iriam se deparar assim que a porta do elevador se abrisse, no andar abaixo.

* * *

            Não sabia se era um motivo de alegria e alívio tê-la longe de mim. Talvez por um ato de preservação eu devia ter um desses dois sentimentos quando vi o sofá vazio, no entanto, acabei ficando mais preocupado. Ela não estava em lugar algum da sala, e, pela porta de vidro, a porta do elevador ainda parecia lacrada.

            Suspirei um tanto impaciente, contornando o espaço com os olhos, em busca de algum sinal daquela louca. Sem qualquer resposta ao seu desaparecimento, voltei à estante com os vasos quando uma pequena elevação das cortinas, próximas à mesa de xadrez logo atrás de mim, chamou minha atenção. Não havia nada atrás delas, senão uma corrente de ar que circulava por ali. Seguindo essa corrente, em menos de dois segundos cheguei a um duto de ventilação aberta, tendo quase certeza de que era ali que a louca havia atravessado. Ainda assim, me senti no direito de saber a localização da outra passagem. E o duto de ventilação me ajudou com isso.

Com essa mania que todas as crianças têm, eu descobri muitas maneiras de chegar ao mesmo lugar por caminhos diferentes e foi assim que, quando pequeno soube que a minha sala era um poço de enigmas que, às vezes, levavam-me para lugar algum. Meus pais certamente utilizavam uma passagem mais prática e era essa do qual estava à procura. 

Desci os degraus de madeira até o meio da sala, onde um piso claro com um grande desenho geométrico se destacava, decorativo. Um pouco mais adiante um dos cristais da lâmpada refletia a luz para o chão, formando um feixe destoado dos demais. Não havia reparado na iluminação, que estava tão próxima de Dahlia, ainda assim, suspeitei que ela tivesse percebido isso antes de mim.

Uma mulher complexa, era isso o que era e, sobretudo, uma pirracenta entediada. Se divertia (e muito) em me ver ferrado, talvez por vingança ao que lhe fiz há quatro meses atrás. Sentindo uma certa dificuldade em pensar, como se pela primeira vez estivesse me vendo diante de um obstáculo, procurei organizar minhas idéias, buscar alguma lembrança, embora fosse em vão. De 25 anos para cá muita coisa poderia ter sido mudada, principalmente as armadilhas.

Em uma tentativa, talvez inútil, empurrei a mesa com as peças de xadrez na direção do feixe, mas nada aconteceu. Procurei, então por alguma fenda nela, que me parecia mais larga do que de costume e encontrei uma inscrição, que dizia:

Da concórdia, a força

Da oposição, o conceito

Luz e Sombra voltadas para o poder

Unidas no mesmo topo.

Sentei no sofá e observei as peças. Estavam organizadas, cada qual na sua posição de acordo com as regras do xadrez. Então raciocinei um pouco.
Da concórdia, a força.

Concórdia. Não me parecia um enigma desconhecido.

Uni as duas rainhas.

Luz e Sombra voltadas para o poder.

Poder, poder. Voltadas para o poder, mas opositoras. Virei uma de costa para a outra.


Unidas no mesmo topo.
Levei-as para o centro, voltadas cada qual para o seu exército. Mas nada aconteceu. Então: Da oposição, o conceito. Inverti a posição. Luz para as sombras e Sombras para a luz.

Senti um estremecimento ao meu redor e me afastei. O grande desenho no centro da sala se dividiu em várias formas triangulares, que se deslocaram para baixo formando os primeiros degraus de uma escada.


Lá estava o caminho de casa.

* * *


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