Magnum escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 26
Capítulo 26




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- Antes que diga qualquer coisa vou deixar bem claro que, embora eu seja um vírus, nunca permiti que outros como eu se proliferassem por aí. Eu vivo no seu mundo há apenas 14 anos, Ada, mas já soube me adequar às suas regras e já sei parecer tão humana quanto qualquer um de vocês. Bem, eu e seu irmão não nos conhecemos por um acaso. Desde que fugi das mãos da Umbrella, ela tem enviado tropas de agentes à minha procura. Seu irmão foi só mais um.

- meu irmão trabalhou para a Umbrella?

- não diretamente. Trabalhou para UDB norte-americana, essa por sua vez recebeu certa influência da corporação, afinal, o número de contágios e falhas de estrutura nos laboratórios estavam aumentando, sem dizer a capacidade das próprias experiências. Era preciso criar um grupo de agentes especialmente treinados para isso. Meros mercenários já não estavam mais dando conta. A Umbrella patrocinou secretamente os avanços da UDB, enviado até mesmo algumas cobaias para o teste dos agentes. Não sei o passado do seu irmão, mas de alguma maneira a tal unidade lhe pareceu interessante.

- então o que ele está fazendo aqui?  Por que fizeram experimentos com ele?

- porque ele decidiu parar de seguir ordens. – Magnum abriu um sorriso debochado. – e deixar de ser bonzinho. Quando o encontrei ele era um saco... Mas aos poucos tomou jeito.

O elevador deu uma parada brusca. O som enferrujado das grades ecoou pelo grande espaço escuro que as cercavam. Olhando ao seu redor, Ada percebeu que estavam dentro de um grande buraco, onde vários outros elevadores estavam parados, sem energia. O cabo de aço rangeu, enquanto o pequeno elevador se balançava sutilmente.

- melhor sairmos da gaiola. – aconselhou Magnum.

Ada saiu pela parte superior do elevador, em seguida pegando o bebê. Embora o elevador rangesse com cada movimento que dessem, pôde ouvir alguns ruídos distintos, como pingos de água que parecia ecoar do fundo do grande abismo e algo metálico ecoando ao longe.

Talvez passos nas paredes. Ada pensou, percebendo dentre a escuridão a parede corroída por ferrugem.

- esse lugar... Esteve submerso? – perguntou, quase num sussurro, atenta ao que estivesse vagando ao seu redor.

- Quando fugi libertei algumas criaturas. Suponho que em um dos andares houvesse um tanque enorme, onde mantinham experiências submersas. Já estive em um deles certa vez, mas é algo do qual não pretendo comentar. De qualquer forma, vou precisar da sua ajuda. Não posso cuidar do pequeno ao mesmo tempo em que me defendo das outras experiências. Os únicos que sabiam que você está aqui, já estão mortos, portanto leve o meu filho praquele andar. É lá que fica uma das últimas salas de controle que conheço. De lá vai consegui ver um aeroporto. Imprima um mapa e me espere nele. Vou dar um jeito de encontrar o seu irmão e de mandar tudo isso para os ares.

- certo. Mas e o vírus? O que vai fazer com ele?

- eu não sei ainda. Mas não se preocupe. Vivo ou morto, eu trago o corpo para você.

Magnum mergulhou em direção a escuridão. Ainda alarmada com a ironia, Ada a observou desaparecer, enquanto os passos nas paredes pareciam se tornar cada vez mais rápidos.         

* * *

-Não sei o que pretendiam, mas estou à espera de resultados, Qiang. – a voz macia atravessou a sala, enquanto o mercenário balançava a cabeça.

- eu não tenho nada a ver com isso, senhor. – disse ao chefe. – Foi a Ling quem quebrou o plano desde o início. Não era para tudo ser tão evidente assim. -  Qiang virou-se para Ling, exprimindo a última frase com uma raiva retida. – eu juro que por mim as coisas teriam sido mais discretas. – E voltando para o chefe. - De acordo com os nossos planos.

- Então devo parabenizá-la, Ling. – disse a voz pausada, surpreendendo o mercenário. – Conseguiu elaborar um plano melhor do que o inicial. Foi mais eficiente do que esperava.

- mas... Mas ela transformou o plano em uma bagunça! Por causa dela a CIA e toda a imprensa está de olho no hotel e...

- Quanto a isso não há o que se preocupar. Wong é um terrorista. A CIA o terá, assim como a imprensa. – respondeu a voz.

-mas senhor...

- acho que ainda não teve a capacidade de perceber, Qiang, e de ver com os próprios olhos o que Ling viu.

O mercenário o olhou interrogativo e surpreso. A voz continuou.

- Wong não é de importância alguma para nós. Temos um alvo muito maior em questão.

- não estou entendendo, senhor.

A voz se calou por alguns segundos. Um sinal de intolerância, que fez com que Ling olhasse para Qiang com a mesma expressão fria e impassível. Qiang hesitou, nervoso e confuso, então repentinamente seus olhos se iluminaram e com esclarecimento, falou:

-ah, sim, senhor, agora entendo! Eu entendo! Wong, não era nada. Era só uma isca. Mas... Quem o senhor pretendia atrair realmente?

Em meio à escuridão, o dono da voz sorriu. Qiang arqueou as sobrancelhas para cima.

As coisas estavam começando a lhe fazer sentido.

* * *

   - casa?! – Dahlia exclamou.

Não respondi. Sequer ouvi sua voz. Recordações, fragmentos, vozes, imagens sem nexo, mas que faziam todo o sentido para mim, ecoaram na minha cabeça. Eu tive pais. Sussurrei mentalmente. Eu tive um lar. Antes que eles se fossem, eu tive uma casa. Mas onde?

   O pouco que possuía da minha infância se mesclou com os objetos da pequena sala. Eu sabia que era ali que havia passado os meus primeiros anos de vida, mas depois da morte deles não havia mais voltado. Eu desconhecia sua localização ou qualquer prova que indicasse que aquele lugar existisse. Meu tio nos afastara (a mim e a Ada) de tudo o que pudesse nos lembrar de meus pais. Um golpe muito injusto, escondido sob a desculpa de um sentimento farsante. Ele nunca fora meu tio, nem nunca fizera parte da família. Era só um infiltrado do governo com intenção de treinar mais dois agentes. Talvez com a esperança de que herdássemos a genética dissimulada de meus pais, dois espiões.  O que de fato acabou conseguindo.

Toquei no quadro com as pontas dos dedos. Eu era pequeno quando minha mãe o colocou ali. Abaixo dele uma estante com alguns objetos de decoração. Entre eles dois elefantes de ouro que haviam trazido da Índia, pelos quais eu era apaixonado. Com um deles na palma da mão, olhei para o resto da sala. Dois sofás estavam alinhados, após a descida de alguns degraus, com um tabuleiro de xadrez com peças de cristais sobre uma mesinha no meio da sala. Alguns vasos de flores já mortas estavam nos cantos, assim como outros objetos de decoração importados e antigos, cheios de poeira, sobre as estantes nas paredes. 

   Dahlia se sentou sobre um dos sofás, erguendo os pés sobre a mesinha, enquanto me observava num misto de curiosidade e estranhamento. Olhei mais uma vez para o elefante na palma da minha mão. Meus dedos roçaram no ouro maciço, meio áspero, imitando a pele enrugada do animal.

   - sua casa é legal, mas não há mais portas? – Dahlia perguntou, me observando deitada no sofá, com a cabeça apoiada em um dos braços.

   - não é com isso que estou mais preocupado agora, Dahlia. – respondi meio absorto, sentando ao lado dela.

    Fiquei calado, pensativo, enquanto ela me observava e eu ao pequeno elefante.

    - deve ser estranho morar sob um hotel cinco estrelas tomado por um vírus e uma maluca com um ioiô. – ela ironizou. – o mais estranho é morar numa casa tão chique e tão suja. O que aconteceu? Havia perdido a chave de casa, ou melhor, a seqüência dos quadros? 

    - eu nunca soube da existência desse lugar. Quando meus pais morreram, fomos para a casa de um tio, no Canadá. Haviam dito que nossa casa havia explodido.

   - um problema com o gás aberto, como sempre dizem... – Dahlia sugeriu.

   - não. Haviam plantado explosivos por toda a casa. – respondi, olhando para ela – meu pai tinha muitos inimigos.

     - Hum. É uma das maneiras mais discretas de executar alguém. E eficaz. O que seu pai fazia?

     - mais tarde descobri que era espião. Mas não cheguei a procurar alguma coisa sobre ele. Sinceramente, nunca me importei muito com o seu passado.

   Ficamos alguns segundos calados. Sabia que não tínhamos tempo de sobra, mas ainda estava digerindo algumas coisas sobre o meu passado e tentando montar no quebra-cabeça o porquê de eu ter sido atraído até ali. Afinal, o que minha casa fazia debaixo do Mandarim Hotel?

    - sua irmã se importava muito com tudo isso?

    - não. Acha que ela estava atrás de informações sobre os meus pais?

            - porque não? Talvez ela tivesse chegado até aqui e caído numa emboscada.

    - não seria impossível. – respondi.

    - sabe que pra uma sala tão suja e vazia, aquele corredorzinho dos infernos até que é bem perigoso. – Dahlia afirmou, com uma indireta dissimulada sob a ironia. – sou péssima com enigmas. Só faço isso de última hora.

     Captei o recado e logo estava procurando sozinho com as minhas lembranças alguma pista, alguma entrada, alguma armadilha ou qualquer dispositivo que me desse um sinal. Não demorou muito e já estava diante de uma fileira de pequenos vasos sobre uma estante escondida num canto escuro. Além da singularidade dos vasinhos, o nível de poeira neles destoava da do resto da sala, o que me fez pensar que por trás da tal estante estivesse alguma passagem.

     - Dahlia! – chamei, mas ela não respondeu. Quando voltei os olhos em sua direção ela já não estava mais sobre o sofá. 
     Havia desaparecido. 

* * *


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