Magnum escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 20
Capítulo 20




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            * * * 

- apanhando de mulher, John? – dahlia me perguntou com um sádico sorriso sob os lábios.

Não respondi nada. Estava ferido demais para isso.

- Então é você? – Ling perguntou vagamente, enrolando a linha no ioio.

- eu? – dahlia seguiu a assassina com os olhos, enquanto ela descia a escada.

- você é cúmplice dele. Quem está por trás de tudo isso. O meu alvo. – a voz fria respondeu, mas agora entonada de uma espécie de prazer sombrio, quase impercebível, camuflado sob a gélida suavidade de seu comportamento.

Dahlia abriu um sorriso largo e riu zombeteira. Era algo que lhe dava prazer, de certa forma, rir da cara de seus inimigos, por mais cruéis e sérios que eles fossem. No entanto, tinha a impressão de que Ling não era nada para ela.

- esqueça. Eu já sei de toda a armação. Sei que foram vocês quem causaram a contaminação, sei o porquê e também sei que o objetivo era me atrair até aqui. Cá estou. E agora? O que vai fazer? – desafiou.

- apresenta-la ao meu amigo.

Nesse momento, tive a impressão que uma espécie de sorriso torto se esboçou em seu rosto. Repentinamente senti o andar ceder. Uma explosão de concreto ocorreu na direção de Dahlia e uma criatura enorme apareceu, talvez com uns quinze metros de largura, mas não tão alta a ponto de me alcançar no andar acima. Caí no que restou do chão, rente à parede.

Com uma espécie de língua gigante à estender-se pelo cassino, a tal criatura tentou atingir Dahlia, que se arqueou para baixo. Atrás dela, uma grande coluna de mármores foi quebrada ao meio com o impacto da língua, que poderia se assemelhar à uma ampla e maleável arma orgânica. Estava ocupado me desviando dos escombros da coluna que caíam na minha direção, mas se bem conheço Dahlia, ela se divertiu prodigiosamente nessa hora. Além de louca, gostava de destruição.

Ouvi disparos desenfreados de pistola. Dei uma olhada rápida para ver se não havia mais nada vindo na minha direção. Dahlia estava munida de uma automática personalizada. O cartucho, modificado, continha uma espécie de material que ela nunca me revelou, mas que enfraquecia qualquer espécie de vírus. Tinha duas pistolas daquela, mas geralmente usava uma de cada vez. Gostava de poupar munição, mas não gostava de poupar os estragos. Olhei para o cassino de uma forma mais panorâmica. Sua construção tão formidável e elegante estava indo para o lixo. Pedaços da parede caindo com o impacto da língua contra elas, o chão se esburacando, vitrines, objetos, mesas de jogos, máquinas, bares... Tudo sendo destruído ininterruptamente. Ling observava à batalha de um canto isolado. Alguma coisa me dizia que ela estava se divertindo ao seu modo. Os olhos antes frios tinham um brilho intenso e vivo, se destacando do resto do corpo. Ávidos, seguiam minha querida exterminadora desregrada para onde quer que fosse.

A criatura espalhafatosa em um lugar tão apertado, acabava por derrubar o que havia sido mantido em pé. Dahlia se divertia com monstros grandes, mas também gostava de espaço, por isso sacou uma granada e a lançou na direção da besta. Não tanto no momento, pois não havia visto o que ela havia lançado, mas depois, sentindo o impacto da bomba, quis matá-la. Não era uma simples granada, daquelas que levam tudo aos pedaços, mas uma granada de impulso, que esparrama as coisas para os lados. Não sei quantos blocos de concreto vieram na direção da minha cabeça, sei apenas que quando despertei, o resto do andar havia cedido junto comigo, o monstro havia sido derrotado e Dahlia me olhava dissimuladamente apreensiva, mas sei que por dentro troçava às minhas custas.

- por que sempre que nos encontramos você está aos pedaços? - me perguntou enquanto retirava os escombros de cima de mim.

- por que você sempre dá conta de acabar comigo. – respondi sentindo uma dor aguda na barriga.

- a chinesa te provocou um estrago daqueles, hem!

- não maior que o que você fez com o cassino. Preciso de algo que pare com a dor! – gritei.

- não tenho remédios. Não trago comigo. Não me firo à toa. – caçoou, impassível.

Dahlia me puxou para fora dos escombros, me colocando em um pedaço menos soterrado do chão. Após me ver reter um gemido doloroso, rasgou o que restara da minha blusa. Algumas lascas de madeira haviam entrado no meu peito.

- vai se recuperar logo. – disse-me ela. – aposto que nem sente tanta dor.

- experimente. – desafiei, irritado.

Ela puxou as lascas com as próprias mãos. O resto retirou com o canivete. Ao contrário do que havia dito, arrancou um pedaço de gaze da pochete e uma pasta amarelada que passou sobre os meus ferimentos.

- o que é isso? – perguntei.

- nunca me disseram, mas sempre funcionou contra ferimentos. – ela respondeu, sorrindo.

- cheira à urina. – comentei ainda sério.

- é, foi um xamã africano que me deu. Disse para eu usar em agentes que se rebelam contra seu próprio governo. Uma forma de castigá-los, talvez.

- como sabia que eu estava trabalhando para...

- levante-se. – me interrompeu tentando passar a gaze ao redor do meu peito. Seu rosto se aproximou consideravelmente do meu, enquanto dava voltas com a gaze por todo o meu tórax. Cinco anos haviam se passado e seu olhar, seus traços, sua pele e seu cheiro ainda eram os mesmos. Os lábios delgados sempre esboçando um sorriso. Os dentes ligeiramente afiados, de um alvor raro, os olhos de um azul marinho profundo, a pele lisa...

- tarado. – exprimiu me largando no chão. – sua mente é pérfida, Wong.

Retive um gemido doloroso.

- Por falar nisso... Encontrou sua irmã?

- não... Ainda não. E o zumbi?

- exterminado. O que deu em você? Por que não foi atrás dele primeiro?

- minha irmã é mais importante para mim... Acho.

- Loucura. E se a contaminação se espalhasse pelo hotel? E se ela se espalhasse pela cidade? A Umbrella está em decadência. A culpa não viria somente a ela. Alguém mais pagaria por isso. Afinal, a imprensa precisa de nomes.

- do que está falando?

- de você, estúpido! Oras, ainda não percebeu que isso é uma cilada desde o começo?

Tentei me levantar aos poucos. Dahlia me estendeu o braço permitindo que eu me apoiasse.

- pense bem. – continuou. – você é atraído até um hotel onde só há celebridades. Aqui há sinais de um vírus. O governo tem um motivo mais do que especial para mandar alguém atrás de você. Ada também pode estar aqui. Ela é uma das espiãs mais caçadas atualmente, tem muita informação, esteve em Raccoon, nos laboratórios da Umbrella, viu muita coisa e ainda é suspeita da trabalhar para Albert Wesker.

- Albert Wesker...

- sim, é um nome mais do que familiar, não? Bem, continuando, você é a isca. Quando foi atraído, automaticamente a informação veio até mim e até Ada. Ela por sua vez caiu na armadilha e veio salva-lo. Não, ela não estava aqui, você a atraiu. Tudo isso foi um plano. Eu só não compreendo como ainda não se deu conta de tudo isso. Tem certeza de que já foi um agente secreto, mesmo?

- mas se é uma cilada, o que está fazendo aqui?

- vim salva-lo, oras. Um dos meus contatos me informou que sua irmã foi detida. Está em algum lugar por aqui, talvez no andar abaixo de nós.

- não há andar abaixo de nós.

- você pegou um mapa e há um grande espaço em branco nele. Bem, eu tenho o mapa completo. Te garanto que temos muito caminho para andar ainda, John, e é melhor você se recuperar logo. A assassina do ioio me pareceu entediada.

* * *

   O urro assustou o pequeno Thomas que se pôs a chorar. Isso atiçou a fera fazendo-a se espreitar pela sombra. Magnum e ela se encararam. Ambas de um olhar rubro. Ambas fruto do mesmo vírus. Um pequeno estralo ecoou na sala. Magnum pôs o filho cuidadosamente no chão. Ergueu-se vagarosamente, os braços ligeiramente abertos. Unhas afiadas, como as de um caçador. Ela era tão felina quanto à fera. Era tão selvagem quanto ela e seu instinto materno a fortalecia, a deixava mais aguçada, lhe trazia as forças que havia perdido.

O cheiro de chuva dava ao ambiente um aspecto cavernoso. Algo primitivo, que tornou a experiência mais aguçada, mais animalesca.

A fera se aproximando vagarosamente, querendo apenas a cria. Seu olhar felino entre o bebê e mãe. A mãe por sua vez, tinha a atenção voltada totalmente para a fera. E não tinha preocupação alguma em devorá-la. Queria apenas mata-la, rasga-la com os dedos, quebrar seus ossos até que não pudesse soltar mais nenhum urro. Thomas chorava. O choro deixava tudo mais tenso. O bebê e a mãe, a fera e as sombras, a chuva lá fora e o instinto de sobrevivência aqui dentro.

A ameaça lançou-se no ar. As garras grandes, largas, afiadas procurando sua vítima. Magnum não recuaria, o filho estava atrás de si, então enfrentou as garras. Sua força não era pouco para aquela fera. A agarrou contra o ar. Sentiu os dentes afiados em seu pescoço. Reteve as garras contra o próprio peito, experimentou a pele ser desfiada como um pedaço de pano, mas ainda assim havia força e com um braço a segurou contra si, com o outro a perfurou, tocou seus órgãos, apreciou a umidade de suas entranhas, a maciez de seus membros e apertou seu coração puxando-o contra si, arrancando-o fora, deixando-o vivo em sua palma, pulsante e com igual ardor amassando-o até que se tornasse um pedaço inútil e sem forma da carne.

A fera, caída no chão, agora tinha um aspecto bizarro. Olhando para seu reflexo em uma porta metálica, Magnum percebeu que não era ela a sua verdadeira ameaça e que, enquanto se desvencilhava dela, Thomas havia sumido. 

* * *

- Meu Deus...!

Ada segurou a cabeça entre as mãos enquanto olhava para a imagem de seu irmão tão assustadoramente modificado na tela do computador. Precisava encontrá-lo.

 Ele havia causado tudo aquilo? Ada deixou a filmagem rodar. Ford desesperado abandonou a sala 0739 enquanto os soldados se erguiam aturdidos. A imagem se acelerou bruscamente sem que Ada tocasse em qualquer tecla. Será que John estava lhe dando um aviso? Nas gravações, após duas horas de quarentena, um grupo de mercenários da Umbrella invadiu o laboratório, ao mesmo tempo em que Magnum despertava em uma sala de pesquisas aberta. Trôpega ela vagou entre algumas cobaias, indiferente à qualquer risco que elas pudessem lhe trazer. Nem todos eram zumbis. Assim como Magnum haviam cobaias em total estado de consciência, que ainda possuíam traços e atitudes humanos. Sua aparência estava mais bem conservada. Magnum tinha longos cabelos castanhos e uma pele rosada, ao contrário da palidez que apresentava agora. Vagando aturdida pelas cobaias confusas, ela parecia procurar por alguém. Então correu em direção à ponte quando se deparou com os mercenário da umbrella que sem hesitar atiraram em sua direção. Bombas, explosões e mortes ocorreram em seguida. As cobaias ainda conscientes se puseram contra os mercenários e por serem mais fortes acabaram matando grande parte deles. Os que restaram explodiram a ponte e lacraram o laboratório.

Dr. Frank entre outras criaturas  perigosas se tornaram a grande ameaça para Magnum e os outros. A batalha se tornou incessante contra eles. Os cientistas foram aos poucos se isolando, tentando se proteger em salas seguras. Drª. Jones foi presa com o bebê na maternidade por Magnum, Ford conseguiu escapar se prendendo covardemente em uma sala de análise, Drew havia sido desastrosamente morta por Abby que acabou se descontrolando durante uma experiência. Dr. Radanovich e Drª. Salles escaparam. Dr. Locke devia ter sobrevivido, pois não havia imagem alguma sobre sua morte.

Uma espécie de Tyrant gigante passou a matar as demais cobaias. Era enorme e incomparável a qualquer um que a espiã já poderia ter visto. Os zumbis e as demais criaturas, no entanto estavam em maior quantidade e os que ainda apresentavam algum traço humano foram aos poucos convertidos em mortos-vivos e em outras criaturas como a que atacou Ada na sala de controle. Um grupo conseguiu atravessar o abismo entre os dois lados do complexo e John... John havia desaparecido, mas provavelmente estava com os esse grupo sobreviventes. Ou havia sido morto. Ada afastou a possibilidade. Mal acreditava que seu irmão havia sido submetido à tudo aquilo e menos ainda na morte dele.

Precisava encontrar alguma coisa sobre ele e abandonando as gravações foi em direção aos quartos dos cientistas. Precisava de um diário, qualquer coisa.

* * * 


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