Magnum escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 21
Capítulo 21




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- Que merda foi aquela? – Qiang se aproximou irritado e ao mesmo tempo surpreendido. – que porra de monstro era aquele? De onde arrancou aquela criatura?

- Há muita coisa que o mundo dos vírus esconde. Não se surpreenda tão facilmente com as minhas atitudes. – respondeu Ling arrancando o terno, indiferente.

- Não sei se percebeu, mas acabou de estragar todo o nosso plano. Você destruiu o cassino, sendo que o nosso objetivo era o de sermos o mais discretos possíveis! Acabou de arruinar tudo!

Ling arrancou a camisa, deixando-se vestida apenas por um top. Longas cicatrizes espalhadas por suas costas trouxeram repulsa à Qiang. Indiferente a qualquer reação dele, a assassina continuou sua troca em silêncio. No final, disse:

- Está enganado. É agora que o nosso plano entra em ação.

Sacando um celular do bolso, Ling discou alguns dígitos...

- Polícia? Gostaria de fazer uma denúncia. Acho que há um terrorista no Mandarim Hotel.


* * *


Paramos diante de uma grande porta de vidro, nos fundos do cassino. Por ela observamos uma câmera circulando atentamente e um balcão de atendimento. À frente dele uma pequena porta de metal, na qual supusemos estar o elevador. Dahlia resmungou que aquele poderia ser o caminho até o cofre, que seria melhor do que chegar até minha irmã, mas ignorei o comentário. Estava mais preocupado com os dois homens armados que se aproximavam de nós.

Antes que eles se aproximassem o suficiente, dahlia caminhou na direção deles animada. Mantive o lado rasgado da minha jaqueta escondido, afim de que não desconfiassem tanto, mas logo percebi que seria inútil. Dahlia tinha um cinto de granadas na cintura e, tão mais rápido do que eu, eles também notaram, mas a agente agilmente se agachou e distribuiu tiros. No entanto, pior do que esse deslize foi notar que havia um silenciador em sua arma.

- Você estourou uma Granada de Expansão na entrada do cassino e agora usou um silenciador... O que tem dentro dessa cabeça, afinal? – falei seguindo em sua direção.

- Algo que você não tem. Olhe só para esses caras... Não parecem seguranças de um hotel e sim aqueles mafiosos de filmes americanos. Não é estranho que eles não tenham ouvido o meu estardalhaço?

- estardalhaço ainda é um pouco menos do que a bagunça que você causou. Sim, de fato. – respondi me aproximando dos corpos.
Peguei uma carteira no bolso de um deles, me surpreendendo com a lucidez do distintivo. Não eram seguranças e nem mafiosos. Eram policiais.

Dahlia coçou o pescoço num ato angustiado e irônico, enquanto um instinto assassino me forçava a querer matá-la.

- você ta ferrado. – afirmou com cinismo.

Mordi os lábios e a encarei com rancor. Não pude negar que estava mesmo.

* * *

Chão úmido e frio. Algo áspero se espalhava por ele, talvez ferrugem, mas Magnum não sabia ao certo. Conforme sua memória voltava, as lembranças, as sensações, tudo se tornava mais claro e lúcido, no entanto, tinha o pressentimento de que lhe faltava muito ainda. Enquanto estivera fugindo dos agentes disfarçados da Umbrella, possuíra uma vida. Sabia que havia se adaptado ao mundo dos humanos. Que havia aprendido à sobreviver não só aos perigos desse mundo, como também aos daquele em que nascera. Para isso desenvolvera uma personalidade, algo que havia conquistado por si própria, e que, como Brian havia falado, era só dela. Só dela.

Só meu.

Como seu filho. Seu fruto, parte de seu sangue. Parte de seu ser.
Magnum jamais permitiria que tocassem nele novamente. Jamais permitiria que tivessem acesso ao seu sangue nem ao sangue de seu filho, nem que para isso explodisse cada base, cada complexo, cada laboratório da Umbrella que a capturasse.

O chão ainda era áspero e enferrujado. A luz ainda era escassa. Lâmpadas fluorescentes se distinguiam como pontos de luz atenuados pelos corredores sombrios. Ela se lembrava bem daquela parte do complexo. Da parte que ela mesma destruíra há 6 anos, quando escapara mais uma vez das mãos da umbrella. Pensara ter sido aquela a última vez, se não tivessem enviado o tal agente atrás si.

Qual era o nome dele? Quem era ele mesmo? Um grande buraco se ampliava em sua mente. Era como se tivesse um nome na ponta da língua, mas algo a impedisse de pronunciá-lo. O cheiro úmido, de metal úmido, encheu seu nariz e a fez se lembrar de como eram desagradáveis as experiências que faziam consigo. De como não compreendia o motivo das coisas. Como não sabia explica-las.

Ensinaram-na falar, mas ela não podia expor sua dor, sua aflição. Não sabia como nomear tudo aquilo. Sua vida até o momento em que fugira, era apenas uma sala iluminada com um tanque de água à sua disposição e uma cama onde pudesse descansar. Havia também os cientistas. Ford, Drew, Locke e quantos outros a corrompiam com seus objetos cortantes, com suas máquinas elétricas, com suas perguntas sem nexo.

Ela não sabia pensar, não sabia o nome das coisas. Sabia todo o alfabeto, aprendera a desenhar, a contar, a escrever palavras e números. Sabia sobre as cores, sobre a água, mas não sabia de nada mais. Sua maturidade freiava ali, entre os cantos da sala alva e uma vitrine transparente por onde via seus algozes todos os dias.

Quando se libertou percebeu que não estava sozinha. De repente se viu cercada por outros seres, por outras criaturas. Sua primeira sensação foi ter o tapete de folhas úmidas duma floresta sob seus pés, depois veio o cheiro da chuva, o som das árvores, o canto dos pássaros, a luz do sol.

A luz do sol.

Era uma luz que doía, que fervia em sua pele, mas que, no entanto, lhe faria falta se fosse aprisionada de novo. Então curtiu não estar sozinha, curtiu cada sensação, desde a mais insignificante, como acariciar o tronco áspero de uma árvore, até as mais esplendidas, como a de amar pela primeira vez.

Sim, ela não era humana, mas tinha um coração e com o coração soube aproveitar melhor a sua vida. Aprendeu a sentir e com o sentimento aprendeu a ser leal aquele mundo, não tanto pelas pessoas que o habitavam, mas por aqueles que a abrangeram assim que se libertou do laboratório. Aqueles que, como ela, não podiam falar, mas estavam ali sentindo.

E por eles ela não admitira nunca que a Umbrella voltasse a tocar em seu sangue. E por eles, ela retornou e destruiu cada amostra de sua existência. E por eles, ela destruiria a si mesma e ao seu próprio filho, se fosse necessário.

* * *


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