Magnum escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 2
Capítulo 2




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Ópera...

Era o que tocava quando acordei.

Uma ópera fúnebre e melancólica, como se estivesse em um enterro. Eu não sabia se era pelo efeito da dor, mas podia ver sombras arqueadas sobre mim e aos poucos elas se transformavam em mulheres de véus negros, como aquelas do enterro dos meus pais, quando era pequena.

Sim, eu estava no enterro deles e podia vê-los ali ao meu lado.

Todos estavam mortos comigo, menos Johnathan.

Onde estava John?

Eu me esforcei para erguer a cabeça, precisava encontrá-lo, queria que ele viesse ao meu funeral, mas tinha de ser discreta. Não queria que todos se assustassem (afinal mortos não deviam se levantar).

Haviam mulheres demais no quarto. Todas com as faces cobertas, todas vestidas de negro.

(Seriam réplicas da mesma?)

Alguém estava sob as sombras. Alguém estava escondido no fundo, me observando.

Uma luz rala, saindo de lugar algum tentava ilumina-lo.

-John... – murmurei.

Eu tinha medo de ser esquecida. Medo de ser deixada. Um medo que eu jamais admitiria em situação alguma.

Tentei mover meu corpo, mas estava tão pesado. Senti um espasmo leve tomar conta de meus dedos. John me observava na escuridão. Não parecia disposto a se aproximar, a me ajudar a sair dali. Talvez estivesse magoado com minhas mentiras. Decepcionado por não saber quem eu realmente era.

Senti uma angústia tomar conta do meu peito. Aquela ópera estava acabando comigo!

Ao meu lado vi o corpo jovem da minha mãe sobre um caixão. Ela era tão linda, tão carinhosa. Seu corpo pálido já não possuía cor alguma exceto pelo batom vermelho em seus lábios.

O batom vermelho.

Aquela era a sua cor favorita e eu a tinha tomado emprestada. Foi a única coisa que consegui guardar dela por todos esses anos.

Sua única lembrança.

Do outro lado meu pai. Ao contrário de mamãe, eu me lembrava muito bem dele. Dos passeios que fazíamos juntos.

Era um bom pai, mas foi graças a ele que John entrou no Serviço Secreto e foi graças a ele que eu me tornei uma espiã.

Senti meu corpo endurecendo.

(É o que deveria acontecer com os mortos!)

Desesperada, tentei me libertar. Não podia acabar daquele jeito. Precisava ajudar Leon, minha missão ainda não havia acabado.

Leon, sim, Leon. Eu havia me esquecido dele. Não podia deixá-lo morrer. Não podia aprisioná-lo junto com meus problemas.

Pessoas demais já haviam morrido. Eu desejava que pelo menos ele fosse embora para casa.

* * *
Ada sentiu um calor torpe e estranho tomar conta de seus nervos. Algo que a fez puxar todo o ar que podia para si. Seu peito inchou e desinchou como se aquela enorme ferida não estivesse ali. Então uma dor insuportável a fez gritar. Sentir seu sangue escorrendo por todos os lados. Sua roupa úmida e rasgada roçar nas feridas abertas como uma lixa.

Respirar doía-lhe na alma, mas era para isso que ela havia retornado, para sentir-se viva, mesmo que fosse por alguns minutos.

Ela precisava retomar o controle de seu corpo.

Cada movimento que fazia por menor que fosse lhe exigia muito mais esforço do que antes.

Então se levantou vagarosamente. Não conseguia ficar em pé sozinha ou tinha a sensação de que perderia algum membro pelo caminho.

* * *

John ainda retomava a calma. Ele não podia acreditar que estivera a ponto de matar sua própria irmã. Seu coração palpitava acelerado. Sua consciência o martirizava. Podia se julgar tão azul quanto o céu na imagem acima de sua cabeça. Então retomou o controle, sem fôlego se levantou do chão.

A campainha estava tocando.

Era óbvio que seria castigado pela missão falha. Ele só cuidava da morte de “grandes alvos” e se sua irmã era um deles, era porque não a conhecia tão bem.

“O que diabos Ada andou fazendo?”, perguntou-se atormentado.

A campainha tocou pela segunda vez.

Johnathan não podia fugir do que o esperava, até porque ele não podia prever o que era.

Desceu até a peça de visitas, uma grande porta de cristal o impedia de ver quem estava do outro lado. Mas podia ver uma silhueta grande, robusta, provavelmente vestida com um terno sofisticado e negro.
Talvez devesse deixar um balde de gelo à postos. Tinha medo de caras grandes e mais do que isso: tinha medo de caras grandes e armados.

Mas que alternativas possuía?

Abriu a porta.

- merda – deixou escapar, olhando para a temerosa figura à sua frente.

-não é algo que deva sair de sua boca. – uma voz soou atrás do gigante, que avançou para dentro do apartamento enquanto John recuava.

Um homem esguio vestido à terno apareceu. O grandão avançou até fazer com que johnathan caísse sobre uma poltrona estofada.

- eu sou – começou o esguio – o seu supervisor e como tal preciso me certificar de que há algo do qual eu deva saber.

John conhecia aquela voz. Era ele o seu contato? O olhou bem, nunca o imaginara daquela maneira. Era alto, magro, tinha o rosto fino, o cabelo preso à rabo-de-cavalo e os olhos puxados demais. Pelo ótimo sotaque inglês que possuía John sempre o imaginara com uma aparência menos... Corrupta.

Johnathan não gaguejou, embora o grandão ao seu lado tivesse a mão maior que a sua cabeça. Ele sabia que não poderia envolver Ada ao seu mundo. Sempre fora precavido a ponto de mantê-la segura de seus inimigos.

-o rifle travou... – mentiu – talvez esteja desgastado demais. Eu preciso de um novo.

- o rifle travou. – disse o contato com um tom ameaçador na voz.

Permaneceu, então, alguns segundos calado encarando o atirador como se pudesse ler através de seus olhos se estava falando mentindo ou não. Então declarou num tom vigilante:

-se não tivesse uma reputação a zelar, senhor Wong...

John continuou interpretando. Fez-se redimido.

O contato continuou:

- Mandarei que lhe tragam um rifle novo, mas é melhor começar a prestar atenção ao seu armamento. Se o que aconteceu hoje se repetir poderá lhe custar muito caro.

Quando os dois saíram, Johnathan deixou que uma onda de alívio o fizesse desabar novamente naquela poltrona. Sua sorte era a de não terem verificado a arma.
* * *


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