Se eu ainda fosse a Katlyn humana alguns meses atrás, teria corrido para o meu quarto e desejado que nada estivesse acontecendo e que aquilo era somente um sonho ruim. Sorte minha que não sou mais, então entrei em estado defensivo e invoquei meus sabres no mesmo instante, pronta para atacar.

Pelo que pude ver, os outros tinham feito o mesmo. Caleb com seu bastão, Mary com suas adagas e Nathale com uma espada que tomara posse em alguns dos primeiros dias de treino. Ainda não sabíamos se era possível que ela invocasse uma arma própria, então temporariamente usaria a espada. O único que não havia feito nada era Dan.

Ele estava parado como uma estátua, com expressão séria e rígida, claramente pensando em algum plano. A cada segundo o barulho de passos ficava cada vez mais alto, tanto que eu mesma não sabia em que momento a porta da frente poderia explodir com inimigos humanos para nós.

- Temia que este momento poderia chegar, mas não posso lhes arriscar – Dan estava tão tenso e rígido que ao meu olhar tinha envelhecido alguns bons anos. Por fim, ele invocou seu tridente, mas continuava no mesmo lugar e na mesma posição. – Caleb, lembra-se de que eu lhe mostrei saídas alternativas? Quero que pegue as garotas e saia daqui o mais rápido possível.

- Não! – respondeu ele – se o senhor pensa que vai dar uma de herói e nos salvar está enganado! Estes soldados que estão vindo mataram milhares dos homens das forças defensivas da cidade! Vamos proteger este lugar junto com você!

O velho se virou abruptamente para o neto, com um olhar que nunca poderia decifrar.

- Eu ficarei bem. Mesmo que vocês ficassem e derrotássemos todos os soldados que estão ali, eles devem ser só uma força de reconhecimento. Mais e mais soldados viriam e esta sala se tornaria um campo de guerra. Vocês têm de partir em uma missão mais importante, que dará um fim em toda esta guerra. Encontrar Christie Li’Court e derrotá-la! Seu castelo fica nas florestas que rodeiam a cidade. Vão!

Caleb hesitou por alguns instantes, mas rendeu-se a realidade e correu para a área das florestas. Mary e Nathale correram atrás dele, eu iria correr também mas Dan segurou meu braço.

- Katlyn – ele me disse. Virei-me e ele me encarou – proteja aquele cabeça de vento, ele faz qualquer coisa para ajudar os amigos. E salve o mundo humano e vampírico.

Acenei com a cabeça e corri atrás dos outros, que já estavam entrando por um pequeno caminho que eu ainda não tinha percebido na floresta, com uma mata fechada o cobrindo. Logo que passei pela passagem, ouvi um estrondo, tiros e gritos. Não queria saber de quem eram, e corri sem olhar para trás.

Após alguns minutos caminhando, pude perceber que nossa área de treinamento não estava dentro das redondezas da cidade, e sim ao lado dela, como se fosse uma área a parte. Olhando-se atentamente para o céu poderia ver que havia uma parte em que uma linha cruzava o caminho.

Todos estavam caminhando em silêncio, principalmente Caleb que estava mais a frente, e ele parecia não querer muita conversa.

- Ei, galera – Nathale quebrou o silêncio – se temos que encontrar essa tal de Christie Li’Court, por onde começamos? A área florestal que rodeia a cidade é tão grande quanto ela própria.

- Não faço idéia – Mary e Caleb disseram em uníssono, só que em tons totalmente diferentes de humor

- Eu também não sei... – disse, mas então lembrei de uma de minhas primeiras visitas a casa de Alice. A floresta parecia ter algo sombrio e misterioso, como se tentasse esconder algo poderoso – ou talvez saiba. Acho que deveríamos começar perto da casa de Alice.

- Lá? Bem, não temos nenhum ponto inicial, então é o melhor que temos. O que acha Caleb?

- Não temos por onde começar, então não vejo problemas.

- Ótimo! – Mary animou-se e começou a dar umas saltitadas – então só devemos chegar à cidade e ir direto para a casa de Alice, correto?

Caleb havia parado um pouco a nossa frente, e foi então que pude perceber que havíamos finalmente chegado. Mas aquele lugar não tinha mais lugar de cidade.

Tínhamos saído em um local que eu não conhecia, mas as casas por lá eram estilo americano, com gramado na frente e tudo mais. Ou ao menos eram, pois agora a maioria estava com evidentes sinais de tiros, explosões e pedaços faltando, assim como os carros revirados na rua. Olhei para o céu, e no grande globo de energia haviam buracos de diversos tamanhos, deixando a luz forte invadir em alguns pontos.

- Teremos alguns problemas para andar por ai – eu disse, apontando para os buracos – eu e Caleb teremos de nos arriscar e andar em forma humana para não corrermos risco no sol. Mary e Nathale terão que se esforçar para andar pelas poucas sombras que ainda restam.

- Parece meio arriscado, mas tudo bem – as duas estavam claramente preocupadas, mas ao menos Nathale não queria demonstrar isso.

Transformei-me rapidamente em humana, o que já conseguia fazer normalmente, e Caleb fez o mesmo, começando a caminhar cautelosamente. Nathale e Mary foram perto das casas onde ainda havia alguma sombra para se esconderem. No chão havia uma coisa que ainda não havia reparado: muita poeira. Não poeira normal, mas sim poeira de vampiros mortos quando expostos ao sol. Imagino quantos haviam perdido suas vidas por causa daquela maga estúpida e fiquei com mais raiva ainda. Pensei em todos que tinha conhecido quando cheguei aqui e rezei para que estivessem bem onde quer que estejam. Ainda estávamos em uma área residencial depois de alguns minutos caminhando, e em algumas que ainda estavam semi-inteiras podia-se ver vampiros inocentes e assustados olhando pelas janelas. Poderia ter ido até lá perguntar se estavam todos bem, mas Caleb puxou-me pelo braço e caí atrás de uma moita.

- Abaixem-se!

Assim que entendi o que estava acontecendo, vários soldados humanos passaram por nossa frente e fizeram uma formação de C ao redor da mesma casa em que eu tinha reparado alguns segundos antes. Um homem que estava mais a frente – deveria ser o chefe daquele grupo ou algo assim – pegou um megafone e o apontou para a casa.

- Rendam-se vampiros! Temos ordens de aniquilar cada ser desta cidade, então se entreguem e aceitem a morte ou entraremos.

- O que diabos eles estão fazendo? Aqueles são vampiros inocentes, não são nem das tropas de defesa ou algo do tipo. Quem é o idiota que está liderando esse ataque? – disse, incrédula.

- O chefe deles que está provavelmente sendo controlado por aquela maga negra idiota – Mary respondeu

Não houve nenhum movimento dentro da casa, então os soldados começaram a bater na porta de entrada, forçando para arrombá-la.

- Não vou deixar – estava prestes a me levantar quando Caleb segurou minha mão

- Seria loucura, morreríamos junto com os vampiros daquela casa. Temos uma missão maior para fazer. Vamos.

Hesitei por um instante e dei um soco de frustração no chão. Caleb se levantou e foi sutilmente saindo daquele lugar, seguido de Mary e Nathale. Dei uma última olhada na casa, onde os homens ainda tentavam arrombar a porta, então os segui. Fomos nos esgueirando por moitas e nos aproveitando das sombras, até que saímos da área de perigo. Se aquela maga maldita está controlando tudo isso, nós vamos impedí-la. “Ela vai pagar”, pensei.