Acordei no dia seguinte, e ainda puto, reli o bilhete. O Diego era um filho da mãe, mesmo. Será que ele só estava fazendo tudo aquilo comigo por causa da maldita prova?

Senti os olhos marejarem. Mas, ele disse que me amava!

E se fosse só uma jogada de professor?

Filho da puta.

Amassei o bilhete e rasguei em vários pedaços.

E, adivinha? O pedacinho que tava escrito “com amor, Diego” não rasgou.

As lágrimas rolavam.

Que merda. Eu pensava que isso só acontecia em filmes, porra!

Como em toda boa escola, não tínhamos aula de sábado, então poderia ficar em casa descansando ou sair, como sempre fazia.

Liguei pro Lucas. Não estava no humor pra fica em casa. Combinamos de nos encontrarmos numa praça. Lá era um excelente lugar pra se tomar sorvete.

Isso. Sorvete era o que eu precisava.

Me arrumei. Muito bem arrumado, por sinal. E fui pra praça.

Lucas já estava lá quando cheguei. O cumprimentei e comprei nosso sorvete.

-Putz, Gabriel. Acha mesmo que ele fez isso só pra você estudar? Por favor, né? Isso seria pedofilia. –Lucas terminou o sorvete rapidamente e deu sua opinião. Na verdade, não seria pedofilia, considerando que eu tenho 17 anos e Diego 23. Mas, eu não iria falar isso pro Lucas.

-Ah, vai saber? Eu acho muito bem que pode e acho que fo-...- Lucas saiu correndo pra jogar futebol com alguns meninos. Sentei num banco próximo e comecei a ver, apreciando meu sorvetinho de chocolate.

Quando acabei, fui jogar o palito e a embalagem no lixo. Não deveria ter ido, se querem saber, porque vi o Don Diego beijando a professora de matemática.

Foi aí que minha teoria se confirmou.

Principalmente, pelo fato de ele ter me visto, mas, não ter parado o beijo.

Mais uma vez, meus olhos marejaram e eu corri. Corri o mais rápido que podia. Eu não ia chorar. Eu não podia chorar. Mas, quando me dei por mim, já chorava.

Chorava por causa de um professor de espanhol. Aquele imbecil que eu jurava que nunca ia gostar.

Lucas me viu correndo, e saiu do jogo, correndo atrás de mim.

Claro que ele, como esportista, corria muito mais rápido que eu.

Eu me encostei num muro, já perto de casa. Não demorou muito pro Lucas chegar. Percebi que ele estava muito preocupado, e que correu muito rápido por muito tempo. Ou seja, eu, por adrenalina, corri muito rápido mesmo, a ponto de deixar o Lucas cansado.

-Não fica assim, pequeno... –Ele limpou meu rosto. Pequeno era um apelido que eu odiava, e o Lucas sabia disso, mas, ele só usava esse apelido quando eu estava triste. Como uma tentativa de me animar.

-Não tem como, Lucas! Aquele imbecil me fez cair de amores por ele, por causa da merda da prova! Que, aliás, eu poderia muito bem colar!

Lucas riu. Um riso sinceramente fofo.

-Você sabe por que eu sempre te passo cola? –Ele apoiou um dos braços no muro. Como naquelas cenas de filme, sabe? O cara vem apóia um braço, depois o outro e beija a garota.

-Porque você é um bom amigo e não quer me ver de recuperação? –Perguntei, rindo. Lucas era um excelente amigo.

-Também. –Ele riu baixo e suspirou- Mas, porque se você não ficar de recuperação a gente fica mais tempo junto, pequeno.

Ele apoiou outro braço na parede.

Eu ainda tava processando tudo o que ele disse, mas o Don Diego apareceu na minha mente, e novas lágrimas se formara em meu rosto.

Não pensei muito mais e beijei Lucas que não fez nada, a não ser continuar me beijando. Quando separamos o beijo, eu o abracei. Um abraço desesperado.

Lucas me abraçava forte. Ele chegou perto do meu ouvido e sussurrou:

-Eu tô aqui contigo pro que precisar, pequeno. Até pra estudar pra prova e dar uma lição no professor.

Sorri. Estava decidido.

Beijei Lucas novamente e fomos pra casa, afinal, tínhamos alguns dias pra prova de espanhol.