É. Eu sei que sou um fraco. Fazer o quê?

Me encontrei com Lucas, amigo de muito tempo, que, aliás, sabia que eu era gay, e fomos pra casa.

-Ele te beijou? –Ele parecia uma menina de tão agitado que estava.

-É.

-Cara esse é o sonho de toda menina do terceiro colegial... –Lucas ria. Eu não conseguia ficar sem contar alguma coisa pra ele. Éramos como duas meninas. A única diferença era que Lucas não era gay.

Lucas era mais alto que eu. Os cabelos loiros escorridos e mal penteados davam um ar brincalhão à criatura. Ele jogava futebol na escola, então tinha aquela puta perna. Era meu amigão. Nos conhecíamos desde pequenos.

Espanhol era uma das únicas matérias em que ele ia bem. Não que ele fosse burro. Mas, ele preferia educação física.

- É, é, que seja... O fato é que eu preciso de ajuda. Eu tenho que ir bem nesse teste. Quer me passar cola? –Olha, eu adoro o Lucas, mas, ele não consegue explicar como ser uma pedra, nem mesmo para uma pedra, que nasce sabendo isso. Acredite, a pedra iria ficar confusa caso ele explicasse como ser uma pedra. Enfim, deixando as pedras de lado, eu preferia que ele me passasse cola.

-Ah, Gabriel, sei não...

-Vai Lucas! Você passa cola pra todo mundo na maior cara de pau! Por que pra mim você fica todo cheio de mimimi?

-Porque você não é de colar... -Eu fiz a maior cara de dó pra ele, então ele suspiriu, resignado, e sorriu, meiguinho como sempre. - Tá bom, vai. Mas, é a primeira e a última vez.

Ele falava isso, mas, eu sabia que todas as vezes que eu ia pedir cola, ele vinha com a mesma conversa... Então já tinha minhas técnicas de persuasão.

Lucas passou mais um tempo em casa, se despediu e foi embora. Eu dei uma estudada - só pro caso de o Lucas desistir de última hora, né?- e fui tomar banho.

Quando fui me despindo, senti o cheiro dele na minha camiseta. Aquele perfume maravilhoso. Na hora me lembrei do beijo.

Na hora me lembrei também da prova que aquele maldito programou. Joguei a camiseta longe e fui pro banho. Eu não ia me apaixonar por um professor.

Muito menos o de espanhol.

No outro dia, a nossa prova oral foi um sucesso! Lucas me passou, muito discretamente, por sinal, a cola todinha e eu fui super bem. Na saída, o professor me segurou de novo.

-Fico feliz que tenha se saído bem. Só espero que não ligue de só ter a metade da nota. –Ele arrumava seu material. A blusa preta, de moletom, lhe caía muito bem. Pena que estivesse suja de giz. Giz branco.

Não que eu estivesse reparando. Claro que não.

-Por quê? –Eu lancei, ou melhor, tentei lançar um olhar mortal. Mas, meus olhinhos se perderam na barriga perfeita que apareceu, na hora em que ele levantou a blusa pra limpar o giz e a camiseta subiu junto.

-Porque eu vi, e muito bem, que você e seu amiguinho loiro, Lucas, colaram. E quer saber? Não gosto de colas.

O que eu entendi foi exatamente isso:

‘Blábláblá bláblábláblá bláblá blá bláblá, Lucas, blá blábláblá.’

Depois de raciocinar cheguei a uma conclusão: Aquela barriga era muito mais que perfeita.

Ele me prensou na parede ao perceber o que eu fazia.

-Gostou da minha barriga, é? –Ele sorria, malicioso.

-Não tava nem olhando... –Tentei disfarçar, mas não deu certo porque ele tirou a camiseta.

Daí fodeu, né?

Ele, devagar, fechou a porta da sala e depois, na mesma velocidade, voltou pra mim.

-E agora, vai olhar? –Ele me segurou de novo.

-Agora sim, né? –Sorri e me aproximei dele, o beijando.

Ele começou a subir minha camiseta, mas, batidas fortes e impacientes na grossa porta de madeira acabaram com o clima.

Separamos o beijo bem rápido, e ele colocou sua camiseta. Abrimos a porta e, inocentemente, fingimos que ele me ensinava alguma coisa, quando ouvimos a voz da diretora.

Escrevendo alguma coisa num papel, ele respondia a diretora, que logo saiu me aconselhando a ir pra casa. Depois, quando fui saindo, Diego me abraçou por trás, descendo a mão pra minha calça, colocando alguma coisa no meu bolso. Eu virei, para nos beijarmos. Dessa vez, um beijo rápido e discreto.

Fui pra casa, com essa cena na cabeça. Eu não queria admitir de jeito nenhum, mas, eu estava me apaixonando por Don Diego.

Chegando em casa, vi o que ele colocara no meu bolso. Um bilhete. Abri com todo o cuidado do mundo.

'Estude para a prova, amor. Não quero que vá mal, mesmo que eu deseje passar mais tempo com você.

Com amor, Diego.'