Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 9
Capítulo 9.Conformismo


Notas iniciais do capítulo

Ufa... mais um cápitulo. Sem Rose dessa vez, mas têm gente nova pra se irritar.

Ju_Araujo, capítulo saiu assim rapidinho em comemoração à sua indicação.

Carol e Jun, dêem uma olhada no título do capítulo anterior.

A todos uma boa leitura - e acompanhem carpe noctem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/92874/chapter/9


“O tempo estava muito seco. A jornada até ali havia sido muito longa e cansativa. Estava morrendo de sede, e sabia que seus homens também deveriam estar. Na verdade, já havia visto muitos deles caírem ao longo da caminhada.

Seu cavalo caminhava vagarosamente, arfando. Achou que não era justo com o animal continuar montado sobre ele, uma vez que o sol quente já o estava castigando a horas.

Desceu do animal, pensando em guiar a tropa para uma sombra, mas lembrou-se de que não podia. Não podiam parar para descansar, pois em caso de um ataque estariam desprevenidos. Tampouco podiam armar acampamento, não tinham encontrado uma fonte potável de água e morreriam caso dessem uma pausa tão comprida.

Mais que espadas, lanças e flechas, era o sol quem ceifava vidas naquela maldita guerra santa.

Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos, que considerou hereges. Uma mecha cacheada bateu em sua bochecha. Percebeu então que aquele não era um ato muito inteligente de se fazer, pois já estava muito cansado e desidratado, e aquilo o deixara tonto.

Tentando manter a mente limpa para, quem sabe, manter também o corpo em pé, reparou em como sua armadura pesava, além de refletir luz diretamente para seu rosto. Como se já não houvesse sol demais em sua cabeça.

Enrolou mais das rédeas em sua mão, obrigando o animal a se aproximar mais dele. Passou a mão enluvada pelo alto da cabeça negra do cavalo, pensando em quanto o sol também não os estaria afetando.

Retirou de si o elmo, pendurando-o juntamente com a espada e o escudo na sela de couro. Começou a soltar as amarradas do peitoral da armadura, quando sua mente foi invadida por uma lembrança que o fez sorrir.



Uma moça de cabelos mais longos que os dele, porém de um tom tão alvo que se aproximava do branco ao seu lado em uma varanda, numa noite de lua cheia. Ela admirava a lua. Se bem que ele tinha a sensação de que era a lua quem a admirava, fazendo-se refletir em seus lindos olhos azuis.

– Meu amado príncipe...

Sorriu para ela, pousando uma mão sobre a da moça, incentivando-a a continuar:

– Dar-me-ia a honra de fazer-lhe um pedido?

Assentiu com a cabeça.

– Prometeis voltar desta campanha?

– Doamnei, minha futura princesa. Que tipo de pedido é esse?

Ela o olhou com certa tristeza nos olhos. Estava com medo?

– Prometeis?

Sorriu novamente. Ergueu a mão da moça e a beijou. Virou-se e saiu andando sem mais nada dizer.



Embora não tenha dito nada, havia selado uma promessa com sua noiva. Tinha de voltar. Não a amava, ainda. Mas via tanto amor pelos olhos da jovem a olhá-lo que acabou aceitando toda a ideia do casamento . Doamnei vinha de uma família nobre, e fazia jus a seu sangue real. A Valáquia teria uma boa princesa, e algo lhe dizia que ninguém o amaria mais que a moça enquanto estivesse vivo.

Retirou o peitoral da armadura, e o pendurou também. Não seria a falta do artefato que o impediria de voltar para casa.

Caminhou à frente de seu exército, procurando o almejado abrigo, antes que fosse o sol que corrompesse sua palavra.”



Celas levantou-se assustada do caixão. Aquilo havia sido outro sonho? Estranho, era real demais! Tinha pensamentos e sentimentos muito fortes dentro de uma pessoa que ela sabia não ser ela.

Balançou a cabeça com força, lavou-se e trocou de roupa. Em poucos passos estava em frente ao quarto de hóspedes, para onde Vlad já havia voltado.

Deu duas batidas suaves na porta. A resposta não veio. Apoiou a cabeça próxima à maçaneta, e ouviu o coração do rapaz batendo lá de dentro, além da respiração baixa, indicando que provavelmente estaria dormindo. Quando ia se virar para sair, a porta se abriu sozinha. Bom, ela queria entrar mesmo, então acabou empurrando-a devagar.

O quarto estava escuro, com poucos raios da lua crescente invadindo o local. Criando apenas penumbra. Felizmente, para Celas que enxergava melhor no escuro, as formas estavam extremamente bem definidas, e ela era capaz de identificar os objetos. Viu a cama, desarrumada mas vazia. Vlad não estava lá? Olhou em volta, e percebeu que ele estava sentado em uma cadeira, com a cabeça caída, apoiando o queixo no peito. Aquilo ia dar um belo torcicolo no dia seguinte.

Aproximou-se da janela, procurando se Rose não estaria no jardim. Que tipo de enfermeira abandona assim seu paciente no começo da noite? Viu a enfermeira sentada em um banco no gramado, fumando um cigarro barato, e atirando a bituca na grama. Credo, que nojo! Quando reparou que ela não tinha se levantado do banco, achou melhor tomar alguma atitude quanto à prevenção do torcicolo do rapaz.

Achou por bem que Vlad preferiria ser acordado podendo ver onde estava, então acendeu o abajur do quarto. A luz era fraca, mas o suficiente por aquele momento. Ajoelhou-se de frente para a cadeira, e pousou ambas as mãos sobre os joelhos dele, esperando que o toque o despertasse. Não o despertou.

Vlad se mexeu na cadeira, deixando que um nome lhe escapasse dos lábios:

– Doamnei...

Então o sonho que ela teve era na verdade dele?

Pousou uma das mãos sobre o ombro dele, e forçou um carinho mais forte com o dedão. Vlad acordou assustado, e agarrou a mão de Celas, afastando-a do corpo, com uma força que a vampira não imaginou que ele tinha. A outra, com os dedos precisamente alinhados, foi em direção ao peito da loira, parando rente aos seios dela.

Os olhos vermelhos buscaram os âmbares, tentando tranquilizar o homem que respirava muito rápido a sua frente.

–Vlad-san, está tudo bem...

Vlad olhou em volta, tentando entender onde estava. Ainda bem que a luz estava acessa.

Baixou ambas as mãos, e deixou a cabeça pender novamente para frente, tentando regularizar a respiração.

– Desculpe-me se lhe assustei, mas achei que seria melhor se fosse para a cama...

Vlad ergueu uma das mãos, como se dissesse que ela não precisava desculpar-se.

O rapaz em seguida apoiou as mãos na cadeira, fazendo menção de se levantar. Celas passou as mãos por baixo dos braços dele, ajudando-o a ficar em pé, e o conduziu até sentá-lo na cama. Ajoelhou-se novamente a sua frente.

– Que horas são? – Ele perguntou, tentando encontrar apoio no colchão.

– Quase 19:00. – Ela informou, perguntando-se mentalmente se não era melhor ou acender todas as luzes, ou ajudá-lo a se deitar na cama.

– Estranho, não costumo cochilar assim...

Celas, que já esperava ouvir o tradicional “entendo” vindo de Vlad, até se assustou com a frase que claramente, além de ser uma justificativa, dava indícios que ele queria continuar a conversa.

– O dia deve ter sido cansativo. – Ela disse, praticamente sorrindo.

– Pode-ser, devo mesmo estar cansado. – Ele levou uma das mãos ao rosto.

– Está tudo bem Vlad-san. Não prefere voltar a dormir?

Ele balançou a cabeça em sinal de negação. A vampira percebeu a desanimação do rapaz.

– Está tudo bem?

– Dor de cabeça.

Celas percebeu que a voz dele estava um pouco mais mole que o normal. Será que a enfermeira ainda estava lá, vegetando no jardim?

–Celas-san? – A voz grave de Vlad a tirou de seus pensamentos. – O que veio fazer aqui?

– Eu estava, pensando... Quem é Doamnei? – A pergunta saiu assim, sem raciocinar muito sobre ela. Espera, estava com ciúmes?

– Minha esposa. – Ele respondeu, rápido e secamente.

Hum, então ele chegou a se casar com a tal noiva. Espera, para o mundo que eu quero descer! Ele era casado? Mas seu mestre não insinuara que Vlad era virgem?

– Que aconteceu com ela? – Perguntou de pronto, quando percebeu que tinha falado bobagem. Bom, agora já tinha dito mesmo.

– Morreu. Já faz bastante tempo. – Por incrível que pareça, ele respondeu sem se ofender com a intromissão dela, mas a aparência de Vlad estava ainda mais desoladora e desanimada.

Vlad deve ter percebido as sobrancelhas de Celas subirem em um olhar curioso, mas contido, então continuou:

– Na noite do casamento, meu castelo foi invadido. Ela não sobreviveu.

Celas tinha certeza de que se ainda fosse humana, estaria chorando naquele momento. A voz de Vlad foi seca e triste naquela afirmação, com uma mistura de conformismo e pesar.

– Vlad-san...

– Estou com fome.

Celas respirou fundo. Levantou-se e se dirigiu para a porta, dizendo que traria alguma coisa para ele.

Cerca de vinte minutos depois, a vampira estava de volta, carregando uma bandeja com um prato de sopa nas mãos. Aparentemente aquela era a entrada do jantar que seria servido para Integra.

Vlad deixou que Celas equilibrasse a bandeja sobre suas pernas, e ela reparou nele tentando se entender com o a colher na mão esquerda. Além da pouca habilidade, ele estava um pouco trêmulo.

– O ombro ainda dói? – Ela perguntou, procurando entender por que o rapaz não usava a outra mão.

– Um pouco. – Conseguiu levar a colher aos lábios.

Celas o olhou tentando repetir o gesto, mas derrubando a colher cheia sobre o prato.

Celas se levantou, procurando um guardanapo para limpar a sopa que Vlad tinha espalhado. Foi quando reparou que Integra estava parada na porta, observando a cena. A mulher passou pela vampira, sentou-se na cama, retirou um lenço do bolso, e limpou alguns respingos da roupa do rapaz. Celas ficou em pé, olhando.

Integra pegou a colher das mãos de Vlad, a mergulhou na sopa e a levou até os lábios do rapaz.

– Estranhei quando vi a garota policial subindo as escadas com um prato de comida. Uma pena não se sentir bem o suficiente para sentar-se a mesa.

– Sinto muito.

– Não sinta. Está tudo bem.

Duas colheradas depois, e cessou o movimento, ao perceber que Vlad levava as costas da mão até a boca, de olhos fechados, respirando mais fundo. Ele estava contendo uma ânsia de vômito?

– Vlad?

– Perdão. Não sei o que... – Forçou a respiração mais uma vez. Sabia que não chegaria a tempo ao banheiro caso não conseguisse se controlar.

Integra soltou o talher sobre a bandeja, pegando-a em seguida e a colocando sobre um móvel próximo. Pousou uma das mãos na curva do pescoço de Vlad. Estava muito quente. Respirou resignadamente, e disse alto o suficiente para se fazer notar por Celas:

– Está ardendo em febre.

Celas sentiu um pouco de pânico e frio tomar sua espinha. Sabia que devia cuidar do rapaz mas, bom, não tinha como saber daquilo uma vez que não sentia mais a variação da temperatura em sua pele fria.

– Quer que eu vá chamar Rose, Sir Hellsing?

– Por que ela não está aqui afinal? – Integra balançou os cabelos platinados graciosamente. – Não importa. Pode deixar policial. Vá para seu posto. Qualquer coisa eu a chamarei.

– Sim, Sir Hellsing. – Celas fez uma reverência suave e deixou o cômodo.

Integra se levantou, e em um toque suave fez com que Vlad se deitasse na cama. Abriu a gaveta do criado mudo, e deu um anti-térmico para o rapaz. Encheu um copo com água, que já estava no quarto, e o ofereceu para o outro. Vlad já havia engolido o comprimido a seco.

– Beba assim mesmo. Vai lhe fazer bem.

O rapaz aceitou o copo, bebeu seu conteúdo, mas acabou derrubando um pouco do líquido, se molhando. Integra acabou sorrindo, enquanto observava algumas gotas d’água percorrerem o pescoço do rapaz.

– Perdão. – Disse Vlad, enquanto devolvia o copo para Integra.

– Tudo bem. Vamos ter que te colocar embaixo do chuveiro se a febre não ceder, de qualquer forma...

Vlad abriu um pouco mais os olhos âmbares. Não pareceu muito contente com a ideia. Tentou puxar o cobertor para cima de si, mas não obteve muito sucesso. Integra retirou o objeto dos dedos do rapaz, e o cobriu.

– Dia agitado? – Integra perguntou, enquanto Vlad se ajeitava melhor entre os travesseiros.

– Sonhos também. – Ele respondeu.

Integra passou os dedos sobre os cabelos do rapaz, pressionando de leve a fronte. Percebeu que o rapaz fechou os olhos e entreabriu os lábios, quase como se desejasse aquele toque. O repetiu para ter certeza, e ao perceber a mesma reação outra vez, inclinou o corpo para poder massagear a cabeça dele com mais destreza.

Em poucos segundos Vlad parecia ter relaxado completamente na cama. Integra o observou com os olhos semi-cerrados, lutando contra o sono. A febre devia tê-lo deixado realmente cansado.

– Sinto muito por ter lhe dado esse trabalho.

– Descanse, meu caro conde. Apenas descanse.

Deu um beijo suave sobre a testa do rapaz, que já sucumbia novamente ao sono.

Levantou-se, e deixou o quarto. Voltaria mais tarde para conferir como ele estava, depois de dar a maior bronca que Rose provavelmente já teria levado na vida! Algo tão forte e intenso que seria o suficiente para aliviá-la da vontade de enchê-la de tiros. Que tipo de enfermeira abandona seu paciente ardendo em febre? E a demitiria! E depois readmitiria só para poder dar outra bronca e demitir novamente!

Andou com passos tão pesados que nem se deu conta que quase atropelou Celas, que estava parada na frente de seu escritório.

Após se recompor do susto, entrou na sala, sentando-se atrás da grande mesa de madeira, olhando para Celas que ficou em pé a sua frente.

– O que deseja, policial?

– Eu estava pensando, se Sir Hellsing sabe como foi a vida do mestre antes... Antes de servir a Hellsing...

Celas estava com os olhos baixos, olhando pra o chão enquanto mexia o pé em movimentos circulares, parecendo mesmo uma criança se desculpando por ter quebrado o vaso da sala ou feitou uma outra arte qualquer.

– Na verdade, eu sei sim. Meu avô fez registros completos dobre Alucard quando o capturou.

Celas ergueu os olhos, em parte feliz com a notícia, em parte triste com o termo “capturou”, mas realmente muito curiosa com os fatos para se importar com os termos usados pela Mestra de seu Mestre.

– Por que? O que quer saber, policial? – Integra fingiu procurar um papel qualquer na mesa, para não demonstrar interesse na vampira.

– Sir Hellsing. A senhora sabe se ele já foi casado?

Integra ergueu os olhos, não sendo mais capaz de evitar o contato visual e claramente não entendendo onde a policial queria chegar com aquilo. Bom, melhor responder:

– De acordo com os historiadores, e até mesmo alguns escritos deixados por meu avô, parece que ele já foi casado sim.

– Hum, e o que aconteceu com a esposa? – Celas se sentia como se tivesse sido prometida em casamento para o Barba Azul. Tá, sem exageros, mas ela queria entender quem era aquele rapaz que seu mestre ordenou que cuidasse.

– Pouco se sabe sobre a morte de Ilona, uma vez que não estava mais com Alucard quando isso aconteceu.

– Não estava mais com ele?

–Não. Alucard já era um vampiro quando se casou, mas por algum motivo nunca contou isso para ela. Quando descobriu, Ilona simplesmente fugiu, com os filhos.

– FILHOS? – A expressão de Celas não tinha preço. Os olhos muito arregalados, a boca aberta e a postura congelada sobre as pontas dos pés.

– Bastardos até onde se sabe.

Celas baixou os olhos, no final, tinha conseguido mais informações vagas sobre o rapaz. Integra percebeu a decepção.

– Sir Hellsing sabe como o mestre reagiu a esses fatos?

– Na verdade não. Seus relatos sempre foram muito frios e desprovidos de detalhes que dessem indícios de sentimentos.

Celas fez uma reverência curta, e virou-se para deixar o quarto. Antes de fazê-lo, porém, virou a cabeça, informando para Integra:

– Eu acho que ele a amava. O nome dela era Doamnei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ilona é um nome de verdade, Doamnei vem do nome do rio em que diz a lenda (?) que a primeira esposa de Vlad Tepes se sacrificou. Como eu não conheço a história original, entendam tudo o que acontecer aqui como pura ficção!

Oh sim, reviews fazem bem pra alma, exp e bolso de quem envia e quem recebe! Então cuidem de si e do mundo! Bjus e até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anjo da Noite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.