Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 69
Capítulo 69. Descontração


Notas iniciais do capítulo

Heroes

R.I.P. David Bowie.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/92874/chapter/69

I, I wish you could swim
Like the dolphins, like dolphins can swim
Though nothing, nothing will keep us together
We can beat them, for ever and ever
Oh we can be heroes, just for one day

I, I will be king
And you, you will be queen
Though nothing will drive them away
We can be heroes, just for one day
We can be us, just for one day

Apesar da cara de tacho de Celas durante quase toda a noite, foi um evento bastante agradável. Conforme combinado, eles assistiram ao episódio IV de Star Wars. No final do filme, enquanto Celas cochilava em sua poltrona e Vlad estava desligando a televisão, Integra confessou que apesar de saber algumas coisas sobre a franquia, aquela foi a primeira vez em que assistiu a um filme da serie. E Integra, de braços cruzados e sem olhar para Vlad, agradeceu pelo convite. E foi embora.

Celas acordou com o barulho da porta sendo fechada e reclamou por quase dez minutos do fato de ter ficado sem carona, quando finalmente se despediu e foi embora, de ônibus.

Vlad se deitou no sofá, e ficou a olhar o teto branco de seu apartamento. Aquela noite havia sido estranha mas... Certa. Vlad estava estranhamente satisfeito em ter conseguido fazer algo tão normal quanto assistir a um filme com sua esposa. Porque significava que toda aquela dor, todo o desespero que sentia ao pensar em lidar com aquela situação... Aqueles sentimentos estavam sob controle. E considerando que a noite anterior tinha sido um desastre que até agora ele não tinha entendido direito, pelo menos o fato de eles conseguirem ver um filme inteiro era um avanço, certo?

Vlad respirou fundo. Afinal de contas, o que tinha dado tão errado na noite anterior? Tudo bem que havia ainda um clima tenso em torno dos dois. Muitos sentimentos ainda não resolvidos, muita dor compartilhada. E era bom saber que Integra também sentia pelo que havia acontecido. E quando ela disse aquelas palavras... Vlad nunca quis que as lembranças que Integra tinha dele a fizessem sofrer. Então ele disse isso para ela e daí...

Eu precisava gastar minhas energias em seguir em frente, não em analisar o que ficou para trás. Talvez seja o caso de fazer o mesmo.

Vlad se levantou de sobressalto no sofá. Como ele podia ter sido tão... Tão... Tão estúpido?

Ele não disse que Integra não precisava se culpar. Que eles podiam esquecer o passado e formar um novo futuro. Ele acabou, sem querer, dizendo que tinha deixado Integra para trás e que ela devia fazer o mesmo. Justo quando ela estava tentando pedir desculpas!

Provavelmente Integra só tinha falado com ele naquele dia por causa da explosão da cantina. Era quase que um milagre que ela tivesse aceitado ao convite para assistir ao filme e... Espera ai... Integra tinha ficado decepcionada com a ideia de que a relação deles tinha ficado para trás? E enquanto Vlad ria para o teto de seu apartamento, lembrou-se que ainda havia 5 episódios em DVD para assistir, além do filme no cinema. E que Integra não tinha visto nenhum. Vlad sorriu. Depois da guerra, de tantas batalhas, de tantos demônios... Depois de sobreviver a tantas coisas... Ele ia morrer de... Integra.

.

.

.

– Willians, venha comigo. – Disse Vlad, assim que chegou à Hellsing e encontrou suas tropas já a postos.

– Sim senhor. – O soldado respondeu, seguindo o conde.

Já distante das tropas, Vlad começou a falar:

– Seus soldados precisam te respeitar, garoto. O que aconteceu ontem na cantina não pode se repetir.

– Eu sei disso senhor.

– Alguém podia ter morrido naquela explosão.

Willians ficou em silêncio.

– Você sabe por que seus soldados não te obedeceram?

– Acredito que seja porque eu sou mais jovem que eles, então não me respeitam, senhor.

– Errado Willians.

– Senhor?

– Esses soldados... Eles não perceberam ainda o que está em jogo. Explodiram uma cantina por diversão. Fizeram mais uma leva de exercícios como punição e preferiram me provocar por causa de um filme do que se preparar para o mundo lá fora. Se alguém... Se alguma coisa mais letal que Sir Hellsing... Tivesse entrado naquele vestiário, o mais preparado para se defender seria você, Willians.

– Com todo o respeito, senhor. Não há nada mais letal que Sir Hellsing.

Vlad riu.

– Estou falando sério Willians. Aqueles homens não sabiam onde estavam suas calças. Como é que encontrariam suas armas?

– Senhor?

– Eles já entenderam que devem obedecer à hierarquia durante as missões. Mas um erro fora de uma missão pode ser tão letal quanto um erro em uma missão. Como fazer para que entendam isso, Willians?

– Não sei senhor.

– Continue tentando, Willians. Você está fazendo um bom trabalho.

– Recomendará alguma punição, senhor?

Vlad olhou para o soldado ao seu lado.

– Os soldados ainda vão ter que pagar pelos estragos. Quanto a você... Tire folga até o fim do mês. Não avise ninguém, desligue seu celular e não atualize seu status em nenhuma rede social.

– Senhor?

– Tente se divertir Willians.

E confuso, Willians fez um leve sim com a cabeça. Vlad sorriu, fez um leve aceno e foi para o escritório. Ele tinha de esperar pelo menos meia hora para falar com os soldados e ele realmente estava curioso para saber qual era a sua situação com Integra.

– Vlad? Você não deveria estar no haras hoje? – Integra perguntou, de cima de seu jornal.

– Eu disse que ia cuidar do caso da cantina, não disse? – Vlad deu de ombros. – Precisa de ajuda com alguma coisa?

– Na verdade, estava planejando a reconstrução da cantina. O que você fez com o Willians?

– Dei duas semanas de folga para ele.

–Hum... E o que você vai fazer com os soldados?

– Absolutamente nada.

– Vlad... O que você está...

Vlad sorriu. Um sorriso muito parecido com os sorrisos perversos de Alucard. Integra acabou sorrindo também.

– O que você está tramando, Vlad?

– Eu? Nada!

– Sei... Cuidado com os requintes de crueldade, sim?

– Não sei do que está falando.

Ficaram conversando por mais quarenta minutos, quando Vlad se lembrou que ainda tinha que falar com os soldados.

– Integra? – Ele chamou, já da porta.

Ela apenas olhou para ele em silêncio.

– Quer assistir ao episódio V hoje?

A Hellsing ficou olhando para o conde, até assentir suavemente com a cabeça.

– Podemos ver na mansão, se quiser. Eu também tenho os filmes. – Ela murmurou.

Vlad sorriu.

– Eu posso fazer a pipoca. – Ele disse, antes de sair do escritório.

Naquela noite, durante o filme, Integra se sentou ao lado de Vlad no grande sofá branco da Hellsing para poder compartilhar a pipoca. Em algum momento Vlad comentou o quanto seria útil ter um sabre de luz durante a guerra. No meio do filme, estavam também compartilhando um cobertor. No final do filme, Integra estava um pouco preocupada em como Vlad reagiria ao que foi mostrado do relacionamento entre Luke e o pai, mas o conde apenas lhe disse:

– Eu quero um sabre de luz!

– E de que lado da Força você ficaria, Jedi?

– Se isso quer dizer que posso ter um sabre de luz vermelho, do lado negro, é claro. Mas a Força não importa.

Só depois que Vlad foi embora que Integra entendeu que o que Vlad queria era uma espada que coubesse em seu bolso. Na manhã seguinte, Integra começou a repensar suas aulas de esgrima.

.

.

.

Desde que Vlad voltou sem Willians, o conde estava se segurando para não rir da cara de seus soldados. Pelo resto do mês, durante as sessões, sempre que alguém lhe perguntava do rapaz, Vlad ficava em silêncio e olhava para o chão, para em seguida dizer que era melhor voltarem ao treino. Em poucos dias, os boatos começaram. Tudo o que eles sabiam era que Willians tinha assumido a responsabilidade pela explosão da cantina para Sir Hellsing. E depois que ele conversou com o conde logo no começo da semana... Nada. Alguns soldados achavam que Willians tinha servido de alvo para o treino de tiro de Integra, outros que o conde o havia designado para uma missão solo da qual ele não tinha se recuperado. Ou sobrevivido. Alguns mais otimistas afirmavam que Willians tinha sido apenas transferido, mas então por que as coisas dele ainda estavam no armário? No geral, Vlad estava se matando de rir, por dentro, é claro. Até Integra estava se divertindo com a situação, depois que entendeu o que Vlad estava fazendo.

E de repente, sem mais e nem menos, Integra e Vlad se pegaram conspirando formas de tornar pequenas crueldades mais requintadas. Por exemplo, naquele dia, Integra tinha comentado com Vlad que apesar de ter trocado de instrutor de esgrima, de novo, ainda não estava satisfeita.

– Bom, é um esporte que exige agilidade e bons reflexos, mas também tem regras muito rígidas de postura, em minha opinião. – O conde murmurou, enquanto apontava um lápis pela quinta vez.

– E todos os instrutores torcem o nariz quando eu digo que quero usar a espada e não o florete. Eles alegam que eu não tenho altura para a espada. – Respondeu a Hellsing, enquanto juntava grandes pilhas de papel em sua mesa para serem levadas para digitação.

– E por que você quer usar a espada?

– Porque com a espada se pode atingir o corpo inteiro do inimigo. Em um combate real, duvido que meu inimigo teria alguma objeção em estourar meu joelho antes de me transpassar o coração.

Aquilo chamou a atenção de Vlad, que parou de apontar o lápis para olhar por alguns instantes para Integra. Logo em seguida ele voltou a se concentrar na ponta do lápis, que ainda não estava do jeito que ele queria.

– Em um combate real você não usaria uma espada de esgrima. Nem o seu inimigo. Além disso, você luta com pistolas, à distância.

– Mas e se um vampiro conseguir chegar perto de mim o suficiente?

– Você tem alguma objeção a atirar a queima roupa?

– Você está fugindo do ponto da discussão. – Integra murmurou, enquanto pegava o lápis da mão de Vlad.

– Você TEM alguma objeção a atirar a queima roupa? Estou chocado. – Ele respondeu, sem se importar com o lápis.

– Vlad! Eu não preciso de um parceiro de treino para atirar. Mas para um duelo de espadas eu preciso!

– Bom! Ainda bem que você não precisa de alguém para atirar! Eu não estou interessado em ser o seu alvo.

– Vlad! Você está não entendendo o que eu estou dizendo de propósito?

E então Vlad sorriu. E Integra percebeu que sim, ele estava se fazendo de desentendido para ver até onde Integra iria enrolar antes de dizer o que realmente queria. Requintes de crueldade, hum?

– O que eu estou dizendo é que eu acho que você podia ser meu parceiro de treino.

Pela cara de Vlad, só faltou ele dizer “duh”. Mas logo em seguida o conde disse:

– Eu conheço o básico das regras, mas eu não sou realmente um esgrimista, Integra.

Integra sorriu. Esse foi o principal motivo pelo qual o antigo professor dela se demitiu. Porque alguém que não entendia nada de esgrima disse que Integra estava vulnerável e ele não suportou ser corrigido. Acontece que desde então, Integra percebeu que por mais que aperfeiçoasse sua pose, não havia a agressividade em uma batalha contra um instrutor que havia contra um cruzado.

– E eu não vou competir nas olimpíadas, Vlad. Eu só quero melhorar os meus reflexos em combates corpo a corpo.

Vlad ficou em silencio por alguns minutos e Integra quase leu sua mente: eu não sou um bom adversário para você. Eu sou mais alto. Eu sou mais forte.

– Vlad. Eu sei que você é melhor que eu nisso. E eu também confio que você vai saber se controlar o suficiente para que eu consiga, de fato, aprender alguma coisa. Eu não tenho quatro anos, não vou abrir um berreiro se não conseguir de derrotar.

– Não? – Vlad perguntou, levantando o queixo.

Integra atirou o lápis em Vlad, que o atingiu bem no meio da testa, felizmente com a extremidade onde estava a borrachinha, e não a ponta. Vlad não mexeu a cabeça e nem deu nenhum sinal de que ele sentiu o impacto do lápis, mas pegou o objeto no ar, antes que ele caísse no chão e quebrasse a ponta. Integra tinha uma severa suspeita de que Vlad deixou que o lápis o atingisse só porque se ele desviasse a ponta se quebraria.

– Você devia lutar com facas, e não espadas. Na pior das hipóteses, sempre é possível atirá-las. – Ele murmurou.

– Vlad! Eu estou falando sério!

– Bom! Eu também! A espada é uma arma nobre. O que não quer dizer que você deva lutar com ela!

Integra se lembrou de uma noite, há muito tempo, em que Vlad contou a ela que na verdade seu real talento estava no arco e flecha, mas que seu pai lhe obrigou a aprender a duelar com espada e escudo, porque ser um arqueiro não era algo próprio de seu nome. No dia seguinte, Integra chegou à mansão com uma pistola e uma licença para portar a arma, no nome de Vlad. Até onde Integra sabia, a arma continuava na gaveta onde Vlad a deixou.

– E você sabe lutar com facas? – Integra perguntou.

–Sim. Mas não sou um bom oponente. Avise-me caso precise de um em uma justa. Eu posso até ceder os cavalos. – Ele murmurou.

– Você já participou de uma justa?

– E de uma infinidade de torneios que mais pareciam uma volta no Coliseu durante...- E então uma ideia brotou na mente de Vlad. – Sabe de uma coisa? Pode ser exatamente disso que esses soldados precisam.

– De uma justa?

– De um Coliseu.

No final, Vlad explicou o que estava pensando e Integra acabou concordando. O Coliseu sempre foi um símbolo de poder. Um com o potencial de, ao mesmo tempo, divertir o povo, agradar aos deuses e punir escravos e criminosos. Um símbolo que lembraria aos soldados de seus primeiros dias na Hellsing e também do potencial horror de suas missões. Esses soldados, apesar de leais, fortes e com respeito à hierarquia durante as missões, não tinham ainda conhecido o lado mais satânico dos vampiros. Não como Willians tinha. Eles entendiam o perigo de uma missão, mas se descuidavam fora delas. Inclusive, confiavam demais na análise das missões, o que era sem dúvida um erro. Não estavam preparados para o inesperado, não estavam atentos. Eles pareciam mais alerta agora que a ausência de Willians fazia com que eles pensassem mais no garoto do que quando ele estava presente e dando ordens. Mas a ausência de Willians não podia ser o “Coliseu”. Eles precisavam de algo mais. Até porque a folga do soldado estava acabando.

– E o que vai ser o nosso “Coliseu”?

– Não sei. Vamos começar com os jogos. A gente pensa nisso depois.

– Jogos?

– Bom, você queria um oponente, não queria? E já que a cantina já está reconstruída e eles estão bem alimentados...

Integra sorriu. Ela concordava com a política distorcida de Vlad. Pão e circo. Simplesmente, pão e circo.

I, I can remember (I remember)
Standing, by the wall (by the wall)
And the guns, shot above our heads (over our heads)
And we kissed, as though nothing could fall (nothing could fall)
And the shame, was on the other side
Oh, we can beat them, for ever and ever
Then we could be heroes, just for one day

We can be heroes
We can be heroes
We can be heroes
Just for one day
We can be heroes


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

R&R



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anjo da Noite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.