Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 55
Capítulo 55. Escuridão (Intermezzo)


Notas iniciais do capítulo

Para liaraujomarques2, muito, muito obrigada pela décima recomendação da fic.

No espírito do Rock in Rio, a música de hoje é fear of the dark. IRON MAIDEN! |m/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/92874/chapter/55

I am a man who walks alone
And when I'm walking in a dark road
At night or strolling through the park

When the light begins to change
I sometimes feel a little strange
A little anxious when it's dark

Fear of the dark, fear of the dark
I have a constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there

Have you run your fingers down the wall
And have you felt your neck skin crawl
When you're searching for the light?
Sometimes when you're scared to take a look
At the corner of the room
You've sensed that something's watching you

Vlad sempre foi um homem atormentado. E ele sabia disso. Ainda muito criança, Vlad tinha medo do escuro. Tinha medo dos sons da noite, tinha medo das formas que o vento criava em suas janelas. Tinha medo do desconhecido, de não poder ver a sua frente. Medo que uma vela geralmente ajudava a afugentar. Mas o medo permanecia. Algo na noite lhe fazia sentir como se aquele não fosse seu lugar. E ele temia que alguém viesse lhe buscar, lhe tirar de sua família.

E alguém veio. Um monstro sádico o tirou de sua casa, no meio da noite. Mas não um monstro provindo da noite. Um monstro nascido entre os homens. Um monstro que morava na areia e se escondia camuflado pelos raios de sol. E Vlad percebeu que o inferno era feito de calor, fogo e pó.

E no meio do deserto, sua pele clara foi constantemente ferida, mais pelo calor que pela chibata. Seus olhos claros eram frágeis. A vermelhidão constantemente confundida com sinais de choro. E o senhor de Constantinopla se divertia com a situação.

E o medo da noite se transformou em algo completamente diferente com o tempo. Vlad percebeu que o rei não mais se divertia com seu sofrimento. Porque o coração do filho do dragão, embora ainda juvenil, se endureceu com o tempo. Em um mês, Vlad não chorava ou gritava quando as batidas do chicote cortavam sua carne. A vermelhidão em seus olhos, embora causada pelo sol e a areia, agora mais parecia raiva do que desespero, e ambos rei e príncipe viram o que estava por ocorrer.

Vlad passou a temer a noite pois sabia que o desejo do rei de possuir sua angústia era tão forte que seu corpo, honra e dignidade não estavam seguros. Não com a loucura que paira nas noites do deserto, não com os gritos das mulheres feitas escravas e prostitutas pela guerra. Mulheres que muitas vezes não acordavam no dia seguinte, fosse pela mão do próprio rei, ou pelas dos soldados que ficavam com as sobras.

E Vlad não entendia plenamente o que temia, mas o temor não tem razão ou explicação. Não em sua natureza.

E novamente, seu maior medo o encontrou durante uma noite, na forma do rei rasgando suas roupas e o atirando no chão sujo de sua cela. E Vlad, como todo animal amedrontado, fez o que lhe coube: rosnou, mostrou suas garras e seus dentes.

E seu crucifixo, seu pequeno crucifixo de prata que o rei não lhe tirou porque aquela seria a prova de que seu Deus não o salvaria, não importava o quanto rezasse, foi a arma que encontrou.

Naquela noite o rei foi assassinado pelo dragão e sua cabeça fincada em uma lança, em destaque como um troféu a frente das tropas, não tinha mais olhos, orelhas e nem língua. Um dos olhos já estava furado quando o soberano da Valáquia lhe cortou fora a cabeça. E como o dragão estava orgulhoso de sua cria.

Mas Vlad? Vlad sabia que com ou sem um olho, algo horrível teria acontecido aquela noite se seu pai não tivesse ido salvá-lo naquele exato momento. E apesar de ter sido tocado, Vlad ainda tão criança precisou entender o que era castidade e virgindade para poder gritar a plenos pulmões que ainda era puro, que tinha se defendido e que era digno do amor de seu pai.

E o medo que ele tinha do escuro tomou outra forma e assumiu novos motivos. Até se tornar um pré-adolescente e partir para guerra, a noite lhe lembrava que seu pai sentia nojo por ele. A noite o lembrava de como era frágil o elo entre ele e seu maior herói. A noite o lembrava de como ele era frágil.

E então, aos treze, a guerra chegou até a porta de seu quarto, e Vlad, desperto pelo som de sua porta quebrando, matou pela primeira vez. A sensação do sangue escorrendo por suas vestes de dormir e pele o atormentando por muitas noites ainda.

E o escuro significava solidão e insegurança.

Com o passar dos anos, a solidão não foi mais problema. Aos quinze se uniu às tropas e não ficou mais sozinho por um minuto de sua vida que fosse. A insegurança, no entanto, era uma vadia persistente, que não lhe dava sossego. Uma vadia que andava de mãos dadas com a culpa. E por muitos anos este foi o significado da noite.

Até que, aos poucos, ele se fundiu com o medo juvenil do desconhecido. Mas o que Vlad mais temia na noite eram os sussurros que ouvia. As promessas que lhe aguardavam. Havia algo na noite que lhe convidava. Algo que lhe dizia "bem vindo de volta", algo que lhe era horrivelmente familiar. E era disso que Vlad tinha medo. Medo de pertencer à escuridão.

E os anos passaram, e com eles a vida daqueles que amava. Não temia mais a morte ou a traição, pois todos o que lhe importavam ou estavam mortos ou o haviam traído. E falta de temor lhe custou, literalmente, a cabeça. E tudo a partir dali foi escuridão. Uma entrega total não á noite, mais às trevas que a noite inspirava. E apesar do sentimento latente de um observador distante, Vlad estava feliz por não ter consciência do sangue ou da eternidade de angústias e loucura que vivia.

Mas um dia, a escuridão se dissipou, dando lugar a uma claridade que lhe machucava os olhos desacostumados e lhe confundia a mente ainda não desperta. Porque Vlad não entendia o fogo que caia do céu e nem o trovão que lhe assaltava os ouvidos. O inferno devia ser feito de areia, calor e pó, não fogo, cinzas e trovão.

Trovão que lhe atormentava durante os dias nos sapatos das enfermeiras, nas buzinas dos carros e no fedor de uma Londres sempre cinza. E a noite era um momento de puro terror, porque as drogas que era obrigado a ingerir despertavam seus piores pesadelos, suas piores lembranças.

E atormentado por imagens tão vívidas que nem mesmo suas drogas podiam conter, imagens que lhe torturavam porque eram reais, Vlad muitas vezes despertou de seu sono forçado e caminhou pelos corredores de St. Adams, feliz em contemplar o silêncio tão raro.

E foi numa noite destas em que encontrou alguém que lhe olhou de uma forma um pouco diferente, que lhe mostrou interesse. Para o monstro da noite que foi o único a lhe mostrar humanidade. E Vlad falou.

E suas palavras tinham a ver com a noite.

E com o tempo, as drogas se dissiparam e a claridade voltou aos seus pensamentos. Mas as imagens que atormentavam seus pesadelos se tornaram constantes e Vlad passou a temer a noite não mais pela escuridão, mas porque temia a si mesmo. E seus sonhos não lhe deixavam esquecer quem ele era.

Mas quem ele era o atormentava todos os dias, com ou sem o sol. Quem ele era lhe trouxe e dele levou seu amor (não correspondido) e o fez novamente se tornar sozinho. E seus medos agora não mais viviam sob a luz do luar. Não o pavor do desconhecido, não a insegurança, não a solidão, não a familiaridade com as trevas e não o desprezo por quem era. Eles moravam nas sombras que se formavam por trás de suas pálpebras quando ele fechava os olhos.

Até que a escuridão tomou seu corpo, lhe mostrou que o inferno não era feito de pó, fogo, calor, areia ou trovão, mas sim de neve, brasas e sangue.

E quando a escuridão assumiu sua forma mais aterrorizante, a forma de seu maior medo, ela se dissipou. Como toda a noite que atinge o auge de sua escuridão precisa começar a clarear logo em seguida.

E quando Vlad abriu os olhos, foi para encontrar raios de sol em seu travesseiro e olhos verdes olhando para dentro de seus amarelos. Sorrindo. E Vlad percebeu que havia uma possibilidade, uma possibilidade bem pequena, de que a escuridão tivesse lhe trazido mais um presente.

E Vlad não teve escolha a não ser esperar que a escuridão lhe levasse aquilo também.

Porque a noite morava em sua alma, e se ele aprendeu algo com sua vida (e morte) foi que a noite significa medo, insegurança e solidão.

Fear of the dark, fear of the dark
I have a constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there

Have you ever been alone at night
Thought you heard footsteps behind
And turned around and no one's there?
And as you quicken up your pace
You'll find it hard to look again
Because you're sure that someone's there

Fear of the dark, fear of the dark
I have a constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there

Fear of the dark
Fear of the dark
Fear of the dark
Fear of the dark
Fear of the dark
Fear of the dark
Fear of the dark
Fear of the dark

Watching horror films the night before
Debating witches and folklores
The unknown troubles on your mind
Maybe your mind is playing tricks
You sense, and suddenly eyes fix
On dancing shadows from behind

Fear of the dark, fear of the dark
I have constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there

Fear of the dark, fear of the dark
I have constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there

When I'm walking in a dark road
I am a man who walks alone


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!