Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 44
Capítulo 44. Desalento


Notas iniciais do capítulo

Oa!
Pois é, novo capítulo de fim de feriado - pelo menos em SP é feriado.
Acho que alguns de vcs sentiram isso vindo com o capítulo passado, muitos não vão gostar nada, mas é necessário para o curso da história. E depois, a Celas estava um pouco negligenciada.
Musica de hj? "Secret" do Maroon 5.
ps: enquanto o timing da Carol não melhorar, os capítulos continuam sem Beta, e eu sou incapaz de corrigir meu próprio texto, mas confesso que morro de vergonha quando releio e os encontro. Sorry folks.



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Watch the sunrise

Say your goodbyes

Off we go

Some conversation

No contemplation

Hit the road

Car overheats

Jump out of my seat

On the side of the highway baby

Our road is long

Your hold is strong

Please don't ever let go Oh No

Dizem que para tudo existe uma primeira vez, mas isso não é verdade. Integra nunca foi queimada por lava de vulcão aos doze anos de idade, nunca dançou com um travesti na escola, nunca pilotou um avião enquanto carregava um primo bebê nos braços. E são coisas para as quais jamais haverá uma primeira vez, simplesmente porque as variáveis são impossíveis.

Agora, ela obrigada a concordar que tudo o que ela já fez, houve uma vez em que ela teve que fazer primeiro, sem a certeza do resultado ou do motivo por traz daquilo. Não se lembrava da primeira vez em que tentou andar, mas lembrava-se do nervoso e da falta de coordenação do primeiro beijo – roubado – e também se lembrava da primeira vez em que ficou em pé diante das tropas, comandando sua primeira missão. Quando propriamente se dirigiu ao vampiro após a morte de seu tio. A primeira vez em que foi baleada.

Todas as suas primeiras vezes (que ela se lembrava) foram marcadas pelo medo do inesperado, do impróprio. Uma ressalva que ela ainda mantinha em algumas situações que apesar de longe de ser uma primeira vez, ainda a desconcertavam, coisas que fazia todos os dias, mas que jamais se tornaram naturais, como planejar uma missão, ver um inocente morrer, ser socialmente própria em uma conversa informal, fazer amigos, flertar. Não, Integra não flertava, então mantenha essa atitude como na categoria da primeira vez.

E eis que a situação mais comum possível na vida de uma mulher jovem, rica e bonita se apresenta diante de nossa dama de aço, e tão improvável era que já estava no hall de coisas que jamais aconteceriam na vida da dama de aço da Inglaterra. E essa situação bizarra envolvia um vestido longo de seda vermelha, saltos altos, um restaurante, pouca iluminação, luz de velas, música ao fundo e uma companhia masculina estranhamente agradável. E então os fatores improváveis: Integra não apenas havia aceitado o convite para jantar fora, como era agora uma mulher casada, com um dos melhores partidos da Inglaterra. Alguém que ela de fato respeitava. Integra estava se divertindo – à medida do possível – em seu, para todos os efeitos, jantar romântico. Sua companhia não era seu marido.

E ela não entendia o que deveria fazer, como se comportar à mesa. Não, não entenda mal, ela sabia quais os talheres corretos, obviamente. Mas ela não sabia sobre o que deviam estar conversando, sobre o que sua mente e seu coração deveriam estar processando enquanto ela mastigava pequenos pedaços do filé que havia pedido.

Porque deviam estar conversando sobre finalmente o realinhamento de suas tropas, o fim da papelada, e não sobre os atos heroicos que levaram às condecorações do Col. Baron.

.

.

.

– Então você tem tido esses sonhos perturbadores... – Johann murmurou, por cima dos sons de seu lápis riscando o papel.

– Não são sonhos. São lembranças. Eu tenho certeza. – Vlad respondeu, mais para a janela que para seu psicólogo.

– Lembranças de depois que você morreu? – O médico continuou, ainda rabiscando em seu bloco de anotações.

– Eu sei que é ridículo...

– Ridículo ter lembranças de coisas que aconteceram no futuro que você teria se estivesse no passado? Meu jovem, e o fato de eu aceitar que você foi assassinado? No mínimo você estaria trancado em uma ala psiquiátrica.

Lembranças borradas de St. John tentaram aflorar em sua mente, mas ele as rejeitou. Outros problemas para resolver.

– Você não acredita?

– A mim não cabe acreditar ou não, mas fazer você entender como se sente sobre o que acredita.

– Então você não acredita.

– Não duvido. Isso já deveria ser o suficiente. Meu jovem, uma diaba com cara de anjo salvou minha vida de um ataque de Zombies e vampiros. Você acha mesmo que eu estou em posição de duvidar do que quer que seja?

Vlad deu um sorriso sem humor, no fundo achando curioso o jeito como ele se referia à Celas.

– Por que não sai dessa janela, se senta numa poltrona que nem todos os meus outros pacientes, me olha nos olhos e diz o que está acontecendo?

– Obriga seus pacientes a te olharem nos olhos enquanto contam seus problemas? No meu tempo, isso fazia parte de um tipo de tortura psicológica.

– Nem todos meus pacientes tem um olhar forte como o seu.

– Durante a guerra, diziam que a cor deles era capaz de...

– Não, não não não. Não é a cor, meu rapaz, é a força.

Com isso Vlad de fato se virou. Encarou seu psicólogo por alguns instantes, para depois baixar o olhar.

– Força? Se isso fosse verdade eu não estava aqui...

– Mas vai ser teimoso assim na casa da mãe Joana! – O velho ranzinza começou a resmungar, logo lembrando-se de duas coisas muito importantes: quem Vlad era e o tipo de problema que tinha. Ele sabia reconhecer quando alguém queria atenção e quando alguém de fato precisava de ajuda. – Olha, sua alma é forte. E uma pessoa forte continua forte mesmo na derrota. Dá pra ver que você consegue superar essa bagunça em que se meteu e, principalmente, que quer fazer isso. A única pergunta é se você vai querer a minha ajuda, ou não.

Com isso Vlad acabou se sentando na poltrona, olhando para o velho Johann como se estivesse entediado, mas na verdade sem saber o que dizer.

– Então, seus sonhos...

– Lembranças.

– Nelas você morre;

– Não. Eles tentam me matar, eu tento me matar, mas não morro.

– Por eles tentam te matar?

– Ódio, medo, vingança, poder... Não sei ao certo.

– Por que você tenta se matar? – E mais rabiscos no bloco de anotações.

– Estou cansado de viver.

– O que desencadeia essa decisão? Algum trauma, alguma perda?

– Às vezes sim, às vezes não. Não sei ao certo.

– O que você sabe?

– O que eu conheço.

– E nessas lembranças, o que você conhece?

– O vazio.

Johann acenou com a cabeça. Apagou alguma coisa com a borrachinha do lápis e voltou a rabiscar.

– Nessa vida, acordado, você já pensou em se matar?

– Já.

– Quantas vezes?

– Não sei.

Johann parou o que estava fazendo para olhar para Vlad, que ainda o encarava, mais sério do que entediado dessa vez.

– Você já pensou seriamente em se matar?

– Já.

– Quantas vezes?

– Duas.

– Você já tentou se matar?

– Já. Uma vez.

– O que aconteceu?

– Antes ou depois?

– Antes.

– Não consegui me controlar. Ataquei um homem em público. Não suportei o peso dos olhares, as palavras. E tinha uma arma. Carregada, tão perto... Parecia tão lógico…

– O que te impediu?

– A diaba.

O Dr. Ranzinza olhou para suas anotações, chacoalhando de leve os cabelos longos e brancos. Voltou a perguntar:

– Quais palavras?

– “Monstro”.

– Que mais?

– Foi apenas essa que eu ouvi.

– O problema?

– Verdade.

– Você acha que o que lhe doeu mais, foi a palavra em si, ou quem a proferiu.

Vlad ficou em silêncio, ainda encarando o velho.

– Sir Hellsing?

– Sim.

– O que você sente por ela?

– Que diferença faz?

– Talvez se conseguir ser honesto comigo, possa ser honesto consigo mesmo.

– Como uma pessoa pode não ser honesto consigo mesmo? – Vlad perguntou, inconscientemente tentando desviar do assunto para não ter que responder.

– Poucos o são. No fundo é para isso que as pessoas fazem terapia, para aprenderem a ser mais honestos. O que sente por Sir Hellsing?

– Eu a amo.

– É isso que sente quando está perto dela? Amor, o tempo todo?

Vlad fez um não pequeno com a cabeça. Johann viu que não teria oportunidade melhor:

– E o que sente quando está perto dela?

– Frio, solidão, raiva.

– O que mais?

– Ao mesmo tempo eu preciso dela, queria que me notasse, que também precisasse de mim...

– Por que acha que ela não precisa?

– Ela precisa, mas...

Johann respirou fundo, colocando o bloco de notas e o lápis sobre uma mesinha ao seu lado.

– Continue. Sabe que o que se passa aqui é confidencial, não é?

– Não me sinto a vontade para falar de sentimentos que pertencem a outras pessoas.

– Não pedi para que falasse de sentimentos de outras pessoas. Pedi para que falasse dos seus sentimentos, como você os enxerga.

– Milady...Precisa saber que eu estou ali por ela, que alguém a ama. Mas também não precisa de mim, precisa do eco do monstro que vê em mim.

– Disse que quando ela o chamou de monstro isso o perturbou.

– São coisas diferentes.

– E o fato de ela querer esse monstro... É isso que o incomoda? É o que o enoja?

Vlad baixou o olhar, fazendo um não com a cabeça.

– Não?

– Eu não sei.

– Sente nojo de Sir Hellsing?

Vlad fechou os olhos com força, percebendo que não sabia a resposta para aquela pergunta.

– Eu não sei.

O velho Johann olhou pra o relógio na parede. Respirou mais uma vez, e murmurou:

– Meu rapaz, acho que por hoje já é mais que o suficiente. Temos alguns minutos ainda, se tiver algo sobre o que quiser conversar.

Vlad pensou por alguns minutos, dizendo em seguida:

– Desculpe-me, eu... Eu preciso ir.

– Claro.

Vlad já estava consideravelmente mais calmo quando saiu pela porta. Ouviu enquanto um dos soltados entrava no consultório, antes da porta se fechar, Johann perguntando:

– Ora ora soldado Jones, diga-me, acha que isso se parece com um gato?

E Vlad acabou quase rindo. É claro que o velho médico não tomaria notas. No fundo ficou aliviado. A resposta que queria ter dado mas achou melhor manter em silêncio: “Sinto nojo de mim mesmo. Por ter que pensar se de fato sinto nojo, por explodir, por ser fraco. Por sentir raiva. Por querer que uma mulher que se casou forçada comigo me note, me console. Por achar que ela deveria estar comigo na cama quando acordo a noite. Que ela ame o vampiro, tudo bem, ela já o amava quando a conheci. Mas ela está casada comigo. Deveria ser leal, deveria ser fiel, deveria...”

O eco do que revelou para si mesmo ainda soava em sua mente. E o perseguiu enquanto ele se sentava no grande sofá da entrada da mansão. E ele percebeu que aquilo, de fato, não fazia sentido. Estar perto da pessoa que você ama deveria ser algo bom, não deveria? Tentando ser honesto em sua própria cabeça, porque a pergunta foi genuína “quem diabos não é honesto consigo mesmo?”, Vlad sabia que não amava uma Integra perfeita idealizada apenas em sua cabeça. E também não amava uma Integra real, com todos os seus defeitos e suas qualidades porque era isso que a tornava quem ela era. Foi sincero daquela vez também: Amava porque amava. Ponto.

Mas então… Por que, apesar de ter certeza que amava, não era amor o que sentia?

A resposta veio como uma flecha que ele sentiu em seu estômago: ego. Não era amor o que ele sentia porque ele estava ocupado demais se preocupando com ele mesmo. E enquanto o diabinho em seu ombro dizia “se você não se preocupar com você mesmo, quem vai?”, o anjinho o lembrava que “toda forma de amor é correspondida, pois amor não exige reciprocidade. O que exige, o que falta é apego, e apego machuca, machuca muito quem você ama”.

Seus pensamentos foram perturbados pela chagada de Celas, que se atirou no sofá reclamando sobre alguma coisa. Vlad ficou a olhando por alguns minutos, até que ela reparou que ele estava lá e respondeu a uma sobrancelha arqueada dele:

– Um soldado raso deu em cima de mim hoje! Tentou me agarrar!

– Imagino que você tenha quebrado o nariz dele? – Vlad perguntou, achando graça na situação.

– Sim! – Ela respondeu, com o nariz empinado para cima. – E algumas costelas, talvez um braço.

Vlad sorriu.

– Sabe Celas-san, não o culpo. Deve despertar o sentimento em vários oficiais, com esse uniforme... – Vlad nunca sentiu isso pessoalmente, não sendo educado na área, ou melhor, não tendo vivenciado a situação para ter os impulsos do vício, mas ele se lembrava de como os soldados reclamavam a falta das esposas, alguns se perdiam em pecado em terras exóticas, muitos fingiam não ver. Não era de se estranhar que a presença de uma mulher na tropa trouxesse sentimentos do gênero, ainda mais em uma época tão liberal como a qual ele se encontrava.

Celas corou violentamente, tentando em vão baixar a saia do uniforme, que obviamente não passou da metade das coxas da vampira.

Vlad sorriu, pedindo desculpas, ligando a televisão para desviar o assunto. Naquele momento, o que sentia não era tão importante, porque o que sentia perto da vampira era leve, natural.

Meia hora depois, estavam os dois assistindo o filme mais idiota que Celas já tinha visto, quem dirá Vlad que quase não via televisão, com um balde de pipocas que Celas havia estourado especificamente para o conde, enquanto ela mesma bebia ago que lembrava muito um milkshake vermelho sangue - Vlad tinha um bom palpite sobre o que se tratava.

.

.

.

Integra não sabia bem o porquê de estarem caminhando no parque, carregando seus sapatos de salto nas mãos, divertindo-se com o sorriso fácil do col. Baron. Era um sorriso leve, alegre, diferente dos sorrisos forçados de Vlad, abobados de Celas, sádicos de Alucard e oniscientes de Walter. Era um sorriso que ela não tinha contato em seu mundo.

O rosto também era diferente. Mais velho que o dela, infinitamente mais sereno. Seus traços falavam de uma vida conquistada e de lições aprendidas. Uma vida vivida da forma como tinha que ser: com seus percalços, duras lições, mas momentos felizes, repletas de pessoas importantes que podem ou não ter ido embora. Não importava, deixaram seu valor. Integra sabia isso tudo, pois sabia que ele tinha algo que faltava nela. Algo que ela queria. Algo que a atraia àqueles olhos castanhos, to comuns, mas tão serenos, tão acolhedores. Algo que a instigava, algo que morava em suas Iris, em seu sorriso.

E quando aquele sorriso, aqueles lábios se aproximaram dos seus, era tão diferente de seu mundo que ela não soube como reagir.

Fechou os olhos, deixando que o calor da noite, do corpo e dos lábios fossem o foco de seus sentidos.

I know I don't know you

But I want you so bad

Everyone has a secret locked

But can they keep it

Oh No they can't

I'm Driving fast now

Don't think I know how to go slow

Where you at now

I feel around

There you are

Cool these engines

Calm these jets

I ask you how hot can it get

And as you wipe of beads of sweat

Slowly you say "I'm not there yet!"


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Notas finais do capítulo

^^
"Continue a nadar, continue a nadar..."
Acho que muitas pessoas não vão gostar do rumo dos próximos capítulos, mas nada temam, eu tenho um plano. Sintam-se livres, no entanto, para sugerirem e reclamarem e comentarem o que quer que venha a mente. Posso não responder todos os reviews, mas leio todos, e meu coração se enche de alegria a cada notificação de review recebido.



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